0h56. Recife, 15 de
janeiro de 2013.
Recebia às 23h a inesperada visita de um amigo-irmão (afinal
nos conhecemos e somos amigos pela maior parte de nossas vidas) que mora longe,
no Canadá, eu acho. Ele falou bastante no Canadá, daí subentendi isso. Foi um
papo superlegal, mas acho que ambos achamos um ao outro muito diferentes da
época do último encontro. Eu pelo menos senti isso nele. Afinal a vida muda as
pessoas da mesma forma que o vento desenha as pedras. Um Saulo com menos
arestas se me apresentou hoje. Mais seguro, mais sábio, mais convicto de quem
é, de saber que é bom sê-lo. Eu estava com as ideia esticadas, só por isso já
me afigurei diferente para ele. Devo admitir Saulo, em que houve um momento em
que viajei e não saquei seu papo, estava em outra, em outros pensamentos, em
outras viagens. Mas isso aconteceu uma vez só, mais no final. Falamos sobre
muita coisa de videogames à maconha, à vida no Canadá, sobre problemas na
gravidez... ah, tá bom, não vou ser fofoqueiro e detalhista a esse ponto. Houve
o CAPS também. 1h09. Está tarde para quem se levanta às 7h45 amanhã. Continuo
quando voltar de tudo e espero muito ter
entregado o bilhete a ela.
-X-X-X-
1h18. Decidi que vou escrever mais um pouquinho antes de
dormir, só até chupar e mastigar todos os gelos que tem no copo. Cadê meu
canudo? Ah, achei. Fumar um pouquinho ele, já que não tenho coisa outra para
fumar. Logo que cheguei em casa e pus Coca Zero no meu copo e dei um gole, me
deu vontade de fumar o último cigarro bebendo aquela Coca geladíssima que
faltou lá embaixo, na piscina. Só levei o gelo e os copos, Saulo esqueceu a
Coca. Normal. A gente findou, de tanto falar, com a goela seca e começamos a
chupar o gelo para molhar a goela. O Houaiss tá pedindo o CD-ROM para poder
abrir e eu não sei, por ora e escuridão, onde está. A única luz que emana no
meu quarto agora vem da página branca com negros caracteres do Word. Onde cada
caractere é um pedaço de mim, ou do mundo através dos meus olhos, o que não
deixa de ser parte minha, posto que é algo único, as percepções são únicas, pois
só eu sou capaz de produzir. As mesmas palavras não vêm da mesma forma e na
mesma seqüência das do próximo. A não ser que seja uma cópia. Não vejo graça em
cópias, vejo graça nisso aqui. Na palavra solta, corrida, saída quase sem
querer de mim, um fluxo, uma torrente que vai se seguindo como rio que corre.
Às vezes há pedras no caminho que impedem o fluxo do rio, como um sono monstro
que me bateu agora. Boa tarde, Japão. 1h33.
-X-X-X-
Recife, 16 de janeiro
de 2013.
23h12. Lembrei do meu pai morto, da formiga andando sobre a
face imóvel no caixão, certamente vinda com as flores, o colarinho da camisa do
paletó suja de sangue. Ele disse que usaria aquele paletó até o enterro quando
o comprou. Estava certo. Acabei de ver o filme “A Rede Social” e fiquei triste
com a diferença de acessos do meu blog para o Facebook. Eu sei que isso é
ridículo, não há comparação, mas queria ter mais público. Tenho pendências dos
eternos e inacabáveis livros do meu avô e não estou com a mínima disposição de
mexer neles. Há ainda a ideia dele de uma “empresa familiar” a ser deixada como
legado às novas gerações. Eu não quero e não vou participar disso. Eu quero
minha aposentadoria, para me livrar de uma vez por todas deste trauma do
trabalho. Trauma não é uma palavra forte demais, é precisa. Estou divagando
meio melancólico me perdoem. A garota do bilhete não apareceu hoje na academia,
levarei o bilhete outra vez amanhã. Amanhã, em tese, farei uma ressonância do
cérebro para ver se há algum defeito com o bicho. Defeitos há, mas não sei se
captáveis por ressonância ou qualquer outro instrumento que não as palavras.
Ainda não marquei com a psicóloga. Nem sei se quero agora. Nem sei se quero
realmente com ela. Também não sei com quem quereria. Crica novamente? Acho que
não. Acho que hoje estou com muitos “acho que não”. Hoje estou mais para não do
que para sim. Vou dormir e esperar que amanhã seja mais legal que hoje. Às
vezes é. Facebook... a grande ideia dos caras foi como ele foi divulgado, primeiramente
para a elite dos jovens do mundo. Finalmente descobri porque ganhou do Orkut.
Nunca mais entrei no Orkut, vou tentar entrar para ver como ele é hoje.
-X-X-X-
Recife, 17 de janeiro
de 2013.
Realmente entrei no Orkut ontem, como Boto de Gatas, mas
hoje nem me lembro direito como era. Fiz ressonância magnética com contraste da
cabeça hoje à tarde e os sons da máquina, extremamente variados, me pareceram
como se o Karftwerk e o Radiohed se juntassem para fazer uma música
instrumental muito doida. Foi interessante. Interessante também a ideia do
espelho que é o que a gente consegue ver, inclinado para mostrar a parte de
fora do aparelho (minhas pernas e a janela dos operadores) e assim diminuir a
sensação claustrofóbica de estar dentro do apertado tubo. Não que eu tenha
problemas com isso, mas achei a solução engenhosa. Acabei de assistir Alien Ressurection, me pareceu melhor
que da primeira vez, talvez porque a qualidade dos blockbusters venha caindo
com o tempo, não sei. Até porque Alien3
não me agradou nenhum pouco, achei parado, vazio, por mais que tenha a cena
memorável da autópsia da garota. Não pretendo postar mais nada até entregar o
bilhete à garota da academia. Fui malhar após o exame e ela não estava lá. Quem
sabe amanhã. O bilhete já está no bolso da bermuda que usarei. Não estava na
calça com que fui malhar, pois não me passou na cabeça que depois do exame
teria disposição para tal, mas ela surgiu não sei de onde. Pretendo amanhã,
quando acabar minha série, andar mais 30 minutos de esteira, numa velocidade
mais light, para ver se meu lombo desce mais rápido. 0h30. Preciso dormir.
Amanhã levantarei cedo para ir à minha psiquiatra (a do manicômio). Agora,
neste momento, não sinto mais saudades de lá, como um dia senti, tanto é que
fiz por onde retornar. Minha vida está mais completa e mais dinâmica com o CAPS
e a malhação e o blog. E as saídas com o meu primo-irmão (que minha mãe vetou
temporariamente, pois disse que leu aqui que eu comprei uma carteira de
cigarros da outra vez, muito embora eu não me lembre de ter escrito sobre
isso... mistério... ou vai ver que minha memória anda fraca mesmo). Mas acho
que ela vai “desvetar” com a negociação que pretendo fazer: ela me dá quatro
cigarros para a noite toda e eu fico enrolando entre um e outro fumando o
canudinho. Por sinal fiz um novo cigarro de canudinho com um canudo que é do
diâmetro quase igual ao do cigarro, estou “tragando” ele agora enquanto escrevo
isto. É legal fumar canudinho, pois eu posso fumar onde quiser. Fumei canudinho
dentro do carro de mamãe, dentro do hospital, na antessala da ressonância, já com
a roupa do exame e ninguém pôde reclamar, pois estou apenas respirando por um
canudo. É divertido, pois a primeira impressão aos outros é a de que estou
transgredindo, que é um cigarro real (principalmente agora com esse novo que é
branco com finas listras azuis) e isso me diverte. Eu gosto de ser diferente e
gosto de provocar antitabagistas, então o cigarro de canudinho vem bem a calhar
comigo. Isso sem mencionar que eu não estou detonando os meus pulmões já
bastante detonados, por isso a paranoia de mamãe em relação a carteira de
cigarros comprada na última saída e os adesivos de nicotina que venho usando.
0h42. Preciso dormir, mas não sinto um pingo de sono. Ah, eu não tomei os
remédios, talvez seja isso. Vou tomá-los e me deitar. Boa noite imensidões,
tanto a que me preenche, quanto a que habito. Ah, levarei um cigarro de
canudinho para uma amiga do CAPS.
-X-X-X-
Ainda dia 17 só que às 20h28 da noite. Não encontrei novamente
a menina da malhação –
a nova Clementine – e, por isso vou postar este
texto mesmo sem ter a entregado o bilhete. Falei com os treinadores da academia
sobre o caso e mostrei o bilhete a eles. Eles se divertiram com a história, como
era de se supor, talvez pelo ridículo da situação e de seu protagonista.
Coloquei
Movement do New Order para
ouvir. Primeira audição da minha vida. A primeira música nem parece New Order
direito, eita agora pegou mais o estilo do New Order, mas o vocal parece imitar
o de Ian Curtis do Joy Division (que todo mundo sabe suicidou-se e os restos da
banda, mais a namorada do finado formaram o New Order). Talvez seja um dos
primeiros discos. Certamente deve ser. A psiquiatra, ao ler o laudo da minha
tomografia de tórax, foi bastante enfática e até hiperbólica ao dizer “ou você
pára de fumar ou morre”. Mas tudo bem, era tudo o que minha mãe queria ouvir e
tudo o que eu não queria. Decidi que não vou pedir mais cigarros às amigas do
CAPS, é desagradável fazê-lo, como se as estivesse explorando. E, em verdade,
estou. Abusando da boa vontade e da caridade delas. Basta. E eu preciso parar.
Um novo remédio vai entrar na jogada com esse fim: Champix ou coisa que valha.
Puxa estava com saudade de escrever. Vou continuar a escrever em um novo post,
pois este está com 3 páginas de Word o que já é demais. Não gostei muito das
duas primeiras músicas do
Movement.
Talvez com o tempo comece a apreciar, who knows? “The Shadow knows”, né pai?
Pronto, revisar e postar.