Não postarei este texto até que a portuguesinha tenha lido o
outro, é particularmente importante para mim que o faça. Mamãe e minha irmã
foram à Marienplatz e minha genitora não parecia muito motivada para que eu
fosse. Ademais, tenho que ficar em alerta caso o entregador da Amazon toque a
campainha. Espero que não tenha vindo enquanto tomava o banho de banheira, pois
embora tenha deixado a porta aberta, cochilei um bocado. E me deixei estar na
banheira por um bom tempo. O que será, será. Ou o que foi, foi. Sem
alternativa, pois não sei se ouviria a campainha se colocasse uma fonte sonora
como um filme ou um disco, resta-me apenas escrever.
13h47. Gostaria de dormir mais, mas não posso descuidar da
Amazon. Tenho especial interesse, visto que meu Chartreuse verde e o
organizador de moedas de euro fazem parte da encomenda. Mamãe disse que talvez
fosse à Marienplatz amanhã comigo ao sair. Caso não vá, nada me impede de ir
sozinho. Ah, comprei o CD de “Utopia” de Björk. Mero colecionismo, admito, pois
com Spotify tenho a discografia inteira de Björk à disposição. Se for me dado
dinheiro suficiente para ir à Marienplatz uma última vez, acho que acabarei por
comprar o “Bastards” da cantora islandesa, pois acho o disco, embora de remixes de um dos trabalhos menos
acessíveis dela, genial. É uma descoberta recente esse “Bastards” ouvi meio que
por acaso numa das sessões de escrita na piscina e chapei na obra.
14h05. Sobre a portuguesinha, que posso eu dizer? Ela tem
uma vida afetiva muito mais consolidada do que poderia supor, o que me alegra
pois gosto de saber boas notícias das pessoas que me são caras e ao mesmo tempo
dilacera qualquer esperança de um enlace afetivo com ela, o que, desde o
princípio jamais aconteceria, visto o enorme abismo oceânico que separa nossas
realidades. O fato de morar com o namorado foi apenas a pá de cal sobre um amor
natimorto. Não sei se a existência me sorrirá alguma vez mais na questão dos
afetos, me encontro desencantado. Ou então me reserva minha maior paixão, o que
acho deveras impossível. Sou o homem dos amores natimortos. Fato é que não
posso confiar no acaso-destino para encontrar amor que possa vir a ser
correspondido. Além disso, não acho que consiga mais ser um bom namorado, sou
demasiado acomodado, demasiado alienado, demasiado gordo, demasiado velho,
demasiado desinteressado pelo sexo. Não tenho como objetivo maior da vida
penetrar bocetas, fazê-lo por esporte. Não sinto necessidade disso, não tenho
essa ânsia que parece governar os demais homens. De uma relação, o sexo para
mim é o menor dos prazeres. Mas já disse isso vezes demais aqui. Estou ficando
caduco. Hahaha. Confesso-me ainda abatido pelo desencanto, pois continuo
encantado pela portuguesinha. A imagem dela me vem à cabeça com frequência e
sinto carinho por tais lembranças, pena que tenham o aftertaste amargo do que nunca vai acontecer. E nesse caso, nunca
não é um exagero. Sou um coração pleno de amor cercado de nuncas por todos os
lados. Patético. Ou vai ver que há um desejo mórbido e masoquista inconsciente
da minha parte por detrás disso. Sei lá. Sei que acho que eu e a portuguesinha
nos daríamos bem, muito bem. Acredito que teríamos discussões homéricas, pelo
seu gênio forte e julgo que um tanto controlador, mas que faríamos as pazes
rapidamente. Para que elucubrar sobre isso se isso é exatamente o que nunca vai
se dar? Sei que ela elevou o meu nível de exigência em relação a um par a outro
patamar. Os seus interesses, a sua cultura, a sua simpatia, o seu sorriso, o
corpo muito bem torneado, com proporções as mais agradáveis, as mãos lindas a
personalidade cativante, a transparência nas relações que trava, simplesmente
adorável, um achado, uma preciosidade que a jocosa existência calhou de me
apresentar sabendo da minha extrema carência afetiva. Mas não sou rancoroso nem
ingrato, preferia tê-la conhecido e sofrer o que sofro agora que nunca a ter
visto e partilhado de sua companhia. Foi definitivamente a coisa mais maravilhosa
que me aconteceu nesta viagem. E em todas as outras que fiz, se bem que ter
conhecido os parques temáticos da Flórida aos 11 anos de idade e ter visto neve
nessa mesma viagem equivalem em encantamento e sonho. Tenho uma vida abençoada
em todos os aspectos menos em um, do que posso reclamar? Seria mesquinho da
minha parte querer o pacote completo. Vivo muito bem sem amor. Ou melhor,
amando solitariamente amores impossíveis. Que seja assim, então.
15h12. A mãe do meu cunhado trouxe-me uma guloseima deliciosa,
um tal de fludge de laranja. É uma
espécie de caramelo com consistência de rapadura e perfumadíssimo sabor de
laranja. Pense em um negócio gostoso, para comer aos pouquinhos, um pedaço por
vez. Acho que será o acompanhamento perfeito para o meu Chartreuse verde.
Tentarei levar a guloseima para o Brasil. Por falar em Brasil, minha mãe já
está com a ideia bastante solidificada de colocar uma banheira no meu banheiro.
Será um sonho. Não digo que sou abençoado?
15h19. Preciso escrever no meu projeto paralelo.
20h54. Realizei um sonho da minha vida que acalento desde
que papai era vivo: o encomenda da Amazon chegou e sou o proprietário de uma garrafa de Chartreuse verde, o
melhor licor que já tomei na vida. Combinei com mamãe que teria direito a um
cálice toda semana. Para tomar contemplando a cidade da nossa varanda. Nem vou
abrir aqui na Alemanha, pois quero degustar no Brasil esse prazer ímpar para
mim. Já me aclimatei mais com a história da portuguesinha, me dói menos. Acho
que esta é uma das vantagens de amar o impossível, a conformação com a perda
efetiva não é lancinante como com um amor de verdade, amor vivido de fato. E
acho que a maturidade me faz sofrer menos as perdas. As duas primeiras foram as
mais difíceis e levei muito tempo para me recuperar. Sofri absurdamente. As outras
superei até com certa tranquilidade. Nunca é fácil, mas vai ficando menos
difícil, pelo menos na minha experiência de vida.
22h20. Estava a pesquisar qual o melhor país para comprar um
novo celular (telemóvel) e chegamos à conclusão de que é melhor fazê-lo no
Brasil. Nenhum comentário da portuguesinha hoje. E nem espero por isso, pois
ela trabalha até as 23h no hotel, daí a chegar em casa deve ser mais uma hora e
morta de cansada. É a vida. E é bela, apesar de todos os pesares, hoje sinto assim,
mas já odiei tremendamente a vida, vivi o inferno e sobrevivi. Águas passadas
não movem o meu moinho. Me foco no presente.
-x-x-x-x-
19h07. Nenhuma mensagem da portuguesinha. Só escreverei
quando receber algum comentário dela sobre o post anterior. Se receber.
-x-x-x-x-
13h35. Ainda nada da portuguesinha. Acho que desistiu de
comentar, se é que leu. Fui censurado na minha escrita uma vez mais. É o máximo
que posso dizer sobre risco de sofrer nova censura. Pretendo ir à Marienplatz
mas ainda estou indisposto para tal feito.
2h27. Fui à Marienplatz e foi bom. Queria ir mais uma vez
amanhã para ver se encontrava o “Mixed Up Deluxe” do Cure. Já entrei na
terceira página e acredito que não mais receberei notícias da portuguesinha. Em
sendo hoje já sexta-feira, este é efetivamente o meu último dia aqui na Europa.
Amanhã cedo estaremos no aeroporto partindo para Lisboa e de lá para o Brasil.
Sinto saudades antecipadas, afinal a viagem foi muito boa. Mas não quero outra
tão cedo! Hahaha.
3h27. Descobri que há novas coisas que acho atraentes em
mulheres, por exemplo, mulheres que carregam e fazem uso de algum instrumento
musical, ou mulheres com vestidos ou saias até as canelas. Vi uma hoje com um
vestido tão lindo, todo branco, pele alva e cabelos escuros lisos e longos, parecia
uma princesa de contos de fada. Passei esses dias de espera por uma resposta da
portuguesinha acompanhando a maior feira de bonecos do mundo a San Diego Comic
Con 2018. Das figuras, as mais interessantes já estão disponíveis no site da
Sideshow.
14h34. Nada da portuguesinha, acredito que tenha lido o post
anterior e que tenha desistido de me responder. Das alternativas é a que
vislumbro como mais verdadeira. Foram bons estes dias de espera, sem muito
escrever, me desvencilhei um pouco desse meu ofício, meio que tirei férias. E férias,
no geral, são muito bem-vindas na vida de qualquer ser humano. Tanto é que
estou meio perdido com as palavras, como se essas me escapassem. Coincidiu de
as férias das palavras acontecer durante a tal feira, então passei
esses dias muito imerso no maravilhoso mundo dos bonecos. Não sei por que me
sinto meio magoado com a ausência de respostas da portuguesinha, mas entendo a
sua posição. Não há crueldade em tal postura, apenas sensatez. Eu, insensato, é
que fico com o miocárdio dolorido. Mamãe prepara as malas para a nossa maratona
de volta, que começa amanhã cedo. Cruzar um oceano inteiro sempre me causa
espanto. É uma distância que não sei imaginar. Se estivesse ao lado da
portuguesinha estaria igualmente distante dela. Não sei onde ou quando outra
oportunidade de encantamento se dará, se se der. Volto à quase completa
esterilidade emocional.
15h43. Volto também à solidão do meu quarto-ilha e da minha
vida em Recife. Uma casa fica realmente mais alegre com crianças, por mais que
tenha interagido pouco com os petizes, acredito que tenha interagido o
suficiente para estreitar os laços com eles. São meninos obedientes e
bem-comportados, têm uma educação mais rígida, mas com igual afeto que a dos
filhos do meu irmão. Criação com presença constante dos pais em ambas as
famílias. Acho muito salutar. Tive menos contato com os meus pais nos meus anos
de formação do que essa nova geração. Daqui a pouco serão adultos, a vida passa
tão rápido. E é bom que passe, essa vida assombrada pela solidão.
-x-x-x-x-
23h35. Estou de volta ao Brasil, ao meu quarto-ilha, à Coca
Zero com muito gelo. Sem querer parecer ingrato com o meu amado país, o
clima daqui é pegajoso, saindo do aeroporto o bafo úmido adere imediatamente à
pele, não é uma sensação que me agrada. Aqui a quentura é mais quente que a da
Europa. Estou ficando mal-acostumado. Hahaha. Ainda nada da portuguesinha. Por
falar nela, algumas coisas preciso acrescentar correlatos a tão singular
pessoa. Descobri que há outra coisa que acho sexy, mulheres falando o português
de Portugal. Muito por causa dela e acho que somente por isso. Fiquei a ouvir
as aeromoças do voo de Lisboa a Recife a conversar, visto que viajei quase na
última fileira de cadeiras da aeronave, e foi agradável ouvir aquele burburinho
lusitano. Ai, ai, coraçãozinho bobo. Recomendo à portuguesinha assistir “The
Leisure Seeker”, um drama leve, de roteiro muito redondo e grandes atuações, o
diretor minimalista ajuda a dar vida e alma aos protagonistas, sem nenhuma
extravagância cinematográfica, dando liberdade para os atores viverem o que
aparentemente nunca viverei. Me tocou pela temática e rememoro enquanto escrevo,
cenas do filme. Peguei o filme já começado, o assistindo pela tela da
passageira à frente e à esquerda, fiquei na cadeira do meio das três, sem
possibilidade de muito movimento, o que me incomodou bastante. Mas é a vida e é
bela. Assisti outro, mas sobre esse não tenho opinião formada, “The Female Brain”.
Adoraria ouvir/ler uma opinião feminina, ainda mais sendo ela engajada nas
questões da mulher. Sentiu a deixa, portuguesinha? ;) Fiquei a conjecturar por
que não mais me respondeu. Pode ser que tenha repartido os meus escritos com o
seu amor e este me achou um psicopata filho da puta. Sei lá. Talvez você tenha
querido sepultar de uma vez qualquer esperança, facilitando com o seu silêncio
o meu esquecimento da sua existência. Isso virá, com o tempo. Não tenho pressa.
Parabéns, aliás, pelo novo crítico que passou a fazer parte do “Cinema à Rolha”.
Fiquei frustrado que alguns nomes da música portuguesa que memorizei (ou quase)
olhando a seleção musical do avião, não se encontram disponíveis no
Spotify brasileiro. Eita, tentei de novo e consegui localizar Rita Redshoes. Gostaria
de sugestões de sua parte para que desvende a nova música lusitana. Creio que
com suas pretensões musicais, deve gostar de coisa boa (que não seja fado, acho
dramático, teatral demais), algumas sugestões cairiam bem. Fiquei curioso por
uma banda que começa por uma palavra com “U” seguido “Violeta”, mas não consigo
de forma nenhuma lembrar a primeira palavra, por nunca ser empregada aqui no
Brasil. Lembrar os nomes dos filmes e ainda por cima de dois cantores/bandas se
mostrou tarefa impossível para o meu limitado HD. Será que voltará a me
responder? Quero que entenda que ter o impossível no peito é melhor que nada
ter. E que, se a sorte continuar me sorrindo, logo, logo encontrarei alguém
para me encantar por aqui. Pena ter chegado no sábado à noite, o que significa
que não terei saída neste final de semana, portanto, não verei gente, nova
gente, novas garotas, não importa. Saiba que eu tenho absoluta convicção de que
você não passa de sonho, não vai me levar a nada de concreto. Não sou tão louco
assim. Mas gosto de me lembrar de você, gosto de saber de você, mas quem sabe é
você. Se prefere silenciar ou abandonar a leitura dessas tolas palavras, nada
posso fazer para impedi-la. É interessante como a velhice de alguns remete à
infância. Mas não vou dar nome aos bois, pois incorro no risco de nova censura.
Talvez toda velhice seja assim. Já ouvi coisa semelhante mais de uma vez. Estou
ouvindo Caetano, que por sinal fará um show aqui. Pretendo ir, infelizmente não
sei se será possível.
0h50. Acabei de comprar o ingresso dividido em três vezes (a
juros astronômicos) na terceira fileira de distância do palco. Único problema,
o ingresso por alguma merda do autopreenchimento do Google colocou o ingresso
em nome da minha mãe! Hahaha. Mandei um e-mail para ver se o site resolve esse
tremendamente burro equívoco. Senão dou para a velha. Se bem que os dados do
documento de identificação são meus. Sei lá no que isso vai dar. Mas ver
Caetano vai ser massa (que meu padrasto disse em Portugal equivaler a pênis) até
por essa fase Caetano que atravesso por causa de você. Gosto de escrever para você
ouvindo “Livro” do cantor e compositor e ouso dizer gênio baiano. Não conheço o
repertório do disco novo, mas tenho até 15 de setembro para me acostumar.
Espero que seja bom. É um show dele com os filhos. É o que sei e que o disco se
chama “Ofertório”. Entendo a motivação de fazer um projeto em família, só não
sei se os filhos têm talento como o pai. Mas queria muito ver Caetano uma
última vez na minha vida. E adoro o Teatro Guararapes. Foi onde vi os melhores
shows de MPB da minha vida. Um deles há muito tempo, de Caetano, à época do disco “Estrangeiro”, que também adoro, e que foi um dos melhores espetáculos que tive a oportunidade
de presenciar. Ele é um fenômeno no palco. Ou era, visto que muito mais jovem e
esse parece ser um show mais intimista, com todos sentados. Bom já fiz a
compra. Tenho muitos gastos a justificar a minha mãe esse mês no meu cartão.
Estou preocupado com isso.
1h34. Bem, já entrei na quinta página de Word. Ultrapassei e
muito o limite estipulado para os meus posts. Mas este foi um diferente, visto
que levei dias (de espera inútil) para concluir. Vou fumar um cigarro, revisar
e postar.
OLÁ! Então, não é preciso ser tão dado ao drama! Tive uma semana de cão, só isso. Mas continuo a ler, claro. Obrigada pelas palavras embora tu me vejas de uma forma que eu acho que não corresponde assim tão à verdade. Quanto a escolhas musicais portuguesas, desculpa desapontar-te, mas eu não ouço música portuguesa simplesmente porque não gosto. Não acho que haja graaaande talento, embora Salvador Sobral (o que ganhou a Eurovisão no ano passado) seja ótimo e eu ainda por cima adoro jazz. Beijinho
ResponderExcluirDe Jazz só conheço de raspão Ella Fitzgerald e adoro o "A Love Supreme" de John Coltrane. Ouço esse último esparsamente, pois é um disco difícil e tenho na minha playlist principal o disco Ella & Louis, que é um delícia de ouvir. Sim, confesso que sou dramático mais das vezes! Espero que a sua próxima semana seja menos canina. Xêro. :
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