Eu havia composto um post com uma série de perguntas para
você, minha portuguesinha, mas mudei de ideia em relação a publicá-lo. Não
creio que você queira ter esse tipo de intimidade comigo, visto que não me
mandou a entrevista (sonho antigo ser entrevistado), nem me adicionará ao
Facebook. Criei o marcador “Portuguesinha” para que você saiba quais posts
tratam de você. Vi hoje a sua resposta ao meu post, estava sem internet até
agora há pouco, não tinha a senha do Wi-Fi da minha irmã. Que bom que tenha
gostado da camiseta e ainda mais de apreciar ser a musa das minhas palavras.
Redobra o prazer de escrever saber que seus olhos passarão por aqui.
13h10. Li a sua entrevista com Victoria Guerra e,
sinceramente, na foto fica claro que você é mais bela que ela! Primeira foto que
vi em que você saiu realmente bem. Não entendi a celeuma dos escândalos
(sexuais, pelo que pude intuir) na indústria do cinema. Sobre feminismo, o movimento
encontra eco no Brasil e concordo com Victoria que é perigoso o radicalismo
acerca do tema e temo eu também que se torne um machismo às avessas, como sinto
ocorrer com certas garotas mais radicais no meu país, por mais que não se possa
comparar a sexualidade de uma cultura com a outra. Gostei da entrevista, com
poucas perguntas você conseguiu extrair muito conteúdo relevante dela. É
incrível o grau de erudição de vocês, europeus. Me envergonho de mim e da minha
pequenez cultural. A minha completa alienação. Alienação esta que imponho a mim
mesmo, trocando tudo pela escrita ensimesmada. Não sei porque me ocorre assim,
mas é o que se dá. E nesse movimento me distancio de tudo o que é social e me
sinto cada vez mais deslocado socialmente. Descobri com a entrevista que a
expressão não é “fish” como supus, mas “fixe”. Hahaha. Vivendo e aprendendo.
13h38. Sei que isso é impossível, mas conheço um espaço
muito fixe para você estagiar em Recife, não é muito na sua área, embora haja
dinâmicas familiares de quando em quando. Acho que você iria adorar e se
surpreender com a equipe, formada em sua maioria por mulheres jovens. E o
melhor, fica pertíssimo de onde eu moro, caso você aceitasse montar sítio
conosco. Hahaha. A minha psicóloga, que também trabalha nesse espaço, não deve
ser muito mais velha que você, quiçá mais jovem ou da mesma idade. Por falar
nisso, hoje (03/07) é seu aniversário! Parabéns, que esse seja um ano de
conquistas e boas surpresas. Vinte e seis voltas em torno do astro-rei já deram
para aprender um bocadinho do que a coisa toda se trata. As regras do jogo da
vida, por mais que estas sejam orgânicas e vivam a se transformar e renovar.
14h21. Ajudando mamãe com as malas. Perdi-me todo agora.
Sim, meu blog é muito pessoal, íntimo e não sei por que tal tipo de
exibicionismo me acomete. É a minha vida dizer-me aqui. E só sei dizer sobre
mim, então fico meio sem alternativa ou não diviso nada que, sozinho e com o
tempo de que disponho, me realize mais. Eu que sou tão caseiro, só saio à guisa
de boa companhia, não encontro alternativa outra para preencher meus dias.
Saudades de você. Teria o mundo para conversar contigo. Sobre Munique que posso
eu dizer? É uma cidade extremamente organizada com um belíssimo sítio histórico,
é muito bem planejada, com um excelente sistema de transporte, há a barreira da
língua, está em constante manutenção/improvement
e a casa da minha irmã empresta um gostoso senso de familiaridade ao lugar. Me
saltou aos sentidos o cheiro da casa dela. Toda casa, todo lugar tem um cheiro
particular, já percebeu isso?
14h50. Eureca! Fiz uma descoberta essencial sobre mim e que
me parece tão óbvia agora que a descortinei que não sei como não havia
percebido isso antes. O que procuro numa mulher é ter orgulho de mim mesmo.
Exato! Orgulho de mim mesmo por tê-la como companheira. Se não me causar tal
sensação, não me interessa. Por isso é tão difícil me encantar por alguma,
porque para sentir orgulho de mim mesmo tem de ser alguém realmente especial.
Não sei se isso é certo ou errado, se é egoísta demais, mas é assim que se
constitui minha psique em relação ao sexo feminino. É necessária uma sincera e
profunda admiração para que eu me apaixone. A priori estética – e raras vezes
passei do a priori – e depois, pelo ser como um todo. Que coisa mais mesquinha
reduzir o amor a uma satisfação pessoal, mas não posso mentir para mim mesmo.
Quero sentir orgulho de ter a pessoa como parceira de vida. Estufar o peito,
brilhar os olhos e dizer com felicidade, essa é a minha garota.
15h02. Que curioso, você publicou uma entrevista exatamente
no dia do meu aniversário deste ano, com Ivo Canelas. Gostei mais da de
Victoria Guerra, achei ele muito seco nas respostas.
15h31. Li as demais entrevistas, minha predileta continua a
ser a Victoria Guerra. Fico impressionado como há construções belas, quase
poéticas no português de Portugal. Não digo que impossíveis, mas muito difíceis
para quem vive e pensa o português brasileiro. Me encanta. Parece um português
de ordem mais elevada que o nosso. Não vou menosprezar o brasileiro, que é um
português mais solto e criativo, mais maleável, flexível. Cada um tem suas
vantagens, mas me agrada bastante ler o que você escreve. Estou me coçando para
ler a de Deadpool 2, mas segurarei para ver o filme primeiro.
16h07. Começou o jogo da Suécia e Suíça. Vou assistir. E
almoçar.
18h53. Fui brincar com os meus sobrinhos e voltei me
questionando quanto isso vai durar, essa troca entre nós dois. É uma
experiência nova para mim. Diferente. Não sei para que serve ou como funciona.
Provavelmente de nada serve e não funciona, mas algo me move adiante. Um
sentimento por você que não sei que nome dar. Sei que me faz bem e, caso não
seja mau para você, continuarei escrevendo.
21h03. Voltei do supermercado aqui perto onde fui em busca
de Coca cereja (sem sucesso) e cheguei bem no começo do jogo de Colômbia e
Inglaterra. Está no intervalo.
23h09. Jogo finalizado. Você tem namorado e uma vida em
Portugal. E um projeto de vida que quer perseguir. Não sei se caranguejo
combina com áries (meu signo do zodíaco, 19 de abril, não sei como chamam em
Portugal), nem sei direito onde isso vai descambar, provavelmente num contínuo
desinteresse de ambas as partes até a separação total, a morte da esperança que
insisto em cultivar.
-x-x-x-x-
13h56.
Baixei “Lady Macbeth”, “A Quiet Place” e “The Killing of a Sacred Deer”. Não
sei como coloca para assistir no equipamento de vídeo da minha irmã. E confesso
que não estou para filmes ultimamente. Um ultimamente que já vem de algum
tempo. Mas quando a oportunidade se afigurar, quando aprender a operar as
coisas aqui, eu assisto, afinal estou com muito tempo livre em Munique. E durmo
na sala, onde fica, obviamente, a televisão. Você ainda não comentou o meu
último post, será que já optou por me defenestrar da sua vida? Talvez. Não a
culpo, tal empreitada não tem muito sentido de ser. Vou tomar banho.
15h12. Voltei. Aqui há mais ciclistas e velhos que em
Lisboa, mas de Lisboa conheci muito pouco e não posso medir os lisboetas pela
gente que cruzei no hotel, ainda mais um hotel, portanto internacional, que
aceita crianças de graça. Por que meu coração foi me pregar essa peça e por que
continuo a encená-la? Esperança tola, como tolo sou. Como tola é toda essa
história que mais se apresenta com estória.
15h38. Já apaguei três vezes o que escrevi porque tudo o que
me sai parece sem sentido, sem medida com a realidade. Nunca me tomou tanto
tempo preencher três páginas. Por que escrevo para você e sobre você? Eu sei a
resposta, porque você foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo. Eu
sei que a forte impressão que me causou não durará para sempre, como se dá com todos
os estímulos, seu impacto enfraquece com o decorrer do tempo, quando não
alimentado. Gostaria de ter um canal de diálogo melhor que os comentários do
blog, mas você não aparenta ter igual inclinação. Já partilhei o meu e-mail e o
meu Facebook, mas ao que parece você não quer tais intimidades. Acolho e
respeito, não há muito o que fazer, não é mesmo?
16h32. Fui almoçar. Às vezes me alimento, sabe? Sobre o
perfil da autora no seu blog, achei que você conta as suas qualidades com muita
sinceridade e bom humor. Acabei de falar com minha irmã e essa me garantiu que
vai me ensinar a operar a TV, que é ligada a um computador. À medida que a
idade avança, mais alienígena me sinto quanto às novas tecnologias, a
facilidade que possuía outrora de desvendá-las me escapa ou falta-me paciência
e interesse para decifrá-las. Sei que pulo de assuntos como um macaco que
brinca nos galhos de uma árvore, mas é assim que se dá a minha escrita. Será
que você celebrou o seu aniversário? Espero que sim.
19h29. Estava a brincar com os meus sobrinhos, fazendo
desenhos de giz no chão do pequeno quintal do apartamento térreo da minha irmã.
Havia me programado para ir à Marienplatz hoje, mas decidi ficar em casa. Acho
que amanhã irei. Não sei bem para que, mas irei. Acho que porque a vida é uma
só, porque não sei quando estarei por estas bandas de novo, para procurar o
Chartreuse verde (por mais que já o tenha encontrado na Amazon.de), para ver se
encontro o CD de “Bastards” de Björk na Saturn.
O perfume eu já tenho, só me falta o licor, o disco não me interessa
muito, visto que tenho Spotify, seria mais um ato de consumismo colecionista.
De qualquer forma irei porque é um lugar belo, cosmopolita, civilizado e
agradável.
0h37. Tentei persuadir minha mãe e minha irmã a ver algum
dos três filmes supramencionados, mas preferiram ver “Baby Driver”. Me
surpreendi positivamente. Pelo trailer pensei que seria muito pior. E há a doce
ironia de o protagonista se apaixonar por uma garçonete. Hahaha. A trilha
sonora é interessante e bem variada e achei curioso no começo do filme, que é
bem musical, que o cenário reflete parte das letras das músicas, uma sacada
interessante, mas que não perdura por toda a película. Divertimento
descompromissado, com doses de adrenalina, humor, violência, romance e uma
pitada de drama. Passa voando. Queria ter assistido um dos três hoje para poder
comentar, mas tenho certeza que terei tempo para isso. Só não tenho tempo para
escrever. Acabou-se a terceira página. Inté.
Primeiro: adorava ir a Munique.
ResponderExcluirSegundo: yey, que filmes fixes (sim, é FIXE que se escreve :p)! Espero que gostes tanto do "The Killing of a Sacred Deer" quanto eu.
Terceiro: o Baby Driver tem uma banda sonora muito fixe, vi logo que ias gostar.
Kissss
*Quarto: wooohooo, nunca tive um marcador só para mim! Quão especial me sinto :D
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