20h29. Primeiro: não vi que havia comentado dois dos meus
posts, estou exultante! Que coisa deliciosa! Você não sabe o alegre rebuliço
que me dá na alma. Sobre o seu primeiro comentário não entendi o “adorava ir a
Munique”. “Adorava” significa que você costumava vir e gostava ou que você adoraria
conhecer Munique um dia? Creio que não empreguemos essa conjugação da mesma
forma no Brasil.
20h50. Segundo: obviamente acho os filmes que elenquei ultra
fixe, visto que são os meus prediletos. Faltou na lista “Procurando Nemo” que
assisti em condições bastante particulares que amplificaram a percepção do
filme para mim. Embora ame Wall-E (acho-o “kubrickiano” até) e de todo seja um
filme mais ousado e com uma mensagem mais profunda, o do peixinho desgarrado me
cala mais fundo à memória. Dos diretores, o que tem mais filmes que me agradam
é Kubrick, creio que em segundo colocaria Spielberg, por mais que pareça uma
heresia, que seja herege, então. A verdade é que não conheço muito de cinema,
já fui mais aficionado, estou retomando agora este hábito, porque na casa da
minha irmã e por causa de você. Por falar em minha irmã ela viu o trailer “Sacred
Deer” e disse que não tem nervos para encará-lo, já minha mãe se animou. Eu me
poupei de ver o trailer para assistir o filme sem ter ideia do que esperar. Quando
vir, teço os meus comentários aqui. Antes de ler os seus, o que sem dúvida
farei.
0h00. Acabamos de ver “Tomb Raider”, mas é daqueles filmes
esquecíveis, embora melhor que “Pacific Rim: Uprising”. Minha irmã disse que “The
Mummy” com Tom Cruise é muito pior que “Tomb Raider”, estou curiosíssimo para
assistir, deve ser tão ruim que é bom. Hahaha. Filmes trash me apetecem, por isso a queda por terror.
0h02. Terceiro: realmente dos que vi desde que a Munique
cheguei, “Baby Driver” foi disparado o melhor. A trilha sonora é esperta
realmente e faz uma salada mista musical que certamente agradará em pelo menos
uma música cada um da plateia, visto que passeia por vários gêneros de várias
gerações. E concordo que a mistura funciona e agrega valor ao filme.
0h32. Quarto: pois é, sinta-se especial porque é assim que
sinto. Não é à toa que tanto da minha energia emocional está canalizada para
você nos meus textos. Não vai ser fácil esquecer ou guardá-la em uma gaveta da
memória. Por mais que o mais prudente fosse fazer isso o mais rápido possível,
uma força maior me move na direção oposta. Percebo que você não menciona nada
sobre os meus devaneios afetivos e se atem nos comentários apenas à parte
cinematográfica, inteligente que é. Não quer alimentar em mim falsas
esperanças, pois sabe que é o que seriam. Acredito que, para além do marcador,
você nunca teve tantas palavras dedicadas a si (por uma só pessoa) em toda a
sua vida. E provavelmente nunca terá. Não há muitas pessoas no mundo como eu, o
que é uma bênção para humanidade. Hahaha.
-x-x-x-x-
18h05. Acabo de voltar da Marienplatz. O prédio que é marco
do local, mesmo sendo velho conhecido, ainda segue me impressionando. Da
próxima vez irei com mamãe e poderei tirar fotos. Procurei pelo Chatreuse verde
e encontrei-o mais caro que pela Amazon.de. Procurei em todos os recantos
possíveis pelo organizador de moedas e não fui feliz na empreitada. Parece que
crianças têm por instinto se pintar. Vi que respondeste mais um post, o do dia
do seu aniversário. Então você não é a gerente, gostaria de saber que nome se dá
à profissão que exerce. E não se anime, sou péssimo com datas, não sei se
guardarei o seu 3 de julho até o ano que vem quando completará 27, meu número
da sorte. Quem dera acreditasse em numerologia...
18h37. Acabei de descobrir que a protagonista de “Tomb
Raider” é a mesma de “Ex Machina” (outro filme de ficção científica que achei
fabuloso). Faz meu tipo. Hahaha. Mas não trocaria você por ela, embora por um
momento hesitasse! Hahaha.
19h41. Você faz academia (vai ao ginásio) então a minha
silhueta rotunda deve lhe causar aversão. Sei bem como esse preconceito acomete
quem malha (faz exercícios), “se eu consigo me manter em forma, por que aquele
mané não consegue?” ou coisa de gênero semelhante. Está passando uma de Cássia
Eller aqui na rádio do Spotify que minha irmã colocou para tocar que diz “eu
sou o poeta e não aprendi a amar”. Me identifico. Ou não. Já amei muito e
profundamente na vida e tive a contrapartida. Mas depois dessa década de
solidão, começo a acreditar que já vivi todo o amor correspondido que me cabia,
que o que me cabe é o amor unilateral, platônico. Se for, entendo e até acho
justo, pois quando amei, amei com a alma toda, me entreguei e sorvi com
voracidade o sentimento e fui além da paixão, cheguei ao amor, o que não acho
feito pequeno, talvez tenha sido a minha maior conquista, certamente a mais
bela e mais recompensadora delas. Uma construção humana ímpar. Depois disso, de
ter destruído o sonho, só foi me permitido sonhar sozinho. Eu me indago como
consegui conquistar as mulheres da minha vida, as cinco mulheres que aceitaram
e acreditaram que valia a pena repartir suas existências com a minha. Pensar
que tinha 31 anos desde que a merda se deu e que agora estou com 41 e desde
então sozinho me faz desacreditar de qualquer possibilidade de um novo alguém.
Até porque mulheres da minha faixa etária não me atraem, me amedrontam, isso
sim. Buchudo e velho, como vou conquistar alguém como você? Impossível, né? Eu
sei, eu sei, mas a esperança infantil e imbecil se assanha e faz brotar paixões
platônicas. Pelo menos em 2027 eu talvez pulique o meu livro. Talvez os dois. Dar
um grande foda-se para o mundo, para todas as pessoas que me são caras e raras,
e mandar imprimir uma centena ou duas do texto.
22h11. Assistindo “Get Out” e até agora o nosso herói,
aparentemente, está conhecendo a família mais esquisita desde de os Adams.
23h53. Gostei. Filme tenso, bizarro, bem amarrado e com
forte conteúdo racial. Prende a atenção até o fim e fica na cabeça por um pouco
mais de tempo. Se disser mais do que isso posso estar estragando as surpresas
do enredo.
23h57. Tenho alguma vontade de assistir outro, mas não tão
grande assim. Vejamos o que decido nos próximos dez minutos.
0h01. Coloquei para copiar “The Girl With All The Gifts”,
até onde sei um filme de zumbi com um plus,
um twist diferente. Não sei por que
gosto de filmes de zumbis, acho que é medo da selvageria humana. Meu maior medo
quando criança era da guerra. Está copiado. Resta-me só plugar, descobrir o
menu onde localizo o pen drive e assistir. Como é um filme de zumbi, não deve
ter muitas falas, perfeito para assistir sem legendas (que sempre coloco em
inglês para aprimorar o meu domínio da língua. Não tem ajudado. Hahaha), o
equipamento daqui misteriosamente não reconhece legendas.
0h16. Meu cunhado chegou do encontro com um amigo. Acho que
vou esperar ele dormir para colocar o filme, se bem que a decisão inteligente
seria pedir que ele me ensinasse a colocar o filme em primeiro lugar. Não quero
incomodá-lo, deve estar cansado. Vou esperar a casa toda se aquietar mesmo. Sei
que não lhe tomaria mais que dois minutos, mas sou bicho do mato, então
travarei uma briga com os botões e controles.
0h31. Fui fumar um cigarro. Não adianta, quando a minha
mente serena, me vem você, portuguesinha. Não acho ruim, nem acredito que
durará para sempre. É como uma febre da alma cujos sintomas são saudade,
carência em todos os seus âmbitos e carinho. Foi e é a mulher mais admirável
que conheci nos últimos anos. E da qual pude me aproximar mais, dada a
convivência no hotel. Você, portuguesinha, que tanto ama ler, iria se
impressionar com a biblioteca do meu finado pai, que certamente deve ter lido o
mesmo tanto que você (ousaria dizer bem mais, porém não tenho provas disso,
afinal, com a sua idade já possuía filhos). Havia livros belíssimos com páginas
laqueadas a ouro, xilogravuras, gravuras em metal e litogravuras. Ele foi sócio
por um determinado tempo da Limited Editions, que elevava o objeto livro ao
estado de arte para além do seu precioso conteúdo. Teve que abandonar o seleto
clube por causa das sucessivas crises econômicas do país. Havia, não, há. Estão
todos estocados numa casa que meu tio usa de escritório em dezenas de enormes
caixas. Acho que seria um pequeno paraíso para você explorar esse tesouro
deixado às traças, que meu irmão sonha em um dia abrigar em sua casa, não sei
em que parte do mundo nem sei como. Minha irmã e eu pegamos o que nos
interessava ou julgava que interessava, pois, em verdade não gosto de ler, prefiro
infinitamente escrever, por mais pobre que seja a minha escrita, em grande
parte pela falta de leitura. Ironias da vida. Uns com tanto outros com tão
pouco. Acho um grande desperdício ser eu um dos herdeiros da biblioteca. Mas minha
vida é farta de tais ironias. Herdei dele a queda pelo colecionismo,
entretanto, não poderia ter escolhido como objetos de predileção coisas mais
inúteis, infantis e tomadores de espaço que estátuas de super-heróis. Uma coisa
lhe digo, se você ainda tem seus pais, ame-os, aproxime-se deles agora como
amiga, porque adulta, para não se arrepender quando for tarde demais para isso.
Meu pai se foi, mas ao contrário dos meus irmãos que emigraram, tive a
oportunidade de conviver mais, muito mais com ele e, perto da sua inesperada morte,
alcançar-lhe um pouco a alma que mantinha fechada e protegida por uma dura
couraça. Da minha mãe com quem sempre tive uma relação de amor e ódio, de
carência e abandono, começo agora a criar um vínculo mais saudável para ambos.
Nossa, 1h14. Acho que deixarei para quando acordar o tal filme de zumbis. Você,
psicóloga que é (embora psicólogos sejam gente como qualquer outra), deve ter
as relações parentais muito mais bem resolvidas do que eu. Estou a pregar a missa
para um padre. Novamente me passando por ridículo. Desculpe-me, querida portuguesinha,
pequena maravilha que a vida me ofertou por alguns míseros dias. Você não sabe
como me doeu ouvir a palavra adeus proferida dos seus lábios. Para nós,
brasileiros, ou para mim, pelo menos, a palavra tem uma conotação fatalista e definitiva.
Só dizemos adeus quando não há possibilidade de reencontro, o que, eu sei, é
precisamente o caso. Mas me calou fundo e fiquei ruminando sobre ela,
melancólico, após deixar o bar e me enfiar na banheira do hotel. Ainda bem que
você não me abandonou por completo e me manda mensagens pelos comentários do
blog. Como disse e redisse, é um quase nada que significa muito para mim, visto
que nada tenho desse âmbito com uma garota apaixonante e especial para mim. Com
alguém que julgue estar à altura dos meus elevadíssimos – e deveras frustrantes
– padrões de companheira. Queria ver de perto aquela foto que lhe serve de
perfil no 500px ou coisa do gênero. Parece que um pretinho básico lhe cai muito
bem. Por sinal, sua cor predileta é o preto, né? Pronto, acabou-se a terceira
página.
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