segunda-feira, 23 de julho de 2018

ANSIOSO PARA VOLTAR À TERAPIA


O famoso quarto-ilha e algum de seus habitantes.



Tanto se passou desde o meu encontro com Ju, às vésperas da viagem, que estou ansioso por reencontrá-la e descobrir quem vai ser este eu que vai ter com ela. As duas mudanças principais na minha vida sem dúvida foram a condenação do meu livro como impublicável pela incrível revisora e a portuguesinha. E o Chartreuse. Minha mãe ter concordado em realizar esse sonho antigo me surpreendeu imenso. Espero que não vá dar para trás. A portuguesinha me achou dramático, diria mais que sou ansioso e que a ausência de resposta dela a um dos meus posts me leva prontamente a achar que o tênue fio que nos une tenha se rompido em definitivo. Sei que é bobo isso mas tenho medo de perder esse contato, caudaloso da minha parte, breve da dela. Me agrada saber que aquela garota encantadora que passei horas a observar existindo e da qual me lembro vividamente até o presente momento, me lê e não desgosta disso. Amo receber suas notícias. O carinho e a admiração, ingredientes principais da paixão, junto com o desejo, permanecem. Quero muito saber o que Ju vai achar disso. Certamente vai achar algo mais saudável e palpável que a outra opção, por mais que seja tão impossível e intangível quanto, mas é pelo menos algo com algum dado de realidade, houve troca e, bem, em tudo se assemelha à outra opção, exceto por uma diferença que faz toda a diferença. Mas deixemos a outra opção para a terapia.

22h46. Acho que esta foi uma das melhores viagens que já fiz. Eu tão receoso e indisposto a ir acabei me divertindo e quase amando uma garota. Quase vi o Rock in Rio. Estive lá ao menos. Hahaha. Meu amigo que emigrou para Portugal ainda não me perdoa por ter perdido o show de Chemical Brothers, ainda mais pela razão que aleguei que, para ele, caçador de bocetas, que tem uma relação muito mais animal, fisiológica com as mulheres que eu, pareceu uma idiotice sem tamanho. Que seja! Vivi a vida como desejei e não me arrependo de não ter visto Chemical Brothers, isso era menor do que conquistar a possibilidade, inesperada, de me comunicar com a portuguesinha. Esta disse que faço uma imagem dela que não corresponde com a realidade. Acredito que isso se dê porque preencho as grandes lacunas que desconheço com o que espero e sonho. Nada mais natural e estranho. Ela é parte ela e parte criação da minha cabeça (e todos nós não somos uns para os outros?). Parte portuguesinha parte personagem. Não há como ser de outra forma, mas acredito que não faço uma imagem muito distante da realidade. Ou assim quero crer.

22h59. Sinto saudade. Sinto-me bem com a minha saudade. Passava pior sem ela. Renovou-me o espírito que acho ao mesmo tempo velho demais e infantil demais para o homem da idade que possuo. Será que gostou da rosa? Talvez tenha achado um clichê piegas e ridículo. Sei lá. Confesso que tentei ouvir Rita Redshoes mas o português lusitano cantado me causou estranheza demais, o português brasileiro é muito mais musical na minha opinião. Talvez seja a falta de costume, mas achei algo tão estranho e o pior, quase cômico. Não bateu. Gosto do português português falado, mas cantado é uma história toda outra, não me desceu bem. Adoraria, entretanto, ouvir a portuguesinha cantando. Nossa, como tenho curiosidade disso. Seria muito fixe ouvi-la. Ah, um papel ridículo que passei por uma das minhas paixões platônicas. Assista abaixo e descubra o papel que eu passo para tentar encantar uma garota. Hahahaha.  





Como disse, também sonhei viver de cantar, mas como conclui-se do vídeo não é essa a minha vocação. Aliás, não tenho vocação para nada, sou um completo fracasso e me envergonho disso. Sei que essas palavras que são a minha ocupação são inúteis e mal escritas porque não tenho leitura suficiente para desenvolver um estilo ou qualquer coisa que tenha algum mérito literário. É a vida e segue. Por falar em escrita, acho que você que tem muitos mais leitores que eu poderia se cadastrar no AdSense da Google e colocar um ou dois banners de propaganda no seu blog, seria uma forma de transformar o hobby em algo que gerasse alguma renda para você. Eu até hoje só consegui 53 ou 57 centavos de dólar. Hahaha. Rogo que tenha mais sorte. Não acredito que faça isso em verdade, acredito que não ache que o seu blog seja local para tais capitalismos. Bom, fica a dica. E é um sistema muito inteligente que seleciona as propagandas de acordo com o conteúdo do seu blog e as preferências do usuário/leitor. É uma pequena maravilha tecnológica. Mas acho que nada disso lhe interessa.

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10h19. O tédio me toma. Acabo de acordar e pensar que passarei o dia inteiro enfurnado nesse quarto não me agrada. Nada de Ju. Se tentou se comunicar pelo WhatsApp nunca saberei, visto que meu celular se perdeu em Lisboa.

12h47. Voltei do Bompreço onde comprei Cocas Zero e iogurte grego de frutas vermelhas. Quase o dinheiro não deu. Nenhuma resposta de Ju, acho que nosso encontro ficará para a semana que vem. Sinto desde já – e de antes – necessidade de desabafar com ela. O e-mail dela não veio, mas o do site onde comprei o ingresso para Caetano veio e fizeram a alteração do cadastro para o meu nome enfim. E repassaram tal alteração para o voucher do ingresso. Massa. Ou fixe. Fico até meio errado de colocar “massa” no texto, porque, se meu padrasto estiver certo, você, portuguesinha, vai ficar lendo “pênis” a cada citação. Hahaha. Muito doido isso. Foi por água abaixo a minha missão de divulgar a gíria em terra lusitana, visto que já é gíria para coisa totalmente diversa e inapropriada. Hahaha. “Lost in Translation”. Hahaha. Bom filme. Com final perfeito. Um dos melhores fechamentos de filme que eu já assisti. Adoro quando deixam algo nas mãos do espectador para intuir, cada um tem o seu final de filme diferente dos demais. Achei fantástico isso.

13h01. Vou conversar com a portuguesinha. Não entendi porque o seu novo companheiro cinematográfico se intitulou um “dork” se essa palavra significa idiota em tradução literal. Ela tem outro significado aí? Ou o cara tem uma autoestima similar à minha? Coitado se for isso...

13h21. Tive uma das minhas tremedeiras agora, geralmente quando como passa, então detonei dois potinhos de iogurte. E fumei um cigarro. Estou me sentindo menos trêmulo, mas não de todo bem ainda. Se dork for um sinônimo de nerd, mostre a foto do meu quarto-ilha a ele. Talvez ele se identifique com as minhas estátuas e muitas outras há, parte nos EUA, na casa do meu irmão e parte encaixotada aqui. São necessárias estantes especiais para acomodá-las por isso tanto anseio pela remodelação do meu quarto, há muito prometida. Não gosto deles, bonecos e bonecas, presos nas caixas, sem poder me embevecer observando-os. Abaixo, você pode ver parte das caixas que aprisionam minha querida coleção ao fundo.

Há pelo menos o dobro disso, nem sei como caberão no meu quarto que não é muito grande.
A arquiteta há de fazer um milagre.

13h37. A tremedeira passou. Graças. Eita, agora que lembrei adorada portuguesinha, ainda não assisti “Sacred Deer”, tenho que fazê-lo o mais breve possível para compartilhar as minhas impressões acerca da obra. O fato de ter Nicole Kidman já me deixa animado quanto à qualidade da película, visto que ela não se mete em filmes ruins (via de regra). Você deve odiar receber sugestões de filmes, né? Eu tenho uma relação estranha com sugestões, algo me repele delas. Não é o caso com as suas, pois me indicou dois filmes de suspense que são bem a minha praia (e obviamente por ter sido você que me sugeriu, isso conta mundos para mim; por sinal, guardei os dois papeizinhos que você escreveu para mim, lembranças preciosas que são). Como anda a sua dissertação de mestrado? Minha irmã, que tem pós-doutorado, disse que esses títulos importam muito na Alemanha, quiçá na Europa. Disse que foi um fator que ajudou na compra do seu apartamento em Munique, por exemplo. Ela conseguiu depois de muito procurar, fechar um bom negócio nos arredores da cidade e está muito contente com o feito. Trinta anos para pagar. Nem sei se tenho esse tempo todo de vida adiante... :P

14h21. Minha mãe e meu padrasto chegaram dos afazeres burocráticos dos quais foram tratar. Ao que parece não resolveram de todo o que se propuseram a solucionar.

14h48. Me perdi pela internet. Disse à minha mãe que havia comprado o ingresso para o show de Caetano. Ela não aceitou muito bem nem muito mal, preciso ainda contar-lhe dos outros gastos. Aí ela vai ficar irada sem dúvida.

15h22. Ela ficou irada já com o show de Caetano, está ameaçando cortar o meu cartão de crédito. Mamãe costuma descontar o estresse de outras coisas suas em terceiros, basta uma justificativa. E eu dei-lhe uma bem sólida. Quando souber que a Red Sonja vai ser lançada antecipadamente e que tive que pagar as parcelas que faltavam de uma só vez e ainda virá o frete, sem mencionar a compra que fiz na Amazon, ela definitivamente vai cancelar o meu cartão. Estou ferrado.

18h16. Tédio, poderia assistir o filme, mas não estou com a mínima disposição. É sempre assim quando chego ao quarto-ilha. Isso é muito ozzy. Há o fato de ter comido há pouco tempo, a barriga cheia sempre me é desestimulante.

22h02. Vou encontrar com a Gatinha no próximo sábado talvez. Vai ser bom. Sempre é. Mas quando volto para esse texto, inevitavelmente penso na portuguesinha. Um dos meus leitores, que virou leitor depois de criticar a foto do bezerro de duas cabeças, se bem me lembro, me perguntou “quem é esta tal de portuguesinha?” Quando lhe contei a história, muito por alto, pelo Facebook, num dos canais para escritores, recebi logo um emoticon de gargalhada. Logo depois o seu comentário foi, “Coração mole esse seu” e outro emoticon de gargalhada. Achei graça também, através de emoticon, e complementei, “Manteiga derretida. Infelizmente.” Estás vendo portuguesinha? Essa nossa louca relação cibernética não é tão somente nossa assim. Há alguém que a acompanha. Pelo menos a parte que eu escrevo. Isso torna tudo mais esquisito e curioso. Essa existência que levo se torna cada vez mais peculiar. Mas que posso eu fazer se o meu passatempo é escancarar o meu coração e meu juízo (ou falta dele) para o mundo? Às vezes penso em desistir disso, mas logo recuo, pois desistir disso é praticamente desistir de viver. Minha vida, na maior parte do tempo é fazer isso, não sei e não quero fazer outra coisa, tanto é que Ju, minha terapeuta quer me arrumar uma AT para que eu viva outras coisas que sozinho não consigo. Ou não tenho ímpeto. Se bem que tive o ímpeto de comprar o ingresso para o show de Caetano. E acabou a terceira folha. Vou revisar e postar.  


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