Amanhã tem terapia. Ontem teve a Gatinha aqui. Hoje teve eu
na frente desse computador seguindo comunidades de bonecos no Facebook até
quase agora. 23h. Em ponto. Minha mãe fica mais feliz quando escrevo no blog de
bonecos que aqui. Porque lá tenho muito mais visualizações. Passou-se o final
de semana e a portuguesinha não comentou meus posts. Tenho um embrião de post
deixado pela Gatinha com vinte perguntas para eu responder, a tão sonhada entrevista
que gostaria que alguém fizesse comigo. Que sugeri mais de uma vez à
portuguesinha sem sucesso. Acho que a portuguesinha desistiu de ler
definitivamente agora. É uma pena, um cordão partido, o balão sobe para além do
meu alcance. Mais leve que o ar, visto que inflado de sonhos, toma a infinidade
dos céus do nunca mais. E a vida segue. Preciso lembrar sempre que apesar de
tudo e antes do fim, a vida segue. E é boa. Por mais que muitas vezes não
pareça. Mas isso é cisma comigo mesmo e minha inominável solidão. Com a qual me
cubro e me escondo no quarto-ilha. Me escondo de quem é a questão. Se ninguém
há. Estou ligeiramente melancólico e as palavras me vêm assim, nesse tom. O
blog de bonecos sem dúvida me preenche de forma mais sadia e a recompensa é bem
maior.
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20h02. Eu fui à terapia hoje e tratamos muito das minhas
contradições. Nossa, como eu sou um ser contraditório. Estou de volta porque
postei o meu texto de hoje no maravilhoso mundo dos bonecos. Estou interessado
em comprar duas bonecas, mas não sei como. Uma me lembra muito Natalie Portman,
que eu amo. Vejam e julguem se é só coisa da minha cabeça.
Estou sem coragem de enfrentar a entrevista que a Gatinha
fez. E estou à espera da entrevista de um dos queridinhos do maravilhoso mundo
dos bonecos. Não sei se a entrevista dele vai rolar. Acredito que não. A
toda-poderosa Sideshow vai vetar. Bem, veremos. Estou com vontade de dar uma
cobrada, dar um deadline para ele, para ver se consigo agir antes da Sideshow.
Acho ousado da minha parte, afinal o cara trabalha e eu não. Meu trabalho é o
meu hobby das palavras, agora cuidando de dois blogs, o que é um duplo prazer.
20h12. Na terapia, quando Ju perguntou o que eu precisava para
apreciar coisas diferentes da vida, a única coisa que me veio à cabeça foi uma
AT, entretanto confessei que não estava preparado para tal experiência no
momento. A verdade, como lhe disse, é que estou muito acomodado com a minha
situação, muito confortável nela. Confessei também que deixei de acreditar que
conquistarei uma nova namorada na vida, que já havia me desiludido disso. Isso
veio puxado pelo caso da portuguesinha e do seu silêncio. Mas é uma coisa até
anterior a ela. Confessei que me sinto um frustrado, fracassado, um merda e que
estou acostumado a me sentir assim. Ela perguntou a pergunta crucial, o que eu
ganho me colocando nessa posição. Tive que pensar e a única conclusão que
cheguei é que é uma forma de fugir de qualquer confronto e continuar com a
minha existência medíocre no quarto-ilha. Ju vai ganhar muito dinheiro comigo.
Hahaha. Vai levar muito tempo para todas essas contradições serem confrontadas
e eu me motivar a sair da minha zona de conforto. Nossa, parece tão estranho
escrever aqui agora que recomecei a publicar no blog de bonecos.
21h23. Falei também de o meu livro ser considerado
impublicável, mas não consegui expor quão frustrante a realidade pode ser e
como a minha visão de mundo é discrepante das demais. Ela falou que eu tenho um
lado bom, além do lado – nas palavras dela – sombrio. Eu não consigo ver esse
lado bom. Há algo de muito errado comigo, é o que posso dizer. Eu me sinto todo
errado. Eu vivo o avesso das coisas, do padrão, do esperado de alguém como eu.
E, ao mesmo tempo que isso me incomoda tremendamente, me faz sentir tremendamente
único, o que é um sentimento bom, mas espinhoso. Queria que a portuguesinha
desse sinal de vida. Queria mesmo era uma namorada pela qual fosse apaixonado.
Preciso de carinho de uma forma que eu mesmo não sei mensurar. Sou carente e
infantil e patético.
0h11. Estava mergulhado no maravilhoso mundo dos bonecos. É
um mundo de fantasias, não difere muito do meu, exceto pelas fantasias serem
mais reais (para quem tem dinheiro para elas, o que não é o meu caso). Quando volto
para cá, me sinto mais sorumbático, isso me incomoda. Talvez seja o momento de
deixar de lado um pouco este espaço. Se não me faz bem, se não há mais a
portuguesinha, se o outro blog é tão mais excitante e recompensador, por que
ficar me denegrindo aqui para vinte, trinta leitores? Parece sem sentido. Eu
terminarei este post, entretanto. Mas não agora, não hoje. Amanhã talvez.
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15h50. Acabei de receber uma notícia que muito me agrada a
respeito da figura que lembra Natalie Portman e que tanto queria ter na minha
coleção. Não vou explicar porque muito demorado e complicado para quem não
coleciona, mas definitivamente uma informação que me faz ter ainda mais vontade
de ter a figura na minha coleção. Ju, minha psicóloga (para quem não sabe), me
incentivou a conquistar mais espaço e estabelecer limites para o controle da
minha mãe sobre a minha vida. Isso inclui a liberdade de comprar periodicamente
um ou outro boneco, ou seja, usar parte da minha pensão como eu quiser. Ela
achou salutar eu ter comprado o ingresso para o show de Caetano, o que causou a
ira momentânea da minha mãe, por tê-lo feito sem consulta. De toda sorte
tentarei adquirir a Little Mermaid e a Rebel Terminator para a minha coleção.
Para a primeira tenho fundos. Para a segunda, a coisa complica. Mas emprestei
uma grana a meu amigo e pretendo vender alguns dos bonecos que estão na casa do
meu irmão nos EUA para conseguir recursos. Vou inclusive mandar um e-mail para
ele para organizarmos isso. Pois é, estou de novo superempolgado com o
maravilhoso mundo dos bonecos e sonho com meu quarto preparado para poder
expô-los todos. O que não estou com muito saco de fazer é criar posts
autobiográficos. Estou desinteressado disso no momento e está sendo um fardo
completar as três páginas de Word que me proponho a preencher para criar uma
nova postagem do Profeta. Me excita muito mais o maravilhoso mundo dos bonecos
no momento. Até porque a portuguesinha me abandonou. E quando venho aqui isso
me lembra da completa miséria emocional em que vivo. Ju me perguntou mais de
uma vez o que eu poderia fazer para reverter isso, sair da minha autoimposta
clausura, ver coisas novas, gente diferente. Minha resposta para todas as vezes
que me indagou isso foi a AT, por mais que tenha lhe dito que não estou
preparado para isso no momento, como já mencionei aqui o que é redundante e
chato como eu. Acho que vou acabar esse post por aqui e postar. E divulgar. Não
estou com alma para cá. Ah, meu tio me perguntou do livro! Fiquei superfeliz de
ele ter demonstrado esse interesse. Contei-lhe que a incrível revisora achou o
material impublicável e que ela tinha conhecimento de causa para emitir tal
julgamento. Contei-lhe também que havia enviado o material sem revisão para um
concurso da CEPE, o qual não ganharei certamente. Mas não quero pensar no
livro, acho que o que farei é comprar um pen drive pregar-lhe um adesivo com a
palavra “livro” e deixá-lo na minha gaveta para quando eu morrer alguém que se
interesse ler. Ou não. É triste ver tanto esforço, a narração de uma situação
tão sui generis, que pouquíssimos experimentam, ser destinada ao completo
esquecimento, mas não vejo outra alternativa. Não quero ser repudiado por todos
que me cercam e este seria o inevitável resultado da publicação da obra. Quem
quer que lesse ficaria chocado com as revelações. Dane-se, vai para um pen
drive na minha gaveta como se eu nunca tivesse vivido e sentido aquilo. Como se
todo o esforço de escrever paulatinamente e depois digitar paulatinamente não
valesse de nada. O custo/benefício em todos os âmbitos, como a incrível
revisora deixou claro, não compensa. Estou começando a me desvencilhar do
maravilhoso mundo dos bonecos e me focar na minha realidade. Tenho um
Chartreuse verde para beber, mas mamãe fica me enrolando e protelando o dia de
inaugurar tão precioso líquido que combinei beber com ela. Acho que vou comprar
duas Cocas ali na pizzaria quando acabar de escrever isso. Quero deixar claro
que eu não presto, eu sou a promessa frustrada, o patinho feio que é deveras
pato e deveras feio, não há cisnes no conto da minha vida. Se há, é o meu
irmão. Uma dica de escrita não diga o que você vai fazer, narre fazendo ou
depois de ter feito. Sugestão do escritor Raimundo Carrero, nas palavras da
incrível revisora. Quando estou no maravilhoso mundo dos bonecos não tenho
vontade de morrer. Aqui essa vontade se assanha e vem me assombrar. Acho que na
minha lápide que não haverá eu colocaria alguém que viveu a vida em vão. E os anos
se vão e eu continuo aqui sentado na solidão, como se esperando o inesperado e
pensando em brinquedos. Adulto infantil, ser odioso que sou. Pelo menos vou ver
Caetano, da terceira fileira. Bem lá do canto, mas terceira fileira mesmo
assim. Preciso inclusive ouvir o disco novo para chegar ao show inteirado do
repertório. O farei quando voltar das Coca-Colas. Já estou na terceira página,
mais da metade dela. Dou meu dever por cumprido. É odioso ser eu e ao mesmo
tempo não poderia ser mais salutar, não sei viver de outra forma, desaprendi,
me acostumei a ser a barata de Kafka. Vou-me.
17h24. Voltei. Vou levar esporro de mamãe por ter comprado
as Cocas. Vi um animal estupendo, uma enorme mariposa, coisa tão rara nessas
searas cimentadas da cidade. Era só o que queria dizer. Mariposas maravilhosa
merecem as minhas palavras.