terça-feira, 31 de julho de 2018

PAUSA NO BLOG?


Amanhã tem terapia. Ontem teve a Gatinha aqui. Hoje teve eu na frente desse computador seguindo comunidades de bonecos no Facebook até quase agora. 23h. Em ponto. Minha mãe fica mais feliz quando escrevo no blog de bonecos que aqui. Porque lá tenho muito mais visualizações. Passou-se o final de semana e a portuguesinha não comentou meus posts. Tenho um embrião de post deixado pela Gatinha com vinte perguntas para eu responder, a tão sonhada entrevista que gostaria que alguém fizesse comigo. Que sugeri mais de uma vez à portuguesinha sem sucesso. Acho que a portuguesinha desistiu de ler definitivamente agora. É uma pena, um cordão partido, o balão sobe para além do meu alcance. Mais leve que o ar, visto que inflado de sonhos, toma a infinidade dos céus do nunca mais. E a vida segue. Preciso lembrar sempre que apesar de tudo e antes do fim, a vida segue. E é boa. Por mais que muitas vezes não pareça. Mas isso é cisma comigo mesmo e minha inominável solidão. Com a qual me cubro e me escondo no quarto-ilha. Me escondo de quem é a questão. Se ninguém há. Estou ligeiramente melancólico e as palavras me vêm assim, nesse tom. O blog de bonecos sem dúvida me preenche de forma mais sadia e a recompensa é bem maior.

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20h02. Eu fui à terapia hoje e tratamos muito das minhas contradições. Nossa, como eu sou um ser contraditório. Estou de volta porque postei o meu texto de hoje no maravilhoso mundo dos bonecos. Estou interessado em comprar duas bonecas, mas não sei como. Uma me lembra muito Natalie Portman, que eu amo. Vejam e julguem se é só coisa da minha cabeça.





Estou sem coragem de enfrentar a entrevista que a Gatinha fez. E estou à espera da entrevista de um dos queridinhos do maravilhoso mundo dos bonecos. Não sei se a entrevista dele vai rolar. Acredito que não. A toda-poderosa Sideshow vai vetar. Bem, veremos. Estou com vontade de dar uma cobrada, dar um deadline para ele, para ver se consigo agir antes da Sideshow. Acho ousado da minha parte, afinal o cara trabalha e eu não. Meu trabalho é o meu hobby das palavras, agora cuidando de dois blogs, o que é um duplo prazer.

20h12. Na terapia, quando Ju perguntou o que eu precisava para apreciar coisas diferentes da vida, a única coisa que me veio à cabeça foi uma AT, entretanto confessei que não estava preparado para tal experiência no momento. A verdade, como lhe disse, é que estou muito acomodado com a minha situação, muito confortável nela. Confessei também que deixei de acreditar que conquistarei uma nova namorada na vida, que já havia me desiludido disso. Isso veio puxado pelo caso da portuguesinha e do seu silêncio. Mas é uma coisa até anterior a ela. Confessei que me sinto um frustrado, fracassado, um merda e que estou acostumado a me sentir assim. Ela perguntou a pergunta crucial, o que eu ganho me colocando nessa posição. Tive que pensar e a única conclusão que cheguei é que é uma forma de fugir de qualquer confronto e continuar com a minha existência medíocre no quarto-ilha. Ju vai ganhar muito dinheiro comigo. Hahaha. Vai levar muito tempo para todas essas contradições serem confrontadas e eu me motivar a sair da minha zona de conforto. Nossa, parece tão estranho escrever aqui agora que recomecei a publicar no blog de bonecos.

21h23. Falei também de o meu livro ser considerado impublicável, mas não consegui expor quão frustrante a realidade pode ser e como a minha visão de mundo é discrepante das demais. Ela falou que eu tenho um lado bom, além do lado – nas palavras dela – sombrio. Eu não consigo ver esse lado bom. Há algo de muito errado comigo, é o que posso dizer. Eu me sinto todo errado. Eu vivo o avesso das coisas, do padrão, do esperado de alguém como eu. E, ao mesmo tempo que isso me incomoda tremendamente, me faz sentir tremendamente único, o que é um sentimento bom, mas espinhoso. Queria que a portuguesinha desse sinal de vida. Queria mesmo era uma namorada pela qual fosse apaixonado. Preciso de carinho de uma forma que eu mesmo não sei mensurar. Sou carente e infantil e patético.

0h11. Estava mergulhado no maravilhoso mundo dos bonecos. É um mundo de fantasias, não difere muito do meu, exceto pelas fantasias serem mais reais (para quem tem dinheiro para elas, o que não é o meu caso). Quando volto para cá, me sinto mais sorumbático, isso me incomoda. Talvez seja o momento de deixar de lado um pouco este espaço. Se não me faz bem, se não há mais a portuguesinha, se o outro blog é tão mais excitante e recompensador, por que ficar me denegrindo aqui para vinte, trinta leitores? Parece sem sentido. Eu terminarei este post, entretanto. Mas não agora, não hoje. Amanhã talvez.

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15h50. Acabei de receber uma notícia que muito me agrada a respeito da figura que lembra Natalie Portman e que tanto queria ter na minha coleção. Não vou explicar porque muito demorado e complicado para quem não coleciona, mas definitivamente uma informação que me faz ter ainda mais vontade de ter a figura na minha coleção. Ju, minha psicóloga (para quem não sabe), me incentivou a conquistar mais espaço e estabelecer limites para o controle da minha mãe sobre a minha vida. Isso inclui a liberdade de comprar periodicamente um ou outro boneco, ou seja, usar parte da minha pensão como eu quiser. Ela achou salutar eu ter comprado o ingresso para o show de Caetano, o que causou a ira momentânea da minha mãe, por tê-lo feito sem consulta. De toda sorte tentarei adquirir a Little Mermaid e a Rebel Terminator para a minha coleção. Para a primeira tenho fundos. Para a segunda, a coisa complica. Mas emprestei uma grana a meu amigo e pretendo vender alguns dos bonecos que estão na casa do meu irmão nos EUA para conseguir recursos. Vou inclusive mandar um e-mail para ele para organizarmos isso. Pois é, estou de novo superempolgado com o maravilhoso mundo dos bonecos e sonho com meu quarto preparado para poder expô-los todos. O que não estou com muito saco de fazer é criar posts autobiográficos. Estou desinteressado disso no momento e está sendo um fardo completar as três páginas de Word que me proponho a preencher para criar uma nova postagem do Profeta. Me excita muito mais o maravilhoso mundo dos bonecos no momento. Até porque a portuguesinha me abandonou. E quando venho aqui isso me lembra da completa miséria emocional em que vivo. Ju me perguntou mais de uma vez o que eu poderia fazer para reverter isso, sair da minha autoimposta clausura, ver coisas novas, gente diferente. Minha resposta para todas as vezes que me indagou isso foi a AT, por mais que tenha lhe dito que não estou preparado para isso no momento, como já mencionei aqui o que é redundante e chato como eu. Acho que vou acabar esse post por aqui e postar. E divulgar. Não estou com alma para cá. Ah, meu tio me perguntou do livro! Fiquei superfeliz de ele ter demonstrado esse interesse. Contei-lhe que a incrível revisora achou o material impublicável e que ela tinha conhecimento de causa para emitir tal julgamento. Contei-lhe também que havia enviado o material sem revisão para um concurso da CEPE, o qual não ganharei certamente. Mas não quero pensar no livro, acho que o que farei é comprar um pen drive pregar-lhe um adesivo com a palavra “livro” e deixá-lo na minha gaveta para quando eu morrer alguém que se interesse ler. Ou não. É triste ver tanto esforço, a narração de uma situação tão sui generis, que pouquíssimos experimentam, ser destinada ao completo esquecimento, mas não vejo outra alternativa. Não quero ser repudiado por todos que me cercam e este seria o inevitável resultado da publicação da obra. Quem quer que lesse ficaria chocado com as revelações. Dane-se, vai para um pen drive na minha gaveta como se eu nunca tivesse vivido e sentido aquilo. Como se todo o esforço de escrever paulatinamente e depois digitar paulatinamente não valesse de nada. O custo/benefício em todos os âmbitos, como a incrível revisora deixou claro, não compensa. Estou começando a me desvencilhar do maravilhoso mundo dos bonecos e me focar na minha realidade. Tenho um Chartreuse verde para beber, mas mamãe fica me enrolando e protelando o dia de inaugurar tão precioso líquido que combinei beber com ela. Acho que vou comprar duas Cocas ali na pizzaria quando acabar de escrever isso. Quero deixar claro que eu não presto, eu sou a promessa frustrada, o patinho feio que é deveras pato e deveras feio, não há cisnes no conto da minha vida. Se há, é o meu irmão. Uma dica de escrita não diga o que você vai fazer, narre fazendo ou depois de ter feito. Sugestão do escritor Raimundo Carrero, nas palavras da incrível revisora. Quando estou no maravilhoso mundo dos bonecos não tenho vontade de morrer. Aqui essa vontade se assanha e vem me assombrar. Acho que na minha lápide que não haverá eu colocaria alguém que viveu a vida em vão. E os anos se vão e eu continuo aqui sentado na solidão, como se esperando o inesperado e pensando em brinquedos. Adulto infantil, ser odioso que sou. Pelo menos vou ver Caetano, da terceira fileira. Bem lá do canto, mas terceira fileira mesmo assim. Preciso inclusive ouvir o disco novo para chegar ao show inteirado do repertório. O farei quando voltar das Coca-Colas. Já estou na terceira página, mais da metade dela. Dou meu dever por cumprido. É odioso ser eu e ao mesmo tempo não poderia ser mais salutar, não sei viver de outra forma, desaprendi, me acostumei a ser a barata de Kafka. Vou-me.

17h24. Voltei. Vou levar esporro de mamãe por ter comprado as Cocas. Vi um animal estupendo, uma enorme mariposa, coisa tão rara nessas searas cimentadas da cidade. Era só o que queria dizer. Mariposas maravilhosa merecem as minhas palavras.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

O PODER DO CAFÉ




15h29. Sem muita vida para viver que me interesse, venho para essas palavras. A tarde é minha, estou sozinho em casa. Gosto de uma tarde solitária na minha casa.

15h40. De que me servem as palavras e toda essa solidão? Estou meio down hoje. Tenho tudo e algo me falta. Acho que vou jogar videogame. PS3 precisamente. Deus X, mais precisamente ainda.

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12h57. Joguei Little Big Planet 2 e não joguei muito. Os gráficos são lindos, a física é perfeita, mas a diversão é miúda quando comparada aos jogos de Mario. Controles muito complicados para o meu gosto. O Mario é mais simples e mais gostoso de controlar e a física do jogo não é realista, é voltada inteiramente para tornar o jogo o mais agradável e intuitivo possível. Há uma grande parte no LBP 2 voltada à criação de fases, talvez isso explique a mecânica do jogo. De toda sorte não gostei. Se tentar hoje será realmente o Deus EX. Dizem que é possível finalizar o jogo sem matar nenhum inimigo (exceto pelo chefão final) e essa vai ser a minha meta, parece um desafio interessante. E trata da Singularidade Tecnológica, um tema que me é muito importante e está no cerne da minha crença a respeito de tudo o que há. A portuguesinha não respondeu o meu último post até o presente momento. Ju, por outro lado, respondeu o WhatsApp que mandei do celular de mamãe marcando a consulta para o mesmo dia e horário, ou seja, segunda que vem às 16h. Estou menos ansioso para encontrá-la do que quando cheguei, mas sei que vai ser bom. Sempre é. Estou mais sociável do que quando parti. Graças em grande parte à convivência em Lisboa e com a minha família de Munique. Acho que há outra razão, mas não posso comentá-la aqui. Vai para o Desabafos do Vate.

13h29. Estou tomando café aos montes, isso sempre me deixa mais animado, o que não ocorreu ontem, quando tive uma forte crise de tédio. Esses neurotransmissores associados à cafeína fazem milagres. Hahaha. O que a portuguesinha vai achar do meu vídeo cantando, se é que vai assistir... tremendo papel de palhaço. Que importa, melhor palhaço que tirano. O primeiro pelo menos traz alegria ao populacho e não o reprime, liberta por um momento ou dois da dureza de seus dias. Nunca achei graça em palhaços em verdade. Acho muito poucas coisas genuinamente engraçadas, de me despertar gargalhadas.

13h33. Acho impressionante como a adolescência comportamental chega cedo às crianças brasileiras. Não vi tanto disso na Europa. Lá pareceu-me que as crianças são crianças por mais tempo, o que acho deveras salutar, mas posso estar enganado e, num mundo conectado, essa trend pode ser global. Não sei. Acho que estou a falar asneiras.

14h20. Passei um bom pedaço conversando com mamãe. Foi bom, mamãe é outra, mais relaxada, menos severa e estressada que nos tempos idos da minha juventude. Também não lhe dou tanto trabalho como costumava dar. Estou sob controle, autocontrole, digo, e não sou dado mais a grandes paixões, que não as platônicas. Essas são coisas que me afligirão até o último suspiro, pois já perdi a esperança de concretizá-las. Vou ficar que nem o vizinho do sogro do meu irmão em Aldeia, esperando o que nunca vem. Só e um tanto amargo por causa da solidão. Ainda bem que tenho as palavras, elas são minhas companheiras infatigáveis e leais. Por mais que às vezes me bata um cansaço delas. Vamos ver se Ju vai tocar no assunto da AT na próxima consulta. Estou meio avesso à ideia no momento, mas sei que em breve a solidão vai abrir completamente as suas asas e talvez perceba essa presença estranha na minha vida como necessária. Não sei e não quero pensar nisso agora pois me toma um sentimento ruim a respeito. Só vou aceitar tal empreitada se e quando ela me trouxer um sentimento bom.

14h29. Estar em paz com a minha mãe é muito fixe. Amo-a sinceramente e sempre tive dificuldade de amá-la, pois sempre achei que não me deu amor, atenção e carinho suficientes e me sufocou, reprimiu e repreendeu demais. Hoje não, me aceita como sou – o que é dizer muito por causa das minhas peculiaridades – e tecemos, talvez até por causa das viagens, um vínculo de amizade maior. Eu entendo e não critico as suas falhas cognitivas, pois elas me acometem também, porém de forma bem mais branda. Ainda não me atrapalha (muito) a vida e o que realmente me marca o memorizo, também tenho atenção especial a compromissos. De resto, sou bastante desligado e passo a vida mais dentro da minha cabeça que fora dela, talvez por isso muitas coisas passem batidas por mim. E me esqueço de coisas com uma brevidade impressionante (exceto as realmente marcantes). Às vezes sinto como se levasse a vida com um leve torpor, uma embriaguez. Talvez sejam os remédios cobrando a sua taxa de efeitos colaterais por me manterem equilibrado. Acho a troca justa.

14h45. Acho que aceitá-la, sou um sujeito relativamente livre de preconceitos no geral, faz com que minha mãe também me aceite e respeitemos ambos nossas inúmeras diferenças. Lembrei-me novamente de “Sacred Deer”, acho que assisti-lo-ei hoje depois que a fantástica faxineira (uma pessoa ímpar) acabar de arrumar o meu quarto. Tomara que essa ideia evolua para um desejo sincero, o que é difícil, pois quando retorno ao quarto-ilha parece que o magnetismo do computador aumenta e só quero ficar nele. Seria bom um filme para desopilar e, geralmente, quando começo a assistir filmes, cresce em mim uma vontade de vê-los com mais frequência, de inseri-los no meu cotidiano. Tomara que tudo isso se dê. Gostaria de assistir um filme por dia, tenho certeza que isso me faria bem ao espírito. Confesso que ainda não encontro disposição, mas o primeiro passo é sempre o mais difícil da jornada.

14h53. Acho que café me dá flatulência. Meu quarto está impenetrável. Hahaha. Coisas de ser um bicho, um animal. Vai ver que tenho parentesco com as vacas. Hahaha.

15h04. Que ser humano seria tão despudorado a ponto de tratar de peidos abertamente? Eu realmente me surpreendo comigo às vezes. Acho que fui fumar um cigarro, não me lembro ao certo. Se o fiz foi tão mecanicamente que se passou e eu não notei. Lembro-me de ter entrado em casa pela porta de serviço – fumo no hall de serviço – então é bastante provável que o tenha feito, não iria lá por outra razão. Já abriram as persianas e janelas do meu quarto, então o ar tornou-se respirável uma vez mais. Os barulhos da construção aqui em frente invadem o meu quarto. Acho que vou botar música enquanto posso. Em breve migrarei para a varanda, para que a fantástica faxineira opere a sua mágica no meu quarto. Por falar em mágica e no meu quarto, tenho pena da arquiteta que terá que dobrar o espaço para fazer caber a minha coleção de bonecas tal qual a imagino disposta. Pobre coitada. Se essa reforma sair mesmo. É o meu maior sonho material, ter minha coleção enfim exposta ao alcance dos meus olhos. Meu segundo sonho material e esse é pernóstico até dizer basta, mais fútil até que as bonecas, é ter uma banheira no meu banheiro. Achei a experiência de ser lentamente encoberto por água quente extremamente relaxante em todos os aspectos. Tomei tantos banhos de banheira quanto pude nessa minha estadia na Europa. Pelo pouco que conheço, tenho que admitir que é um continente fascinante. A história do meu país começa ali (não desmerecendo os índios que chegaram aqui sabe-se lá quando e foram dizimados em sua maioria, vi inclusive no Twitter que o único sobrevivente de uma tribo dizimada por fazendeiros e contrabandistas de madeira, mora há 22 anos sozinho na selva e foi chamado pela BBC de “o homem mais solitário do mundo”, o que acho uma alcunha bastante apropriada, pois não tem laços culturais ou de sangue com mais ninguém no planeta. Ele é acompanhado pela FUNAI que lhe cede mantimentos e ferramentas para que siga sua solitária jornada rumo ao completo extermínio de um povo). Isso é que é um parêntese grande, hein? Acho que tenho um especial interesse por índios por ter nascido no Dia do Índio e por saber que o capitalismo não é a única via de sobrevivência de um povo, pode-se viver de maneira muito diversa, mais harmônica e solidária, mais pacífica e menos estressante, menos neurótica e egoísta, em suma, do que nós urbanoides de merda vivemos. Não sei se funcionaria para tribos excessivamente grandes, mas são um exemplo de vida para o qual deveríamos atentar, estudar, respeitar e aprender. Acho os índios mais felizes na sua imensa simplicidade que nós na nossa complexa e complexada realidade. O capitalismo leva a evolução tecnológica, isso não posso negar e é algo que me é muito caro, pois é nesse desenvolvimento que ancoro a minha fé. O número de produtos maravilhosos criados para suprir necessidades que nem sabíamos que possuíamos é um deleite, o chato é que uma parcela tão pequena da população mundial tenha direito a todas essas benesses. Apesar de tudo, de toda a discrepância social e da violência em nome de valores que não valem a pena, pois quase nenhuma violência é justificável para mim, logo não há causa que dê razão ao seu uso, apesar de todos os pesares (e são muitos) sou um otimista, vejo o futuro com bons olhos, pois olho para o passado e vejo que a humanidade já esteve bem pior. Pode ser que tenha uma visão romântica dos anos vindouros, mas acho que serão cada vez mais positivos. Há uma crescente consciência ambiental, já ensinada pelos colégios às crianças, em certos casos até pelos pais. Há um maior esclarecimento devido à internet. A internet é a grande revolução, eu me sinto abençoado por viver num mundo conectado, nada se compara ao impacto mundial que a grande rede teve. Nada desde a revolução industrial. Eu sou péssimo em História, mas minha alienada opinião é essa. A internet é a nona maravilha da humanidade. Daí, só a Singularidade Tecnológica, culminância ou estopim da culminância das tecnologias humanas. Espero estar vivo para ver. É algo como um “Broken Mirror” que dá certo. Muito certo. Inimaginavelmente certo, pois a nós reles bípedes de cérebro superdesenvolvido não nos é dada a capacidade de imaginar o que nossas míseras inteligências e abstrações não são capazes de alcançar.

15h47. Nossa, cá estou eu pregando, portuguesinha. Às vezes o meu lado profeta me acomete. Acho que é café demais. Hahaha.

15h58. Certamente é a cafeína a causa desse efeito, desse bem-estar com a vida, obrigado existência por esse café que agora tomo, segunda garrafa já, é absurdo o seu efeito sobre os meus ares. Portuguesinha, minha portuguesinha que não é e nunca será minha, é bom imaginar que me lê. É bom imaginar que do teu lado do Atlântico uma mulher apaixonante utiliza seu apertado tempo comigo. Ou desperdiça, sei lá. Tenho muito carinho por você e pelo “quase nada” que me ofereceu naquela breve semana no Novotel de Lisboa. Como vê, apesar da minha memória fraca, você ainda impera nos meus pensamentos e sou quase todo seu ainda. Ah, sonhar... não há limites geográficos, relacionais, culturais, não há limites para os sonhos, só os da imaginação. Confesso que minha imaginação não seja lá grande coisa, não sou dado à ficção, narro o que me ocorre dentro e ao redor. A fantástica faxineira já vem para o meu quarto e a terceira página está quase no fim.

16h23. Vim para a varanda. E a página chega ao fim. Espero que a portuguesinha leia esta e a postagem anterior e dê sinal de vida. Nem sei se quero que veja a postagem anterior por que passo por um ridículo sem tamanho nela. Hahaha. Quer saber? Quero sim, eu sou ridículo mesmo, uma a mais uma a menos não faz diferença para o conjunto da obra. :P

segunda-feira, 23 de julho de 2018

ANSIOSO PARA VOLTAR À TERAPIA


O famoso quarto-ilha e algum de seus habitantes.



Tanto se passou desde o meu encontro com Ju, às vésperas da viagem, que estou ansioso por reencontrá-la e descobrir quem vai ser este eu que vai ter com ela. As duas mudanças principais na minha vida sem dúvida foram a condenação do meu livro como impublicável pela incrível revisora e a portuguesinha. E o Chartreuse. Minha mãe ter concordado em realizar esse sonho antigo me surpreendeu imenso. Espero que não vá dar para trás. A portuguesinha me achou dramático, diria mais que sou ansioso e que a ausência de resposta dela a um dos meus posts me leva prontamente a achar que o tênue fio que nos une tenha se rompido em definitivo. Sei que é bobo isso mas tenho medo de perder esse contato, caudaloso da minha parte, breve da dela. Me agrada saber que aquela garota encantadora que passei horas a observar existindo e da qual me lembro vividamente até o presente momento, me lê e não desgosta disso. Amo receber suas notícias. O carinho e a admiração, ingredientes principais da paixão, junto com o desejo, permanecem. Quero muito saber o que Ju vai achar disso. Certamente vai achar algo mais saudável e palpável que a outra opção, por mais que seja tão impossível e intangível quanto, mas é pelo menos algo com algum dado de realidade, houve troca e, bem, em tudo se assemelha à outra opção, exceto por uma diferença que faz toda a diferença. Mas deixemos a outra opção para a terapia.

22h46. Acho que esta foi uma das melhores viagens que já fiz. Eu tão receoso e indisposto a ir acabei me divertindo e quase amando uma garota. Quase vi o Rock in Rio. Estive lá ao menos. Hahaha. Meu amigo que emigrou para Portugal ainda não me perdoa por ter perdido o show de Chemical Brothers, ainda mais pela razão que aleguei que, para ele, caçador de bocetas, que tem uma relação muito mais animal, fisiológica com as mulheres que eu, pareceu uma idiotice sem tamanho. Que seja! Vivi a vida como desejei e não me arrependo de não ter visto Chemical Brothers, isso era menor do que conquistar a possibilidade, inesperada, de me comunicar com a portuguesinha. Esta disse que faço uma imagem dela que não corresponde com a realidade. Acredito que isso se dê porque preencho as grandes lacunas que desconheço com o que espero e sonho. Nada mais natural e estranho. Ela é parte ela e parte criação da minha cabeça (e todos nós não somos uns para os outros?). Parte portuguesinha parte personagem. Não há como ser de outra forma, mas acredito que não faço uma imagem muito distante da realidade. Ou assim quero crer.

22h59. Sinto saudade. Sinto-me bem com a minha saudade. Passava pior sem ela. Renovou-me o espírito que acho ao mesmo tempo velho demais e infantil demais para o homem da idade que possuo. Será que gostou da rosa? Talvez tenha achado um clichê piegas e ridículo. Sei lá. Confesso que tentei ouvir Rita Redshoes mas o português lusitano cantado me causou estranheza demais, o português brasileiro é muito mais musical na minha opinião. Talvez seja a falta de costume, mas achei algo tão estranho e o pior, quase cômico. Não bateu. Gosto do português português falado, mas cantado é uma história toda outra, não me desceu bem. Adoraria, entretanto, ouvir a portuguesinha cantando. Nossa, como tenho curiosidade disso. Seria muito fixe ouvi-la. Ah, um papel ridículo que passei por uma das minhas paixões platônicas. Assista abaixo e descubra o papel que eu passo para tentar encantar uma garota. Hahahaha.  





Como disse, também sonhei viver de cantar, mas como conclui-se do vídeo não é essa a minha vocação. Aliás, não tenho vocação para nada, sou um completo fracasso e me envergonho disso. Sei que essas palavras que são a minha ocupação são inúteis e mal escritas porque não tenho leitura suficiente para desenvolver um estilo ou qualquer coisa que tenha algum mérito literário. É a vida e segue. Por falar em escrita, acho que você que tem muitos mais leitores que eu poderia se cadastrar no AdSense da Google e colocar um ou dois banners de propaganda no seu blog, seria uma forma de transformar o hobby em algo que gerasse alguma renda para você. Eu até hoje só consegui 53 ou 57 centavos de dólar. Hahaha. Rogo que tenha mais sorte. Não acredito que faça isso em verdade, acredito que não ache que o seu blog seja local para tais capitalismos. Bom, fica a dica. E é um sistema muito inteligente que seleciona as propagandas de acordo com o conteúdo do seu blog e as preferências do usuário/leitor. É uma pequena maravilha tecnológica. Mas acho que nada disso lhe interessa.

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10h19. O tédio me toma. Acabo de acordar e pensar que passarei o dia inteiro enfurnado nesse quarto não me agrada. Nada de Ju. Se tentou se comunicar pelo WhatsApp nunca saberei, visto que meu celular se perdeu em Lisboa.

12h47. Voltei do Bompreço onde comprei Cocas Zero e iogurte grego de frutas vermelhas. Quase o dinheiro não deu. Nenhuma resposta de Ju, acho que nosso encontro ficará para a semana que vem. Sinto desde já – e de antes – necessidade de desabafar com ela. O e-mail dela não veio, mas o do site onde comprei o ingresso para Caetano veio e fizeram a alteração do cadastro para o meu nome enfim. E repassaram tal alteração para o voucher do ingresso. Massa. Ou fixe. Fico até meio errado de colocar “massa” no texto, porque, se meu padrasto estiver certo, você, portuguesinha, vai ficar lendo “pênis” a cada citação. Hahaha. Muito doido isso. Foi por água abaixo a minha missão de divulgar a gíria em terra lusitana, visto que já é gíria para coisa totalmente diversa e inapropriada. Hahaha. “Lost in Translation”. Hahaha. Bom filme. Com final perfeito. Um dos melhores fechamentos de filme que eu já assisti. Adoro quando deixam algo nas mãos do espectador para intuir, cada um tem o seu final de filme diferente dos demais. Achei fantástico isso.

13h01. Vou conversar com a portuguesinha. Não entendi porque o seu novo companheiro cinematográfico se intitulou um “dork” se essa palavra significa idiota em tradução literal. Ela tem outro significado aí? Ou o cara tem uma autoestima similar à minha? Coitado se for isso...

13h21. Tive uma das minhas tremedeiras agora, geralmente quando como passa, então detonei dois potinhos de iogurte. E fumei um cigarro. Estou me sentindo menos trêmulo, mas não de todo bem ainda. Se dork for um sinônimo de nerd, mostre a foto do meu quarto-ilha a ele. Talvez ele se identifique com as minhas estátuas e muitas outras há, parte nos EUA, na casa do meu irmão e parte encaixotada aqui. São necessárias estantes especiais para acomodá-las por isso tanto anseio pela remodelação do meu quarto, há muito prometida. Não gosto deles, bonecos e bonecas, presos nas caixas, sem poder me embevecer observando-os. Abaixo, você pode ver parte das caixas que aprisionam minha querida coleção ao fundo.

Há pelo menos o dobro disso, nem sei como caberão no meu quarto que não é muito grande.
A arquiteta há de fazer um milagre.

13h37. A tremedeira passou. Graças. Eita, agora que lembrei adorada portuguesinha, ainda não assisti “Sacred Deer”, tenho que fazê-lo o mais breve possível para compartilhar as minhas impressões acerca da obra. O fato de ter Nicole Kidman já me deixa animado quanto à qualidade da película, visto que ela não se mete em filmes ruins (via de regra). Você deve odiar receber sugestões de filmes, né? Eu tenho uma relação estranha com sugestões, algo me repele delas. Não é o caso com as suas, pois me indicou dois filmes de suspense que são bem a minha praia (e obviamente por ter sido você que me sugeriu, isso conta mundos para mim; por sinal, guardei os dois papeizinhos que você escreveu para mim, lembranças preciosas que são). Como anda a sua dissertação de mestrado? Minha irmã, que tem pós-doutorado, disse que esses títulos importam muito na Alemanha, quiçá na Europa. Disse que foi um fator que ajudou na compra do seu apartamento em Munique, por exemplo. Ela conseguiu depois de muito procurar, fechar um bom negócio nos arredores da cidade e está muito contente com o feito. Trinta anos para pagar. Nem sei se tenho esse tempo todo de vida adiante... :P

14h21. Minha mãe e meu padrasto chegaram dos afazeres burocráticos dos quais foram tratar. Ao que parece não resolveram de todo o que se propuseram a solucionar.

14h48. Me perdi pela internet. Disse à minha mãe que havia comprado o ingresso para o show de Caetano. Ela não aceitou muito bem nem muito mal, preciso ainda contar-lhe dos outros gastos. Aí ela vai ficar irada sem dúvida.

15h22. Ela ficou irada já com o show de Caetano, está ameaçando cortar o meu cartão de crédito. Mamãe costuma descontar o estresse de outras coisas suas em terceiros, basta uma justificativa. E eu dei-lhe uma bem sólida. Quando souber que a Red Sonja vai ser lançada antecipadamente e que tive que pagar as parcelas que faltavam de uma só vez e ainda virá o frete, sem mencionar a compra que fiz na Amazon, ela definitivamente vai cancelar o meu cartão. Estou ferrado.

18h16. Tédio, poderia assistir o filme, mas não estou com a mínima disposição. É sempre assim quando chego ao quarto-ilha. Isso é muito ozzy. Há o fato de ter comido há pouco tempo, a barriga cheia sempre me é desestimulante.

22h02. Vou encontrar com a Gatinha no próximo sábado talvez. Vai ser bom. Sempre é. Mas quando volto para esse texto, inevitavelmente penso na portuguesinha. Um dos meus leitores, que virou leitor depois de criticar a foto do bezerro de duas cabeças, se bem me lembro, me perguntou “quem é esta tal de portuguesinha?” Quando lhe contei a história, muito por alto, pelo Facebook, num dos canais para escritores, recebi logo um emoticon de gargalhada. Logo depois o seu comentário foi, “Coração mole esse seu” e outro emoticon de gargalhada. Achei graça também, através de emoticon, e complementei, “Manteiga derretida. Infelizmente.” Estás vendo portuguesinha? Essa nossa louca relação cibernética não é tão somente nossa assim. Há alguém que a acompanha. Pelo menos a parte que eu escrevo. Isso torna tudo mais esquisito e curioso. Essa existência que levo se torna cada vez mais peculiar. Mas que posso eu fazer se o meu passatempo é escancarar o meu coração e meu juízo (ou falta dele) para o mundo? Às vezes penso em desistir disso, mas logo recuo, pois desistir disso é praticamente desistir de viver. Minha vida, na maior parte do tempo é fazer isso, não sei e não quero fazer outra coisa, tanto é que Ju, minha terapeuta quer me arrumar uma AT para que eu viva outras coisas que sozinho não consigo. Ou não tenho ímpeto. Se bem que tive o ímpeto de comprar o ingresso para o show de Caetano. E acabou a terceira folha. Vou revisar e postar.  


domingo, 22 de julho de 2018

SEM VOCÊ COM AMOR


Não postarei este texto até que a portuguesinha tenha lido o outro, é particularmente importante para mim que o faça. Mamãe e minha irmã foram à Marienplatz e minha genitora não parecia muito motivada para que eu fosse. Ademais, tenho que ficar em alerta caso o entregador da Amazon toque a campainha. Espero que não tenha vindo enquanto tomava o banho de banheira, pois embora tenha deixado a porta aberta, cochilei um bocado. E me deixei estar na banheira por um bom tempo. O que será, será. Ou o que foi, foi. Sem alternativa, pois não sei se ouviria a campainha se colocasse uma fonte sonora como um filme ou um disco, resta-me apenas escrever.

13h47. Gostaria de dormir mais, mas não posso descuidar da Amazon. Tenho especial interesse, visto que meu Chartreuse verde e o organizador de moedas de euro fazem parte da encomenda. Mamãe disse que talvez fosse à Marienplatz amanhã comigo ao sair. Caso não vá, nada me impede de ir sozinho. Ah, comprei o CD de “Utopia” de Björk. Mero colecionismo, admito, pois com Spotify tenho a discografia inteira de Björk à disposição. Se for me dado dinheiro suficiente para ir à Marienplatz uma última vez, acho que acabarei por comprar o “Bastards” da cantora islandesa, pois acho o disco, embora de remixes de um dos trabalhos menos acessíveis dela, genial. É uma descoberta recente esse “Bastards” ouvi meio que por acaso numa das sessões de escrita na piscina e chapei na obra.

14h05. Sobre a portuguesinha, que posso eu dizer? Ela tem uma vida afetiva muito mais consolidada do que poderia supor, o que me alegra pois gosto de saber boas notícias das pessoas que me são caras e ao mesmo tempo dilacera qualquer esperança de um enlace afetivo com ela, o que, desde o princípio jamais aconteceria, visto o enorme abismo oceânico que separa nossas realidades. O fato de morar com o namorado foi apenas a pá de cal sobre um amor natimorto. Não sei se a existência me sorrirá alguma vez mais na questão dos afetos, me encontro desencantado. Ou então me reserva minha maior paixão, o que acho deveras impossível. Sou o homem dos amores natimortos. Fato é que não posso confiar no acaso-destino para encontrar amor que possa vir a ser correspondido. Além disso, não acho que consiga mais ser um bom namorado, sou demasiado acomodado, demasiado alienado, demasiado gordo, demasiado velho, demasiado desinteressado pelo sexo. Não tenho como objetivo maior da vida penetrar bocetas, fazê-lo por esporte. Não sinto necessidade disso, não tenho essa ânsia que parece governar os demais homens. De uma relação, o sexo para mim é o menor dos prazeres. Mas já disse isso vezes demais aqui. Estou ficando caduco. Hahaha. Confesso-me ainda abatido pelo desencanto, pois continuo encantado pela portuguesinha. A imagem dela me vem à cabeça com frequência e sinto carinho por tais lembranças, pena que tenham o aftertaste amargo do que nunca vai acontecer. E nesse caso, nunca não é um exagero. Sou um coração pleno de amor cercado de nuncas por todos os lados. Patético. Ou vai ver que há um desejo mórbido e masoquista inconsciente da minha parte por detrás disso. Sei lá. Sei que acho que eu e a portuguesinha nos daríamos bem, muito bem. Acredito que teríamos discussões homéricas, pelo seu gênio forte e julgo que um tanto controlador, mas que faríamos as pazes rapidamente. Para que elucubrar sobre isso se isso é exatamente o que nunca vai se dar? Sei que ela elevou o meu nível de exigência em relação a um par a outro patamar. Os seus interesses, a sua cultura, a sua simpatia, o seu sorriso, o corpo muito bem torneado, com proporções as mais agradáveis, as mãos lindas a personalidade cativante, a transparência nas relações que trava, simplesmente adorável, um achado, uma preciosidade que a jocosa existência calhou de me apresentar sabendo da minha extrema carência afetiva. Mas não sou rancoroso nem ingrato, preferia tê-la conhecido e sofrer o que sofro agora que nunca a ter visto e partilhado de sua companhia. Foi definitivamente a coisa mais maravilhosa que me aconteceu nesta viagem. E em todas as outras que fiz, se bem que ter conhecido os parques temáticos da Flórida aos 11 anos de idade e ter visto neve nessa mesma viagem equivalem em encantamento e sonho. Tenho uma vida abençoada em todos os aspectos menos em um, do que posso reclamar? Seria mesquinho da minha parte querer o pacote completo. Vivo muito bem sem amor. Ou melhor, amando solitariamente amores impossíveis. Que seja assim, então.

15h12. A mãe do meu cunhado trouxe-me uma guloseima deliciosa, um tal de fludge de laranja. É uma espécie de caramelo com consistência de rapadura e perfumadíssimo sabor de laranja. Pense em um negócio gostoso, para comer aos pouquinhos, um pedaço por vez. Acho que será o acompanhamento perfeito para o meu Chartreuse verde. Tentarei levar a guloseima para o Brasil. Por falar em Brasil, minha mãe já está com a ideia bastante solidificada de colocar uma banheira no meu banheiro. Será um sonho. Não digo que sou abençoado?

15h19. Preciso escrever no meu projeto paralelo.

20h54. Realizei um sonho da minha vida que acalento desde que papai era vivo: o encomenda da Amazon chegou e sou o proprietário de uma garrafa de Chartreuse verde, o melhor licor que já tomei na vida. Combinei com mamãe que teria direito a um cálice toda semana. Para tomar contemplando a cidade da nossa varanda. Nem vou abrir aqui na Alemanha, pois quero degustar no Brasil esse prazer ímpar para mim. Já me aclimatei mais com a história da portuguesinha, me dói menos. Acho que esta é uma das vantagens de amar o impossível, a conformação com a perda efetiva não é lancinante como com um amor de verdade, amor vivido de fato. E acho que a maturidade me faz sofrer menos as perdas. As duas primeiras foram as mais difíceis e levei muito tempo para me recuperar. Sofri absurdamente. As outras superei até com certa tranquilidade. Nunca é fácil, mas vai ficando menos difícil, pelo menos na minha experiência de vida.

22h20. Estava a pesquisar qual o melhor país para comprar um novo celular (telemóvel) e chegamos à conclusão de que é melhor fazê-lo no Brasil. Nenhum comentário da portuguesinha hoje. E nem espero por isso, pois ela trabalha até as 23h no hotel, daí a chegar em casa deve ser mais uma hora e morta de cansada. É a vida. E é bela, apesar de todos os pesares, hoje sinto assim, mas já odiei tremendamente a vida, vivi o inferno e sobrevivi. Águas passadas não movem o meu moinho. Me foco no presente.

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19h07. Nenhuma mensagem da portuguesinha. Só escreverei quando receber algum comentário dela sobre o post anterior. Se receber.

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13h35. Ainda nada da portuguesinha. Acho que desistiu de comentar, se é que leu. Fui censurado na minha escrita uma vez mais. É o máximo que posso dizer sobre risco de sofrer nova censura. Pretendo ir à Marienplatz mas ainda estou indisposto para tal feito.

2h27. Fui à Marienplatz e foi bom. Queria ir mais uma vez amanhã para ver se encontrava o “Mixed Up Deluxe” do Cure. Já entrei na terceira página e acredito que não mais receberei notícias da portuguesinha. Em sendo hoje já sexta-feira, este é efetivamente o meu último dia aqui na Europa. Amanhã cedo estaremos no aeroporto partindo para Lisboa e de lá para o Brasil. Sinto saudades antecipadas, afinal a viagem foi muito boa. Mas não quero outra tão cedo! Hahaha.

3h27. Descobri que há novas coisas que acho atraentes em mulheres, por exemplo, mulheres que carregam e fazem uso de algum instrumento musical, ou mulheres com vestidos ou saias até as canelas. Vi uma hoje com um vestido tão lindo, todo branco, pele alva e cabelos escuros lisos e longos, parecia uma princesa de contos de fada. Passei esses dias de espera por uma resposta da portuguesinha acompanhando a maior feira de bonecos do mundo a San Diego Comic Con 2018. Das figuras, as mais interessantes já estão disponíveis no site da Sideshow.

14h34. Nada da portuguesinha, acredito que tenha lido o post anterior e que tenha desistido de me responder. Das alternativas é a que vislumbro como mais verdadeira. Foram bons estes dias de espera, sem muito escrever, me desvencilhei um pouco desse meu ofício, meio que tirei férias. E férias, no geral, são muito bem-vindas na vida de qualquer ser humano. Tanto é que estou meio perdido com as palavras, como se essas me escapassem. Coincidiu de as férias das palavras acontecer durante a tal feira, então passei esses dias muito imerso no maravilhoso mundo dos bonecos. Não sei por que me sinto meio magoado com a ausência de respostas da portuguesinha, mas entendo a sua posição. Não há crueldade em tal postura, apenas sensatez. Eu, insensato, é que fico com o miocárdio dolorido. Mamãe prepara as malas para a nossa maratona de volta, que começa amanhã cedo. Cruzar um oceano inteiro sempre me causa espanto. É uma distância que não sei imaginar. Se estivesse ao lado da portuguesinha estaria igualmente distante dela. Não sei onde ou quando outra oportunidade de encantamento se dará, se se der. Volto à quase completa esterilidade emocional.

15h43. Volto também à solidão do meu quarto-ilha e da minha vida em Recife. Uma casa fica realmente mais alegre com crianças, por mais que tenha interagido pouco com os petizes, acredito que tenha interagido o suficiente para estreitar os laços com eles. São meninos obedientes e bem-comportados, têm uma educação mais rígida, mas com igual afeto que a dos filhos do meu irmão. Criação com presença constante dos pais em ambas as famílias. Acho muito salutar. Tive menos contato com os meus pais nos meus anos de formação do que essa nova geração. Daqui a pouco serão adultos, a vida passa tão rápido. E é bom que passe, essa vida assombrada pela solidão.

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23h35. Estou de volta ao Brasil, ao meu quarto-ilha, à Coca Zero com muito gelo. Sem querer parecer ingrato com o meu amado país, o clima daqui é pegajoso, saindo do aeroporto o bafo úmido adere imediatamente à pele, não é uma sensação que me agrada. Aqui a quentura é mais quente que a da Europa. Estou ficando mal-acostumado. Hahaha. Ainda nada da portuguesinha. Por falar nela, algumas coisas preciso acrescentar correlatos a tão singular pessoa. Descobri que há outra coisa que acho sexy, mulheres falando o português de Portugal. Muito por causa dela e acho que somente por isso. Fiquei a ouvir as aeromoças do voo de Lisboa a Recife a conversar, visto que viajei quase na última fileira de cadeiras da aeronave, e foi agradável ouvir aquele burburinho lusitano. Ai, ai, coraçãozinho bobo. Recomendo à portuguesinha assistir “The Leisure Seeker”, um drama leve, de roteiro muito redondo e grandes atuações, o diretor minimalista ajuda a dar vida e alma aos protagonistas, sem nenhuma extravagância cinematográfica, dando liberdade para os atores viverem o que aparentemente nunca viverei. Me tocou pela temática e rememoro enquanto escrevo, cenas do filme. Peguei o filme já começado, o assistindo pela tela da passageira à frente e à esquerda, fiquei na cadeira do meio das três, sem possibilidade de muito movimento, o que me incomodou bastante. Mas é a vida e é bela. Assisti outro, mas sobre esse não tenho opinião formada, “The Female Brain”. Adoraria ouvir/ler uma opinião feminina, ainda mais sendo ela engajada nas questões da mulher. Sentiu a deixa, portuguesinha? ;) Fiquei a conjecturar por que não mais me respondeu. Pode ser que tenha repartido os meus escritos com o seu amor e este me achou um psicopata filho da puta. Sei lá. Talvez você tenha querido sepultar de uma vez qualquer esperança, facilitando com o seu silêncio o meu esquecimento da sua existência. Isso virá, com o tempo. Não tenho pressa. Parabéns, aliás, pelo novo crítico que passou a fazer parte do “Cinema à Rolha”. Fiquei frustrado que alguns nomes da música portuguesa que memorizei (ou quase) olhando a seleção musical do avião, não se encontram disponíveis no Spotify brasileiro. Eita, tentei de novo e consegui localizar Rita Redshoes. Gostaria de sugestões de sua parte para que desvende a nova música lusitana. Creio que com suas pretensões musicais, deve gostar de coisa boa (que não seja fado, acho dramático, teatral demais), algumas sugestões cairiam bem. Fiquei curioso por uma banda que começa por uma palavra com “U” seguido “Violeta”, mas não consigo de forma nenhuma lembrar a primeira palavra, por nunca ser empregada aqui no Brasil. Lembrar os nomes dos filmes e ainda por cima de dois cantores/bandas se mostrou tarefa impossível para o meu limitado HD. Será que voltará a me responder? Quero que entenda que ter o impossível no peito é melhor que nada ter. E que, se a sorte continuar me sorrindo, logo, logo encontrarei alguém para me encantar por aqui. Pena ter chegado no sábado à noite, o que significa que não terei saída neste final de semana, portanto, não verei gente, nova gente, novas garotas, não importa. Saiba que eu tenho absoluta convicção de que você não passa de sonho, não vai me levar a nada de concreto. Não sou tão louco assim. Mas gosto de me lembrar de você, gosto de saber de você, mas quem sabe é você. Se prefere silenciar ou abandonar a leitura dessas tolas palavras, nada posso fazer para impedi-la. É interessante como a velhice de alguns remete à infância. Mas não vou dar nome aos bois, pois incorro no risco de nova censura. Talvez toda velhice seja assim. Já ouvi coisa semelhante mais de uma vez. Estou ouvindo Caetano, que por sinal fará um show aqui. Pretendo ir, infelizmente não sei se será possível.

0h50. Acabei de comprar o ingresso dividido em três vezes (a juros astronômicos) na terceira fileira de distância do palco. Único problema, o ingresso por alguma merda do autopreenchimento do Google colocou o ingresso em nome da minha mãe! Hahaha. Mandei um e-mail para ver se o site resolve esse tremendamente burro equívoco. Senão dou para a velha. Se bem que os dados do documento de identificação são meus. Sei lá no que isso vai dar. Mas ver Caetano vai ser massa (que meu padrasto disse em Portugal equivaler a pênis) até por essa fase Caetano que atravesso por causa de você. Gosto de escrever para você ouvindo “Livro” do cantor e compositor e ouso dizer gênio baiano. Não conheço o repertório do disco novo, mas tenho até 15 de setembro para me acostumar. Espero que seja bom. É um show dele com os filhos. É o que sei e que o disco se chama “Ofertório”. Entendo a motivação de fazer um projeto em família, só não sei se os filhos têm talento como o pai. Mas queria muito ver Caetano uma última vez na minha vida. E adoro o Teatro Guararapes. Foi onde vi os melhores shows de MPB da minha vida. Um deles há muito tempo, de Caetano, à época do disco “Estrangeiro”, que também adoro, e que foi um dos melhores espetáculos que tive a oportunidade de presenciar. Ele é um fenômeno no palco. Ou era, visto que muito mais jovem e esse parece ser um show mais intimista, com todos sentados. Bom já fiz a compra. Tenho muitos gastos a justificar a minha mãe esse mês no meu cartão. Estou preocupado com isso.

1h34. Bem, já entrei na quinta página de Word. Ultrapassei e muito o limite estipulado para os meus posts. Mas este foi um diferente, visto que levei dias (de espera inútil) para concluir. Vou fumar um cigarro, revisar e postar.

domingo, 15 de julho de 2018

TRISTE-FELIZ




11h30. Hoje acordei mais cedo do que me é habitual, por volta das 10h30. Tico e Teco ainda estão reativando. Eu começo o meu dia bastante devagar. Estão a pedir o almoço, chinês e indiano.

11h59. Será que depressão só acomete os fracos de espírito? Ou será mesmo uma condição patológica? Sinto muitas vezes que, não fora as medicações, eu já teria caído nas garras da maldita há muito tempo. Me sinto um espírito incomodamente frágil. Difícil me concentrar com os meninos cantando e meu cunhado filmando.

14h08. Estão preparando as coisas aqui para a chegada dos pais do meu cunhado, avós dos meus sobrinhos. Apostei 2 a 0 para a Croácia contra a França, acho um placar meio impossível de se dar. Mas no futebol tudo é possível. Nada da portuguesinha até agora.

16h59. A portuguesinha respondeu, mas o jogo vai começar.

19h15. Estou feliz e triste. Não porque a Croácia perdeu mesmo tendo jogado mais. Estou feliz porque a portuguesinha vive o sonho que um dia vivi e que sonharia viver novamente com alguém como ela. Ou seja, ela já vive um grande amor, uma parceria, reparte a vida com ele, formam mais que um par, um lar. E fico sinceramente feliz por ela ter construído isso que a mim é tão inalcançável e precioso, rogo para que não perca e que ambos cultivem um ao outro como pessoas entrelaçadas pelo acaso-destino e pela escolha; nesse caso o livre-arbítrio é determinante, eu acho. Pelo menos comigo é. Triste fico pois me sinto mais uma vez profundamente só e sem esperança de desfazer esta medíocre condição. Esperança essa que alimentei sozinho, ela em nada contribuiu para isso. Desde sempre foi impossível, mas eu que sou dado a alimentar fartamente o impossível, servi-lhe lauto banquete. É indigesto saber que tem a vida amorosa tão concretizada. A portuguesinha não merece menos do que isso. Merece muito mais e mais vai alcançar. Há uma longa e vitoriosa jornada a seguir e tem pernas para isso. E, pelo visto, trilhará esse caminho muito bem acompanhada. Só posso desejar o melhor para ela, seria injusto desejar diferente a alguém que me fez tão bem.

20h21. Minha mãe me questionou porque eu estava tão macambúzio. Quando lhe expliquei a situação, disse-me que tivesse calma que essas coisas às vezes não duram. Hahaha. Mães sendo maternais são uma graça. Hahaha. Fico surpreso como sou transparente para a minha mãe, ela consegue me enxergar profundamente. Resta-me a esperança de que a portuguesinha não abandone a leitura dos meus textos. Mas nem isso acalenta-me a alma no momento. Acho que hoje tomo um banho de banheira – há uma banheira aqui –, creio que é um agrado a mim mesmo que me fará bem. Um prazer descoberto em Lisboa, no hotel onde a portuguesinha trabalha. Resta-me ainda a minha última ilusão, tão irrealizável quanto a portuguesinha. Ousaria dizer que até um pouco mais, mas creio que essa eu carregarei até o túmulo. Ou melhor até que me torne cinzas. Sei lá, que façam o que quiserem com o meu corpo quando cessar de habitá-lo. Está mais perto do que longe pela forma como cuido da cada vez mais velha máquina de carnes e emoções. Meu cunhado ouve Jimi Hendrix e agora Creedence, acho que vou fechar a porta da sala e botar Caetano, que foi a trilha sonora dessa paixão platônica e como tal paixão, embora moribunda, pois fatalmente sangrada pela afiada realidade, ainda resista, ouvir o baiano cai bem.

20h40. Pronto. Coloquei o “Livro”, nunca imaginei que este disco me soaria um dia tão lusitano, aliás nunca imaginei que poria os pés em Lisboa. Afora do aeroporto, digo. Nunca imaginei que parte do meu coração insistiria e insiste em permanecer lá. E em vez de partir, permanece lá partido. Mas estou acostumado a desilusões como já enunciei aqui mais vezes do que me seria agradável. Nossa, como a música de Caetano me encanta. Lembro do sorriso dela, o seu sorriso. Lembro das suas caretas, você é cheia de caras e bocas e move-se graciosa pelo mundo, com uma feminilidade ao mesmo tempo pueril e sensual. Há quanto tempo não digo um “eu te amo” de amor de amantes. Não vai ser dessa vez que poderei dizê-lo, por mais que a vontade haja, esta calará para sempre dentro de mim.

21h46. Houve uma complicada complicação em relação ao voo de volta de mamãe de Lisboa para Recife, mas aparentemente minha irmã, minha cunhada e eu conseguimos desenrolar o novelo. Foi uma tarefa árdua com direito a lágrimas e dores de cabeça. Mas, enfim, a passagem de mamãe há e parece que está tudo ok. Está tudo ok. Tem que estar.

21h58. O uso do bidê foi a revelação de um grande mistério, no Brasil, há décadas, utilizamos apenas papel higiênico. Curioso, mais que as partes íntimas, do que vagamente suspeitava, foi utilizar aquilo para lavar os pés. Hahaha. Outra curiosidade brasileira é que o seu “apelido” no Brasil é chamado de “sobrenome”, apelido para nós equivale a nickname. Mas você já deve saber disso. Bom, sei lá. As gírias pernambucanas – Pernambuco é o estado onde resido – para “fixe” e “é seca” são “massa” e “ozzy”, respectivamente.  

23h29. Estava vendo “Big Bang Theory” com dois físicos, experiência única. É uma série engraçada, mas não costumo rir dessas coisas. Achei interessante assistir, entretanto. Saiba que dificilmente a verei apenas como amiga, por mais que valorize amizades e as verdadeiras são das coisas mais preciosas que podemos cultivar, o meu bem querer por você está um degrau acima. Sei que isso não faz a mínima diferença, não muda nada, mas não posso negar nem sentir de outra forma, a não ser que de alguma maneira que não diviso, um milagre talvez, eu arrume alguém, daí sim isso torna-se imediatamente possível. Entretanto, como sou, como vivo e minhas exigências absurdas em relação à pessoa a ser amada tornam tal acontecimento quase impossível. Bom é a vida e segue incontinente rumo à morte. Um dia isso acaba para mim, tudo vai ter fim, a ilusão, a esperança, os platonismos. Deixarei para trás um bando de bonecos inúteis e um bando de texto perdido, à deriva no mundo cibernético até quando a Google achar por bem exterminar o meu blog e com ele seus espirituosos comentários. Que papel ridículo esse que desempenho na existência, sou um ser inútil, completamente desnecessário. E tanto mais ridículo o torno exaltando alguém que tem tudo o que desejo, mas que não rola. Acho que desaprendi a amar de verdade, só sei amar sonhos, o éter. Estou mais triste que feliz nesse momento. Mas pensar que você vive a vida em sua plenitude, com metas que sem dúvida alcançará, me aquece a alma. É melhor me focar nisso. Voltei a ouvir Caetano desde que os físicos, minha irmã e meu cunhado, foram dormir. Assim como minha mãe. Achei curioso da parte dela querer alimentar o meu inútil devaneio a seu respeito. Talvez ache que porque você me responde, haja alguma possibilidade. Ou quem sabe sopra a ferida como uma mãe faz com o machucado da criança. Tanto faz. Sinto que meu tempo de conquistar uma garota que me interesse passou, saí de validade para as coisas boas do coração. Foda-se. Tenho raiva de mim mesmo. Tudo o que tenho é esse esconderijo eletrônico onde me escondo do mundo para me revelar para ele. É paradoxal, eu sei, mas foda-se isso também. É a minha vida, é o que sei fazer do meu ócio, é o que continuarei fazendo. Vou comer o resto do bolo de fubá com calda de chocolate e fumar um cigarro com Coca cereja.

0h48. Sentimentos, coisas mais perniciosas, tão essenciais à experiência humana e tão cruéis algumas vezes. Queria afirmar com convicção que me torno mais insensível, mas isso não é verdade, o fato é que cada vez me desiludo mais com os meus sentimentos e tento reprimi-los, mas não consigo, simplesmente não consigo. Asshole, você sabia desde o começo que era impossível, por que ainda insiste? Não sei, superego. Não estou insistindo muito depois da revelação do último comentário. Ela, a portuguesinha, tem algo muito concreto no peito, creio que ela crê que achou o parceiro ideal. Quem sou eu frente ao Rick Martin lusitano? Não, mãe, não foi dessa vez. Não vai haver uma nova vez. Não no meu atual status quo e com o meu modus operandi. Tudo em mim me empurra para longe de um novo amor. E sabe de uma coisa, cansei de correr atrás, de me desgastar com tanto investimento emocional para receber somente desilusão. Meu acaso-destino é a solidão, me conformei com esta triste sina. Amei muito e fui muito amado. Era o que a vida havia reservado do mais inebriante e recompensador dos sentimentos, visto que estou velho demais para filhos. Foda-se. Foda-se eu e minha simbiótica solidão. Vou revisar esse agridoce texto.

sábado, 14 de julho de 2018

SOU DA PORTUGUESINHA E DEMAIS FOTOS DE MUNIQUE

Pirei nessa máquina de escrever, ainda mais quando eu vi o brasão da Mulher-Maravilha. Hahaha.



23h57. Portuguesinha (pois é, ela mais uma vez, infeliz leitor), seu review de “Skyscraper” ficou excelente, simplesmente hilário. Hahaha. Só tenho uma ressalva, ele se arriscou na comédia infantil “A Fada do Dente” ou algo que valha. Não assisti. O último que vi dele foi outro filme-catástrofe, dessa vez sobre um terremoto. Você que é cinéfila deve saber de qual falo. Mas vou deixar esse post latente até que receba outro comentário seu, que parece andar sem tempo cuidando do seu próprio blog. Saiba apenas que você se superou nesse último texto. Parabéns. Ah, e desculpe o delay nas respostas, geralmente só consigo aprontar um post em dois dias. Tanto tempo para resultado tão pífio, eu sei. :P

0h56. Não me seguro, até por não ter muito o que fazer a essa hora. Esqueci de contar-lhe, tenho um amigo que estudou cinema e cismou em fazer um documentário sobre um ano da minha vida, utilizando como fio da narrativa os textos deste blog. Ou assim idealizou e me transmitiu o projeto. Ele teve azar de pegar um ano sem muitos acontecimentos, até porque minha vida não é nada excitante e basicamente me filmou sentado a escrever. De todos os ângulos possíveis e imagináveis. Hahaha. Não capturou muito mais que isso. Ele ainda não aprontou o que suponho que será um curta e nem sei se terá tempo de fazê-lo agora que espera o primeiro rebento. Estou curiosíssimo e envergonhadíssimo com essa história. Acaso mantenhamos o contato até essa soporífera obra ficar pronta, tento repartir com você. Nossa, como queria poder amar você, ao mesmo passo que morro de medo disso. Faz tanto tempo que o amor correspondido não se dá que a ideia me assusta terrivelmente. O medo do meu fracasso.

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Velho solitário com grande fé. :P


15h18. Conversando com uma amiga de internamento (que já foi um dia paixão platônica, ela parece um anjo de tão bela) sobre o meu livro por ora impublicável, acabei motivando-a a escrever a própria história que é muito mais emocionante que a minha, afinal sofre de transtorno borderline, logo tem – ou tinha, afinal está mais pacata e conseguindo lidar com o mundão de forma razoável, conseguiu inclusive construir uma relação estável com um rapaz aí – as emoções à flor da pele e excessivas, tive oportunidade de conviver e presenciar seu sofrimento existencial. Caso venha mesmo a escrever, o que tenho as minhas dúvidas, visto que borderlines são dados a rompantes fugazes, dará uma obra interessantíssima. E ela tem um bom português e é bastante inteligente. Combinei com ela que mandarei o meu livro para ela ler quando a revisão estiver completa. É uma obra caudalosa e tediosa na minha opinião, mas, quem sabe, com a enxugada da revisora se torne algo mais palatável.

Pausa no trabalho para uma cervejinha.


19h18. Fui ao biergarten da Augustiner Bräu aqui perto encontrar a família que havia ido a uma festa do colégio da minha sobrinha caçula e, quando volto, dou de cara com um comentário seu! Que prazer! Os seus comentários são a alegria do meu dia. Pela sua rotina noturna é de supor que more só, já seja emancipada. Na minha vida, nunca deu certo morar completamente só, não nasci para viver sozinho. Não sou a minha melhor companhia. As duas vezes em que morei só foram catastróficas. Sem exagero. Entretanto, quando reparti o apartamento com um colega de trabalho e anos depois fui morar com a Gatinha, tudo transcorreu perfeitamente. O período com a Gatinha, que durou cerca de três anos, foi o ápice da minha vida adulta, a parte mais feliz dela, senti que tinha uma vida completa. Vivíamos apertados financeiramente, mas nada nos faltava. E o melhor: tínhamos um ao outro e nos amávamos e nos tratávamos como iguais. Foi bom enquanto não estraguei tudo. Mas estraguei e a vida segue solitária desde então. A conheci na terapia de grupo a qual mencionei a você no dia dos presentes, no grupo composto só por mulheres. Calhamos de pegar o mesmo ônibus para voltar para casa e, nessas idas e vindas, daí a paixão aconteceu. E depois virou amor. Ainda a amo, mas sem o eros, apenas como amiga. E é uma baita amiga.

Flores do biergarten para você. :)

Aqui já bebiam cerveja antes de Cabral partir com suas caravelas rumo ao Brasil.


 20h01. Que bom que você usaria o biquíni, no entanto achei a barriga da moça musculosa e máscula demais, para mim mulheres têm que ser mais macias que duras. Claro que um corpo firme e bem torneado como o seu é lindo demais, mas sem excessos. Tinha uma amiga que se orgulhava das pernas, mas malhou tanto estas partes do corpo que para mim ficou deformada, mais parecendo pernas de jogador de futebol. Horrível. Prefiro até a flacidez, mas gosto mesmo do meio-termo. Você, do jeitinho que é, me cairia perfeitamente. Hahaha. By the way, há uma excelente academia (o que você chama de “ginásio”, lugar de malhar, ou seja, fazer exercícios) na mesma rua em que você supostamente estagiaria, no Espaço Rizoma. Desculpe, estou delirando.

As suspeitas são que pegam no seio dessa moça para ter sorte no amor.
Se voltar lá, acho que o farei. Se há um campo da minha vida em que preciso
de muita, muita, muita sorte é esse.


20h10. Engraçada essa do “Senhor Mário” do Novotel, quer dizer que eu fiz fama no A Bicicleta para além de você, “o babaca das Coca-Colas cheias de gelo”. Hahaha. Muito curioso.  

Certamente não são frutas típicas do meu país tropical.


20h37. Vamos continuar a assistir “Ready Player One”, para mim, até agora, me parece a tentativa de Spielberg de criar o seu próprio “Avatar”, um que faça jus ao cibernético nome. Estou adorando as referências à cultura pop e videogames, muitas, diversas para elencar aqui.

Espécie de catavento musical pelo que pude perceber.


22h31. Gostei do filme, para um gamer como eu sou (ou costumava ser) e com a minha visão de futuro e minhas crenças nada ortodoxas a respeito de como as coisas vieram a ser e como se darão, o filme é bem a minha praia e visualmente é deslumbrante. É uma pena que a Nintendo não tenha permitido que heróis das suas franquias aparecessem. Minha mãe acaba de perguntar se você deu notícias, ficou impressionada que tenha dado. Eu penso que você não responderá por muito tempo mais. A brincadeira vai perdendo a sua graça para você e estímulos repetidos tendem a perder seu impacto. A novidade deixa de ser novidade. Bem, que se há de fazer? Voltando ao filme, embora tenha uma paleta de cores menos vibrante que “Avatar” e animações menos humanas é uma proeza tecnológica. Diria que ele é um cruzamento de “Avatar” com “Wreck it Ralph”, uma mistura que muito me agrada. Talvez seja um filme com um pouco menos de alma que os outros dois ou talvez eu esteja ficando insensível para cinema. Não sei. Não sei se a portuguesinha gostaria do filme, tenho as minhas dúvidas. Por sinal vou procurar para ver se há o review dela sobre esse filme. É bem capaz.

Fonte e mais flores. Desculpe o enxame de fotos, mas quero postá-las todas e me livrar
deste encargo. Além disso, dizem que um post bem ilustrado torna a leitura mais fácil.


23h20. Ela assistiu e fez um review extremamente positivo. Nossa, eu e a portuguesinha temos mais coisas em comum do que poderia supor. Aparentemente leu o livro que originou a obra, que eu nem sabia que existia. Concordo com ela que assistir em IMAX deve ser o bicho, massa real, pena que perdi essa oportunidade. Pretendo assistir em Recife na minha TV, pois acho que a TV da minha irmã, por ser mais velha, puxa muito para o laranja o tom de pele das pessoas e sabe-se lá mais quais distorções revela. Para amanhã acho que assistiremos após o jogo, “Justice League”. Ela alugou no Amazon Prime, serviço que optou em relação ao Netflix, o que não sei se foi das melhores escolhas. Mas cada um no seu quadrado. Nada tenho a reclamar. Mas já espero me decepcionar com este filme de super-heróis. Veremos. Ah, as últimas coisas que queria adquirir em Munique já estão devidamente encomendadas pela mesma Amazon, o Chartreuse verde, meu licor predileto, e um organizador de moedas de euro. Aqui, ao contrário do Brasil, cada centavo vale e não estou familiarizado com as formas e tamanhos das moedas, então vai ser uma ferramenta útil para quando for passear ou fazer compras no supermercado da esquina. Fumar.

Protesto à moda alemã.


23h47. Pensei no biquíni para você pois no prédio onde moro há uma piscina decente num espaço bem astral. Sonhei descermos uma tarde para um banho de piscina e um bom papo. É cada uma que sai da minha cabeça torta! Hahaha. O bezerro com duas cabeças não atraiu mais leitores para o meu blog, então foi uma estratégia falha, não a repetirei.

Uma igreja, suponho.


23h54. Você vai ao cinema sozinha ou sempre acompanhada? Há uma preferência? Algo me diz que você quer o mínimo de interferência externa possível para que o seu post fique o mais autêntico, o mais à rolha que pode ser. Como queria que você largasse tudo e viesse morar conosco no Brasil para conseguir o seu tão desejado estágio. Tomar uma cervejinha na Praça, dançar um forró que rola no Poço da Panela, num lugar muito astral. Sair com a minha turma, que é formada em sua maioria por, pasme, psicólogos. Quem sabe se apaixonar por mim... é, hoje estou especialmente delirante. Sonhar não custa nada, apenas o amargo gosto da desilusão, preço este que já estou mais do que acostumado a arcar. Preciso me preparar.

Outra igreja, eu assumo.


0h34. O soninho bate, acho que terminarei de escrever quando acordar. Não falta muito para acabar a terceira página, mas falta ainda menos de mim para fazê-lo. E ainda tenho que encher as caçambas de gelo. Inté amanhã, portuguesinha mais adorável do mundo. Beijo.

Toda vez que você vir esse "A" em Munique, tenha certeza que há uma farmácia.


-x-x-x-x-

13h07. Acabei de acordar. Fui transferido mais cedo para o quarto de mamãe, pois as crianças queriam utilizar a sala. O sentimento que carrego agora ainda com a mente turva pelo sono é de que é um imenso despropósito escrever isso para você. Mas se não estivesse escrevendo sobre e para você estaria escrevendo sobre coisa bem menos interessante, em verdade essa paixonite veio bem a calhar, pois me inunda de conteúdo para transcorrer e sobre algo mais interessante, um sentimento, não a ausência dele. Tenho um personagem encantador, a você que imagino, e um sentimento. É bem mais do que escrever com o peito vazio. Em verdade pouco teria a escrever não fora você. Você me veio como uma bênção, em verdade. Pode tudo não passar de desperdício de tempo e palpitações cardíacas, mas é melhor do que nada, cada comentário seu é uma pequenina pérola de felicidade que deposita na minha vida, é como se cada dia fosse Natal à espera de um presente seu. Sei que você vai cansar disso, sinto que já faz como obrigação, visto que não nutre nenhum sentimento especial por mim, acredito que apenas se apiede da minha vã existência e do esforço de construir essas linhas para você. Falando em linhas, o que está a ler? Você leu aquela série dos “50 Tons de Cinza”? Eu nunca li, mas fez um sucesso tremendo no Brasil. Para dizer que não li, li as primeiras páginas no Kindle da minha mãe enquanto esta fazia uma ressonância, mas o texto não me capturou e nem acho que eu seja o seu público-alvo da obra. Ademais para me dispor a ler é necessário... aliás nem sei o que seja necessário, pois nenhum tema me atrai quando posso escrever sobre os temas que me atraem aqui. Você me atrai muito e por isso escrevo para você e, quando você desistir de mim, haverá o luto de você, minha preciosa companheira de letras e, eu sei, não muito mais do que isso. Quanto a desligar do “modo psicóloga” acredito também que você se desligaria. Aos psicólogos que perguntei, disseram que conseguem fazê-lo sem maiores problemas. Você não se considera uma psicóloga porque não cumpriu a última etapa do processo para entrar na OPP. Pois eu digo que você usa um pouco de psicologia com todos os clientes d’A Bicicleta. Como quando você percebeu que um certo cliente estava ansioso por estar a balançar as pernas. Ops, acabou-se a terceira página. Antes de partir, gostaria de entender qual a utilidade de um bidê, aquele negócio que fica ao lado do sanitário no banheiro. Eu já morei numa casa que tinha um, mas é uma coisa há muito extinta no Brasil. Descobri ao chegar em Lisboa e reencontrar o objeto que carrego esta indagação desde a infância. Bom, fico por aqui. Não quero torrar mais sua paciência que já deve estar quase carbonizada pelos meus textos ridículos. :P  

Este porco enfaixado costumava ter duas orelhas quando estive aqui da outra vez.
Que será que sucedeu?


quarta-feira, 11 de julho de 2018

BEZERRO BIZARRO, PORTUGUESINHA, FOTOS MUNIQUE

A Natureza às vezes... sei lá.



A todos os demais leitores peço perdão por estar escrevendo essa espécie estranha de diálogo com a portuguesinha, mas hão de entender que é o que de mais precioso tenho e por isso sinto a inescapável necessidade de fazê-lo. Não sei se estou perdendo os poucos que me leem. Se isso se dá, acho a troca mais do que justa, visto que sou lido por quem mais importa para mim. Tentarei incluir algo do meu cotidiano aqui, mas o tom dos meus posts enquanto essa troca se dá será de conversa com ela. Sorry.

E sorry de novo pela imagem do bezerro de duas cabeças, mas achei-a a mais chamativa e impactante que vi nos últimos tempos (contraditoriamente, como é às vezes do meu feitio, tento com essa estratégia atrair mais leitores, os mesmos que penso alienar com a minha nova postura na escrita, vai entender). Não procuro tais imagens, elas é que me encontram. Caso queiram saber do destino do animal, ele não conseguia se manter de pé e morreu cinco dias após ter nascido apesar de todo o cuidado dos criadores. Uma dessas aberrações que o acaso-destino opera nos genes.

22h24. Torci para a Bélgica, queria que o time que tirou o Brasil da Copa chegasse à final, mas a França foi mais eficiente, portanto mereceu o magro, porém decisivo, placar.

22h26. Sobre ser egocêntrica, acredito que todos nós sejamos. Acredito que o que nos move a todos é a satisfação das necessidades do ego desde as mais animais até as mais sofisticadas como a fé e a solidariedade. Acredito que se fazemos caridades as fazemos porque isso de alguma forma nos agrada o ego. Sei que você não acredita muito nessa história de ego, portuguesinha, mas você colocou o termo correlato no seu comentário e não pude me furtar a dizer o que acho que move nossas decisões e ações. Necessidade e/ou recompensa.

22h39. Sobre o biquíni, creio que você deva estar imaginando algo como o que chamamos de asa delta ou fio dental. Acho esse tipo de biquíni que entra no rego da bunda e mal cobre os mamilos, pavoroso e vulgar, assim como os excessivamente curtos. Pode ser um biquíni português, desde que com lacinhos na lateral. Hahaha. Acho os danados dos lacinhos o que há de mais sexy e nem todos os modelos revelam tantas carnes assim. Ou talvez esteja eu acostumado aos biquínis brasileiros, sei lá. Achei uma graça o seu pudor e de forma nenhuma gostaria de vê-la se exibindo de modo que a desagradasse. Só indo ao Brasil para ver os tipos de mulheres que ousam o fio dental. Basta dizer que o que têm a mostrar ou falta ou está em excesso, geralmente esse último caso. É dantesco. Hahaha. Ah, e é bom exibir as carninhas enquanto ainda estão jovens, duras e belas, a juventude passa num sopro.

22h47. Achei “John Wick: Chapter 2” simplesmente eletrizante, uma montanha-russa de adrenalina ininterrupta. Adorei milhões. Tanto que o vi duas vezes no intervalo de uma semana. E ao todo assisti três vezes, pois quis repartir o filme também com a minha irmã, que não se emocionou com a obra. Respondi o seu primeiro comentário sobre a franquia dizendo o nome, o porquê do nome e a data de lançamento do terceiro filme (vi que você acabou de responder! :P). Outra coisa que me chegou por acaso-destino, não fui eu quem procurou. Aliás veio no mesmo feed do bezerro que o Twitter me mandou por e-mail, eu acho. Vou fumar. Aproveito e levo o lixo reciclável para o depósito. Eis duas fotos de biquíni de lacinho que muito me agradaram. Dessas eu fui atrás. Pelo menos servem para agradar o público masculino, se leitores masculinos eu tiver. Creio que o público feminino se agrade mais da minha escrita, não sei porque cargas d’água.



Esse você teria coragem de usar, né?


23h27. Adoro quando calha de cair o meu número da sorte no horário. Levei o lixo reciclável e fumei um cigarro, quando fui interpelado por um alemão à procura da residência de sigla “R9”. Respondi que não sabia, afinal não há letras nos números dos apartamentos do condomínio onde a minha irmã mora. Espero que encontre, anyway. Estou me preparando para ver o que acredito ser o terço final do filme “The Girl With All The Gifts”.  





Acho imagem acima terrivelmente feia e tremendamente desejada. Queria envelhecer com uma companheira e continuar tendo carinho e amor por ela – e ela por mim – até o final. E a cada dia que passa me aproximo do final de mãos vazias. Sobre as suposições em relação à sua pessoa, você poderia ao menos indicar quais intuo corretamente, para que monte de você uma ideia mais precisa. Vou assistir o resto do filme, que me agrada até este ponto.

0h26. Drama com zumbis. É possível. E interessante. Boas atuações, só não entendi por que a pequena e talentosa Melanie ateou fogo em uma coisa em determinado ponto do filme. Ela explicou, mas não consegui entender o inglês. Deveria ter voltado para entender melhor, mas agora é tarde, já desliguei todo o equipamento. Bons filmes, o de ontem e o de hoje. Recomendo ambos. Acho que gostei mais de “Get Out” que de “The Girl With All The Gifts” por ser mais fora do comum. E ter ficado mais na minha cabeça. Não me arrependo de ter visto nenhum dos dois, valem o tempo investido. Acho que o de zumbis toca mais às mulheres pela questão da maternidade, do instinto maternal. Não sei, posso estar falando besteira agora. Geralmente estou. Hahaha.

1h44. Decidi que não vou ver filmes que me interessam sem legendas, a história do fogo foi um ponto crucial, que explicaria muito das motivações e da percepção de realidade da nossa pequena heroína e perdi completamente esse trecho. O sono vai batendo e, ao que tudo indica, amanhã é dia de Marienplatz com a minha mãe. Disse que se fosse acordar-me-ia cedo. Sempre com chantagens. Esse hábito me incomoda, mas já me incomodou muito mais. Nem o preconceito e a desconfiança me incomodam mais. De tão corriqueiras tais manifestações, acabei me acostumando e nem me ofendo como deveria. E se me ofendo é algo brando que passa ligeiro. Ela diz que quando voltar vai fazer terapia. Veremos. Hora da caminha.

-x-x-x-x-

13h49. Acordei e vou a Marienplatz e arredores com a minha mãe. Tentarei tirar algumas fotos com o celular dela. Até a volta, mon petit.

19h47. Voltei e ainda deixei minha mãe lá, dessa vez explorando a Galeria Kaufhof, enquanto estive lá ela ficou a fazer compras na Müller. Tirei fotos a rodo do Glockenspiel e de outras coisas do centro de Munique, este vai ser o post mais cheio de fotos que já publiquei. Acho até que vou reparti-las em dois posts. Ou mais.

23h38. Finalmente acertei quem ganharia um jogo da Copa! Não era possível que a aleatoriedade não pendesse para o meu lado. Mas errei o placar. Vi que você esteve ocupada hoje, portuguesinha, fazendo a resenha de “Fire Storm”, pelo que li da sua introdução não parece ser o meu tipo de filme, mas não quis saber mais por receio de vir a assisti-lo. Fui a uma lanchonete da Kentucky Fried Chicken aqui em Munique hoje e a coisa mais estranha se deu, para entrar no banheiro era preciso um código numérico para destravar a porta que dava acesso aos sanitários num corredor estreito e um tanto quanto sombrio na parte de trás da loja; 3571 era o código e só soube por intermédio da atendente. O mesmo vinha impresso também no cupom fiscal do pedido, achei estranho e me senti como num filme. Outra coisa curiosa que vi foi uma loja que vendia roupas no quilo, peguei dois broches da mesma para guardar de recordação. No mais, andei a tirar fotos pensando em repartir um pouco de Munique com você e quiçá algum leitor. Minha mãe achou de péssimo gosto a imagem que escolhi para encabeçar (pun intended. A bad one) o blog e me perguntou se você tinha dado algum sinal de vida. Contei-lhe que você comentava os meus posts e ela emendou dizendo que você era “uma garota muito educada”. Hahaha. Não que eu lhe ache mal-educada, muito pelo contrário, tem mais educação do que eu em todos as acepções da palavra, achei curiosa apenas a percepção dela a respeito dos seus comentários. Se os faz só para ser polida, o que acho que não ocorre – acredito mais na motivação egocêntrica, talvez porque me agrade mais –, não precisa responder, afinal, você não tem nenhuma obrigação de comentar, por mais que dizer isso me doa um pouco. Vou tomar uma chuveirada e ver se ainda tenho energia para pôr aqui mais algumas palavras.

0h42. Acho obrigações uma das criações mais chatas da humanidade. Quanto menos, melhor. Sei que existem obrigações que servem de degraus para alguma recompensa posterior e geralmente é isso que nos motiva a acatá-las e encará-las, mas aqui não há isso, há somente eu a despejar tolices pensando em você, em estar na Europa, em anomalias da natureza. Mas vamos ao que interessa, algumas fotos de Munique, tiradas por um fotógrafo que não tem o mínimo dom, a partir de um celular.


Glockenspiel 1 (lateral) - Acho de um estilo arquitetônico totalmente
diferente do que vi em Lisboa 


Glockenspiel 2 - Ali na parte verde da torre central há uma série de bonecos de metal que
ao badalar de certas horas se movem, cavalgam, lutam ao som de uma música, é interessante.


Galeria Kaufhof, lugar predileto de compras da minha mãe. E tome biquíni. Hahaha.


Lego!


Anjo matando demônio. A riqueza de detalhes me impressiona. Como a cena violenta
à entrada de uma igreja. Certamente uma cultura diferente da minha.



Mais anjinhos matando monstros no meio da praça principal.


Galeria que achei aprazível.

Gosto muito de te ver leãozinho... leões (e veados) não faltam em Munique.

Loja de chapéus para cinéfilos?

Prova de que estive em Munique e de que preciso emagrecer urgentemente quando retornar a Recife!



1h29. Acabei de redimensionar algumas das fotos que tirei na Marienplatz para postar aqui. As demais, coloco no próximo texto. Portuguesinha, uma dúvida, você escreve os seus reviews diretamente no Blogger ou faz em Word ou no editor de texto da Apple e depois coloca online? Pergunto porque meu hábito é escrever no Word e só depois passar para o blog, as letras ficam maiores e a autocorreção é mais eficaz do que burra, além de me alertar para certos deslizes gramaticais. E mesmo assim os textos saem cheios de erros! Hahaha.

1h35. O soninho está batendo. Você deve estar a caminho de casa na Lisboa que provavelmente nunca mais verei. Uma coisa que achei curiosa, quando da sua ausência do hotel no final de semana, foi que a moça que a substituiu deduziu que eu era o “senhor Mário”. Você tem algum dedo nisso? Fiquei surpreso. Positivamente surpreso. Me senti, por assim dizer, uma pessoa célebre no microcosmo do hotel. Hahaha.

1h50. Fico a me indagar que se fosse médico não passaria a olhar as pessoas com um aglomerado de órgãos, a imaginar-lhes as entranhas, como sistemas orgânicos que inevitavelmente cessam de existir, coisificando o ser humano. Da mesma maneira, em me tornando psicólogo, não sei se conseguiria me desvencilhar do hábito de perceber as neuroses alheias. Seriam profissões que talvez me fizessem ver o meu igual de forma diferente e não sei se melhor. Isso se dá contigo? Ou existe um botãozinho interno de liga e desliga e você só encarna o papel de psicóloga quando isso se faz necessário? Gostaria muito de saber. A terceira página acabou. A essa altura você já deve estar em casa. O que faz quando chega em casa? Nossa, como queria saber tudo ou o máximo de você. Por falar em saber mais... ainda espero um dia que me mande a entrevista. Bom meu tempo se esgotou, já entro na quarta página. É revisar e postar.

Adendo: instigado por um membro do Facebook que ficou indignado com a imagem do bezerro,  dizendo-a nada poética, quis mostrar a ele que ao poeta (que não sou) é possível extrair poesia de tudo.


A indecisão da Natureza
Toma um rumo incerto
Que mais parece desamor
À criatura
Pura
Mas condenada
Desde o primeiro momento
E não teve muitos depois deste
Três olhos, dois narizes, duas bocas
O excesso foi demasiado
Que se fez impróprio
E chocante
Quanta ingratidão, Natureza
Ó, mãe das mães,
Para que isso?
Um despropósito
Que agride por sua bizarria
E nos faz lembrar
Quão afortunados somos
Por sermos completos

Sem excessos ou faltas