Tão mais profundamente eu mergulho na realidade quanto mais
eu interajo com ela, minha mãe quer que eu mande um WhatsApp pra titia dizendo
para avisar que quando a neta estiver na casa dela, mamãe quer ir visitar. Vou
fazer isso, que é interagir profundamente com a realidade, eu vou transformar/alterar
a vida/destino de duas ou mais pessoas com uma simples frase. Um momento. 23h36.
Algo mais decorreu dessa interação com a realidade.
[23:43, 14/4/2018] Tia Lúcia: E aí ? Está tudo bem contigo?
[23:43, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Mostro, tia. Love u.
[23:43, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Agora está.
[23:44, 14/4/2018] Tia Lúcia: Apareça depois. Estás sumido!
[23:44, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Mas se quer saber, eu
recaí e passei três semanas internado, não posso esconder isso de você,
tia-mãe. :(
[23:45, 14/4/2018] Tia Lúcia: Sério? Mas agora está tudo
bem?
[23:45, 14/4/2018] Tia Lúcia: E a terapia? Abandonou de vez?
[23:47, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Seria injusto. Sim,
agora está tudo bem, acabei de encontrar Mateus na Casa Astral. Tenho ido à
terapia desde que saí da internação e ela foi me visitar lá um dia.
[23:48, 14/4/2018] Tia Lúcia: Que bom! Se cuide meu filho.
Torço para que você fique bem! 😘😘😘
[23:48, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: E a recaída foi uma
experiência ruim, o que é ótimo. :)
[23:49, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Estou velho para essas
coisas foi a minha percepção. Foi desconfortável, incômodo, humilhante, agir
quase como um gatuno. N
[23:49, 14/4/2018] Tia Lúcia: Cuide-se e não perca de vista
a experiência negativa, para te fortalecer.
[23:50, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Não gostei, fiquei num
lugar desconfortável, porém seguro, e senti meu corpo reclamar daquilo. O
efeito também não foi essas coisas, foi em uma palavra ruim passar por aquilo.
[23:51, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Não quero mais passar
por isso. Não vale a pena. Já valeu muito a pena, hoje não mais.
[23:51, 14/4/2018] Tia Lúcia: Você tem outras escolhas, tem
suporte familiar, enfim , o projeto do seu livro, seus escritos, seus bonecos.
[23:53, 14/4/2018] Tia Lúcia: Apareça, qdo puder... Beijo
grande!😘😘😘😍😍
[23:53, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Exato. E tive a
possibilidade de experimentar isso por algumas horas antes de ser internado e
pensei, como fui burro de trocar isso que eu amo por aquilo, achei a coisa mais
idiota do mundo. Depois se acordaram e me trancafiaram no Manicômio por três
semanas, eu acho. Com uma saída.
[23:54, 14/4/2018] +55 81 9186-9572: Beijo grande. Tenho
muito a escrever agora!
[23:54, 14/4/2018] Tia Lúcia: Fica com Deus! Se cuide!😘😘😘
23h40. Eu voltei a pensar no mundo como uma superprodução
hoje. É um pensamento que deixa a existência muito mais interessante aos meus
olhos. Antes disso pasmei em como seres humanos podem gostar da aglomeração de
uma multidão comprimida e se comprimindo, com inevitável contado físico com o
outro, o calor, o aperto. Quando meus companheiros de Casa Astral adentraram a
multidão, local onde não queria me enfiar pelos motivos supracitados,
aproveitei a estiagem e me pus a caminho de casa, foi quando me veio de novo a
sensação de encantamento de estar na maior superprodução do mundo, o mundo em
si. E comecei a reparar que o experimentava com todos os sentidos, sentia a
brisa noturna muito leve nos meus braços, aí me deparei com uma grande Subway e
com aquela grande avenida ao seu lado, a Dezessete de Agosto. Achei uma visão
fantástica e rica. Percebi que apertar a mão com a mão certa é um gesto mais
nobre e que fala da honra e da educação do homem. E já apertei tantas vezes com
a mão oposta, como me envergonho disso, dessa minha percepção que me faltava e
muitas vezes ao longo dos anos provoquei uma sensação de desrespeito à cortesia
de quem me estendia a mão num aperto. Bem, o que está feito está feito e sempre
é tempo de mudar para melhor. Segui andando. Senti uma enorme sensação de poder
quando apertei o botão do sinal de pedestres, embora ache que aquilo não sirva
para nada, e ao acender o homenzinho verde e os sinais da Dezessete de Agosto e
da rua da Praça ficarem vermelhos, o fluxo de carros foi bloqueado, represado
por causa de um condicionamento basicamente animal que os seres humanos dentro
dos veículos e o pedestre entendem que quando a luz ficar vermelha, não se
avança, por uma convenção, um acordo social, derivado da invenção/ideia de
alguém e amplamente difundida no mundo. Se houvesse patente para isso o, cara
deveria ter ficado muito rico (e depois falo de impostos, quando a ficção entrar).
Mas me senti poderoso vendo os carros, essas modernas carruagens de metal,
plástico vidro e borracha pararem como que bloqueados por uma barreira
invisível visto que baseada numa percepção simbólica do que significam as luzes
verdes e vermelhas em dispositivos com aqueles. Tudo isso para que eu, pedestre
único que era naquele momento, atravessar. Me senti poderoso fazendo parar
tantos veículos para que cruzasse, mais solene que de costume, a avenida. Depois
fiquei maravilhado ao passar por um lugar, uma locação da superprodução que
vivo, que suponho ser mais antigo que eu mesmo, a Praça de Casa Forte. Percebi
as pedras portuguesas sob meus pés mesmo com tênis com amortecimento. Em algum
momento apareceu um cara que tem a maior cara de ladrão e que eu já conheço das
redondezas, ele sabe inclusive o meu nome, e sabia que eu costumava viajar e
achou que eu estivesse viajando ou a boataria entre os seus companheiros e
sabe-se lá mais quem tenha dado por minha falta, deu nisso. Disse-lhe que
estive internado. Ele perguntou se na “Clínica ali?” e olhou para o lado de
onde eu vim com um meio sorriso na boca, acho que sugerindo que a Clínica seria
o Manicômio que é por aquela direção. Eu respondi que sim. Perguntei se estava
tudo bem com ele, tentei ser simpático e puxar um diálogo, foi quando ele me
interrompeu e me pediu um cigarro. Com um certo receio do cara, não sei o que
em sua figura me amedronta, ou senão me incomoda. Só pode ser preconceito com
seu jeito de malandro e a expectativa de que ele iria pedir dinheiro, que não
estava disposto a dar pois só tinha duas notas de dez reais para comprar Coca
na pizzaria, coisa que vinha maquinando desde a Casa Astral. Dei dois cigarros
a ele porque tinha o suficiente e poderiam ser os dois cigarros que fumaria
naquela noite, embora tenha se dito com dinheiro para comprar um cigarro, mas
algum motivo que não me lembro o impedia. Dei-lhe os dois cigarros, apertei sua
mão, do jeito honrado a se fazer, e segui para casa pela Praça, pensando que as
árvores grandes podem ser seculares e terem presenciado muito mais sobre aquele
lugar que eu, testemunhado muito mais amanheceres que eu, captando a luz do sol
que lhes empresta a energia da vida. Terem visto aquele bairro repleto de casarões
ser devorado por prédios. O ambiente era extremamente rico e rico em estímulos
positivos, caminhei feliz absorvendo a maravilha que é a existência no meu
bairro, no meu trajeto e naquela hora da noite, o clima estava agradável, a
temperatura amena. Caminhado pensando em tudo isso, um caminhão de lixo enorme,
acho caminhões coisas grandes, com seus enferrujados trituradores de lixo de
várias e várias coletas como aquela ao longo do tempo, passou bem perto a mim,
achei o ronco do motor potente e interessante. Quando estava para dobrar a
esquina um carro deu um cavalo de pau no cruzamento e o barulho foi estridente,
incômodo, alarmante, levei quase um susto e odeio sustos. Mas não acredito que
tenha sido surpreendente o suficiente para me provocar susto, provocou-me raiva
pelo sobressalto. Ao me aproximar de casa começou um gostoso e refrescante chuvisco,
não ensopava, longe disso, eram gotas pequenas e esparsas, era um prazer
senti-las colidindo contra o meu corpo, meus braços e meu rosto principalmente.
Entrei no prédio e passaram por mim um homem careca e uma senhora com a bolsa
na cabeça tentando talvez proteger o cabelo e a maquiagem da água pois a bolsa
para pouco mais servia. Sentei-me na piscina e com essa ideia de superprodução
ainda na cabeça... Eita, mas antes de chegar aí, devo contar que passei na
pizzaria em vez de entrar no prédio e comprei as duas Cocas de 2 litros que
pretendia. A interação foi cordial e três funcionários me cumprimentaram pelo
nome lá. Não pedi nota fiscal dessa vez, pois não estava com paciência de
esperar, deveria ter pedido, mas a entrega das Cocas demorou tanto que resolver
essa última etapa que tomaria mais um par de minutos me pareceu tempo demais e decidi
deixar para lá dessa vez. Depois de entrar no prédio quase subo direto, mas
lembrei que queria tomar uma Coca na piscina fumando um cigarro e decidi
enumerar as coisas sobre as quais queria escrever num arquivo de e-mail que
pretendo continuar a desenvolver, eu acho. Não consegui fazer a lista, entretanto,
pois outros pensamentos foram me tomando e acabou que tive que apelar para a
minha própria memória para descrever as experiências que se me apresentaram ao
longo da volta para casa.
Cheguei em casa, meu padrasto estava na cozinha, tentei agir
da forma mais natural e simpática possível. À guisa de ver se o meu copo de
Coca estava aqui no quarto-ilha, vim e aproveitei para ligar o computador e o
ar. Voltei coloquei Coca num copo usado de água que deixaram em cima da mesa,
perguntei ao meu padrasto se era dele, mas ele disse que não, então o enchi do
negro líquido sem gelo para tomar os remédios como enunciei ao ar, mas com
intuito de comunicar o meu padrasto dos meus atos. Me pareceu o mais sensato a
se fazer, perguntei-lhe se mamãe estava acordada e ele disse que sim. Fui falar
com ela e terminamos a conversa com ela me pedindo que eu falasse com a minha
tia-mãe o que iniciou esta narrativa, embora o início da narrativa mesmo tenha
começado na piscina e me mandei por e-mail.
1h20. Acabei de bater um rango massa, arroz de polvo com
salmão e biscoitos Bono de morango para arrebatar. Vou botas o pijama, essa
bermuda me incomoda.
1h23. Grande alívio e até refrigerante, pois as roupas
estavam geladinhas do ar condicionado.
Bem vou colar aqui o que escrevi no e-mail.
Superprodução
Vivo na maior superprodução do mundo. Onde todos os seres
humanos investem parte do seu dinheiro para produzi-la. Imagina a quantidade de
dinheiro que é depositada na sociedade todos os dias? É muito dinheiro e o
resultado pude apreciar na volta do Forró. E os papéis sociais se tornam mais
ricos e complexos com a intimidade. Os mais ricos deveriam pagar
proporcionalmente mais impostos, quanto mais ricos mais altos os impostos. É só
dinheiro, pense aquele monte de papel pintado: para que tanto? Se daqui nada se
leva e em vez de investir em coisas fictícias, como poupança, ou investimentos
financeiros, que, para mim essas coisas, a bolsa de valores e as especulações
financeiras, são o jogo de azar mais jogado do mundo e o mais sofisticado
também. Em vez de investir em coisas que beneficiariam a sua casa, sua cidade,
seu país, seu planeta e preparar o mundo para ser menos inóspito para seus
netos, bisnetos e todas as gerações que o(a) sucederem, investir em algo que vai
tornar a sua existência melhor, para que isso aconteça da melhor forma
possível, bastando para isso alocar uma parte maior dos seu proventos para o
bem público. A Singularidade Tecnológica deve ser desenvolvida e ela certamente
saberá onde investir os recursos do mundo e transformará o planeta de
superprodução, numa hiperprodução para todos os seres humanos. O dinheiro e a
mão-de-obra seria transnacional ou seja, você poderia trabalhar e morar em
qualquer lugar do mundo, o dinheiro será investido em tornar qualquer
grupamento humano melhor, de uma tribo a todas as nações; a fome será
erradicada imediatamente, todos teriam acesso a todas os serviços essenciais, à
melhor qualidade de vida com educação, inclusive de programação, por mais
intuitivo que o sistema será; e chegará a ser tão intuitivo e poderoso que as
pessoas poderão ter tudo o que quiserem, todas elas, bastando encomendar ao
sistema, com certas limitações colocadas para garantir o bem maior, o bom
funcionamento do mundo, o mais justo para a humanidade como um todo. A Constituição
de todas as nações e do conselho mundial que gerenciaria a política e a
economia mundiais, a ONU, seria a Declaração Universal dos Direitos Humano com
o adendo da inclusão digital para todos a partir da alfabetização. Pode-se tudo
mesmo e de fato quando da possibilidade de integração mente com mente,
consciência com a consciência da supraconsciência terrestre. O inimaginável se
tornará possível e cotidiano. Mas voltando aos impostos, além dessa
distribuição mais justa e temida pelos ricos, para chegarmos mais rápido ao
objetivo proposto é preciso elegermos melhor os nossos governantes, de repente
pelo arbítrio da meritocracia.
2h16. Bati três pratões de macarrão e devorei 2/3 do
sorvete. E comi os três último Bono de morango da casa. O sono bateu pesadamente.
Vou dormir.
-x-x-x-x-
12h47. Ainda falando de impostos e de dinheiro. Não consigo
compreender a sanha dos mais ricos em ter mais e mais dinheiro que não usam
efetivamente, apenas aglomeram. Que parte dele se transforme em impostos,
então, pois não fará muita diferença para os que têm e não usam em nada de
efetivamente material. Tornar o mundo melhor para todos, deveria ser uma das
metas de vida de todos na Terra. O problema todo reside na máxima, em que acredito,
que o poder corrompe as pessoas. Especialmente no Brasil tão afeito aos
jeitinhos brasileiros. Acho que a ética, respeito, direitos e deveres deveriam
ser ensinados nas escolas pois a mim é óbvio que tais valores não são cultivados
no seio da maioria dos lares. Para que formemos cidadãos melhores e a
possibilidade de, senão extirpação da corrupção, pelo menos minimizá-la ao máximo
pois estaremos formando pessoas melhores, mais éticas e justas. Antes disso,
que um sistema seja desenvolvido para a monitoração e escrutínio de todas as
ações públicas com punições severas aos infratores, pois, antes dessas gerações
de pessoas mais virtuosas chegarem a serem as gerações dominantes,
contramedidas de contenção e repressão da corrupção são essenciais. Vejo que no
governo Dilma esse movimento começou e tem se perpetrado até os dias de hoje, quase
todos os dias, um esquema de corrupção é desbaratado em diversas partes do país,
o que acho um grande avanço social que talvez intimide os corruptos a continuar
a exercer os seus malfeitos, embora saiba essa esperança ser vã. Mas, num mundo
hipotético onde a corrupção não exista, o interesse dos gananciosos por ganhos financeiros
ilícitos deixará de ser um atrativo para os cargos de comando, pois esses não serão
mais possíveis, e talvez só pessoas com ideias, ideais e vontade genuína de transformar
o país, ou estado ou cidade num lugar melhor para todos os habitantes se
habilitem para exercer tais cargos.
13h09. Nossa, quanto disparate eu escrevi. Mas me senti bem
fazendo, hahaha. É uma grande demonstração da minha ignorância. Que seja! Mostrar-me
ignorante e pueril é revelar-me da mesma forma. Mas sugeriria tentar apreciar o
mundo como uma superprodução, a maior produção humana, onde a maioria das
pessoas investe a maior parte do seu dinheiro para modelá-lo da forma mais
adequada às suas necessidade, desejos, caprichos e capacidades. Por onde quer
que eu ande eu vejo milhões e milhões de reais investidos e me sinto como
protagonista do filme da minha vida que tem direito a ter como cenário a maior
produção humana, a civilização. É fantástico, fabuloso, impressionante. Foge à
visão cotidiana a que estamos todos acostumados, perdemos de vista a
grandiosidade da obra humana. E o mais interessante é que, se quisermos,
podemos interagir com os demais atores dessa produção e eles terão as falas e
as reações que lhes cabem e poderemos alterar o nosso destino de acordo com
essas interações, mudar o roteiro do filme. Em verdade podemos mudar o roteiro
do filme no momento em que quisermos, embora sempre pareça um esforço difícil
esse da mudança. Para mim é dificílimo. Na saída de ontem, não consegui
interagir com as duas garotas que faziam companhia ao meu primo. Acho uma delas
bem deliciosa e pensei em dizer que ela tinha um lindo sorriso, que era uma
observação sincera, uma constatação, mas a vontade não se manifestou. Não faria
grande diferença. Tentei puxar com a outra um papo, disse que havia assistido “A
Cabana” como ela havia me sugerido e disse que havia gostado, o que não é uma
mentira, e ela retorquiu que o filme era bom e ficamos por isso mesmo. O que me
vem agora à mente? Que a possibilidade de publicação do meu livro se torna cada
vez mais uma realidade distante. Ou se distancia da realidade. Meu tio não me
deu resposta ainda. Talvez eu esteja sendo ansioso demais, não sei. Sei que a
esperança se esvai e isso me entristece ao passo que me poupa de uma humilhação
pública. Mas o sonho de ser publicado por mérito não me abandona. Não vou pagar
para ser publicado. Nem disponho dos recursos. Meu livro é caudaloso e por isso
caro de ser produzido, eu suponho. Também não sei se teria coragem de encarar
uma noite de autógrafos para o lançamento do livro, é uma exposição que me
causa ao mesmo imenso temor e curiosidade. Não sei se teria criatividade para
escrever dedicatórias diferentes para as possíveis pessoas que compareceriam ao
evento, caso evento houvesse. Preferiria lançar o livro na surdina, sem noites
de autógrafo ou alardes. Mas acho que meu tio não viu valor literário algum na
minha obra e está empulhado em me dizer isso. Bom, pelo menos é um pensamento
extraordinário, no sentido de fora do comum, para ocupar a mente e estas
páginas. Ainda me assombra que pessoas leiam este blog. É algo que foge à minha
compreensão. Eu mesmo não teria paciência de lê-lo, por mais que o releia toda
vez para revisar. Mas eu também sou um caso à parte, não gosto de ler. Acho
tedioso demais. E intelectualmente demandante. Embora ter lido o segundo tomo
dos “Ensaios” de Montaigne tenha sido, no mais das vezes, uma experiência
deveras interessante. Mas a alternativa que me restava, o tédio absoluto, não
se afigurava como algo desejado, então me dediquei ao livro. Se fosse ler
outro? Continuaria a ler “O Mundo de Sofia” que foi um presente especial de uma
pessoa especial. Afora esse, e só leria esse abatido pelo tédio de um
internamento, não leria mais nenhum. Não gosto ler, ponto. Gosto de escrever.
Muito. Tanto em vontade quanto em quantidade, porque tenho muito tempo para me
dedicar ao meu ofício de fé e por isso textos tão longos, pois são longas as
horas que passo a me dedicar a eles. E isso me é muito bom. É como me sinto
mais eu e mais meu. Embora ter experimentado o mundão ontem me tenha sido uma
experiência superiormente interessante por imaginá-lo como o gigantesco cenário
do filme da minha vida. Por falar em filme da minha vida, meu amigo cineasta
virá depois de amanhã iniciar as filmagens finais de sua obra sobre a minha
monotemática vida. Sinceramente não sei como fará para dar dinamismo imagético
às cenas que capturou. E em verdade não é problema meu, eu sou apenas o objeto
a ser filmado e nada mais. Dei liberdade total a ele, que acho que sempre faz
bem criativamente. Poderá tratar e colher qualquer porção do meu blog da forma
que lhe couber e poderá me capturar nas mais diversas situações que não são
muitas, afora satisfazendo as minhas necessidades fisiológicas, dentre elas a
alimentação. Não gosto que me vejam comendo. Acho um espetáculo íntimo e mais
das vezes o faço solitariamente. Nossa, como gosto de estar no meu quarto a
escrever, ouvindo o “Songs Of Experience” do U2 e olhando para o meu Hulk. É a
vida da melhor forma que pode ser para mim. Sei que é uma predileção peculiar,
mas é o que faz sentir vivo e dono completo de mim e da minha vida. É um
sentimento ótimo e adoravelmente familiar. É onde existo de forma mais completa
e relaxada, tranquila, em paz, sem estresses. Poucos estresses passam pela
porta do meu quarto-ilha. Mandei uma mensagem de Facebook para o meu tio a
respeito do livro. Acho que foi uma atitude inconveniente que demonstra a minha
ansiedade pelo assunto. E de fato estou bastante ansioso em relação a isso. Mas
prefiro esperar meses e ver a minha obra concretizada do que receber logo um “não
dá”. É preciso paciência, Mário, há a hora do plantio e da colheita, não se
pode plantar e pensar que colherá no dia seguinte, é necessário que os
mistérios da existência ajam e se manifestem em bons frutos, se possível. Ainda
estou em dúvida sobre o meu anexo sobre Aurora, mas acho que vou mantê-lo. O
livro em si já deixa bem claro para os leitores quem Aurora é, principalmente
para quem a conhece. Acrescentar os pormenores de como o encanto se deu é um
complemento que acho essencial à compreensão do livro. E acho que deixo bem
claro que é uma fantasia, um delírio. Se foi recíproco, o foi por pouquíssimo
tempo. Mas não quero tratar disso aqui, não quero dar spoilers muito grandes do livro, vai que ele seja publicado. Dá
vontade de lamber a cria e revisar mais, mas já reli duas vezes. Todas as 234
páginas de Word que o compõem. Mas vou revisar o final, os anexos, mais uma
vez. Acho que eles é o que carecem de mais atenção.
15h10. Mamãe me fez um café e entendeu pelos meus textos
aqui no blog que havia mandado os originais da obra para escritora, o que não
fiz. De toda sorte, por respeito à minha amada mãezinha, mesmo que a escritora,
se dispuser a lê-los, não os enviarei, mas tenho quase certo que ela não me
responderá, pois acho que se fosse para fazê-lo já teria acontecido. Minha
única e última esperança é o meu tio. Acho chato incomodá-lo com as minhas
sandices, ou melhor dizendo, com o grande sonho da minha vida, mas ele se
mostrou tão motivado e disponível a me ajudar que minha alma se encheu de
esperança. Se acho meritório ser publicado? Sinceramente acho que sim, pois
tudo o que faço é escrever e queria por bem ter uma obra publicada em papel.
Até porque umas três ou quatro psicólogas se mostraram interessadas em lê-la,
uma até do Manicômio. Não sei o que essa obra acarretaria na minha relação com
a Doutora se lhe caísse nas mãos. Acho que seria um escândalo. Talvez se
negasse a me ter como paciente seu, visto que não a descrevo com muitos bons
olhos. Como poderia, estando internado ali? De todo modo, acho que a obra é
meritória de publicação, porém acho que isso só seja possível por intermédio de
alguém com mais influência no meio da palavra escrita e não pude pensar em
ninguém melhor que o meu tio, que, como já disse, tem o distanciamento salutar
da família, pode guardar sigilo do resto dos familiares e me dar uma opinião
sincera sobre a minha caudalosa produção. Muito contraditória às vezes. Com
alguns pontas não atadas. Acho que me lembrei de uma que posso atar. E revisar
os anexos. Vou fazer isso agora. Antes vou revisar e publicar este post, mas
esse vou divulgar ao contrário dos dois anteriores.
17h07. Não sei se vou divulgar ainda. Vou ao shopping com
mamãe agora, outro cenário rico, especialmente em beldades, do filme da vida.
Espero estar certo quanto às beldades hoje. A tarde cede acinzentada à noite
que vem se impor contra a cidade. Já estou pronto e irei de sandálias ao
shopping porque não há meias para eu calçar. Minha mãe vai questionar a minha
escolha de calçado e talvez avente a ideia de comprar meias para mim, o que
delongará ainda mais a minha estadia no shopping. Se assim for, vou tentar
pleitear duas coisas, uma camisa branca da Hering e um jantar no chinês da
praça de alimentação.
21h28. Todos os objetivos alcançados, camisa da Hering
comprada, mouse e T para todas americanas com tomada de dois pinos também.
Ainda comi no chinês que não estava com um sortimento que me agradasse particularmente,
mas fiz um prato razoável e matei a fome, foi a primeira coisa que comi no dia,
pois comi como um cavalo durante a madrugada. Não consegui entrar no modo
superprodução no shopping, privando da companhia da minha mãe me foquei mais
nas nossas interações e objetivos que no ambiente. Não estou ainda satisfeito
com este post embora ele tenha percepções muito interessantes, diferentes e
posições políticas de uma criança. Ainda trata da Singularidade de maneira
confusa, sempre me complico sobre esse assunto.
Meu tio me mandou notícias. Disse que ainda estava lendo que
me contataria brevemente.
22h26. Mandei a versão “definitiva” do livro, desisti de
revisar mais, senão não teria fim nem acabamento. Ele disse que já havia lido
cerca de 25%. E que só não leu mais por conta de um aniversário. Não emitiu nenhuma
opinião, entretanto. Isso me deixa com uma pulga atrás da orelha. Nas
dedicatórias do livro no novo arquivo já incluí meu tio como pessoa que tornou
o meu sonho possível. Tomara que essa dedicatória premonitória se concretize. É
a coisa que mais desejo no mundo.
23h51. Vou dormir. Amanhã tenho psicóloga às 14h00.
0h09. Fumei meu cigarro da noite e coloquei o último copo de
Coca. Só penso no livro. Meu tio me convidou para debater projetos sociais.
Queria encontrar com ele para debater sobre a vida, não sobre trabalho. Tenho
aversão a trabalho, o único a que me dedico com total afinco é este. Mas
encontrar com meu tio me parece uma coisa muito interessante e potencialmente divertida.
Ele é uma pessoa de conversa fácil até onde me lembro. Promete ser bom. Minha
mãe ficou feliz com essa perspectiva. Eu me sinto meio intimidado, mas menos do
que poderia julgar. Meu amigo jurista viu a minha mensagem a respeito do filme
que quero ver no cinema e nada respondeu. Será que está me evitando por causa
da recaída? Não descarto esta hipótese. Preconceito e ignorância a respeito de
alguns temas me prejudicam. Espero muito que esse não seja o caso com o meu
amigo jurista. Que possamos ir ver o filme.
-x-x-x-x-
10h50. O meu amigo jurista respondeu. Já viu o filme. Deu a
entender que se houvesse outro iria comigo.
11h02. Terá o novo dos Vingadores a partir do dia 26 de
abril. Quando a bateria do meu celular carregar, pois acabou de acabar, eu
aviso a ele tentando combinar. Ir no dia de lançamento acho meio furada. Mas em
algum dia subsequente de repente role.
11h11. Estou acordando e estou achando a minha produção
superpobre e sem sentido. Dane-se, faço mais para mim mesmo. Para ocupar o
tempo e me divertir. O café está sendo feito. Isso sempre me estimula e anima.
11h48. O café foi feito e já tomei duas xícaras. Incrível
como me é benéfico ao espírito. Estávamos a elucubrar eu e a fantástica
faxineira sobre uma hipotética ida minha ao Big Brother. Disse-lhe que não
faria nada. Se me viessem com esqueminhas e fofoquinhas eu sairia fora e o
máximo que faria seria limpar os pratos e talheres dos quais me servi. Hahaha.
Já tentei ingressar no Big Brother quando em surto de mania e não tenho mais
interesse nisso. Bem, só um pouco, mas muito pouco para me motivar a fazer
qualquer movimento nesse sentido. Prefiro muito mais ter um livro publicado.
Mas minha sede por fama, que não sei por que carrego, me faria enfrentar o Big
Brother sem problemas. Quem já enfrentou o Manicômio, a Clínica e o Albergue de
Drogados tira o Big Brother de letra. Hahaha. Mas deixemos isso para lá. E
sigamos com o que me acontecerá hoje, irei para Ju, minha psicóloga, e não sei
realmente sobre o que trataremos. Provavelmente da minha saída. Das filmagens
porvir. Ah, ontem no shopping tive a minha primeira experiência com VR
(Realidade Virtual) e, embora a resolução não tenha sido essas coisas e não
tenha conseguido abrir nenhuma demonstração a própria área de seleção das cenas
onde as telas com as opções flutuavam sobre uma sala fictícia me pareceu surpreendentemente
imersiva e tridimensional. É uma tecnologia que a qualquer pessoa que viesse de
20 anos atrás acharia mágica. Para onde quer que olhasse a sala estava lá e
parecia que eu mesmo estava na sala. É muito interessante. Imagino com os
óculos realmente dedicados a isso, como os que meu irmão comprou, como deve
ser, se já acoplado apenas um celular e olhando para uma sala já me foi
impactante. Imagino um passeio de montanha russa com os óculos apropriados.
Acho que vou comprar o Blu-Ray do show da turnê do novo disco do U2 se ela se
der. Acho que algumas músicas funcionam muito bem ao vivo, mas só se tocarem “Landlady”
a música que realmente gosto do álbum. Liguei o ar, está muito quente, abafado
como numa pré-chuva, ainda mais tomando café quente. Nossa, como pude trocar
esse lugar que amo e que me é completamente confortável, familiar e acolhedor
por estar sentado em meio a carrapichos no cimento duro, às escondidas como um
meliante para usar cola? Só sendo muito burro mesmo. Cansei de dar murro em
ponta de faca. E da faca me cortar-me os punhos. E de ir parar no Manicômio. O
que para mim, já nem é tão deplorável assim, por mais que tenha coabitado o
quarto com um cara de personalidade bem difícil. Pelo menos não tinha nenhum
distúrbio grave de personalidade. E fiquei novamente na Suíte e reencontrei o
Pequeno Buda, que está na ponte Clínica de Drogados-Manicômio há mais tempo do
que seria justo para o seu caso. Já está nessa pisada há mais de cinco anos,
sem recaídas, e os pais não se dignam a tirar o filho de lá. Nem os endereços onde
residem fornecem, para mim é muito claro que decidiram que, pelo valor de uma
mensalidade do plano de saúde, oferecem toda a infraestrutura para o filho,
teto, alimentação, medicamentos, oferecidos pelas instituições e com suas
necessidades básicas garantidas, pretendem deixá-lo para sempre internado,
esquecendo de uma necessidade básica e fundamental do ser humano que é a
liberdade. São extremamente cruéis e desalmados adotando esta postura e o
Pequeno Buda demasiado passivo para acatá-la sem se revoltar e tentar mover
tudo o que pode para sair da clausura. É uma combinação de fatores muito
prejudicial ao meu amigo. Quando teve alta da última vez, foi necessário
acionar o Ministério Público para obrigar os pais a tirá-lo e o mandaram para
um lugar ainda pior que em nada se assemelhava com a liberdade tão sonhada pelo
Pequeno Buda. E, sem pensar, só querendo se livrar daquela situação terrível em
que haviam o metido, aceitou voltar à internação e lá permanece até hoje. Isso
caberia no livro, mas já dei por visto. Senão a obra seria algo que não teria
fim, sempre me viriam mais acréscimos ou mudanças para serem postas e não
acabaria nunca de editá-lo e reeditá-lo. Já mandei como definitiva a última
versão para o meu tio, que, como já disse, me contou ter lido mais ou menos ¼ da
obra. E quer se encontrar comigo para conversar sobre projetos sociais. Que
projetos serão esses me escapa completamente à imaginação e mal sabe ele que
não tenho disponibilidade para eles. O máximo que sei fazer são layouts que não
primam pela beleza das pessoas que realmente têm talento para a coisa. Não é
meu caso, encaro um layout como um problema de disposição de informações a ser
resolvido, viso a legibilidade e transmissão das informações da forma mais
clara e prática possível, não me preocupo muito com a estética porque não tenho
esse dom. Ademais estou destreinado nesse ofício, então não seria capaz de
produzir nada de atraente visualmente. Em todo o resto me mostro um
imprestável. A minha escrita, que tanto prezo, está desatualizada e em
desacordo com as novas normas ortográficas, corrijo só o que o Word me indica e
não domino as regras gramaticais, escrevo por instinto. E assim vou levando,
porque o blog é meu, a ignorância e a humilhação dos meus textos mal escritos
refletem-se apenas na minha imagem, em mim e mais ninguém. Não ouso falar em
nome de uma outra pessoa ou instituição, não me sinto capacitado a fazê-lo,
então não há nada que possa oferecer em termos de mão-de-obra, para projetos
sociais. Ou projetos de qualquer natureza. Não quero trabalhar de novo, não
quero me arriscar a ter outra derrocada psicológica devido às pressões e
cobranças de um trabalho. Não quero tampouco arriscar a minha curatela. E
preferiria conversar sobre a vida do que sobre trabalho com o meu tio. Ele deve
ter muito a me ensinar. Bom, vamos ver o que o destino me reserva. Sei que
daqui a pouco, quando acabar essa xícara de café que coloquei, vou tomar o meu
banho para ir a Ju tratar da alma. Por mais que não tenha nada a dizer. Ah, me
prometi falar da minha saída. Da negação social que fui. Minha mãe fala
animadamente da viagem, da passagem que faremos de alguns dias em Lisboa e tudo
isso me gera desconforto. Eu disse que se ficasse no hotel escrevendo não teria
muito problema, mas ela deseja que eu desvende e explore a cidade, o que não
tenho a mínima intenção de fazer. Minha única curiosidade em Lisboa, além dos
pastéis de nata seria encontrar Marcelo Camelo ou Mallu Magalhães por lá. Mas
acho que não teria cara de pau de importuná-los. Ou teria? Não sei. Sei que o
café está quase no final e preciso me aprontar para a sessão. O Hulk, há o
Hulk, que prazer me dar olhar para ele durante o dia, quando a claridade revela
todos os semitons de sua pintura que lhe empresta ainda mais volume e
personalidade. Um problema me aflige, como comunicar ao meu tio que tenho
aversão ao trabalho, verdadeira fobia? Terei que ser franco com ele, mas
ouvirei suas propostas. Bem, vou levar esse assunto à baila com Ju também.
Tenho ao mesmo tempo curiosidade, saudade e receio desse encontro. Vou tomar
banho. 13h06.
13h22. Já estou devidamente pronto para a sessão. Esperarei chegar
as 13h40 para partir, não há muito o que fazer no caminho agora que estou sem
iPod. Se bem que posso ouvir Spotify do meu celular, mas é uma coisa que não
sei como se opera e me parecerá alienígena nesse momento. Acho que preferirei
usar o iPod da minha mãe, se ela me permitir. Embora o dela seja com tela de
toque. Acho que prefiro a sua sugestão de comprar outro como o meu na Europa. E
parece que a tenho convencida de comprar um Chartreuse verde para que eu
beberique uma vez por semana. Será ótimo. Além desses, meus outros desejos
consumistas para viagem são um novo frasco de Bleu de Chanel e uma camisa
oficial do Bayern de Munique. Esta última vem em último lugar e não a desejo
tanto quanto os demais itens da lista. Ah, torçam para a minha irmã conseguir o
financiamento da casa própria da família dela! Quem souber orar que a inclua em
suas preces. Ela merece, é uma garota esforçada com uma linda família, precisa
dessa segurança.
16h08. Deixo esse post por aqui. Vou começar outro. Depois
reviso e posto.
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