quinta-feira, 19 de abril de 2018

DIAS DE FILMAGEM




14h49. Acabei de receber uma resposta do Albergue de Drogados sobre o post que mandei com os originais do texto do livro para apreciação dos donos da instituição. Eis a resposta:

“Boa Tarde Mário,

Venho através deste informar que o RAID como instituição não faz esse tipo de trabalho.”

14h52. Bom, uma das cartas está fora do baralho. Só conto com o meu tio e tenho que me preparar para o pior. Ou seja, que esse livro nunca veja a luz do dia. Não vou morrer de véspera, mas acho que é o que acontecerá. Não tem valor, substância ou forma para que meu tio ache publicável. Não porá seu nome em jogo por causa das minhas sandices. O que é uma pena, pois é o meu maior sonho. Bem, está entregue às mãos do destino. Quando falo com deus, ele geralmente me atende, por mais que não acredite nele. Mas não tenho coragem de pedir coisas para mim pois tenho uma vida abençoada demais para querer mais alguma coisa, geralmente peço para os outros e muito raramente. A última vez que apelei para a inexistente divindade foi essa semana, por sinal, pedindo que permita que minha irmã consiga o financiamento do banco para comprar o tão sonhado imóvel próprio. Acho isso muito mais válido e importante que o meu livro. E, como disse, não peço nada para mim porque simplesmente não acho justo ou que o mereça, ainda mais por fazer pouco da suposta deidade. Vejo esses meus pedidos como uma espécie de superstição, não como fé de fato, embora seja tomado de profunda fé quando realizo os pedidos. É uma coisa contraditória em mim. Não acredito realmente em Deus. Não acho que haja essa consciência universal que atenda os desejos e aspirações dos seres humanos que acreditam nela. Acho isso de um absurdo sem tamanho. Mas quando algum dos meus pede que eu torça por ele eu bato meu papo imaginário com o suposto criador de tudo o que existe. No princípio era o verbo e eu solto o verbo para esse princípio. Fico surpreso que, nas vezes que me recordo, a situação saiu a favor do meu pedido. Não tenho coragem de interceder em meu nome, entretanto, acho egoísta demais, como acho que já deixei claro.



15h07. Havia combinado com o meu amigo cineasta que começaríamos as filmagens às 14h00. Ele disse que iria pegar as sobrinhas no colégio e vinha. Não sei o que aconteceu, mas espero que não seja nada de grave. Já acho a história de filmar o Manicômio da varanda do vizinho um pouco ousada demais, mas vou reparti-la mesmo assim. O diretor decide o que quer fazer, como já disse eu sou apenas objeto da filmagem, não sou eu quem decide como captar tal objeto. Dou algumas sugestões que me ocorrem – e não me ocorrem muitas – e só. Não sei sobre o que escreverei se ele for me filmar digitando. Acho que como sempre descreverei o que me passa na cabeça enquanto tenho uma câmera apontada para mim.

Eu estava a contemplar o meu Hulk para a filmagem. Terei que voltar a olhar para ele, eu estou fazendo o movimento de novo.

Continuo a escrever e olhar para o Hulk. Quando eu não escrevo, eu olho para o Hulk, via de regra, mesmo sem filmagem. Escrever torto é bem mais difícil, mas é por conta do enquadramento. Acho que não faremos as externas hoje, já são 16h35. É muito pouca luz para filmar lá fora. Acredito que amanhã será o dia das externas. Hoje o foco foi e está sendo no Hulk e na presença que ele traz ao quarto. Por isso estou numa posição diferente da que normalmente escrevo, o que me está sendo um tanto desconfortável, mas o que não se faz por um bom take! Hahaha.

O Hulk é o meu xodó, estou escrevendo só para encher linguiça nesse momento. É uma coisa que sempre faço quando estou sendo filmado, pois nada me ocorre.

Meu amigo cineasta quer que eu mande cópias do livro para mais pessoas analisarem, mas não consigo conceber mais ninguém para quem mandar. Talvez o meu professor de Publicidade! Mas não vou mandar até receber resposta do meu tio.

16h56. Meu primo urbano chegou e se uniu à trupe cinematográfica. Não sei o que escrever. Estou envergonhado com a plateia. Espero que Ju leia o texto que mandei na íntegra. Agora ocupado que estou com amigos e com a filmagem, a paranoia com a camisa evasneceu por completo. Ainda a desejo, não me entenda mal, mas sem a ânsia insana de antes, acho que essa nova perspectiva da vida, com esses fatores externos me faz pôr a camisa sobre uma perspectiva realista. E eu que cheguei a querer me internar só para roubar outra fronha. Tal ideia agora me parece ridícula. Estou tenso com o encontro com as minhas amigas, principalmente depois do livro. Mas seja o que a vida quiser. Estou realmente impressionado com as ideias que me cruzaram a cabeça a respeito da camisa, insanidades todas elas, motivadas pela frustração inominável que sofri. A próxima será a do livro. Que eu agora acho um material tolo, até mais tolo que as tolas palavras que coloco hoje aqui nesse blog. Não sei, o destino se desenrolará um pouco à minha revelia. A vontade do meu tio é que vai fazer toda a diferença. Segundo o meu amigo cineasta, a meta de filmagens do dia já foi cumprida. Achei que produziríamos mais, mas ele elencou hoje como o dia do Hulk, então que assim seja. Eu acho o Hulk o bicho e tê-lo protagonizando algumas cenas do projeto do meu amigo é algo que me faz regozijar. Estão falando do livro e sugerem que eu lance o livro por mim mesmo. Isso me deixou em dúvida sobre o que fazer. Continuo na esperança do meu tio. Mas não sei. Pelo menos estão me motivando a levar o projeto adiante, me apontando outras vias. Não sei o que fazer, estou ouvindo “Damn.” de Kendrick Lamar. Não consigo ouvir o disco direito por causa da conversa, mas rap, hip hop, sei lá, me parece tudo igual. Vou escutar com mais calma sozinho. Foi eleito em vários lugares como o melhor disco de 2017.




18h38. Os meninos – meu primo urbano e meu amigo cineasta – já foram. Meu primo vai para a aula de harmonia e nós iremos encontrar com as nossas amigas psicóloga e diretora. Meu amigo cineasta foi tomar banho e é o que farei em breve, só preciso aliviar a vontade de me dizer um pouco. Estou apreensivo em relação ao encontro com as minhas amigas como é de praxe com eventos sociais até os mais queridos e desejados como esse é. Não sei o que serão das minhas amizades, especialmente essas, se tiverem acesso ao conteúdo do livro. Soube que a namorada do meu primo urbano faz revisão de textos, era a pessoa que escolheria para revisar minha obra se ela prometesse manter o sigilo absoluto até do meu primo urbano. Preciso me preparar para o encontro, me bateu um frio na barriga agora. Mas meu intento é que tenha o livro pelo menos revisado. 18h49. Preciso realmente tomar banho.

19h16. Estou devidamente pronto. Vou esperar às 19h30 para descer. Me sinto muito mal pelo que o livro, caso livro venha a ser, vá causar às minhas relações com as minhas amigas. Acho que será um dano irreversível. Aliás, será impactante para todos que conheço que lerem o livro. Não sei se vale a pena. Quero muito, mas não queria ser rejeitado pelos meus devaneios. Principalmente por elas. Acho que meu primo urbano e meu amigo cineasta ainda manterão a relação comigo. Essa é a minha esperança. Mas estou falando tolices, o livro não será publicado. Esta é a realidade como a vejo e tenho em mãos. Pretendo pegar o contato do amigo do meu amigo cineasta que possui uma gráfica ou coisa do gênero. 19h23. De 19h27 eu desço. Ainda teremos filmagens hoje. A simulação de eu indo dormir. E a conversa com meu irmão pelo Skype. Acho que tem alguma coisa errada com o meu último dente superior esquerdo. Tenho essa suspeita desde a limpeza nos dentes que fiz. Pode ser só a minha imaginação também. Como pode ser só a minha imaginação que a namorada revisora do meu primo urbano está com alguma cisma comigo. 19h27. Vou lá. Até a volta.

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0h13. O encontro foi muito bom ao mesmo passo que me fez sentir muito mal. Por causa do livro, é claro. Tudo, da camisa ao livro, me parece um grande despropósito e isso me deixa perplexo. Ainda anseio muito que o meu tio ache válido e use de sua rede social para publicá-lo, mas temo pelo impacto social que terá em minha vida. Negativo, é claro. Não consigo imaginar que impacto positivo possa acarretar. Que vexame ter mandado para o meu tio. O que deve estar pensando de mim? Nossa, o que fui fazer. Será que valerá pagar um preço tão alto pela realização do meu maior sonho? Será que estou hiperbolizando o impacto negativo? Creio que não. Ele é diretamente proporcional à vontade de ver o livro publicado e nisso me ponho de novo numa encruzilhada que deixarei nas mãos do meu tio decidir. Ou seja, nas mãos do destino que lhe encaminhei. Não sei ao certo o que queria mais, aliás, sei, publicá-lo, senão em vez de estar escrevendo aqui, eu estaria agora compondo um e-mail para o meu tio dizendo que esquecesse a empreitada. Não quero falar mais disso no momento.

0h28. Fomos para o Anjo Solto, um lugar especializado em crepes, na Galeria Joana d’Arc no Pina. Nossa amiga diretora parecia esgotada e ainda estava com dor de garganta, nossa amiga psicóloga estava rouca. A noite foi agradabilíssima com conversas interessantes. Sobressaiu-se para mim o debate sobre flatulência e a ideia do meu amigo cineasta de que pessoas da elite, mais esclarecidas, deveriam colocar seus filhos em escolas públicas e com seus padrões e expectativas relativas ao ensino fazerem uma mobilização para que a escola pública atinja o grau de qualidade e excelência das escolas privadas exemplares. Ele acha que se a classe média abastada tomasse essa iniciativa, organizariam e mobilizariam os demais pais, menos preparados e mais conformados com o status quo, e com isso gerariam uma revolução no ensino público. Achei a ideia interessante, ou como a compreendi. Os demais assuntos, confesso que não os recordo todos nem os seus detalhes, nem acho cabível coisas de cunho mais pessoal de outrem serem expostas aqui. Aqui a única intimidade é a minha. Senti-me em alguns momentos como um traidor por causa do bendito livro, como possuidor de um terrível segredo que geraria a repulsa de todos à mesa. Toda vez que o livro me vinha à cabeça era assaltado por essa terrível sensação que, confesso, foi esparsa, ainda bem. Pois é, não consigo fugir desse tema. Eu não sei o que será do meu futuro caso a obra veja a luz do dia. Não sei, não sei, não sei. Só consigo pensar no pior cenário. Vou fumar um cigarro. E vou dormir. Que o destino se encarregue de mim e meus escritos.

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13h17. O segundo dia de filmagem começou com uma manhã filmando tomadas externas, primeiro a prova de vida no banco, depois em frente ao Manicômio, o que foi detectado pela clínica, eu acho, e não sei em que isso vai dar na próxima consulta que haverá com a Doutora. Espero que nada. O livro é mais impactante eu acho, mas não quero lembrar ou falar dele agora, pois me desperta sentimentos muito antagônicos. Depois do Manicômio meu amigo cineasta filmou-me caminhando pelas ruas do Poço da Panela e foi quando encontramos o meu amigo esquizofrênico e talvez meu amigo cineasta tenha o filmado dando as suas impressões nefastas sobre o Manicômio. Depois o meu amigo esquizofrênico não mais parou de falar. É um ser até certa medida solitário, mas muito menos que eu, tem vários conhecidos e muitos o conhecem de Casa Amarela ao Poço, passando por Casa Forte, mas acho que tem poucos amigos de fato, eu penso que me aproximo desse papel em sua vida e me sinto honrado com isso. Fazia muito tempo que não nos cruzávamos pelo mundão. Foi bom, embora quase não tenha deixado que partíssemos comentando sobre um suposto grupo policial de extermínio que visitava as redondezas onde estávamos filmando. Acho que o depoimento sobre o Manicômio uma pequena pérola que poderia ser acrescida ao projeto do meu amigo cineasta e emprestaria um tom heroico ao fato de eu ter estado e sobrevivido lá visto que sua descrição sobre o local foi de um lugar muito ruim, bicho de sete cabeças total. Contou inclusive alguns causos. Sei lá, fica a cargo do meu amigo colocar ou não um trecho dessa fala. Ele quer filmar o quarto vazio, eu indo dormir e talvez uma entrevista. Além de uma conversa com o meu irmão pelo Skype. Acho que o dia de filmagem foi proveitoso so far. Não sei por que achei que meu amigo não achou tão legal assim. Bom, é a obra dele, como já disse, sou apenas o objeto em torno do qual a narrativa se construirá, ou assim entendo, não sou roteirista nem codiretor. Nem quero ser, acho que ter liberdade criativa total é essencial. Não queria ninguém dando pitacos nos meus textos. Não quero ninguém dando pitacos no meu texto. É incrível como a minha vontade de ter a camisa do manicômio esmoreceu. Ainda bem. Seria interessante a entrevista, eu acho. Mas nem sugerirei ao meu amigo cineasta, se estiver nos planos dele, que ele tome a iniciativa. Estou conversando com a minha cunhada pelo WhatsApp, é uma beleza ter o WhatsApp pelo computador. Não preciso ficar ciscando teclas no celular. Bem mais fácil e cômodo. Eu não sei sobre o que vá conversar com o meu irmão hoje à noite. Mas na hora sai. Posso falar da primeira interação com VR que tive. E do joelho de mamãe. Perguntar se meu sobrinho caçula está realmente melhor. É, dá para desenrolar um papo. Sobre a sensação de estar traindo as minhas amigas, este sentimento está mais fraco agora, mas nem por isso deixa de ser menos real. Acho que se for publicar o livro cortarei a amizade com elas antes. Não sei se exagero, mas sincera e infelizmente, creio que não. Essa triste sina de me revelar por inteiro é no mínimo polêmica e agride diretamente elas. Mas meu tio pode – e é mais provável que o faça – dizer que não pode me ajudar. Eu acho que devia extirpar os dias que passo em casa do “Diário do Manicômio”, por serem tão desconexos do contexto. É um caso a se pensar. E falo muito em videogames. Sei lá. Está entregue. Meu tio ele mesmo pode se sentir agredido pelo meu maior segredo, esse que me destruirá socialmente. E pelos atos imorais que pratico ao longo da internação. Quanto à camisa com a marca do Manicômio, acho que o santo da Doutora é forte e fez até a fronha sumir. Se for forte mesmo, o livro não se materializará. Eu não sei mais o que quero e posso dizer sobre o assunto. Acho que vou tentar reconstruir a marca da clínica no Corel para passar o tempo. Ou não. Agora não, está tão bonzinho escrever aqui. Meu amigo cineasta perguntou se o livro tem a mesma “pegada” do blog. Fiquei sem saber o que responder pois perdi o senso crítico a respeito do estilo após reler tanto o texto, mas pensando bem, acho que a minha voz é a mesma, isso que faço no blog seria como a orgânica continuação dos Diários. O da Clínica de Drogados, que escrevi anos antes do do Manicômio, eu já vejo como uma voz diferente. Acho que estava em surto de mania quando o escrevi. Achei repulsivo demais o eu que narro lá. O da internação do Manicômio se aproxima mais do eu de agora, é uma extensão dele. Só que aqui ainda meço o que dizer e lá digo tudo. Tudo que me vem à mente vai parar no papel. Aqui não fico muito distante disso. Aliás me aproximo o máximo que posso de mim e do que observo, percebo. Minha mãe está muito neurótica comigo e ela mesmo se percebeu assim, o que achei um gesto de autocrítica bonito da parte dela. Espero que ela relaxe mais depois dessa constatação. Caso esteja lendo isso, mãe, saiba que não tenho a menor intenção de usar cola novamente. Para mim é algo do passado. Como disse à minha tia-mãe, é uma coisa que já valeu muito a pena para mim, já valeu todos os riscos e confinamentos, hoje não vale mais. O custo/benefício, por assim dizer se tornou demasiado negativo para que queira passar por tudo que a cola me obriga a passar por um prazer que não mais me encanta, não faz mais sentido para mim, em suma. Sei que sou um adicto e que tudo pode acontecer, mas tenho forte e firme em mim a convicção que os meus dias de cheira-cola estão relegados ao passado. E que assim seja até o final dos meus dias.

15h11. Nenhuma notícia do meu amigo cineasta, deve estar curtindo a família ou descansando, pois dormimos tarde ontem e acordamos cedo hoje. Sei lá, não sou adivinho para saber o que ele anda fazendo, sei que os canais de comunicação estão abertos. Menos o interfone e a campainha, pois não consigo ouvi-los daqui devido ao “Songs Of Experience” que rola no som no volume 10.

15h16. Abri a janela e a porta para entrar um pouco de mundo dentro do meu quarto e ele dar uma respirada, é bom fazer isso às vezes, me dá a sensação de reciclagem da atmosfera do quarto e, como o meu padrasto não está aqui, posso fumar o Vaporfi de porta aberta. Não gosto de passar muitos dias com a janela fechada, embora não raro aconteça, pois me parece que atmosfera vai se tornando de alguma forma viciada. Pensei agora na aparente tendência da água de se organizar em forma de esfera quando em gravidade zero. Parece que o universo tem preferência por este formato visto que planetas e estrelas todos tem tais contornos. Acho isso curioso. Mas confesso que não tenho certeza quanto à água, vi isso num filme de Hollywood e creio que vi também um astronauta filmando a mesma coisa. Mas não tenho certeza desse último. Então posso só estar conversando água agora. Hehehe. Primeira vez que uso a risada marota nos meus textos. Será que se tornará uma constante a partir de agora? Não gosto muito de usar esse artifício das risadas mas às vezes me escapa porque estou de humor mais elevado. Me perdoe o leitor pela pobreza de estilo. Meu amigo cineasta disse que vai escovar os dentes e sobe.

15h31. Amanhã completa-se mais uma volta que dou em torno do sol, mais um ciclo se inicia. Nada realmente acontece, apenas um número a mais na minha idade, um pouco mais de experiência, mas confesso que o ciclo começa promissor com o fechamento das filmagens da obra do meu amigo cineasta sobre esse que vos escreve e a possibilidade de publicar o livro. Coloco artigo definido, pois não pretendo publicar outros, não tenho mais histórias tão interessantes para contar (se é que uma internação tediosa num manicômio privado pode ser tida como um momento interessante de ser narrado) e me revelo inteiro nesta obra, não haverá mais pecados a serem postos luz. Me exponho até demais, tanto é que arrisco me submeter ao repúdio social e consequente ostracismo com a minha obra. Isso tem incomodado o meu juízo como fica claro nesse post.

15h51. O meu amigo cineasta está aqui e trouxe um pequeno braço mecânico para estabilizar a GoPro. É bastante interessante, me lembrou os movimentos dos robôs de Guerra nas Estrelas. Um brinquedinho novo que acho que vai entreter meu amigo a tarde inteira. Ele quer filmar o meu quarto vazio. E mais uma externa usando o apetrecho. Vai dar para ele brincar um bocado.

15h59. Coloquei, a pedido do meu amigo cineasta, “Utopia” de Björk. Percebi como estava com saudade desse disco e como ele me remete a estadia na casa do meu irmão e ao Nintendo Switch. Me deu até vontade de jogar. Talvez o faça mais tarde. Se estiver ouvindo “Utopia” até lá. Sempre posso ouvi-lo, nada me impede.

16h06. Meu amigo está tentando dominar o equipamento. É engraçado. Parece que a GoPro atende a comandos de voz. Estamos testando possibilidades do negócio que parece ser mais complicado de manusear do que o vídeo sugere. Ele quer fazer um travelling na minha bancada. Agora não sei o que ele está fazendo, pois estou de costas. Mas não está gravando.

16h15. Ele estuda possibilidades de takes. E ainda se embanana com o negócio. Espero que haja luz para captar o que deseja hoje.

16h23. Ele agora baixou o aplicativo do aparelho para celular, adicionou mais uma camada de complexidade ou de comodidade e informação ao processo. É bom descrever a filmagem, acho um divertimento diferente, uma ocupação das palavras de forma diversa da que normalmente faço, ou nem tanto, pois descrevo a realidade que me cerca também. Mas é uma realidade peculiar ser filmado, uma peculiaridade que finda amanhã. E, muito provavelmente nunca serei filmado de novo. É um acontecimento único na minha vida, muito especial, me empresta uma importância que eu mesmo não me dou e me sinto incrivelmente honrado com isso. Tanto que gostaria que não tivesse fim. A companhia mesmo que silenciosa do meu amigo me faz um bem enorme às sensibilidades. É bom tê-lo aqui. É bom viver com a sua companhia. Me anima mundos. O convidei para ir almoçar no Spettus amanhã com a minha mãe. Acho que nós três sejamos uma reunião do tamanho ideal, nem mais nem menos. São exatamente as duas pessoas com as quais me sentiria mais confortável para compartilhar um almoço. Talvez meu primo-irmão, mas acho que ele não vai poder devido ao trabalho. Mas acho três o número mágico. Está bom. Infelizmente não vou chamar o colega de CAPS que encontrei no banco, embora me pareça ser um cara bom de boca, mas não privo da companhia dele há muito tempo. Não acho que ele seria um grande problema, também é uma pessoa de fala fácil. Poderia muito bem chamá-lo, mas me sentiria muito mais confortável com o meu amigo cineasta e minha mãe apenas. É, está decidido, acho melhor.

16h55. Estou agora em meio às filmagens com ângulos muito loucos possíveis com a GoPro. Espero já de forma positiva a ida ao Spettus amanhã. Se se der dessa forma, só nós três, estou completamente aclimatado com a ideia, passei a gostar dela de fato. Colocarei uma condição, entretanto, que não haja “Parabéns para Você”.  

17h32. As filmagens acabaram por hoje. Meu amigo foi se encontrar com o meu primo urbano. O personagem das tomadas de hoje à tarde foi o quarto-ilha. Sem a minha presença, mas com todos os gostos que ajudam a definir quem eu sou expostos por todos os cantos. Acho que daria uma boa introdução para a obra. Não sei o que vai decidir o meu amigo cineasta, se sequer vai usar tais imagens. O ciclo se fecha amanhã, data do meu aniversário. Um ciclo de praticamente um ano da minha vida, que atravessa o mundo e passa pela Alemanha e Estados Unidos em péssimas filmagens que fiz e que talvez nem sejam utilizadas. Bom, a captação termina justamente nessa fase de transição para uma nova idade. Ao que tudo parece, eu iniciarei esta fase sendo alguém totalmente outro de quem fui no ano anterior. Alguém que rejeita a ideia de voltar a usar cola, com um livro escrito capaz de destruir a minha vida social que pode ou não ser publicado e a possibilidade de ter uma obra cinematográfica a meu respeito. Será um ano cheio de possibilidades em botão. Que floresçam as que merecem ver a luz dos olhos do mundo. Meu sonho, por mais que tenha vergonha disso, essa vergonha agora não se apossa de mim por se afigurar uma impossibilidade, seria fazer o lançamento do livro e exibir concomitantemente a obra do meu amigo cineasta. Acho que ambas as coisas se complementam. Mas isso não vai acontecer simplesmente porque acho que o livro não vai acontecer. É por demais fútil, por demais vago, por demais mal escrito, por demais humilhante. Por outro lado, é absolutamente honesto e transparente. Meu primo urbano, com quem nosso amigo cineasta foi se encontrar, e este motivaram-me a fazer uma edição independente o que realmente não queria fazer. Queria e quero que algum editor veja mérito no material e faça ele acontecer. Meus amigos acham muito difícil isso acontecer. Me apoio totalmente nos ombros do meu tio e nele aposto todas as minhas fichas. Me bateu uma saudade agora de alguém que me é muito cara. E para quem eu sou pouco mais que um nome e um rosto familiares. Pouco se me dá, sou eu com os meus moinhos de vento. São eles que lufam a minha alma, que a mantém arejada mesmo na estagnação em que amo estar. Amanhã escreverei a próxima etapa do meu outro projeto. A data é importante. Não sei se terei tempo para isso, visto que tenho um almoço no Spettus e as últimas filmagens a serem feitas. Mas o dia do meu aniversário começa às 0h00. Então posso adiantar o meu projeto agora e finalmente dar o pontapé inicial, mais concreto nele. Não sei. É uma tremenda perda de tempo. Mas esse arquivo já está muito grande, se é para começar um novo ano de vida com mais alguma coisa em andamento, uma que só depende de mim, vai ser este projeto.



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