22h50. Depois de ter passado o dia quase inteiro revisando o
“Diário do Manicômio” escrever algumas palavras inéditas se fez uma necessidade
extremamente urgente. Estou com muito sono agora, mas precisava dizer algo novo
mesmo que pouco. Tenho dúvidas sobre a validade literária dos meus escritos. De
qualquer forma tentarei as vias que se me apresentam. Acho que pintei o
Manicômio com cores demasiado alegres o que não é o que se espera de uma obra
como a minha, que sugere uma visão crítica e nefasta do local e das
experiências lá vividas. Todos esperam pelo título um manifesto contra o
sistema manicomial um protesto, uma grande queixa e não é isso que ofereço. Há
uma pequena parte dessa natureza que pipoca aqui e ali, mas de todo trato o
internamento no Manicômio como uma coisa aprazível, o que pode torcer vários
narizes. É a minha verdade, a minha percepção dos fatos, acho-a tão válida como
qualquer outra. Se tive prazer e alegria lá, que posso eu fazer? Tentei
aproveitar a internação da melhor forma possível e a situação me foi
extremamente favorável, não vou mentir e criar um texto me lamuriando e
criticando tudo e todos. Fui o mais sincero que pude. E fui bastante sincero. O
máximo que consegui ser, quem conhece os meus textos sabe que é assim que me
mostro e mostro as coisas do mundo. Com o máximo de transparência e honestidade
que sou capaz. Não sei se o texto entretém. Para mim é uma viagem no tempo, um
passeio pelas minhas recordações que revivo à medida que reviso, então minha
visão é muito tendenciosa. Quero crer que o texto tem uma boa cadência e
acontecimentos pitorescos suficientes para que o leitor se engaje na leitura,
mas posso estar completamente equivocado na minha aferição. É certo que tudo se
torna mais fácil com um padrinho ou uma madrinha de renome. Li 149 páginas hoje
à procura de erros e não me foi tedioso. Parei porque estava cansado. Espero
terminar as 234 (contando os anexos) amanhã.
23h13. Minha irmã PE veio ver o Hulk e ficou meio espantada
com ele. Perguntou se eu dormia de boa com ele a me encarar. Disse que tinha o
maior orgulho da peça. Ela acha que o meu sobrinho, filho do seu irmão, vai
pirar com o Hulk. Eu supunha que ele ficaria com medo. Veremos, espero que não
queira tocar na estátua. Se derrubarem o Hulk no chão, não me perdoarei. E
ficarei muito fulo com quem fizer tamanho disparate. Espero que nada aconteça a
ele quando as crianças se fizerem presentes.
23h19. Acho que o Vaporfi está com o atomizer inutilizado
novamente. Acho que é preciso substituí-lo. Não o farei hoje, estou com sono e
a mente cansada do esforço da revisão.
23h35. Fui fazer mais uma boquinha na cozinha. Hoje eu comi
muito. Não sei que danada de fome foi essa. Almocei, jantei e ainda comi um
bocado de bagana agora. Queria emagrecer, mas se continuar nesse ritmo não vai
rolar, não. Estou mais magro agora do que quando entrei no Manicômio. Perdi
dois quilos. Queria seguir perdendo, mas acho improvável. Não queria ganhar
tampouco. O sono me alcança, acho que vou me retirar. É, vou.
-x-x-x-x-
21h17. Como disse no post anterior, mandei uma mensagem para
a escritora que mora aqui no prédio. Amanhã tentarei mandar o texto para os
cabeças do Albergue de Drogados. E ligarei para o contato na editora da
escritora. Usei parte deste texto como suposto texto da contracapa. Nossa, tem
assuntos que são muito recorrentes no livro que chegam a enervar quem lê. Tenho
certeza disso. Acho que preciso revisar com mais cautela o Anexo II, mas não
tenho disposição para tal agora. Estou curioso com as respostas que obterei
amanhã da editora e do Albergue de Drogados. Deixarei esse post em aberto até
obter as respostas de amanhã. Quem me dera fossem ambas positivas, ou seja, que
o administrativo do Albergue de Drogados se comprometesse a repassar o e-mail
para os chefões e que a moça da editora aceitasse que eu mandasse o arquivo
digital com o livro para ela apreciar (ou quem de direito ler). Queria também
receber uma resposta da escritora, mas se nem da minha leitora eu recebi
resposta que dirá de uma sumidade como ela. Vou tentar esboçar o que vou
escrever no e-mail que intento mandar para os chefões do Albergue de Drogados.
Vamos ver como sai.
Caros Dr. Evaldo e Dr. Escobar,
Aqui é Mário Barros, já estive internado aí algumas vezes e
talvez algum dos meus quadros ainda esteja pendurado nas paredes do RAID, não
sei se lembram de mim, já faz tanto tempo...
De qualquer forma, venho aqui pedir a ajuda de vocês uma vez
mais, com um pedido peculiar, escrevi um livro intitulado “Diário do Manicômio”
e acho que o nome é autoexplicativo. Meu sonho é vê-lo publicado. Pensei com os
meus botões quem poderia me ajudar e vocês foram as primeiras pessoas que me
vieram à cabeça. O livro está em anexo, em formato PDF para a apreciação de
vocês. Se acharem válida a sua publicação, pediria que me ajudassem a
concretizar tal intento. O sonho de um escritor é ver sua obra publicada. Sei
que sonho alto, mas creio que apadrinhado por sumidades como vocês eu teria uma
chance. Por favor, se pudesse me pôr de joelhos o faria, peço que deem uma lida
no material e me respondam com toda sinceridade se podem me dar essa força.
Seria perfeito ter prefácios escritos por vocês, se acharem válido agregar seus
nomes a obra. Ou não. Eu entendo perfeitamente se acharem a obra ruim e o meu pedido
me ser negado, afinal a recuperação é a arte de se contrariar. Só peço que me
respondam algo, para o bem ou para o mal. O meu e-mail é xxxx@xxxx
Grato pela atenção e por toda a ajuda que o RAID me
proporcionou.
Sincera e atenciosamente,
Mário Barros.
22h29. Acho que mandarei assim o e-mail se me passarem algum
endereço eletrônico de contato. Resta falar as palavras certas para a pessoa do
administrativo para que realize a tarefa de repassar o e-mail para eles.
Torçamos. Sobre a editora, é capaz que mandem eu imprimir a obra e enviar
encadernada. Espero que não. 234 páginas ou tantas mais se pular de página a
cada novo dia e tiver que fazer uma folha de rosto.
0h03. Já estou demolido pelo sono. Vou acabar o copo de Coca
e ir me deitar. Amanhã é um dia decisivo para o futuro da minha obra.
-x-x-x-x-
10h34. Acordei agora há pouco e estou sem coragem de fazer
as ligações. Saco. Espero que o café me ajude a recompor a coragem. Ele está
sendo feito. Espero que me dê coragem para um pouco mais, aparar a barba e os
pelos pubianos. Há anos não aparo os pelos pubianos, pois há anos não tive ou
criei oportunidade de mostrar e utilizar o meu membro com ninguém. Fará bem à
minha autoimagem.
12h15. Aparei os pelos e tomei banho enquanto a fantástica
faxineira dava uma geral no meu quarto. Agora é horário de almoço. Só poderei
entrar em contato com quem me propus depois das 14h00. Precisamente às 14h30
ligarei para o Albergue de Drogados. Depois para a moça da editora. Acho que o
contato com a escritora não vai dar em nada. Talvez nenhum dê em nada, estou
meio sem esperanças, mas alguma ainda me resta. Sei que é um alívio não ter
mais caderno ao meu lado para digitar. Por mais que quisesse transcrever o que
escrevi durante a minha mais recente recaída, mas minha mãe escondeu o caderno.
13h59. Combinei com o meu amigo cineasta que iremos fazer a
prova de vida na quarta pela manhã. Meu primo urbano me mandou uma música para
apreciação. Dei a minha opinião sincera e de leigo. Ele vem ver o Hulk hoje.
Minha mãe não quer me dar o caderno para eu transcrever, acho isso um
desrespeito com a minha pessoa, mas ela tem receio de que eu recaia se eu ler.
Eu acho que eu tenho o direito de ler. E de acrescentar à minha obra, afinal
fui eu quem escreveu.
14h16. 14 minutos para fazer os contatos que podem me ajudar
a realizar o meu sonho. Ter o livro publicado é o sonho de qualquer escritor,
eu suponho.
14h23. 7 minutos para as ligações, espero que alguma vingue.
Aliás queria que ambas vingassem. Em retrospecto fui muito redundante em
relação à mudança para o Anexo masculino e em relação a Aurora, mas foi como se
deu, é como tem que ser.
15h41. Meu primo veio aqui e adorou o Hulk. Achei o caderno
com as minhas anotações de quando estava cheirando cola na minha última recaída
e não lembrava de ter escrito linha sequer disto. De qualquer forma, já digitei
e inseri no Anexo III do “Diário do Manicômio”. Vou fazer as ligações.
15h46. Fiz a ligação para o Albergue de Drogados e me deram
o e-mail principal deles e a garantia que repassariam aos chefões. Copiarei e
colarei o que escrevi acima, anexarei o texto e enviarei.
15h51. Enviei para o Albergue de Drogados. Infelizmente o
meu contato na editora da escritora não estava lá, disseram para eu ligar
amanhã pela manhã. É o que farei. Nossa, acho terrível falar por telefone, é
algo que me deixa bastante empulhado. Já botei duas engrenagens para girar, a
escritora (pelo Facebook) e os chefões do Albergue de Drogados por e-mail. Confesso
ter pouca fé que alguma dessas vias dê resultado, mas é esperar para ver. Só
não sei até quando vá se essa espera. De resto me falta a cartada mais alta do
jogo falar com a editora em si.
16h09. Estou tentando ainda uma quarta via que é um tio meu
que já publicou livros e, pelo visto já trabalhou em editora até. E além disso
é distante da família na medida certa, é ex-marido da minha tia consanguínea,
então poderá guardar segredo sobre o conteúdo do livro dos meus familiares. Que
só quero que leiam se publicado.
17h33. Consegui o e-mail com a minha tia, sua ex-mulher, e
lhe mandei o seguinte texto com os aquivos em docx e PDF anexados:
Tio,
Sei que isso parece oportunista – e em verdade é –, família
só aparece para pedir favor e não fujo a essa regra. Vou direto ao assunto. Eu
escrevi um livro sobre um período muito peculiar da minha vida, intitulado “Diário
do Manicômio”. Anexarei o texto em PDF e Docx para você dar uma olhada e se achar
meritório e puder, me dar uma ajuda para publicá-lo, afinal você já publicou
livros deve saber o caminho das pedras. Gostaria muito de saber a sua opinião
sobre o material, mas pediria sigilo absoluto em relação ao seu conteúdo. Até
para Tia Benira. Só queria que a família descobrisse quão podre e corrompido eu
sou depois e se publicada a obra. É o grande sonho da minha vida, que passo os
dias a escrever, literalmente (só que para um blog), ter uma obra impressa com
ISBN e tudo o que tem direito. Em suma, peço a sua ajuda se achar que o conteúdo
vale a pena. E sigilo absoluto para os familiares. Se possível, aguardo
resposta. Nossa, como me sinto constrangido fazendo isso, mas ponho na minha
cabeça que estou perseguindo o meu maior sonho e por isso lhe incomodo com as
minhas sandices. É isso. Estou aqui torcendo por uma luz.
Beijo grande, tio!
Mário.
17h35. Três vias exploradas. Estou fazendo o máximo que
posso. Acho até que estou indo além dos limites do sensato. Fico com medo de
estar entrando em estado de mania. Espero que não. É só que, quando tenho algo
que desejo muito – e não há nada que deseje mais do que ser publicado –, eu realmente
não meço esforços e sou até ousado, ultrapassando até os limites do bom senso.
Como acho que fiz ativando o meu tio. Me sinto constrangido. Mas agora já foi.
Será que realizarei o meu grande sonho? Estou esperançoso. Isso não é bom, por
que quanto mais alto eu esteja maior vai ser a queda. Ainda há a cartada final
amanhã de manhã. Acho que o texto é muito redundante em dois aspectos, o desejo
de ir para a Casa Azul e Aurora. Nada posso fazer sobre isso. Não adulterarei o
que escrevi pois isso lhe roubaria a honestidade e transparência em troca de
uma cadência mais agradável. Não acho a troca justa. Mas se algum editor ler,
pode ser que queira alterar alguma coisa (ou muita coisa) e serei totalmente
aberto a sugestões para incrementar o texto, não vou desdizer alguém que
entende do traçado. Pode ser que queira extirpar os anexos, não sei. Acho que
estou ficando louco, fazendo tais projeções de que minha obra vai chegar às
mãos de um editor. É delírio. Eu sei sonhar não custa nada, mas nesse caso há
um preço que não me agrada pagar que é a frustração das minhas expectativas.
Tenho que me preparar para a realidade mais provável que é a de que minhas
palavras morrerão comigo. Não as publicarei em forma de blog.
18h17. Aproveitei que a fantástica faxineira estava aqui
para lavar o liquidificador e fiz milk-shake para mim e para ela. Nossa, estou
muito envergonhado de ter compartilhado o texto com meu tio. Ele vai ver como
sou uma pessoa podre por dentro, vai ter vergonha da minha pequenez de
espírito. Por outro lado, acho que seja a pessoa com mais potencial de me
ajudar, acredito que ele, por carinho pela minha pessoa, vá ler por mais longo
que o texto seja, afinal acho que é afeito a leituras.
18h27. Meu tio acabou de me ligar e disse que está
interessado em publicar! Urrú! Vamos ver se ele vai achar a mesma coisa depois
de ler. As cartas estão quase todas na mesa. Falta eu falar com a moça da editora.
Mas meu tio me deu muita motivação. Me fez quase crer que é possível. Mas ele
não leu para saber. Quando vir o quanto eu redundo e se deparar com o meu
português de araque, ele vai vir com um, “olha, Mário, infelizmente...” e por
aí vai. Bem, ainda me falta a cartada final que só poderá ser dada amanhã. Mas,
depois desse contato com o meu tio falarei com ela com muito mais confiança. Ou
melhor, muito mais relaxado, encarando ela não mais como a última e única
salvação, mas como mais uma opção, o que atenua bastante a tensão.
18h52. Meu tio perguntou pelo arquivo, pediu para enviar
para o e-mail dele sem saber que eu já havia feito isso. Disse que ele iria se
decepcionar. É bom não gerar grandes expectativas nele. Bom, o que será, será.
Certamente ele vai ficar com uma péssima imagem de mim. Todos que porventura
lerem, ficarão. Eu deveria reler e tirar metade das menções que faço à Casa
Azul. Elas são redundâncias inúteis e cansativas. Mas isso adulteraria a
verdade que vivi e pensei e desejei. Não sei, não sei, não sei. Estou na dúvida.
E já mandei assim para o meu tio e para os chefões do Albergue de Drogados. O
que será, será. Da outra vez que disse isso, não deu em nada que foi na noite
de autógrafos da escritora. Ou deu, não sei, ainda não liguei para a moça da
editora para saber. É o último flanco que me resta. Você acredita que eu já me
peguei pensando em enviar um exemplar para a Veja, para ver se fazem a resenha
do livro?! Hahaha. É muita viagem mesmo. Acho que estou em estado de mania ou
tomei muito café, o que de fato fiz. Tomara que meu sonho se realize. Será que
mereço tanto da vida? Nesse caso, estranhamente, eu acho que mereço. Acho que o
conteúdo do texto é peculiar, é explícito e aborda tabus. Ou pelo menos um
tabu. Acho que alguns em verdade, não sei se quebro algum, não sei nem o que
significa quebrar um tabu, se for expô-lo, eu o faço. Interessante eu nunca
entendi a expressão quebrar um tabu. E continuo sem entender. Nossa como queria
que meu tio gostasse do material e mexesse seus pauzinhos para fazer ser
publicado. Eu já imagino a capa, fundo laca gerânio, minha cor predileta, com
letras garrafais e ultrabold “DIÁRIO
DO MANICÔMIO” brancas ou amarelas. Quero logo passar a ideia de que não é uma
coisa muito crítica e que a leitura é mais leve do que se pode supor pelo nome
do texto. Senão escolheria a cor de fundo preta. Imagino algo simples assim:
Gostaria que as pessoas se apegassem aos personagens que
narro, mas não fiz nada para isso. Não sei se por descrever suas ações, eu de
alguma forma dê alguma profundidade emocional a eles. Realmente não sei. Não
sei se há partes engraçadas, gostaria muito que tivesse. Sei que acresci os
azulejos na descrição da clínica porque são algo marcante, tudo é recoberto de
azulejos possivelmente pela facilidade de limpeza de quaisquer coisas com que
os internos sujem as paredes. As possibilidades são várias, de tinta, a comida,
a merda, a sangue. Acho que esse trecho é cabível no livro. É uma coisa que não
descrevi apropriadamente. Assim eu não vou acabar de escrever nunca. A vontade
que dá é revisar tudo de novo, tirar algumas menções a ir para a Casa Azul.
Novamente eu já entreguei o texto ao mundo, mas posso sempre fazer algumas
pequenas alterações, afinal o texto ainda é meu. Talvez o revise mais uma vez.
Talvez. É uma empreitada grande. 234 páginas de Word. Penso em uma coisa ou
outra que poderiam ser melhoradas. Não sei. Estou indeciso. Mas se posso
melhorar, por que não fazê-lo? Eu mesmo achei irritante tantas menções à
transferência para a Casa Azul, que dirá o leitor. Como acho que faço menções
demais a Aurora. Por outro lado gostaria de escrever um capítulo sobre o dia
mágico que vivemos. Eu o tenho escrito em algum lugar. Seria o caso de copiar e
colar. Péra, vou ver se acho. Era um texto carregado de paixão pura e plena.
20h01. Achei o texto e, mais que isso, achei-o horrível.
Tenho vergonha, nojo dele. Deve ser relegado ao passado mesmo. Acredito que
escreva melhor agora. Não muito, mas o suficiente para desprezar aquilo que
ousei pôr no papel digital. Contaria melhor a história hoje? É possível, mas
não me darei ao trabalho. Acho que já está entregue, o que me gerou agora um
pequeno desconforto na alma. Será que quando reler o diário daqui a algum tempo
também vou achar um lixo? Bom, meu tio já foi editor, ele fará o julgamento
dele, se porventura ler. Já estou achando toda a história estapafúrdia. Tudo
isso porque li os diários da outra internação, quando conheci Aurora. E o que
vi foi uma pessoa pior do que sou hoje. Mais inquieta e mais energética. Isso é
curioso. Acho que estava em estado de mania ou simplesmente envelheci, não sei.
Sei que minha transparência no outro relato me fez me ver como um canalha maior
do que sou hoje. Talvez esse texto também me mostre como um canalha
manipulador. Mas se sou isso, antes era ainda mais, fiquei impressionado. Estou
mais sereno e mais verdadeiro também, menos ousado. Embora tenha sido ousado em
querer publicar o diário.
0h46. Escrevi mais um Anexo sobre Aurora e os dois dias mais
felizes da minha vida. Agora me dei por satisfeito. Só queria revisar tudo uma
última vez. Mas se a moça da editora quiser que eu mande o texto logo amanhã,
vai como está. Ligarei assim que acordar. Agora vou me retirar, estou com sono,
não muito, mas preciso dormir para acordar cedo amanhã.
1h08. Estou sem sono e com vontade de escrever. Hoje foi um
dia excitante, especialmente pela receptividade do meu tio. Novamente não sei
se ele conservará tal ânimo depois de ler a obra. Não acho que tenha valor
literário algum. Melhor manter esse frame
of mind pessimista que me lançar em vãs esperanças. Bom, foi a coisa mais
concreta que obtive até agora. Veremos quando acordar e ligar para a moça da
editora.
-x-x-
8h59. Acho que ainda está muito cedo para ligar. Tentarei às
10h00. Estou ainda despertando o que é um processo lento. Vou reler o que
escrevi sobre Aurora com a cabeça fria para ver se é realmente válido.
10h11. Achei válido o que escrevi sobre Aurora e sobre a
minha melhor viagem de cola e acabei de ligar para a senhora da editora que me
disse só estar aberta para novos projetos em setembro. Ela perguntou sobre o
que era o livro e eu lhe disse o título e que se tratava de uma obra
autobiográfica. Ela não negou pelo conteúdo e reiterou que só em setembro.
Achei improvável que me aceite e estou agora, contatadas as quatro vias de que
dispunha, mais confiante no meu Tio. Vou tentar revisar o texto uma vez mais.
Aliás, vou revisar isso e postar. Acho que não vou divulgar esse nos grupos.
Não tem conteúdo relevante.
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