Sonhei que estava num internamento e que deixei minha cama
toda forrada e arrumada com a mochila vermelha com meus pertences ao lado.
Corta e volto para o quarto que teve todas as camas reorganizadas e minha
mochila havia sumido, começo a procurar. Corta estou ainda à procura da minha
mochila mas flutuo, o que me é extremamente prazeroso e meu pensamento é, “eu
consigo! Eu não disse que conseguia!” Corta. Está a irmã da minha primeira
namorada já adulta sentada numa das camas do quarto conversando com a minha
primeira namorada com o mesmo biquíni verde que usava no dia em que me
apaixonei por ela (foi paixão à primeira vista). Não consigo discernir qual das
duas está internada, estou fumando e vou cinzar perto delas, tudo flutuando.
Flutuo até o final do sonho. Corta. Minha primeira namorada é a nova interna,
sua irmã desaparece. Eu que flutuava perto do teto como que para ter certeza de
que estava mesmo flutuando, desço um pouco e pergunto à minha primeira namorada
o motivo da internação. Ela responde que só me dirá em particular, percebo que
para isso teria que parar de flutuar e não quero de forma nenhuma abandonar
esse estado por sabê-lo transitório e difícil de ser alcançado. Tenho convicção
de que minha primeira namorada poderá me contar depois a causa do seu
internamento e guardo fortes esperanças de poder ficar com ela novamente. Ela
traz um ar meio alucinado e alheio peculiar às pessoas em surto, com modos
exagerados e um olhar esquisito, que não me gera repúdio, antes me convence
ainda mais de que ela me é uma presa fácil. Esteticamente, entretanto, é a
mesma com quem namorei há mais de vinte anos. Continuo preocupado com a mochila
desaparecida. Corta para a rua do local de internamento. Percebo a rua de barro
e várias casinhas coloridas de ambos os lados da rua, deduzo que cada uma delas
é um quarto do local. Meu psicólogo sai em um carro de praia daqueles que não
possuem revestimento de metal só estruturas tubulares que lhe emprestam o
formato de um veículo. Minha primeira namorada corre em sua direção para
falar-lhe, por ser psicólogo e por gozar de certa autoridade no local. Volto ao
quarto a tempo de ver um dos internos tentar levitar como eu e cair comicamente
no chão. Veste terno e gravata e lembra William Waack. Não lembro de nada
depois disso e acordo com o sentimento de que deveria ter dado mais atenção à
minha primeira namorada a fim de ter um rolo com ela, também me vem um
sentimento de frustração porque o flutuar que me era tão real no sonho e que,
pela primeira vez, funcionou durante todo o tempo do sonho, não caí ou
aterrissei, como sempre acontecera após alguns segundos de suspensão nos meus
devaneios oníricos, não passava de imaginação. Os pontos centrais do sonho? O
flutuar em primeiro lugar e, em segundo, minha primeira namorada, que tenho por
uma mulher centrada, realizada, sadia, internada e de volta ao seu visual de
mais de vinte anos atrás. Em terceiro o misterioso desaparecimento da minha
mochila vermelha com os meus pertences. O interessante é que essa mochila me
acompanhou em diversas recaídas, mas no sonho ela carregava os meus pertences
necessários à internação.
11h10. Estava revisando e postando o texto anterior. Isso
foi tudo o que me lembrei do sonho e é mais do que me lembro agora, depois que
vários outros estímulos foram recebidos tomando o lugar das minhas lembranças
oníricas. Estou sentindo que a dor no cóccix vai me acometer a qualquer
momento, isso é um fato extremamente incômodo e desnecessário à minha
existência. Mas é um fato e terei que conviver com ele enquanto habitar esse
resistente corpo que habito. Minha mãe fala em viva voz com o meu padrasto que
está em Nova Iorque. Abri as persianas do meu quarto e a luz invade o ambiente,
apesar do clima nublado, iluminando o meu busto do Hulk que não cessa em me
encantar.
11h25. Fui colocar Coca e recebi a ligação do meu tio, irmão
mais velho da minha mãe, ele não disse do que se tratava, mas perguntou se
faríamos algo hoje o que me cheirou a algum programa que quer propor e ao qual
não quero ir pois em verdade não quero ir a lugar nenhum, quero permanecer
nesse quarto a escrever. Na minha casa, no meu quarto-ilha, tomando minha Coca,
fumando o meu Vaporfi e um eventual cigarro. Estava tocando “Utopia” e mudei
para “Songs Of Experience”, incrível como esse disco me traz a sensação de
liberdade e de novidade. Não é um grande disco, mas o seu significado emocional
para mim o torna a coisa mais deliciosa de ouvir. Não queria que esse
sentimento se dissipasse nunca. Que toda vez que ouvisse “Landlady” pusesse
esse frescor na alma, como se incensada por uma lufada de menta e eucalipto.
Estou com vontade de fumar outro cigarro. Vou esperar dar 12h00.
11h39. Sem muito o que dizer. Comprei a batata frita pedida
pelo Pequeno Buda, espero que ainda esteja lá quando eu chegar amanhã. Dei meu
iPod por morto, ele não liga nem carrega mais, que pena. E é um produto Apple
que julgava ser durável ou muito mais durável do que foi. Não gosto da Apple,
acho a fama da empresa desmedida quando comparada com o que produz. Para ser
sincero só tive da empresa dois iPods, mas ambos me decepcionaram. Isso de o
produto parar de funcionar do nada, sem ter levado água ou suor ou qualquer
coisa dessa natureza, de não ter sido submetido a nenhuma intempérie me
enfurece. É como se fosse fabricado com data para expirar, essa é a percepção
que tenho e ela reflete diretamente na percepção que tenho da marca.
DOS MITOS E DAS CELEBRIDADES
Séculos atrás, os heróis, as pessoas dignas de fama e
aclamação popular, de serem lembradas eram reis ou generais ou sábios. Eram
poucos e raros e a fama dessas pessoas atravessava os tempos, as gerações, os
séculos, viravam mitos. Com o advento da televisão, da explosão demográfica e
da internet, o tempo de duração da fama dos novos mitos foi diminuindo gradativamente
e a multiplicação do número de novos ícones tornou-se algo difícil de
acompanhar. Tanto mais são quanto mais efêmeras são suas famas. Em não havendo
guerras como havia nos tempos de Alexandre, os ícones de hoje, embora alguns
políticos e líderes se destaquem, é voltada para os artistas da música e dos
filmes. Isso tudo são generalizações e generalizações são burras, mas é uma
percepção que tive lendo Montaigne.
-x-x-
12h24. De volta ao meu quarto-ilha, tenho Netflix para
assistir, mas não consigo ver razão para fazê-lo. Ou, melhor dizendo, não vejo
razão suficiente, por mais que tenha amado “Black Mirror” não sinto disposição
de assistir a nova temporada nem nada na TV. Com os videogames ocorre o mesmo.
Tenho o melhor jogo que joguei e mesmo em sendo o melhor jogo que já joguei
isso não faz dele uma opção de entretenimento desejável no momento. Queria
saber muito porque isso se dá. Não sei se é por causa do Manicômio e sua TV
sempre ligada, mas, se for isso, a relação é inconsciente. Acho que é porque
prefiro dentre todas essas diversões, escrever, por mais que ache que se me
aventurasse por alguma delas acabaria por ser cativado e assistiria ou jogaria
e me entreteria. Há um bloqueio aí, não sei de que natureza e quais são as
causas, sei apenas a consequência, a alienação. Escrever me apraz e me é tão
mais fácil e interativo do que um videogame ou um filme que me deixo levar
pelas palavras. O único ponto negativo é que me alieno e não tenho assuntos a
tratar com os demais. Mas já discorri sobre isso tantas vezes que até eu estou
cansado desse tópico sempre recorrente em meus textos.
12h58. Eu, eu, eu. Será que não há assunto outro de que
possa me ocupar? Não me ocorre nenhum. Estou me sentindo culpado por mamãe
estar dando duro na cozinha e eu não me oferecer para ajudar. Só ajudo quando
requisitado, como fui hoje três ou quatro vezes. Mas acho que a grande benesse
para ela é que eu almoce em sua companhia. E isso definitivamente farei por
mais que não esteja com fome. Ainda me invade o medo de ter um desarranjo
noturno, muito embora várias evidências em contrário tenham se apresentado. É
que foi um evento traumático. A fantástica faxineira vai ter que fazer uma
fantástica faxina no meu banheiro e no meu quarto. Nossa, não queria voltar ao Manicômio,
mas prefiro voltar para lá do que viajar. Infelizmente as duas coisas se darão.
Espero muito que minha mãe me tire de fato na próxima sexta. O que me incomoda
é que voltarei para isso que estou agora e aqui continuarei indefinidamente. É
como estar internado no mundão. O que posso para mudar isso? Eu quero mudar
isso? Estou muito cristalizado na minha zona de conforto e ela se resume a
escrever no meu quarto-ilha. Me sinto numa encruzilhada da vida ou mais, num
beco sem saída. E é para esse beco que me dirigirei quando sair do Manicômio. E
ainda vai ter a danada da viagem. O que mais gostaria que acontecesse na minha
vida? Sinceramente não sei, nem a namorada me causa frisson. Queria que o tédio
não me alcançasse aqui no quarto-ilha, acho que isso é o que mais quero. Que
nunca me cansasse de estar aqui a escrever isso é o que mais queria. E que não
faltasse Coca-Cola e pudesse fumar na quantidade que ando fumando. Acho que sem
tédio e com as minhas fixações orais satisfeitas eu não precisaria de mais
nada. É desejar muito pouco diriam alguns. Para mim é o suficiente. Ah, teria
outra coisa, que o meu livro fosse publicado, não porque paguei, mas por seu
próprio mérito. Indo além, no campo das impossibilidades, queria Aurora. Queria
ter coragem/disposição de jogar e assistir TV. Não queria muito mais que isso.
Bastaria o tédio não me acometer que estaria satisfeito, tendo Coca e o que
fumar seria perfeito. Não preciso beijar e trocar fluidos com mais ninguém na
vida. Se viesse, seria bem-vindo e acolheria com todo o carinho e cuidado de
que posso dispor. Mas em não vindo não me será um grande tormento, estou bem
com a minha solidão.
13h45. Minha mãe veio me perguntar por que não crio uma peça
de ficção. Sinceramente, não tenho interesse. A ficção é demandante de uma
coisa que está atrofiada em mim, a criatividade, e acho algo meio bobo, pelo
menos o que produzo de ficção é bobo. Talvez porque não goste de ler ficção.
Talvez porque não goste de ler, ponto. O que me lembra que terei que ler o
resto dos “Ensaios” de Montaigne para passar o tempo da próxima semana que
passarei no Manicômio. Melhor do que assistir Sessão da Tarde. E dormir demais
eu não consigo. Então só me resta ler ou conversar com os amigos. Ou melhor,
ouvir a conversa dos amigos, pois não me coloco muito. Consegui falar com o
Albergue de Drogados e pedi o e-mail, a moça que atendeu me disse para ligar
amanhã pela manhã para falar com o administrativo, perguntei se havia um
telefone específico para isso e ela me passou exatamente o mesmo número para o
qual havia ligado. Estranho. De qualquer forma tentarei fazer isso, se der
tempo. Não sei que horas mamãe pretende me deixar amanhã. Perguntarei na hora
do almoço.
14h36. Fui fumar meio cigarro e me perdi nos e-mails
promocionais e a procurar concursos literários. Estou feliz com a possibilidade
de repassar o texto do “Diário do Manicômio” para os chefões do Albergue de
Drogados. Vamos ver se ela se concretizará. E que dessa concretude nasça a
publicação do livro. Não é possível que tenha recaído por tão pouco. Já plantei
uma árvore – um pau-brasil – já escrevi um livro – mas só considero livro de
fato se publicado – e não tive nem pretendo ter filhos. Cumpri até agora metade
do que é esperado de um homem fazer na vida para tê-la vivido plenamente.
Espero alcançar 2/3. E pretendo alcançar com o apoio dos dois figurões do
Albergue de Drogados. Deveria começar a revisar o texto do livro, mas o tempo é
demasiado curto para isso. Se a oportunidade me for dada amanhã, vai do jeito
que está.
15h20. Estava lendo dois reviews
de “Songs Of Experience” diametralmente opostos e lendo a letra de “Landlady”.
Estou com sono. Acho que vou tirar um cochilo depois de almoçar.
15h31. Estava saboreando o Vaporfi e pensando como sou mais
suscetível a críticas que elogios e por isso o review negativo do disco foi mais marcante que o positivo. Tal
impressão é ainda mais forte quando as críticas e elogios são feitos a meu
respeito. Simplesmente vejo os elogios como falsidades ou cordialidades e as
críticas como a mais absoluta verdade. Esse desequilíbrio de julgamento sempre
me foi muito mais nocivo que construtivo, mas não sei como mudar isso e me
pergunto se todas as pessoas dão mais atenção às coisas negativas que às
positivas. Tenho para mim que isso é possível devido ao nosso cérebro animal ter
a tendência de ficar mais alerta na presença de algo que o ameace, ameace a sua
estabilidade emocional inclusive. Acho que estou a falar asneiras e que esse
meu modo de perceber críticas e elogios decorre da minha baixa autoestima. E
para ser sincero, danem-se os reviews,
eu acho “Landlady” linda e não há crítica ou elogio que me demova dessa
percepção.
15h55. Almoçaremos em breve. O purê está com uma
consistência pastosa e compacta, não está airado porque mamãe usou o
processador dela para triturar as batatas, não fez do modo tradicional. Resta
ver o sabor.
16h35. Almocei, foi mais ou menos o que esperava. Minha mãe
vai me levar cedo amanhã, pois vão fazer exame de sangue em mim lá no Manicômio
às 8h00, o que significa também que entrarei em jejum a partir das 20h00. Acho
que vou tirar um cochilo.
20h58. Acordei há pouco. Comi os restos dos pacotes de Bono
morango e chocolate. Estou bebendo o meu último copo de Coca antes de entrar no
jejum para o exame de sangue amanhã.
21h06. Acabei meu copo de Coca, mas como mamãe me falou que
ainda vai me dar um copo de leite, vou aproveitar para botar um outro copo de
Coca.
21h13. Mamãe disse que ia fazer o leite quando passei para
pegar a Coca. Meu projeto foi interrompido. Talvez ainda tome um depois do leite,
não sei.
21h28. Não vou tomar. Vou tomar é um banho.
21h35. Estou vendo os últimos arranjos para a volta ao
Manicômio.
21h46. Mamãe se retirou. Estou sem sono algum e terei que
acordar de 7h30. Preciso ainda tomar banho. Talvez não precise amanhã de manhã,
se o exame de sangue está previsto para as 8h00. Já começo a sentir saudades do
quarto-ilha, da minha mãe e do lar como um todo. Isso é bom, bem melhor do que
estar entediado com a coisa toda. O que me preocupa é quando sair e o tédio
aparecer como sempre aparece. O tédio é o meu maior inimigo. Até maior que eu
mesmo. Fico em segundo lugar em relação a ele. Não preciso de autoestima ou
vaidades na vida que levo da forma como a levo se levá-la sem tédio. Ou pelo
menos que ele seja esporádico o suficiente para que não me agrida demais os
ânimos. Parece que gosto mais do álbum do U2 quanto mais o criticam, como quem
anseia por proteger e acolher o patinho feio. Eu tenho a síndrome do patinho
feio. Não digo que exista tal síndrome é apenas uma maneira de descrever o meu
estado de espírito em relação a mim mesmo. Embora esse patinho não tenha
crescido e se tornado um cisne. Desculpe o spoiler
se você nunca leu o livro. Esse patinho cresceu patinho e feio mesmo. Se é que
cresceu. Sinto cheiro de café, estranho. E bom. “Landlady” passa no som
relembrando que ainda estou em liberdade, confinado nas quatro paredes do meu
quarto-ilha, mas com tudo o que preciso para ser eu da forma mais plena que
conheço, qual seja, escrevendo e ouvindo música cercado de coisas familiares e
minhas. Com minha mãe dormindo a alguns metros de mim. O único vazio que existe
é na minha cama, mas não tenho grandes pretensões de preencher e nem sei como. Gostaria
de saber. Me espanta que tenha conseguido fazê-lo quatro ou cinco vezes na
vida. Era outro naquela época, o mundo era outro, havia tempo e este passava
mais devagar. As tardes, ah, as tardes não eram tão efêmeras como costumam ser
hoje. Os dias não eram um sopro do tempo, parece que à medida que envelhecemos
nos movemos para tempos mais universais, em vez anos conto décadas, quartos de
século não me são estranhos. E a vida segue e estou exatamente onde quero
estar. Só falta a Coca. E ficará faltando por causa do exame de sangue que
provavelmente se dará amanhã. Quero fumar um cigarro e inaugurar a nova
carteira de cigarros que mamãe me deu sem fazer muito escarcéu.
22h51. Fui fumar o último da carteira anterior. Eu amo a
minha mãe e acho que nossa relação está evoluindo. Houve um momento à mesa hoje
em que não me senti desconfortável com seu carinho. Isso é uma enorme evolução.
Respondi ao carinho. Minha esperança é que isso se reflita na relação com as
demais mulheres. E nesse pensamento, novamente e sempre, só me vem a garota da
noite. Sempre, que digo, é desde que a conheci. Não faz tanto tempo assim. Mas
o tempo se torna mais relativo à idade. Eu tenho um caso de amor com o meu
busto do Hulk, olho para ele e não canso de admirá-lo. É um trambolho grande e
verde sem utilidade prática nenhuma e acho que é assim que a maioria dos que
olham para ele o verão. Para mim é uma pequena maravilha da existência. Pequena
é maneira de dizer. Mas não quero tratar da minha peça predileta agora e nem
sei de quero tratar, o que me vem à mente ouvindo U2 é que terei saudades do
meu quarto-ilha amanhã dentro do Manicômio. Acho que quaisquer resquícios de
Montaigne que possuía se esvaíram. Gostaria de apenas de escrever de maneira
clara com lapsos de beleza. Me sentiria satisfeito com isso. Não sei se alcanço
tal meta. Mas sigo tentando. Gostaria também que em meio às trivialidades que
escrevo houvesse aqui e ali um momento de pensamento mais profundo. Também não
sei se passo do superficial. Quero crer que sim, mas sou um péssimo juiz de mim
mesmo e do que faço. O pior que há. Gosto mais de Montaigne quando trata de si
que do resto, é onde encontro mais ressonância com ele, pena ser tão raro em
seus escritos. Montaigne me motivou a escolher temas que domino e tratar deles,
mas desisti da empreitada por perceber que não domino tema sequer. Não me sinto
com autoridade para emitir opinião acerca de quase nada. Minhas opiniões são
respostas emocionais ou racionais a estímulos, sem qualquer embasamento
teórico, alicerçadas apenas na minha vivência e nos meus gostos pessoais, logo
de nada valem para o leitor. Uma opinião pessoal acho que interessa somente à
pessoa que a possui. Não sei. Talvez sirva para quem não tenha opinião nenhuma
acerca do tema abordado. Mas opiniões pessoais são tão unilaterais e subjetivas
que pouco valor têm na formação de opinião. O que acho da política no Brasil?
Isso é pergunta para o meu amigo professor de Ciências Políticas, a mim me basta
que os corruptores e os corrompidos continuem a ser punidos e deixem de corroer
o erário público como ratos o que é uma ofensa aos repugnantes roedores.
Gostaria que a lei da ficha limpa fosse obedecida à risca, gostaria de uma
população mais educada politicamente e em todos os aspectos, esse é o maior
desejo, mas aparentemente os governantes querem que a ignorância prevaleça para
que baseados na ignorância do povo se elejam e reelejam. “Um relatório inédito
do Banco Mundial estima que o Brasil vá demorar 260 anos para atingir o nível
educacional de países desenvolvidos em Leitura e 75 anos em Matemática...” São
estimativas chocantes, mas ao mesmo tempo as vejo com otimismo, pois há a
possibilidade de chegarmos lá. E chegaremos. Sou um otimista e acredito que no
fim tudo vai dar certo. Quando é o fim e o que vai dar certo não sei precisar,
mas acredito nisso. Tive essa epifania num delírio de cola e foi muito forte e
me preencheu com uma paz e uma certeza inabaláveis, desde então me tornei
otimista. Há os que critiquem os otimistas por alienados, mas nunca vi tantos
políticos condenados ou incriminados, começo a ver uma luz no fim do túnel
nigérrimo da impunidade. E é bom lembrar que isso começou no governo Dilma.
Espero que não se encerre aí, que a higienização extermine todos os ratos que
corrompem o sistema como um todo e aí reside o problema, a corrupção está
entranhada e capilarizada e chega até mim. Eu sou corrupto em uma série de
instâncias. Vou repetir a máxima que ouço vez ou outra que a corrupção é um
traço cultural do brasileiro. Acho, como já disse, que toda generalização é
burra e tive e tenho exemplos de honestidade extrema na minha vida. A corrupção
parece se concentrar e ser atraída pelo poder, seja ele econômico ou político,
por isso acho mais corruptos aqueles que habitam os grandes centros urbanos que
os que vivem no interior. Também acho que a corrupção no Brasil tem relação com
a inteligência, pois é preciso engenhosidade para engendrar as diversas formas
de falcatrua que nos assolam. Mas cansei de me passar por idiota falando do que
não entendo.
23h42. De 0h00 vou fumar um cigarro e ir tomar banho. Estava
pensando em alguma coisa bela que me escapou em meio a toda a podridão do
capítulo anterior. As coisas belas me são tão preciosas, a beleza feminina,
poder observá-la me encanta profundamente. Tenho desejo velado de possuí-las
todas, mas não chego em nenhuma para tentar. Preciso deixar de ser tão mole.
Estou com fome e não posso comer, situação inconveniente. Vou fumar um cigarro
com um copo de água com muito gelo.
23h58. Fumei e fumarei outro para ir tomar meu banho e me
recolher. Foi uma boa despedida do meu quarto-ilha que espero muito rever nessa
sexta-feira quando espero estar definitivamente livre do Manicômio.
0h00. Horário que me programei para fumar um cigarro e ir
para o chuveiro. Vou fumar o dito cigarro e sem further ado encarar a água. Vai ser melhor do que espero. Estou com
mais vontade de esperar chegar e tocar “Landlady” e então ir. Acho que vou
obedecer minha vontade do que o horário. Não, vou agora.
0h46. Tomei banho e fui fumar mais um cigarro. Essa
despedida do meu quarto-ilha está sendo ótima. Seguirei um pouco mais por mais
que tenha que acordar cedo. Dormi bastante à tarde. A saudade daqui já bate,
mas não me sinto intimidado a enfrentar o Manicômio se nada tiver mudado. Por
mudanças entenda-se a partida de algum dos membros do meu quarto e chegada de
novos internos problemáticos. Acho que já redundo aqui e, se o faço, é porque
esqueci o que disse acima. Minha memória anda assim, fragilizada e também houve
a interrupção do sono. Mas lembro que falei do temor do Pequeno Buda ser
convencido pela Doutora a subir para a Clínica de Drogados. Estou levando a
batata frita especificamente para ele. Nossa, estou com fome. 1h07. Acho que
vou dormir. Não sem antes fumar um cigarro.
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