domingo, 12 de novembro de 2017

SOBRE A NOITE


Há uma menina no grupo de meu primo-irmão que me interessa. Para ser sincero a acho realmente muito interessante, desperta algo em mim. Uma não-sei-o-que que pode virar rapidamente paixão. Mas só interagi com ela meia vez, sua atenção foi roubada por outra pessoa, nos impedindo de engatar um começo de conversa. O que poderia dizer da minha atuação social hoje? Nula? Tentei ingressar em uma nova conversa com outra menina que estava calada, meio isolada do grupo, perguntei-lhe o último filme que assistira. Perguntei detalhes do filme e só agora eu percebi que ela não gosta de spoilers. Ela praticamente não revelou nenhum detalhe sobre o filme, isso é de quem não gosta de dar spoiler. De qualquer forma, por mais que eu tenha conseguindo ampliar o papo para a sua área de trabalho, não houve troca, não houve recíproca, ela não puxou papo comigo. Pensando agora que uma boa forma de começar a conversa, poderia ser mais direta, como por exemplo, eu e você não temos nenhuma intimidade e por isso não temos assuntos para debater, você quer perder um pouco de tempo e nos conhecermos melhor e da próxima vez que nos encontrarmos não sermos tão estrangeiros um ao outro? Embora venhamos de mundos muito diferentes. Mas queria travar uma conversa mesmo era com a primeira, queria que ela se interessasse pelo papo. Que ela fosse hetero e paciente. Lembro agora do meu primeiro beijo, ficamos minutos nos olhando, era o momento do beijo, e se ela não tivesse puxado a minha mão, feito o movimento, talvez beijo não tivesse havido. Nossa, como me arrependeria de mim, perder o maior desejo da minha vida à época, beijar a menina por quem era completamente louco, apaixonado. Quase sufocantemente apaixonado. Foi um momento sublime, mas confesso que não entendi nada a priori, achei uma confusão de línguas e dentes dos diabos. Mas fiquei com um sorriso de canto a canto do meu rosto pelo que aquele ato simbolicamente representava, o começo do meu primeiro namoro. Logo estava muito bom beijador. Pelo menos entendia o que estava acontecendo e acho que é como uma dança, com a prática vai se melhorando. Se ajustando. Como tudo numa relação. Não fora esse meu excesso de timidez que parece que só piora com o tempo.

0h51. Recebi uma mensagem muito estranha de um cara que mal conheço. “Desafio aceito”. Só quando abri propriamente a mensagem é que vi que se tratava de uma corrente de louvor a Deus. Pensei que fosse logo algo tipo baleia azul. Hahahaha. Meu primo-irmão falou de misantropia para mim. Parece que isso significa se sentir superior aos outros. Pois meu problema é o contrário, me sinto muito inferior aos outros. Não sei que nome se dá a isso só conheço como baixa autoestima. Eu não acho que eu tenha conteúdo para travar uma conversa corriqueira.

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14h06. Esqueci de mencionar. Eu mandei um WhatsApp para o meu primo dizendo que havia chegado e que achava a última garota que eu vi na noite bastante interessante. Emendei dizendo que teria curiosidade de saber mais sobre ela, mas sou muito tímido. Ele me replicou perguntando a quem me referia e como era ela. Vou deixar no ar. Eu sei inclusive o seu nome, mas não revelarei. Por quê? Porque tenho medo do real. Embora fosse levar um fora anyway. Então para que perder tempo? Não sei quando viu a mensagem, mas aparentemente foi hoje ao acordar. Meu padrasto deu mais uma investida no seu intento de que eu pare de fumar cigarro eletrônico no meu quarto. Foi reclamar novamente do cheiro do Vaporfi. O problema é que até ele ir dormir eu não havia fumado porque estava tendo problemas com o aparelho que levei para a saída, por algum motivo que ainda não desvendei ele parou de fazer fumaça, então a alegação dele é completamente infundada. Minha mãe me acordou para dar o meu remédio matinal trazendo essa novidade e já me sugerindo que eu trocasse o sabor do líquido ou que fosse fumar no hall de serviço. Sim, até parece. Se for para fumar no hall, volto a fumar o meu bom e velho Marlboro. Aí sim, temos um acordo e aí sim vai haver cheiro. Gostei do meu primo ter me dito escritor para os seus amigos e que eu tinha uma tendência a subjetivar (ou algum termo semelhante) as experiências, justificando o meu não comunicar ou meu não interagir com o grupo. Não é bem a verdade, a falta de intimidade e a falta de ímpeto de buscar tal conexão com o grupo, somada ao barulho que me impedia de ouvir as conversas e angariar conteúdo para poder interagir levaram ao meu fechamento em mim mesmo. Talvez no novo destino para onde partiram e para onde decidi não ir por falta de verba, pudesse interagir mais. Pelo nome, Bar Centenário, talvez nos sentássemos e nos escutássemos. Bom, perdi a oportunidade. Ou me faltou a oportunidade. Não sei discernir, sei que não teria dinheiro para os táxis e para a Coca-Cola e confesso que não estou mais preparado para noites tão longas. No último show da noite, do local em que estávamos, o Cerveja, Som e Arte, no Parque Santana, de Os Caetanos, eu achei o vocalista fora da sintonia do guitarrista, mas sem dúvida, foi o show mais animado da noite. E fomos para perto nesse show específico e pude acompanhar o desempenho da banda. O cantor é bastante performático, mas não estava com a voz tão boa como no tributo a Cazuza ao qual fui há um par de anos no odioso, por motivos pessoais, Downtown Pub.

15h32. Estou com a página do Facebook da garota que me encantou na noite aberta, mas estou sem coragem de adicioná-la como amiga. É só clicar. Ela aceita se quiser. Apertei o botão. Seja o que deus quiser.

15h45. Fui pegar Coca. Nem eu nem meu padrasto nos saudamos como de praxe. Aliás, sempre sou eu a saudá-lo, pensando bem. Ele nunca toma essa iniciativa. Não vou ser tão hipócrita de saudá-lo sabendo da tentativa de sabotar o meu modo de vida ainda mais sob alegações infundadas. Björk passa no som, “Hunter”. Eita, “Hawkmoon 269” do U2. A lista 6 está acertando o que quero ouvir. Ou melhor, me chamam atenção as músicas de que gosto. Preciso fazer uma limpeza nessa lista. Mas hoje o modo aleatório está trazendo substancialmente mais U2 que o normal, o que é ótimo, pois estou na vibe de ouvir U2. Putz, “Cantada (Depois de Ter Você)”, pura poesia. Curta e maravilhosa poesia. Música que dá vontade de amar. Será que existe algum ser humano que não tenha vontade de amar e ser amado? Mesmo os assexuais, grupo que acabei de deixar por mais do meu desinteresse pelo sexo causal. Pelo sexo pelo sexo. Por mais que o coito seja uma parte para lá de secundária num relacionamento e de eu morrer de vergonha da minha nudez. Saí dos grupos mais por serem um queima-filme e porque vi que daquele mato não saía coelho, são um bando de pessoas afetivamente frustradas como eu já disse aqui e como eu sou, mas não vejo razão em ficar me lamuriando nas redes sociais por conta disso. É fato que há muitos casos curiosos e interessantes, mas todos carregados de sofrimento emocional. Não preciso disso. Não é a minha e não é lá que encontrarei novo amor. Isso ficou claro para mim. Muito mais produtivo adicionar a encantadora da noite como amiga. Embora isso vá se mostrar improdutivo também. Hahahahaha.

16h32. Como unhas crescem rápido. Dentro em breve terei que cortá-las novamente. Espero que o meu amigo da piscina resolva descer hoje, acho que seria o momento da despedida antes de ele partir para a Fazenda Esperança, onde pretende seguir carreira como missionário da instituição, de preferência em outro país. Ele disse que só ficaria aqui até hoje, presumo que não o verei mais após isso, o que é uma pena, é um dos vínculos sociais mais fortes que possuo. Mais de 20 anos de amizade. A maioria deles vivendo cada um a sua vida sem nos cruzarmos, mas 20 anos, mesmo assim, cujos primeiros cinco, dez anos foram de intenso convívio, na boa e já ida juventude. Eu sei que a juventude vem muito da postura e dos paradigmas, que é algo que transcende a idade, mas a idade, ou melhor, a falta dela, a enxurrada de hormônios e a vitalidade da juventude “temporal”, digamos, esses se perdem, infelizmente. Sem contar que não tinha bucho na época. Hahahaha. A danada da cerveja me deu esse presente do qual nunca mais consegui me desfazer. Mas há esforços alimentícios para tal. Já consegui perder 12 quilos uma vez, posso conseguir de novo. E mais. Ainda mais com a minha mãe teoricamente ingressando no Vigilantes do Peso e alardeando mudanças no cardápio aqui de casa. Tudo conspira a favor.

16h54. Meu post anterior teve apenas 29 visualizações até agora. Vou postar logo o que escrevi em parte na piscina aqui do prédio, mas não o divulgarei nos grupos de escritores porque passo a maior parte dele a divagar sobre videogames, o que não deixa de ser irônico, visto o meu desinteresse por jogar nos últimos meses. Quase um ano desde que me interessei por um game. Se alguém voltasse ao passado para me dizer que isso ocorreria, eu riria da cara do visitante do futuro. Eu pensava que era um hobby, uma paixão para a vida toda. Bom, talvez seja uma fase. Uma fase do game da vida. Hahaha. Estou apostando todas as minhas fichas no novo Zelda como jogo que vai me fazer desencantar.

17h32. Meu irmão JP que vai dormir aqui hoje acho que acaba de chegar, parecia ser a voz dele no corredor. Mandei uma mensagem para o meu amigo da piscina, mas não está chegando para ele. Talvez a bateria dele tenha arreado. Vou pegar Coca.

17h39. Engraçado, não consigo espantar o pensamento da garota da minha cabeça agora que mandei o convite. A foto de perfil, embora bastante descritiva de quem é não lhe faz jus, ela é muito mais bela em movimento, vivendo, falando, sorrindo do que a foto pôde traduzir. E aparenta ter lindos seios, parte da anatomia feminina que me encanta particularmente desde que li “Lucíola” no colégio. Acho que esse era o nome do livro. Acho que era de José de Alencar. Mas não dou certeza das informações, mas o autor descrevia o seio feminino com tanta beleza e admiração que eu não tive como não me maravilhar também. Engraçado que, como rostos, não há um par igual a outro. Pelo menos dos poucos que vi. Não sei por que a garota de ontem à noite me parece ter um ar de francesa. Curioso eu ter essa impressão, não sei em que se baseia ou de onde vem. A sua pele mui branca e sem sinais foi outra coisa que me encantou deveras. O corte de cabelo mais curto também lhe caiu bem, embora já a tenha achado interessante desde o nosso primeiro encontro, num bar que não me recordo, quando ainda tinha as madeixas longas. Se fosse compará-la a uma atriz como referência, acho que seria Anne Hathaway de “O Diabo Veste Prada”. É a que guarda os traços mais parecidos das poucas atrizes que eu conheço.

18h11. Nada de a mensagem chegar ao meu amigo da piscina. Foi só falar e ele respondeu. Já está em casa. Perguntei-lhe quando parte para a fazenda. Talvez ainda haja tempo para uma despedida. 18h23. Nada respondeu. Que seja. Não gosta de pensar no futuro, gosta de viver o presente. Acho que a pergunta o incomoda. Eu sei bem como é. Embora eu ache que fale de tudo ou quase tudo abertamente, desde que indagado. Antes, eu costumava ser a alegria da festa e gostava do papel. Hoje, por razões tortuosas da vida, ele não me cabe mais e torno-me mero figurante nos programas que faço. Não estou habituado ao papel de figurante, gostaria de ser mais participativo, mas simplesmente não consigo mais. Há um entrave social sério aí.

18h50. Me perdi na internet. Meu amigo respondeu que vai daqui a umas três semanas e que dará tempo para uma despedida. Pensei na ideia de chamar os outros da Turma das Ubaias com os quais mantenho contato, mas escanteei a ideia. Alguma coisa em mim soprou para o lado oposto. Seria um encontro a priori de estranhamentos, mas que talvez se tornasse divertido à medida que o gelo fosse sendo quebrado. Acho que seria uma reunião de rememorações de gloriosos tempos há muito idos. Ou não. Na dúvida, preferi calar. E pode ser que o meu amigo da piscina não esteja a fim de tanta publicidade de sua partida. Sei lá. E pouco se me dá. Se nos encontrarmos antes e houver tempo, pergunto a ele pessoalmente. Acho sugerir isso pelo WhatsApp inapropriado. É melhor cara a cara.

19h08. Recebi uma charge, ou meme ou como queiram chamar que achei bem pertinente, por mais que eu seja um completo alienado político.


19h14. Estava redimensionando e salvando a charge para que coubesse dentro do meu blog. Penso em enviar esse post para a figura da noite passada, mas é uma ideia ainda muito embrionária. Vamos ver onde esse post vai dar. Ou será que já deu?


19h24. Fui pegar uma Coca e auxiliar mamãe a achar a data do aniversário do meu sobrinho. Eu mesmo não sei, sou péssimo com datas e nomes. Mas sabia onde achar a informação que mamãe, se não andasse tão esquecida, certamente lembraria, afinal foi um calendário só com fotos dos sobrinhos elaborado por minha irmã com todos os aniversários demarcados. Parece que semana que vem tem sessão de Super Mario Odyssey com o meu amigo jurista! Yes! Eu sei que disse que estou com abuso de jogar games, mas não estou com abuso de assistir alguém jogando, ainda mais um game tão divertido, criativo e bonito como o Odyssey. Já ganhei a minha semana. Obviamente, pretendo sair com o meu primo-irmão se a oportunidade se oferecer. Preciso me socializar, mesmo que isso seja hoje mais um esforço que um prazer. Passo muito tempo isolado e fico achando que um enlace afetivo me resgataria, o que deve ser vã ilusão. Não sei, porque estou há mais de uma década só. E cada vez mais só eu estou. Será que meu futuro, que eu mesmo construo, é o isolamento? O isolamento com minhas palavras me apraz, mas sinto não ser o suficiente, afinal sinto. E o sentir necessita de uma contrapartida que eu mesmo não posso me dar. Minhas necessidades fisiológicas eu mesmo sacio, mas algo mais, algo além, que gosto de sintetizar como intimidade, me falta. Me falta a cumplicidade, a amizade, o carinho, o afeto, o balé de almas de um relacionamento. Não quero ser uma Eleanor Rigby da vida. Sei que já vivi um bom quinhão de amor farto e profundo. Mas mais de uma década de solidão é de lascar. Preciso colocar os remédios para semana. Os meus remédios para a minha semana. “Aurora” de Björk, nossa, como cantei essa música a plenos pulmões numa das minhas internações. Uma em que havia um microfone e um caixa de som que montava na área de malhação, um recôndito afastado dos dormitórios, apontava para fora e soltava a voz à medida que o meu pen drive tocava as canções. Era bastante libertador naquele ambiente de confinamento. Acho que foi aí que ferrei a minhas cordas vocais. Se bem que acho que o Vaporfi tem contribuído e muito para isso. Pelo menos assim me parece. A impressão é que minha voz piorou bastante com o advento do aparelho. E piora mais quando o uso em demasia sem beber nenhum líquido. Espero que esteja realmente poupando um pouco dos meus pulmões com isso. Pelo menos posso fumar no quarto. Isso para mim já é um ganho sem precedentes na história da minha humanidade. Hahahaha. Queria que a garota tivesse mãos bonitas, não pude aferir isso, mas apostaria que tem. Mãos são coisas que me são extremamente relevantes, pode me chamar de exigente, mas garotas com mãos muito másculas ou de velha ou ásperas turn me off. A quem estou tentando iludir aqui? A pergunta é retórica, pois sou eu construindo castelos de sonhos novamente. Mas ela é uma garota, eu sou um garoto, ambos até onde eu pude aferir descompromissados afetivamente, que mal há em sonhar um pouco? Não custa nada e me faz encher páginas com minhas insanidades. Estou decidido a mandar o link desse post para ela. Vou revisar isso e fazer isso agora. Que tenho eu a perder se não tenho nada? Hahahaha. E não, não rio tanto na vida real. Rio bem mais na vida literária, se posso chamar assim. 

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