terça-feira, 21 de novembro de 2017

AINDA ASSOMBRADO POR ELA

14h02. Mais um dia de existência. Este começa tedioso, modorrento. Não consegui fazer o exame de sangue pois não achei a prescrição da Doutora. Estou agoniado de ficar trancado aqui no quarto. Acho que vou dar um passeio até o shopping só para desopilar um pouco. Será que o meu amigo jurista vai querer ver o filme hoje? Gostaria de saber, mas não vou perguntar porque já o pressionei na semana passada em relação ao Odyssey, não vou me passar por chato e insistir essa semana. E a comunicação é uma via de mão dupla, se houver interesse, motivação da outra parte, ele há de se manifestar. Queria saber porque daí não iria ao shopping duas vezes no mesmo dia.

14h27. Há certas posições e gestos que reforçam o sentimento que carrego. Por exemplo levei a mão à têmpora e percebi que isso intensificou o meu sentimento de marasmo. Hoje, até agora, tem se mostrado um dia bastante banal. Não que eu desgoste da minha vida, mas nem todos os dias são de maravilha. Há os dias banais. Surpreendente seria se eu morresse hoje. Mas tenho certa convicção de que isso não vai acontecer. Não sei de onde vem essa certeza. Acho que porque a probabilidade é pequena. Por mais que aumente com a idade, não cheguei à idade em que ela é um fator real de preocupação. Se morrer hoje é atropelado quando e se for realmente ao shopping. É a única probabilidade de morte que consigo aferir. Ou um latrocínio.

15h03. Dane-se se eu for duas vezes ao shopping hoje. Vou agora. Preciso ver um pouco o mundo, as pessoas.

17h11. Só fiz me suar. Não achei graça nenhuma no shopping. Aguentei ir só ir até o terceiro andar, se passei meia-hora lá foi muito. Acho que ainda estou um pouco para baixo por causa do incidente do sábado. Realmente deve ter algo de muito errado comigo para a pessoa me tratar assim. Queria saber onde errei para pelo menos tirar alguma lição do ocorrido, mas deixa para lá. O mundo segue girando no seu passeio pelo cosmo. Quem sabe a vida não tenha alguém guardada para mim? Achei que finalmente havia encontrado, mas não foi o caso. Bem, não sei. Afinal o tal do mundo dá muitas voltas. Quem sabe numa delas, num encontro menos conturbado. Não, também acho que não. Mas não vou ter um comportamento reativo, de desprezo ou coisa que o valha. Ficarei na minha, se quiser se comunicar comigo, serei receptivo. Me prometi não falar mais dela aqui. Porém o que fazer se é o assunto que me domina a alma? Tomara que isso passe logo. “Super de boa”. Sei. Vi. Vivi. Não foi de boa para mim. Não me pareceu assim, nem me senti assim. Novamente, deixa para lá. Deixa o mundo girar. Volto aos meus platonismos, enquanto isso.

17h37. Meu amigo cineasta disse que vai vir aqui no meu aniversário me visitar e filmar. Acho que vai se decepcionar com a “festa de aniversário” porque não vai haver uma. Odeio “Parabéns pra Você”, odeio a falsa felicidade ausente nos demais dias em que eu continuo sendo o mesmo da mesma forma que quando completo mais uma volta em torno do sol. Ainda bem que é um dia só, odiaria muito mais a falsa felicidade diariamente, viver num mundo de hipocrisia. Sei que a hipocrisia é uma útil ferramenta social, mas não gosto de usá-la. Quanto menos, melhor. Dia 16 de dezembro tem o natal da minha família paterna. Talvez consiga participar, embora às vésperas da viagem para os EUA. Mas viajo dia 20, acho que minha mãe não interporá nenhum obstáculo a minha ida. Tentarei estar com as malas já prontas antes do dia 16. Ah, o meu amigo cineasta também estará por aqui nesse período e pretende me filmar. Não sei se valeria ele filmar o natal, não sei se eu me sentiria constrangido com isso. Ou se meus familiares se sentiriam constrangidos com isso. Sei lá, discuto isso depois com o meu amigo cineasta quando ele chegar.

18h09. Perguntei pelo WhatsApp mesmo. Como sempre, esperar resposta. Ele agora está indo tomar um café com sua consorte, deve demorar a responder. Estou agoniado hoje, com uma angustiazinha leve e chata. Queria muito ir ao cinema ou ao Odyssey com o meu amigo jurista, mas, pela hora, já vi que não vai rolar. Pelo menos estou sozinho em casa, isso me dá um certo prazer. E não estou nem botando o som nas alturas. Minha alma não pede isso hoje, prefiro no volume em que está mesmo. E não estarei sozinho por muito tempo. Mamãe e meu padrasto devem estar para chegar.

18h23. Parei para ver um vídeo que o meu amigo da piscina pediu para compartilhar. Pena, mas não compartilho vídeos, mesmo sendo muito pertinente (e muito do mesmo). A ida ao shopping não foi uma variação na minha rotina que tenha me apetecido. Geralmente quando vou, vejo algumas beldades, mas hoje não tive sorte. Mas de que adianta olhá-las e apreciá-las se não posso conversar ou tocar? Nossa, como sinto falta disso, de conversar com uma garota que goste, tocar uma garota que me encante. Mas não vou voltar ao mesmo assunto, por mais que ele me ronde. Parece que, agora que passei de uma década, vou completar bodas de prata de solidão. Espero tremendamente estar tremendamente enganado.

18h39. Mais Coca no copo. Antigamente, quando repartia esse blog com amigos, me diziam que eu escrevia como falava. Será que isso ainda bate com a realidade? Falo tão pouco, mas no dia do Mimo me comuniquei razoavelmente e achei que, afora os palavrões, usei vocabulário similar ao que emprego aqui. Curioso isso. Não acho que sempre se dê assim ou se dá e não me apercebo. Sei lá. E que diferença isso vai fazer na minha vida? Ínfima, se alguma at all. Certamente não falo colocando trechos (totalmente dispensáveis) em inglês. Não sei por que o faço aqui. Faço porque acho conveniente e fácil, há expressões em inglês que são mais práticas nessa língua e complementam bem a ideia da frase. Ou faço por frescura. Hahahahaha. Há uma leitora, creio que administradora de um dos grupos de escritores em que publico, que geralmente curte o que escrevo. Curte no sentido de dar uma curtida de Facebook na postagem. Espero que esteja sendo sincera. Ou vai ver ela faz isso com todas as postagens que lá aparecem sem se dar ao trabalho de ler. Caso leia, saiba que me sinto extremamente lisonjeado e honrado com isso. Alguém gostar do que eu escrevo, mesmo que uma pessoa apenas é glorioso para mim. Aliás, duas, há um senhor também que mais das vezes curte as minhas postagens. Também não sei se lê ou curte tudo o que é publicado, mas deixo minha imaginação um pouco mais condolente comigo e acredito que de fato essas duas pessoas lêem minhas palavras. Eu escrevo torto por linhas certas. Hahahaha.

18h52. Meu amigo cineasta curtiu bastante a ideia de filmar o natal da minha família paterna. Legal. Será massa ter a companhia dele lá. Também é muito amigo do meu primo urbano, que não poderá faltar à festa. Acho que é a única ocasião do ano em que todos os primos se reúnem. Geralmente só eu vou às celebrações dos aniversários da família que acontecem. Dentre os primos/sobrinhos da família, digo. Gosto muito. Estou começando a gostar mais das celebrações da família materna também. Cada vez vejo menos diferença entre o que sinto em ambas as oportunidades.

19h06. Meu amigo cineasta pediu para perguntar à família se há algum problema em seu intento, o que de pronto fiz, através do grupo da família no WhatsApp (campeão em postagens dentre os poucos grupos do qual faço parte). Estou à espera das respostas, mas creio que não haverá. Se houver, ficarei bastante decepcionado com a minha família paterna.

19h18. Nenhuma resposta ainda.

19h35. Até agora só uma prima mandou três palminhas. Não sei o que quer dizer. Mas seu marido conhece o meu amigo cineasta, então creio que seja algo positivo. Estou besta que ninguém mais tenha se manifestado. Pensei que as pessoas da família ficavam de olhos grudados nesse grupo. Ou então não gostaram da ideia. Agora meus outros primos geralmente levam amigos e ninguém reclama. Acho que não vai ter problema. Acho. Esse silêncio no grupo me incomoda. Minha mãe chegou e disse que já vai se retirar. Quer que eu acorde às 10h00 amanhã para ir pegar a requisição do exame para fazer. Mas hoje a noite é minha, não vou me ligar em horário, certamente o laboratório é aberto à tarde, então posso comer quando a fome dos remédios se der.

19h52. Mais ninguém da família se manifestou. Muito estranho. Ou não. Raramente olho o grupo. Vai ver é assim mesmo. Amanhã olho. Ou daqui a uma hora. Não vou aguentar a curiosidade mesmo. Hahahaha. Tenho é que me segurar para não ficar olhando o tempo todo. Ansiedade aqui é boia. Mas vou controlar isso e só olhar às 20h52. Enquanto isso, o que faço? Depois de rapidamente considerar o Mario Galaxy, resolvi ficar aqui mesmo. Mas ficando aqui, o velho assunto vem me assombrar. Perdeu, boy, entenda logo isso. Ponha isso nessa sua cabecinha sonhadora. Você é um cara ozzy que vai acabar sozinho. Simples assim. Eu mereço isso? Um superego estimulante desses? Terapia a caminho, se preocupe não, superego. Pelo que vi no vídeo do meu ex-psicólogo, tudo isso pode ser fruto de uma educação muito crítica a meu respeito. Todos esperavam que eu fosse um papai versão 2.0 ou pelo menos foi assim que entendi e eu colocava o meu pai num pedestal inalcançável, por boas razões, diga-se de passagem. Só muito depois fui descobrir que ele era um ser humano impecável na maioria dos aspectos, mas falho em outros. De toda sorte nunca cheguei ou chegarei aos pés dele. Só existe uma coisa que faço e que ele só ousou uma vez, escrever. Ele escreveu um livro didático, eu vivo a escrever sem o pudor ou a monstruosa bagagem intelectual que possuía, escrevo por prazer, coisa que ele nunca conseguiu fazer talvez por ter leitura demais. Eu sou o seu completo oposto nesse aspecto. Acho que isso torna a escrita ainda mais libertadora. Meu pai não fazia isso, então não tenho que me comparar com ele. Não tenho que me comparar a nenhum grande escritor, não entendo coisa alguma de estilo ou de narrativa ou de gramática ou de ortografia. Escrevo com o que aprendi por osmose, de algum lugar que me escapa, por isso esses textos devem ser paupérrimos em termos de valor literário e pouco se me dá. Não quero ganhar o Nobel de literatura, quero apenas dizer o que penso para um punhado de gente, às vezes menos de um punhado, ou para mim mesmo. E minha confiança na Google me faz crer que me tornarei um escritor imortal no sentido que a minha obra vai estar disponível ao público até bem depois que esse corpo fenecer. Não sei o que acontecerá quando e se da Singularidade Tecnológica. Mas acredito que os arquivos serão preservados. Pelo menos sendo uma pessoa só, não terei que abandonar ninguém se a possibilidade de me fundir à Singularidade for real. Acho que a primeira coisa que eu criaria era um copo de Coca-Cola que não esvaziasse jamais, nem seu gelo derretesse, nem ficasse sem gás. Hahahaha. Se bem que gosto de quando a coca acaba e posso comer o gelo derretido. Acho que criaria um que, a um  pensamento, se enchesse novamente. Da mesma forma a carteira de cigarros, que não tivessem cheiro para os que viessem visitar as minhas paragens criativas. Criar/materializar virtualmente tudo com o pensamento ou com a escrita mesmo, seria apenas o começo, eu acho, das possibilidades inimagináveis de estar fundido à Singularidade. Acredito que deixaria de ser humano, seria qualquer coisa além, acho que abandonaria meu corpo, decrépito à época esperada para a emergência da Singularidade. 2047. Eu terei 70 anos. Se chegar aos 70. Não cuido da minha máquina, esta que habito, bem o suficiente para ter certeza disso. E o pior que eu gosto da tal máquina, apenas desgosto da aparência dela, mas pela sua resistência e por sua capacidade cognitiva, tenho extrema estima, como tenho por ter nascido da espécie humana, por mais que isso acarrete uma série de neuroses que me incomodam. Mesmo assim, poder experimentar tudo o que um ser humano experimenta é fantástico, de um game ou sundae da McDonald’s às maiores abstrações e viagens proporcionadas pelo cérebro superdesenvolvido do homem. Gosto também de ter nascido macho, as fêmeas da nossa espécie passam por muito mais dificuldades que os machos. Dificuldades biológicas e sociais. Por isso admiro tanto as mulheres. Elas me são revigorantes, desde que equilibradas. Conheci muitas mulheres fantásticas. Acho as mulheres em geral fantásticas, independentemente da aparência, cor, credo, classe social, idade ou quaisquer outras variáveis. Talvez por guardar tão profunda admiração e respeito eu não consiga ser galinha ou gostar de ficadas. Não as vejo apenas como objetos a serem penetrados pelo meu pênis. Elas são tão muito mais que isso para mim que chega a ser intimidante. Ao mesmo tempo me apiedo delas pelas dificuldades que experimentam no mundo. Sei lá. Só sei que se a Singularidade se der e vivo estiver deixarei para trás a condição humana e passarei para uma existência outra, com a mente ampliada, multiplicada, elevada exponencialmente. Esse seria o meu segundo maior grande sonho. O meu primeiro seria uma namorada que eu amasse e que me amasse também. Do jeito torto que sou. Nossa, como sinto falta. E como rótulos aplicáveis à minha pessoa me distanciam desse sonho. Viciado, curatelado, coroa (cada vez mais e é irreversível), buchudo, calado, alienado... Alguns reversíveis, outros infelizmente sempre estarão aqui para me assombrar. Os piores. Os três primeiros que citei, para ser mais preciso. Eita, 21h19. Vou olhar se a família paterna se manifestou. Até agora só a minha prima. Que ozzy. Coloquei uma interrogação e uma carinha de meio triste. Espero que isso estimule alguma manifestação contra ou a favor. 21h27. Às 22h27 olho novamente. O que fazer nesse intervalo, nessa uma hora de existência que me separa do evento, indago-me novamente. Já viajei na maionese demais nesta última hora, não tem mais nada que tenha a dizer. Não sei por que cargas d’água lembrei-me de uma frase que a minha professora da terceira ou quarta série disse uma vez, achei super ousado à época, foi no final da aula por alguma razão que a memória me deixa escapar, quem muito escolhe, a m... recolhe. Não lembro se ela falou a palavra, de baixo calão naqueles tempos idos, hoje ouve-se em música no rádio, mas a mensagem era essa. E me veio à mente acho que por despeito. E acho que agora vou jogar Mario Galaxy mesmo.

22h35. Hora de checar o grupo da família. Peguei algumas estrelas no Super Mario Galaxy. Muito bom. Ótima notícia eu ter achado isso, por sinal. Minha tia botou um coração, então, dei como aceito o meu pedido e já repassei a informação ao meu amigo cineasta.

23h26. Me perdi num site de jogos, preciso ir dormir para acordar amanhã às 10h00. Saco. E eu que queria que a noite fosse minha hoje... amanhã será. Não é possível que eu não consiga fazer o exame de sangue amanhã. Durma bem, garota da noite. Desculpe, escapuliu.

-x-x-x-x-

12h53. Já peguei a requisição, já tirei sangue, já almocei.





14h27. Acabei de tirar um cochilo. Acho que hoje não vai rolar nada com o meu amigo jurista. Vai ser mais um dia de solidão. Hoje não estou tão incomodado quanto ontem, coisas das sutilezas da alma. Talvez o fato de ter feito um pequeno desabafo com a psicóloga de plantão no Manicômio enquanto esperava pela requisição dos exames de sangue tenha me aliviado um pouco. Acho que voltar a terapia me fará muito bem, pois serei ouvido sem preconceito. Sem medo do julgamento. Falarei de mim para alguém, não apenas para uma folha em branco. Página esta que até censura da minha mãe já sofreu. Veja onde minha mãe se imiscuiu. Tolher a minha liberdade de expressão. Mas não quero falar disso, águas passadas não movem moinhos.

15h15. Sem muito o que dizer. “I Remember You” passando e fazendo latejar o meu cotovelo levemente dolorido. Hahahaha. Sabe de uma coisa? Deixa isso para lá também. Vamos ver se consigo. Essas coisas sempre têm uma sobrevida maior em mim. A esperança, a vã esperança, moribunda, não morre. Fazer o quê? Seguir vivendo e esperando. Melhor que viver vazio de esperança. Acho eu, mas não tenho certeza. Pois dar murro em ponta de faca é garantia de se machucar. Aí vem “Amor Meu Grande Amor”, parece que o Spotify adivinha o meu mood. Isso está ficando ridículo. Hahahaha. Ainda bem que estou me divertindo com isso agora. Na hora não foi nem um pouco engraçado. Eu quis sumir. Só não sumi porque o meu celular não estava pegando internet. Não foi por falta de tentativa. Ainda bem que o grupo se desagregou e fui encontrar meu primo-irmão e meu amigo cervejeiro numa roda de côco na beira da praia. E com eles passei o resto da noite. E iria adiante na madrugada se o meu dinheiro não tivesse acabado. Pena.

15h51. Hoje a noite será minha, ninguém tasca. Estou ouvindo o som nas alturas. Faith No More. Foi um dos bons shows que vi na vida. Geraldão. Faltou luz no meio do show. Foi divertido. E ainda não havia essa tendência de mega-shows, só Madonna e Michael Jackson os faziam à época. Talvez o The Wall já fosse uma mega-produção também, não sei. Só fui saber do show agora em sua última e impressionante encarnação. Vi pela TV, mostrado pelo marido da minha prima. Every beauty needs to go out with an idiot”, canta U2. Será que isso significa que eu não sou um idiota? Hahahaha. Será que ela continua lendo? Creio que não. Não haveria razão. Ainda mais eu tendo alegado que não iria mais mencioná-la, para o meu ledo engano. Seria a única razão para continuar a fazê-lo. E se um beijo acontecesse e eu não sentisse nada? Não seria muito pior? Detesto ser o que rejeita. Só tive uma experiência assim e foi terrível. Uma e meia. A outra, eu só recebi um cartãozinho que ainda tenho em algum canto, pois me lembro de tê-lo visto, com uma declaração de amor em bela caligrafia e não faz os quase vinte anos que o recebi, faz muito menos. Esse não foi um fora, pois não sabia de quem era o cartão. Só bem depois, de alguma forma descobri. Mas era de uma pessoa que não me interessava. Era azul e branco e tinha uns gatinhos recortados no topo. Bem bonitinho. Me sinto cruel até hoje. Como me senti cruel quando acabei com a minha segunda namorada, tão mal na verdade que reatei o namoro mesmo sem a amar mais, foi terrível. Mas na soma, os momentos fantásticos e os horríveis se equilibraram e fiquei no zero a zero, aprendi muito, nos ensinamos muito um ao outro, foi mais do que válido. Como disse não me arrependo de nenhum amor vivido, embora possa contá-los em uma mão, são das coisas mais preciosas que possuo. Afora eles, só dois beijos de bocas em duas borderlines durante os internamentos e a ninfomaníaca que me agarrou. A isso se resume a minha vida afetiva até o momento. Há pessoas que passam a vida inteira sem viver uma grande paixão, quão miseráveis emocionalmente essas pessoas devem ser. Eu pelo menos vivi cinco, não sei se conseguirei viver outra. Mas em vista aos padrões de hoje, sou um felizardo. Parece que meus amigos têm medo ou o coração oco. Tudo para eles revolve o sexo casual. E há um código de ética, que descobri no dia do Mimo e para o qual não dou a mínima, de que não se pode pegar a garota que o outro pegou. Sei que a garota da noite foi pega por um dos meus amigos, mas não hesitaria em começar a me relacionar com ela porque, por mim, eles podem pegar qualquer das minhas ex e porque o que tenho a oferecer é algo que nenhum deles quer ou está disposto a dar. Ainda mais em respeito a uma coisa fugaz e fútil como uma ficada. Me perdoe, amigo, mas, para mim, a banda toca outra música. Eu já me fiz de cupido para que um amigo agarrasse minha primeira namorada. Eles estavam interessados um no outro, que mal havia em dar uma mãozinha? Sei lá, posso estar completamente equivocado, mas foi e é assim que encaro as coisas. Guardo carinho imenso por todas elas, são mulheres espetaculares, que me fizeram sentir toda a delícia de uma paixão correspondida, mesmo que algumas vezes de forma assimétrica, para um lado ou para outro, mas com momentos de plenitude. Pensando bem, depois desse retrospecto, o que sinto pela garota da noite está muito longe de se configurar uma paixão. Nem poderia, eu mal a conheço. A acho interessante e acredito que há o potencial para virar paixão, mas é algo que definitivamente ainda não é. Seria o embrião de um sentimento. Há ainda o problema do imediatismo do sexo, que não é a minha. Comigo, devagar se vai ao longe. “This time I feel my luck could change”, toca o Radiohead querendo botar fogo em palha molhada. Não adianta. Não adianta Mário, desencana logo. Não tão facilmente. Para mim não é tão fácil assim, não é interruptor de lâmpada, que liga e desliga o meu peito. Mas a ficha vai cair, só dar tempo ao tempo. Nossa, já estou na sexta página.

17h09. O som do Screaming Trees me fez viajar por clipes da época do grunge. Me fez viajar que essa mulher ainda vai ser minha. Hahahaha. De onde veio essa autoconfiança toda, não me pergunte, além de ser uma frase machista para os dias feministas que vivemos hoje, acredito eu. Hahahaha. Como as coisas mudam, né? Antes não havia nada demais em colocar as coisas nesses termos. Mas aí feministas tomam ao pé da letra, de que eu quero ter um sentimento de posse da mulher, objetificando-a ou qualquer coisa que valha. Eu ainda a conquistarei, pronto. Mas isso é só da boca para fora também. Se bem que todo mundo me diz que tem que “chegar chegando”, inclusive mulheres. E eu acho isso um baita desrespeito. Sei lá. Talvez entenda chegar chegando da maneira errada. Ou sou realmente muito tímido para essas coisas. Acho que essa última opção é a mais verdadeira. A verdade é que eu tenho vergonha de mim e isso mina completamente a minha autoconfiança. O contrassenso aí está em que não quero mudar quem eu sou, estou muito bem comigo mesmo na minha solidão. A vergonha só aparece para o outro (ou outra, no caso). Mas ando cismado até com os meus amigos. Me lembrei de um termo que me chocou um pouco, “PA” ou, por extenso, “pau amigo”. Ou era isso ou era “foda amiga”, um dos dois. Foi uma amiga que me ensinou. Deve ser por isso que um não quer que o outro fique com alguém de seu “cardápio”, para que tenha sempre aquela opção quando a vontade de fazer sexo bater. É só ligar e marcar a transa. Me chocou pela banalização do sexo e das relações. Acho que estou ficando realmente velho. Um amigo disse que era capaz de sexo, que é uma coisa superficial, segundo ele, mas não é capaz de construir intimidade ou dar carinho. Exatamente o contrário da minha visão de mundo. Sei que não é o único, tanto é que quem o ouvia disse que sofria do mesmo mal. Eu calado estava, calado fiquei, para não ser ridicularizado ou tido como algum tipo de aberração. O sexo é a culminância da intimidade e do carinho, o ápice aonde eventualmente se chega quando uma base mínima de afeto é construída. Talvez eu seja um dinossauro. Talvez mitifique o sexo. Talvez eu não me interesse tanto por penetração, porque o resultado se assemelha muito ao da masturbação e masturbação é algo para lá de banal para mim. Sei lá o que estou dizendo. Não sei nem se faz sentido, saí vomitando as minhas percepções de forma desordenada. O som alto também atrapalha a concentração e a escrita. De toda sorte, o assunto sexo é um dos que tem que ser tratados em terapia. Se não arrumar namorada antes. Hahahaha. Mas para eu me agradar de alguém é difícil. Sou super seletivo. Ainda tenho isso contra mim. A pessoa tem que ter um quê, um elã que me toque a alma. Tem que ser mui bela, além de tudo. Então, fica difícil porque as mui belas podem escolher pessoas muito mais interessantes esteticamente que eu. Eu tenho uma profunda ruptura com a minha aparência, não consigo aceitá-la. Se tem um lugar que raramente olho é para o espelho, geralmente o faço para passar desodorante e pentear o cabelo. Às vezes me olho rapidamente antes de entrar no banho, no resto do tempo, não olho. Não pego o elevador social e fico a me admirar no seu espelho, ajeitando algo aqui ou ali, como vejo vários dos meus fazendo, ou toda vez que vou ao banheiro, onde há o único espelho ao qual tenho acesso na casa. O espelho para mim tem uma utilidade prática, eu o uso para fazer coisas que não conseguiria fazer sem ele. E me admirar não é uma delas, visto que não me admiro esteticamente. Sei que não tenho nada demais. Eita, 17h57. O quarto já é todo escuridão, não fora a luz da tela. “It’s In Our Hands”. Amo. “Cruelest almost always to ourselves…” lembra alguém? Hahahaha.


18h15. Caramba passei um tempão falando dela e me autodepreciando. Que ozzy. Tá bom. Chega. Revisar essa doideira e postar.


Adendo 2017-11-21 (22h03):


Depois de duas horas de suspension of disbelief, como dizia o meu pai, tudo sobre a garota da noite parece uma grande palhaçada. Me dizer assim no blog me parece ridículo. Foi estranho o que o filme fez comigo. Me distanciou da realidade e pude vê-la por outro ângulo. Estou fazendo papel de palhaço. Nesse post ao menos, mas em quase todos os outros também, pois tenho uma realidade medíocre dentro e fora da minha cabeça. Não gostei muito de “Atomic Blonde”, mas me fez ter esse insight que gostaria de compartilhar. Aliás, acho que muita gente se acha mais do que realmente é. Ou talvez seja eu que me ache menos do que realmente sou. Bem, uma coisa não exclui a outra. Me sinto um tanto cético no momento. É um sentimento interessante de ser experimentado. Não acho que deva ou consiga permanecer nesse frame of mind. Mas é curioso estar nele. Todos peidam e cagam. Todos somos iguais. Foda-se o mundo das aparências e dos egos abalonados. Por um momento, fodam-se todos. Somos nada frente à imensidão do universo. Ficaremos obsoletos por conta das nossas próprias criações. O filme me deu um olhar sombrio, gelou meu coração. Sei que é passageiro, amanhã estarei eu fazendo o que sempre faço, desempenhando esse papel pequeno no pequeno planeta azul. A humanidade não saberá quem eu fui. Do nada ao nada, sendo nada all along. Foda-se, se é o que eu quero ser, então foda-se o resto. Acho que eu preciso de um cigarro. Sempre bem-vindo depois de um filme. 

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