quarta-feira, 29 de novembro de 2017

ANDADA

14h53. Cá estou novamente. Conforme combinado comigo mesmo, caminharei até o Açude às 16h00. A preguiça é quase maior que a motivação para ir. Mas perder o bucho é uma meta muito desejada por mim, por isso vou. Não sei o quanto essas caminhadas ajudarão. Mas sei que atrapalhar é que não vão. E dizem que faz bem para a saúde. Fiz dez marinheiros agora. Acho que também não atrapalha. Preciso condicionar meus braços de alguma forma. Fiz mais dez por causa disso. Fiz mais quinze. Tá bom. Quinze me deixaram ofegante. Nossa, como estou fora de forma. Mas também não é fácil erguer 95 quilos. Hahahaha.

15h30. A hora da partida se aproxima e a preguiça impera. Qual será a reação da garota da noite ao ver meu vídeo cantando que nem um babaca? Que vergonha. Foi mandar e me arrepender na mesma hora. Hahahaha. Agora está lá no Facebook dela para ela ver quando quiser. Se quiser. Será que vai comentar algo? Algo de positivo? Será que lê isso? Acho que não. Será que lerá após ver aquela aberração? Meu deus, o que foi que eu fiz? Onde estava com a cabeça, passar por um papel desses, me gravar no meio da noite cantando uma música de amor para uma garota que eu mal conheço e que não dá a mínima para mim? Cantando é modo de dizer, não sou cantor e nunca fui. 15h42. O horário da partida se aproxima. Saco. Ouvindo “Utopia” ainda. Vai ter encontro com o meu amigo da piscina hoje. Só não terá se porventura o meu amigo jurista me chamar para uma sessão de Odyssey. Não, não é aquele videogame dos anos 80, mas a nova aventura do Super Mario. Fiz mais cinco marinheiros. 15h48. Quanto tempo deve dar daqui para lá para o Açude? Não sei, vou caminhar no meu ritmo. Não tem para querer apressar o passo, se fizer isso, vai me dar um monte de dor nas pernas e não chego nem lá. Eita, 15h52. Oito minutos até a partida. Não, só me levanto daqui às 16h00. O Açude não vai sair do lugar. E me levantar daqui às 16h00 não faz muita diferença. Para mim ou para o universo. Não queria encontrar com o meu amigo da piscina hoje, eis a verdade. Vou por obrigação. Mas vai ser bom, eu vou poder dizer a ele que andei até o Açude hoje, ele que fez tanta pressão para eu começar a caminhar. 16h00. Vou lá.

17h33. Devo ter voltado umas 17h15. Estava vendo com mamãe o celular que vamos comprar para substituir o meu.

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13h12. Ouvi ontem desabafos do meu amigo da piscina e do meu amigo Marinheiro, mas por serem desabafos, vão para o Desabafos. Não me cabe expor desabafos dos outros aqui. Eu tenho o direito de me expor, mas não de expô-los. É o que me limito a dizer. A garota da noite ainda não viu ou não quis ver o seu Facebook. Acho até melhor que não veja, mas duvido que algum outro homem tenha tido a ousadia e coragem de se passar pelo que passei. Sem beber! Hahahaha. Acho que precisariam beber muito para fazer uma palhaçada daquelas. Ontem, estava tão arrependido que iria mandar uma mensagem para ela pedindo que apagasse os últimos posts da memória. Hoje, eu liguei o “dane-se”. Fiz com o coração, ficou ridículo e piegas eu sei, mas acho que tem o seu encanto. Só não sei se tem mais encanto ou ridículo.

13h44. Hoje poderia ser dia de Mario Odyssey. Se bem que estou tão antissocial que até esse programa me deixa empulhado. Estou gradativamente me fechando em mim mesmo, não sei como isso vai acabar. Mas não me parece que vá acabar bem. Um náufrago no meio da cidade, um ermitão urbanoide completo. Que destino triste, que abismo de solidão cavo com os meus próprios pés. Espero que a terapia ajude. Vai ser difícil encarar a terapia. Vou ter que quebrar um iceberg antes de começar a me soltar. Mas vou encarar. Acho que preciso. Todo ser humano precisa. Uns mais que outros. Eu mais que a maioria, por ter um modo de vida tão peculiar, por passar tanto tempo sozinho, por ser tão autocrítico, por carregar tantos complexos, pelo tão pouco que acho que sou e me torno, pelo meu conjunto de crenças. Tudo corrobora para a necessidade de um acompanhamento psicológico. Eu estou impressionado com a minha cara de pau em relação à garota da noite. Não é do meu feitio. Ou é quando se trata de assuntos do coração. Muito embora não possa me dizer apaixonado, afinal não a conheço de fato, se me apego é a uma fantasia que faço dela. Isso é equivocado. Mas ela não me dá chance para uma aproximação. Ou não houve oportunidade para isso. Sei lá. Tenho convicção que ela não tem interesse nenhum por mim. Construir um afeto a partir de uma repulsa é muito difícil. Talvez repulsa seja uma palavra muito forte. Ou talvez seja a palavra precisa. Talvez as minhas investidas ao invés de minar tal postura apenas a reforcem. Não sei. Ela foi bastante fria e distante na última comunicação, embora bastante polida, honesta e não-antipática. Quase simpática. Foi muito ponderada nas colocações, mas não me deu nenhuma brecha. Pelo contrário, tentou me dar uma cortada. Aí chutei o pau da barraca com o vídeo que ela ainda não viu. Estou deveras curioso com a sua reação e um tanto temeroso também. Foi uma atitude imprudente e arrebatada minha. Agora já foi e talvez ela nem veja mesmo. A sorte está lançada. E estou aqui a fazer tempestades em copos d’água e negar o inegável, ela não tem e não terá nenhum interesse por mim. Não vai ser um vídeo idiota que vai mudar isso. Eu já passei a minha ficha negra, me queimando completamente, para ela. Então, o que esperar mais senão o repúdio? É como jogar bosta no ventilador e depois querer perfumar a sala, não adianta de nada. O que me resta é a solidão mesmo. Gostaria de vê-la com as costas nuas acho lindo costas nuas de mulheres, desde que não obesas. Nuas e brancas então, contra uma cor de tecido preta ou vermelha é de uma beleza estupenda, o balé de ossos e músculos a cada mínimo movimento me deixa hipnotizado. Vi uma garota que estava assim, com as costas nuas no show de Lenine e todo o resto desapareceu para mim, amigos, música, só havia as costas nuas a se mexer e eu pensando que poderia muito bem ser a garota da noite, visto que o biótipo era muito semelhante. Ela deve ter costas lindas também. Que pena, que pena que o destino não vá me sorrir dessa vez. Que eu acho que será a última possibilidade real de relacionamento que terei. Real? Hahahaha. Mas que mais se aproxima da realidade, tendo em vista minhas paixões platônicas anteriores. Não considero a garota da noite uma paixão platônica, eu não estou de fato apaixonado ainda, mas, como canta Björk no álbum “Utopia”, “I literally think I am five minutes away from love”. Além do mais, com ela eu ainda travo algum contato mesmo que virtual. Mesmo que praticamente unilateral. Ainda cruzo com ela na noite. É diferente. É definitivamente mais real. Mais possível e palpável, mesmo que a aparência seja de impossibilidade, há um dado de realidade aqui. Mas sei que não dá em nada. Aposto que ela vai me dar uma cortada direta caso veja minhas últimas mensagens. Vai me dar o famoso fora nu e cru. Não sei se terei como ou se valerá a pena contornar isso, se isso de fato se der. Foi uma abordagem inusitada, pelo menos isso ela há de admitir. Não é todo mundo que se presta a um papel ridículo ou romântico desses. O único ficante dela que eu conheço jamais ousaria fazer nada nem remotamente parecido. Duvido que algum deles. Homens dos dias de hoje. Também, não precisam disso. Não são tortos como eu. Ou talvez sejam tão ou mais tortos do que eu. Eu só tenho rótulos mais sonoros negativamente. Mas todos podem ser rotulados negativamente, todos têm defeitos. Sim, vou testar o Sansar de novo, para ver se aparece algo hoje. Ah, isso eu narrei no Desabafos do Vate, não aqui. O simulador que meu irmão está desenvolvendo na empresa em que trabalha, a mesma responsável por Second Life, está com Open Beta disponível, ele me disse ontem. Instalei aqui, mas não apareceu nada. Aliás apareceu tudo até a parte de carregar. Uma vez carregado, o jogo, se posso chamar assim, este não apareceu. Vou tentar hoje para ver se funciona. Acho que meu computador é muito peba para segurar a demanda gráfica do negócio.

15h39. Está carregando. Pelo menos dessa vez apareceu uma imagem de background que antes não aparecia. Escolhi um cenário mais simples para visitar. Quem sabe não carregue... a parte que meu irmão está trabalhando também não carregou, que é a parte de editar o avatar que eu vou usar no jogo. O computador agora começou a fazer um barulho como se estivesse trabalhando bastante. É torcer. Se carregar, tento depois configurar o meu avatar.

15h44. Até agora nada. E o computador chiando aqui. Ah, se eu tivesse comprado o outro que tinha uma placa de vídeo... tudo por causa de uma configuração imbecil de teclado do Windows 10 e ignorância da minha parte.

15h47. Os ícones de interface apareceram, mas o cenário ou meu avatar ainda não. Se é que eu vejo o meu avatar ou o jogo é em primeira pessoa. O computador está penando aqui. Acho que a minha internet também é muito lenta. Vou deixar o bicho rodando para ver se vai aparecer alguma coisa até as 16h27.

15h54. Até agora, nada e acredito que de nada não passará. É jogo para pessoas do primeiro mundo que têm computadores e conexões de internet top.

16h04. Fui na parte que configura o avatar, a que meu irmão fez e nada apareceu além dos menus. Acho que isso é porque o meu computador é fraco mesmo, não acho que seja problema da internet. Vou deixar rodando até as 16h27 anyway. Mas acho que não vai dar em nada, o que é uma pena.

16h14. Minha mãe chegou da drenagem linfática ou massagem linfática, algo assim. Mostrei a ela o Sansar (ou o pouco que aparece dele). Ou seja, a tela preta e os ícones. Até os ícones para mostrar o nome quando você passa o mouse por cima ficam em câmera lenta. Imagine o gráfico mesmo. Acho que vou me decepcionar quando vir a garota da noite de novo. Ela talvez não me pareça tão bela quanto imagino/fantasio. Se bem que o que vejo em minha cabeça são suas fotos do Facebook. 16h19. Nada ainda do Sansar. Eu me lembro que achei ela muito mais bonita em movimento, existindo, do que por fotos. Nem sei quando vou encontrá-la de novo. Se é que vou encontrá-la novamente. Mas como dizem, Recife é um ovo, certamente hei de cruzar com ela numa dessas esquinas da vida. Não sei se no próximo final de semana.

16h28. Vamos ver o Sansar... e nada... fechei. Hoje estou tão reticente. Hahahaha. Acho que ela estava no show de Lenine, mas só encontrei as amigas. Também acho que ela não vai ver a minha última mensagem. Vai simplesmente desprezar a minha existência. Que posso eu fazer? Fiz o meu melhor, o que estava ao meu alcance. Perdi. Ainda há a esperança de ela não ter aberto por achar que é uma daqueles vídeos totalmente dispensáveis que as pessoas mandam para todo mundo da sua lista. Não que meu vídeo não seja dispensável, mas foi criado especialmente para ela. Me levou uma boa dose de coragem e ousadia fazê-lo. Merecia mais que o desprezo. Mas se a vida se apresenta assim, não há nada que possa fazer senão acatá-la. É o que podemos fazer com a vida, abraçar suas maravilhas e revezes, nos apropriarmos deles, se possível, guardar algum ensinamento ou memória boa e seguir em frente. Ela que não sabe o que está perdendo, não sou eu. É tão raro hoje em dia o que ofereço, mas se ela quer mais do mesmo, que seja. Pelo visto não sou eu quem vai mudar isso. Aliás, cabe a ela. Se o que quer é sexo casual, que fique no casual. Isso definitivamente não é o que ofereço. Mas o torto sou eu mesmo. Ninguém procura mais relacionamentos com substância, é a vida. E ainda há os rótulos a me prejudicar. É a vida, tenho que colher o que semeei... se eu soubesse das consequências e que elas me acompanhariam como horrendos fantasmas a assombrar os demais e as demais..., mas não sabia. Não sabia dos fantasmas e da minha crescente solidão. Não imaginei que a curatela me proporcionaria isso. O problema não é nem a solidão em si. Ela me agrada na imensa maioria do tempo. O problema é a crescente inaptidão em viver em sociedade. Isso me incomoda muito. Daqui a pouco vai me meter medo de estar com as pessoas. Como estou apreensivo, para dizer o mínimo, com essa viagem para os EUA.

18h01. Meu amigo da piscina já se comunicou comigo. Quer comer pizza. Eu disse que o acompanharia, mas não comeria porque não gosto de pizza (e não quero engordar). Disse-lhe que desço por volta das 18h30. Daqui a pouco tenho que desarmar o barraco aqui para levar.

0h26. Nossas conversas deram muito material para o meu blog privativo. Não exporei aqui porque a maioria são de cunho pessoal dele. O encontrei na pizzaria quando fui pegar copos lá para bebermos Coca, visto que os que há aqui em casa são muito pequenos. Realmente comprou pizzas. Hoje é dia de clone na pizzaria aqui da frente de casa. Estava bem mais movimentada que o normal na terça. Acho que foi uma estratégia campeã. Pena eu não gostar muito de pizza e não querer engordar. Se bem que o prato que eu botei de farofa feijão e arroz foi caprichado. A farinha da farofa já está ficando velha. Pelo menos matou a fome. Estou zonzo de sono, vou me deitar. Boa noite.

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12h04. Já acordo entediado. Pelo menos o “Utopia” me levanta o astral. A garota da noite ainda não viu as mensagens que mandei pelo Facebook. Perdi a esperança de que verá. Hoje só saio de casa para o cinema ou para uma sessão de Odyssey. Ah, tenho que sair para fazer uma caminhada até o Açude. Perder o bucho. Que pena que esse disco de Björk venha marcar uma fase não muito boa da minha vida. Queria voltar a dormir. Queria dormir muito, muito. Quero Coca. Com muito gelo. Minha mãe me chamou para almoçar, mas não tenho fome nenhuma quando acordo. E devo estar com cheiro de cigarro, o cigarro que fumei logo que levantei. Hoje promete ser um dia para lá de tedioso caso não haja intervenção do meu amigo jurista. Queria voltar a dormir. Ainda estou com sono.

12h43. Limpando o meu inbox de ofertas da Black Friday e Cyber Monday. Hoje é aniversário de dois colegas de faculdade, um deles fã de literatura, dá a entender que é um voraz devorador de livros que às vezes posta o seu realismo mágico, digamos, no Facebook. Não sei se escreve mais que isso. Deve escrever. Não sei se nos mesmo moldes, nunca li. Tudo em mim, ou quase tudo, me incomoda hoje. Do cabelo às profundezas da minha alma. Do meu cheiro às minhas frustradas aspirações românticas. Do que eu escrevo ao meu cotidiano. Tenho que mudar esse humor. Mais Coca ajudará.

13h10. Peguei mais um copo. Entrei no Facebook. Já-já saio. Vi que meu amigo de faculdade literato já publicou seus contos em papel, o que me deu um pingo de inveja. Sempre fui mal de networking e há muito não escrevo um conto. Hoje minha vida não vale nada, se alguém a viesse roubar de forma indolor, eu deixaria que levasse. Não lutaria contra. Acho que não faço mais que roubar a paz da garota da noite. E isso não se faz. Se roubasse a paz como ela me rouba para me dar um torvelinho de prazer, ainda faria sentido e foi o que tentei, mas o resultado não é esse. Então vou parar de me intrometer em sua vida para o bem dela, que é o que em última instância, quero. Em verdade, em última instância queria o nosso bem, juntos, mas em sendo isso uma impossibilidade, a deixarei em paz. Qualquer paz é boa, então sei que estarei fazendo o bem. E que faço o mal insistindo. É uma pena. Pelo menos resta a sensação de que fiz o meu melhor, fui além das minhas capacidades gravando o vídeo. Deixá-lo-ei online para o caso de ela porventura ver em algum momento e lugar do espaço-tempo. Ou guardo essa cantada? Mas guardar para quem? Não há mais ninguém. E isso me incomoda. Mas antes dela não havia ninguém. Não quero voltar às paixões platônicas. Acho que a minha sina é viver a segunda metade da minha vida sozinho. Esperar a Singularidade se essa se der e for boa e dar no pé dessa realidade limitada e abandonar a condição extraordinária de ser humano para uma condição extraordinariamente extraordinária de ser uno com a Singularidade. Até de me fundir com a Singularidade estou desmotivado para ser sincero. Estou meio down hoje. Um dia ruim não é problema. É só a dor do desprezo e da rejeição. Isso passa. E voltarei ao meu vazio emocional. Que ozzy. Minha mãe parece que cancelou ou pediu ao meu padrasto que cancelasse a compra do celular. Dos celulares. Havia encomendado um igual para ela também. Não quero ir caminhar hoje. Minha motivação esvaiu-se com a constatação de que nunca vou ter a garota da noite. Com ou sem bucho. Se bem que sem bucho, a possibilidade de uma garota que me encante se interessar por mim aumenta exponencialmente, eu creio. Estou tão gordo e isso me incomoda tanto. Aí penso nessa viagem para os EUA e fico ainda mais incomodado com a existência. Muito mais incomodado. E lá vou engordar tudo de novo. Duplamente ozzy. Só engordo se quiser? Talvez. Vamos ver. Primeiro a Coca que meu irmão comprará conterá açúcar. Posso alertá-lo para comprar Coca Zero. Mas não sinto motivação para isso. Nossa, como queria não ir para essa viagem. E como estou com medo de saber a cotação do frete do Hulk para o Brasil. Foi só eu falar que o e-mail com a resposta chegou. Vou ver. Nossa, estou torando um aço. Ufa, foi mais ou menos o mesmo preço do busto do Deadpool. Embora ela diga que esse valor flutue. Mas não deve oscilar como um tsunami. Então, estou mais tranquilo, pelo menos em relação a isso. Se eu for para os EUA não vou querer tomar Coca Zero, vou querer tomar Cherry Coke. Se não tiver no delivery aí, sim, opto pela Zero. Mamãe aparente recomprou os celulares. Mas não tem certeza disso. Eu, hein? E ainda disse que recomprou mais caro porque a promoção da Cyber Monday havia acabado. Por mim, eu ficaria com meu celular mesmo, os principais problemas dele são a falta de memória e que a bateria está acabando muito rápido. 15h18. Daqui a pouco chegará a hora que me estipulei para a caminhada. Não sei se irei. Como disse, perdi a motivação. Deixa a hora se aproximar que decido. Uma parte de mim ainda quer ir. Uma parte de mim quer deixar de ser buchuda. Uma parte de mim quer morrer. Uma parte de mim quer amar. Uma parte de mim sabe que decepções amorosas abundam no mundo. Uma parte de mim quer viver. A mesma que quer perder o bucho. Uma parte de mim quer jogar fora todos os bonecos que estão na casa do meu irmão. Menos a Red Sonja que ainda vai chegar e o Hulk, que vem para o Brasil. Todos os de polystone que tenho lá poderiam voar. E boa parte dos de PVC também. Hoje não estou cabendo bem em mim, estou desconfortável sendo eu. É uma sensação chata. Vou dar essa caminhada para desanuviar. Eu acho. 15h43.

15h46. Gostaria de poder ouvir o disco novo de Björk no iPod enquanto ando. Mas, para isso, precisaria baixar a torrent do disco. Nem dá tempo. 15h50. E não saberia o que apagar do iPod para liberar memória para o disco. Não vou procurar torrent. Posso infectar a minha máquina. Quando e se comprar o CD de Björk, salvo ele na minha máquina. Por algum motivo, esperança talvez, não vou apagar o meu vídeo cantando do YouTube. Deixa. É uma parte da minha vida da qual sinto orgulho e vergonha. Pela bravura e ousadia do meu ato, tão distante do meu eu cotidiano, advindas de um eu motivado e que não mede esforços para conquistar o objetivo de seus anseios. 16h00. Vou lá.

17h38. Por ela e apesar dela (calma ainda estou digerindo o meu desencanto porque encanto ainda há) eu fui caminhar e voltei. Achei interessante que achei outras distâncias como a da academia que eu frequentava ao CAPS que frequentava, menores. A Fundação Gilberto Freyre daqui a pouco me parecerá um local próximo. Meu fone de ouvido está com defeito, o lado esquerdo praticamente não sai som. Ozzy isso. Fone da superconceituada Apple. Me custou absurdos 35 euros. Vergonhoso. Era para durar uns 10 anos, na minha cabeça, pelo menos. Sendo da mais bem-conceituada marca do mundo. E esse defeito não é de hoje, há mais de um ano existe, mas havia sumido. A priori era um problema de mal contato, acho que agora o contato se partiu mesmo. Sei lá. Sei que lembrei do meu pai, com uma saudade peculiarmente forte, ouvindo Belle & Sebastian. Foi a única coisa musical que eu o apresentei que ele realmente, sinceramente gostou. Acho até que não foi só isso. Acho que a semente que peguei no caminho e que me remeteu direta e vividamente a Macau, pois foi o primeiro lugar em que a vi na vida, ainda muito criança, havia um pé no quintal da casa dos meus avós, foi o fio, a lembrança inicial que, com Belle & Sebastian, frutificou em memória do meu pai. Lembrei das rodadas que fazíamos, cada um escolhendo uma música, na casa dele tomando umas, eu, ele e minha madrasta. Bons tempos. Tempos que de forma definitiva não voltam mais. Meu pai se foi de volta ao nada. Suas cinzas ainda no meu armário, esperando para serem depositadas na maré em frente à casa que tem o pé da semente vermelha, onde, segundo ele, queria ser jogado quando morresse, pois dizia que ali na maré havia passado os melhores momentos de sua vida a pescar e pensar. Pois é, meu pai, ainda estou lhe devendo isso. Talvez seu outro filho consiga atender o seu pedido, visto que mamãe não confia em mim a esse ponto. E nunca vai confiar. Só depois de muita terapia, coisa que ela está evitando. Não sei bem por quê. Talvez ache que não precise. Talvez deseje continuar neurótica comigo. Bastante neurótica. Perdemos eu e ela com isso. É a vida, tenho que acatar e, assim que voltar dos EUA, começar a minha terapia. Se ela quer continuar neurótica é com ela. Eu vou buscar o meu melhor, tratar das minhas neuroses, a começar pelos efeitos colaterais da solidão como essa moderada fobia social. Não chega a ser agorafobia, mas não vou esperar que se torne para me tratar. E é tudo coisa da minha cabeça, eu sei. E é uma coisa construída ao longo de anos. Esse estar isolado do mundo. O fato de eu escrever e ver na escrita o meu refúgio mais seguro, só ajuda. Não pretendo deixar de escrever, entretanto, mas sinceramente não entendo a minha fixação e o meu afinco pela escrita. Mas é o que me mantém são. Acho que já teria surtado ou recaído não fora pelas palavras. Elas têm o seu quinhão terapêutico. Acho que grande. Penso em fazer meu próximo passeio a pé até o Marco Zero, mas talvez esteja sendo muito ambicioso na meta, mal comecei a andar. Sinceramente não sei. Acho que aguento. Ir, pelo menos. Voltar, eu voltaria de Uber. E levaria uma grana para tomar umas Coca-Colas. Teria que dar um tempo lá até a hora do rush passar. Bom, tenho até sexta para decidir. O massa seria encontrar a galera lá e de lá começar a noite de sexta. Mas acho isso difícil de acontecer. Do jeito que a turma é devagar e desencontrada. Toda vez que o telefone dá um alerta, no idiota aqui brota uma fugaz esperança de que seja ela me mandando uma mensagem. Um saco isso. Geralmente é e-mail.

19h48. Me perdi pelo Facebook. E fui à cozinha pegar Coca, acabei comendo um monte de bife à milanesa. Não havia comido nada desde que acordei. Minha mãe disse que a barriga dela é em sua maior parte líquido. Será que com a minha ocorre o mesmo? Será que se diminuir meu consumo de líquidos, leia-se Coca Zero, meu bucho pode diminuir? Vou fazer um teste amanhã. Tentar não beber Coca. E ver o que acontece na sexta de manhã. Como estará o meu peso.

20h06. Vou finalizar esse post aqui.   



Suponho que a semente saiu assim pela vibração do scanner. Curioso o efeito. Ela é bem pequena,
escaneei com 1200 dpi para ficar desse tamanho.


A prova de que estive no Açude! Hahaha.
E eu pensando que tinha botado a câmera reta. Sou um péssimo fotógrafo. Sempre fui.

Escoadouro do Açude, onde fumo o meu cigarro para voltar. Gosto do barulho da água.

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