quinta-feira, 25 de outubro de 2018

MAIS TINDER

22h00. Acho que hoje vou dormir cedo. Achei uma supergata, nível modelo mesmo, no Tinder. Tudo de bom. Dei o superlike, mas cometi o equívoco de não copiar o seu Instagram, por onde eu poderia puxar conversa com ela. Estou aqui profundamente arrependido. Se bem que quando a esmola é boa, o santo desconfia, de toda sorte, tenho que tentar. E a coincidência: ela tem o mesmo nome do anjo do Tinder.

23h08. Santo Tinder plus! Apareceu uma nova garota e eu pude apertar o botão de rewind e voltar ao perfil dela. Já a adicionei no Instagram e joguei aberto com ela, vamos ver se ela vai ver ou responder. Não acho que tenha tanta sorte, mas ela está lançada. Já tinha me esquecido da paranoia de ficar olhando o Instagram para ver se a figura visualizou a minha mensagem. Estou nessa no momento, mas vou desencucar. Só há seis por cento de bateria, então mesmo que ela quisesse não poderia bater um papo hoje.

0h06. O evento cibernético Spooktacular da Sideshow Collectibles me roubou um tempo agora, tentando faturar uma figura do Flash bem legal num sorteio. Era um que não me incomodaria ganhar. Entro em todos da Sideshow, mas nunca levei nada, não vai ser dessa vez. A bateria do celular vai acabar a qualquer momento. Acho que hoje realmente vou me retirar dentro em breve, se bem que sempre me proponho a isso e me embrenho madrugada adentro.

-x-x-x-x-

13h15. Cá estou, acordei há mais ou menos uma hora com política na cabeça. Estou cansado disso e aliviado que o pleito se dará nesse domingo.

13h22. Já fiz a minha imagem de perfil para depois da eleição.




13h23. Não acredito que Haddad vá ganhar. Se ganhar, até eu vou duvidar da lisura do processo eleitoral. Não será um alívio, pelo contrário, será a confirmação de que o sistema político é mais podre e corrupto do que eu poderia supor. E nem posso imaginar qual será a reação da população frente a um resultado contrário a Bolsonaro. A nova garota do Tinder não viu as minhas mensagens e não creio que as verá. A outra que adicionei da mesma forma, pelo Instagram, nunca me respondeu nem olhou minhas mensagens. Vou pegar Coca e fumar um cigarro.

13h45. Li uma matéria sobre o show de Sandy que acontecerá hoje à noite e uma pontada leve de arrependimento me bateu por não ter comprado o ingresso quando ainda havia relativamente perto do palco. É a vida e segue. Mergulhei um pouco na internet, tudo gira em torno da política. Botei Björk alto para ouvir. Five Years ao vivo. Era uma música que não me apetecia muito, mas, ao prestar atenção na letra, me conquistou, é uma das minhas várias prediletas hoje em dia e a versão ao vivo é bem massa. Sobre assuntos do coração, confesso que o Tinder não tem me trazido grande sucesso. Sucesso nenhum para ser honesto.

14h16. Botei café na cafeteira elétrica que ganhei da minha tia jornalista para fazer. Quero economizar Coca e, especialmente, gelo. A verdade é que não estou encontrando muita disposição para as palavras esses dias, não é desmotivação, é falta do que dizer. Seria muito mais conveniente a Bolsonaro fechar o congresso e legislar a seu bel prazer. Não imagino como terá maioria no congresso. É claro que, como ele, eu sonhe com congressistas que votem de acordo com suas convicções, consciência e vontade de seu eleitorado, sem ser necessária nenhuma barganha ou transação política. Mas acho difícil que isso se dê. Se ele conseguir, só por isso já valerá o seu papel como presidente. Acredito que seria algo realmente novo na política mundial. Seria um exemplo, mas me parece conto de fadas. Estou desconcentrado, não sei direito o que escrevo. Queria ser presidente. Tenho medo, porém, de me corromper com o poder, como mencionei em post anterior. Vou ver o café e fumar.

14h36. Estava pronto e está bom. Tenho uma xícara ao meu lado. Não sou o único que escreve na minha família, tampouco o melhor, menos ainda o mais esforçado, mas sou o que mais se dedica à palavra por ter construído tempo para isso. Não acredito que nesse caso a prática leve à perfeição, o que me aproximaria dela seria ler uma boa gramática, mas sou um escritor preguiçoso e, agora, despretensioso. Nunca serei grande, aceitei isso. Não sei como, nem tenho talento para tanto. Sei me narrar e isso me contenta, então faço. É algo como uma conversa que travo comigo mesmo, um estudo das minhas percepções e experiências. O marido de uma amiga minha, artista de verdade e completamente, disse-me artista, fiquei lisonjeado com isso, mas não mereço ser alçado a tão grande altura. Pintei um punhado de quadros e deito palavras, nada mais. Pintar, não pinto mais. Foi paixão passageira, abortada pela necessidade de minha mãe de que eu me aprimorasse e dominasse a técnica, de que não ficasse “parado”, o que roubou da pintura a sua liberdade e seu aspecto lúdico para mim. Não a culpo, entendo tudo o que se passava na sua cabeça, sei que queria o meu melhor e que se sentia angustiada em me ver sem fazer nada, pois para ela era inadmissível tal posição na vida àquele tempo. Não gosto de apontar culpados. Se fosse culpar, culparia a mim mesmo que nunca gostei de fazer nada por obrigação e sempre odiei estudar (ódio que depois se voltou ao trabalho, quando esse parou de me recompensar à altura do meu sofrimento e empenho). Por não ter que me submeter a nada disso mais, me sinto abençoado e acredito que encontrei o meu lugar no mundo. Sou um covarde preguiçoso que ama se exibir através das palavras. Talvez seja um pouco mais que isso, mas esse pouco mais me escapa agora. Mais café e cigarro. Vou à Vila Edna no domingo, acabei de confirmar, minha alma precisa disso, será bom.

15h06. O café me faz bem, me deixa mais alerta, mais esperto, com mais energia, criativa inclusive. Não que eu crie algo quando escrevo, pois em verdade não escrevo, descrevo o que me vem à cabeça. É uma coisa menor, mas, como disse reiteradas vezes, é o que me cabe e agrada fazer, é a liberdade que exerço, é a minha forma de expressão, minha satisfação egoísta e ególatra. Não tenho vergonha de ser assim, aceito, me faz bem e me ajuda a tocar o barco do que, de outra forma, seria uma existência sem sentido. Não há utilidade outra no que produzo que não a satisfação pessoal. Acho que é o que todo mundo busca, eu encontrei nessa forma de expressão que, se tem algum diferencial, é ser muito minha, muito própria visto que absolutamente subjetiva. Não pesquiso, não analiso fatos, exceto pela campanha eleitoral. Isso passará e eu permanecerei. Com minhas paixões impossíveis e meus bonecos. E as palavras, sempre as palavras, em doses bem servidas, meu eu pede por elas como alguém que sufoca precisa de ar. Respiro palavras, as vomito irresponsavelmente, despretensiosamente pois abandonei a pretensão. Ela não me cabe e não me serve. Me resignei de que os meus planos de ser publicado falharam todos. Meu texto não merece a tinta e o papel. Que seja, isso não me impedirá ou me constrangerá de produzi-lo. Não sei porque me meto às vezes a essa “metalinguagem” e não importa saber, obedeço o que vem de mim, cada impulso, cada intenção. Claro, há o superego e ele é cada vez mais o meu superego que o do meu pai ou do meu irmão. Isso me agrada sobremaneira e alivia, dá leveza, à minha vida. Tenho certamente mais defeitos que as duas figuras supramencionadas, ou pelo menos os tenho de natureza mais repudiada pelo senso comum. Danem-se todos e me atirem a primeira pedra aqueles que não possuem defeitos. Sou um sujeito incomum, isso cria uma ruptura social que me desagrada e, ao mesmo tempo, me permite me exercer de forma mais plena e minha. Eu tenho exatamente o que busquei. Nem a mais, nem a menos. Bem, talvez um pouco a mais. Mas não me culparei por esse excedente de benesses. É o que a existência me oferta e colho o que me interessa. E pouco me interessa. Tento plantar, mas não tenho mão boa para o plantio. Que seja, se é solidão o que me cabe, acatarei e subsistirei, tenho minhas palavras por companheiras, fiéis e submissas. Por falar nisso dei um like em uma garota de 26 anos BDSM, uma categoria de perversão curiosa que envolve submissão, sadomasoquismo e dominação. Ela seria a parte dominada. Tentei adicionar ao meu WhatsApp, mas não tive êxito, seu telefone está no meu celular, mas não sei se teria coragem de machucar alguém, mesmo que ela pedisse por isso. Há um lado sádico e comodista meu que adoraria ter uma “escrava voluntária”, mas não consigo ver como uma relação que fosse me trazer satisfação. Por mais que, não vou mentir, uma mulher submissa me pareça uma ideia curiosa e atraente. Tenho pensamentos e sentimentos contraditórios sobre o tema. Não gosto de dor e não entendo como alguém pode desejá-la, mas sei que há pessoas assim. Eu acho que tentaria “curar” a pessoa dessa posição, pelo menos tentar compreender o que a levou a tal condição, a desejar ser subjugada, humilhada e sofrer pequenas torturas. É um universo que desconheço inteiramente e que por estar no limiar da marginalidade, por ser tabu, me atrai. O proibido, o que foge ao padrão sempre me causou profundo interesse. Não sei por que isso se dá, coisas do id, eu acho.

15h55. O meu texto é tão simplório e pobre, meu repertório vocabular tão limitado que chego a cansar de algumas palavras que uso, uso-as apenas por falta de alternativa. E tome repetição. Também – e isso sou eu passando a mão na minha própria cabeça – escrevo muito, não há como escapar das repetições. Vivo para escrita, mesmo que redundante. É o meu bem mais precioso, minha paixão maior, espero nunca desencantar dela. Aí sim, tudo se tornará extremamente redundante. O som está alto. Acho que vou, depois do café com cigarro, botar Björk de novo e aumentá-lo ainda mais, só estou eu aqui em casa. E o máximo que posso me dar nessa condição é ouvir a música na altura que eu quiser. Não sei se é pouco isso, mas me apraz. Vou lá fumar.

16h13. Voltei e soltei um Alice In Chains no volume 30. Massa. Só falta a minha mãe chegar agora, estou me sentido amplamente livre. O bróder que recolhe o lixo aqui do prédio apareceu enquanto fumava e chamou Bolsonaro de uma coisa que não tinha ouvido ainda: “psicopata”. Achei que lhe cabia de certo modo, por mais que esteja de posse de todas as faculdades mentais. Me divertiu tal colocação. Eita, estou sem nada na cabeça para dizer. O ar está ligado, a tarde cai, penso no anjo e mandei uma mensagem para a sua homônima, pedindo que lesse as minhas mensagens. Não sei se o fará, sei que é o máximo que posso fazer.


16h24. Minha mãe chegou e me intimou a ir ao shopping com ela hoje. Um cara me alertou que a homônima do anjo é um perfil fake. O que me faz suspeitar do anjo também. Sei lá. Sou muito ingênuo em termos de internet. Voltarei a falar com o meu anjo no domingo, assim que souber quem será o novo presidente, como prometido. Ela tem curtido as minhas fotos. Todas as que publico. Não sei. Sigo acreditando por falta de crença mais sólida. Essa eu sei ser demasiado vaporosa, mas é a que tenho. Por ora. Acabei de olhar o Tinder e parei numa moça de 20 anos até jeitosa que se diz “apaixonada por Homens Mais velhos”. Vou esperar até ter superlikes de novo para mandar-lhe um. É balconista e isso não me incomoda. Quem sabe a sorte não me sorri aí? Quem sabe não é ela que vai acabar com a minha solidão? Estou criando expectativas muito altas. Melhor baixar o facho. Mas ela não é de se jogar fora. Não sei quanto tempo o Tinder vai demorar para me conceder os superlikes, mas não tirarei de seu perfil até que aconteça. Ansiedade. Sou um cara ansioso e imediatista vivendo em tempos ansiosos e imediatistas. É a era do agora ou nunca. Acho que exagero, mas também acho que a internet e a informática de forma geral trouxe esse senso de urgência e velocidade que antes não existia. Eita, já entrei na quarta página. É revisar e postar. Acompanhe o que vai se dar em relação à garota no próximo post. Como se isso lhe interessasse. Hahaha.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário