sábado, 13 de outubro de 2018

DIA DAS CRIANÇAS


15h40. O anjo se distancia de mim, sinto que a vou perdendo e não sei mais o que possa fazer, visto que faço tudo o que posso. Não sei se será o suficiente. Ela antes via as minhas mensagens com mais frequência. Bom, é não esmorecer e pensar que é um investimento de anos, mais quatro. Até a próxima eleição para presidente, se golpe não houver. Bem, vou pegar café e fumar um cigarro, pois na cabeça só tenho dois assuntos que são os mesmos de ontem. Eita, não liguei para o cara da massagem e parece que hoje é feriado. Só segunda agora. Ju vai ficar decepcionada comigo ou esperará por isso. Se bem que posso ligar antes da sessão. Tentarei fazer isso.

15h57. Quando bati o olho no anjo, em sua foto de abertura do Tinder, o encantamento foi instantâneo. Eu acredito muito nesses encantamentos instantâneos, são os mais valiosos para mim. Por isso o empenho. Por isso essa força estranha que me move e me faz continuar semeando, mesmo sem colheita. Como Ju disse, teve um grupamento de pessoas que plantava, plantava e nada dava, mas continuaram insistindo até que a terra respondeu e as sementes germinaram. Sei que a cada vez que o anjo lê as minhas mensagens, que usa seu tempo para mim, é a oportunidade de semear uma vez mais. É preciso, entretanto, respeitar o ciclo da Mãe Natureza e, por isso, tenho enviado menos mensagens, mas nunca deixando de enviá-las. Meu anjo é muito importante para mim, tenho um carinho enorme por ela, não me digo apaixonado, porque ainda falta um tanto para isso, falta mais troca, mais intimidade. Mas se estou disposto a investir quatro anos da minha vida nela é porque algum sentimento que eu não sei o nome há. Postei a foto abaixo no Instagram em homenagem ao Dia das Crianças.





16h39. Me perdi pela internet. Mas três dos cinco relacionamentos que tive, os mais apaixonados e felizes, começaram com um “é ela” ou “ah, se fosse ela” logo de cara. Por isso acredito tanto na minha história com o anjo, que ainda está no prefácio, talvez um pouco mais adiante, mas muito longe do que ainda pode ser, de onde estou mal se distingue a luz no fim do túnel. Pode ser mera ilusão, sei que no momento para ela uma relação comigo está totalmente fora de cogitação. Nem passa pela cabeça dela, é impossível, inviável e indesejado. Não sou um parceiro que figure em seus planos e estereótipos.

16h52. Me perdi novamente na Internet vendo coisas de política. Eu sei que tem coisas em que eu acredito que não se realizam. Acreditei que alguma das camisas que criei veriam a luz do dia, mas isso nunca se concretizou, achava as ideias realmente boas, mas a execução deixava a desejar e talvez aí tenha sido a minha falha, querer fazer tudo sozinho. Mas não tinha com quem contar e sempre gostei de fazer os meus projetos sozinho. Isso é limitador, eu sei, e bem sei que nisso sempre me limitei. Nunca soube fazer network, nunca soube vender o meu peixe. Nunca gostei de trabalhar em grupo, sempre tive a sensação de que eu fazia a maior parte do trabalho e era o mesmo que fazer sozinho só que sendo explorado pelos demais integrantes. A verdade é que nunca gostei de estudar. Continuo não gostando e isso me deixa mais burro, eu sei, atravanca o meu crescimento, mas nasci para me dizer, não para ler o que os outros têm a dizer. É onde me encontro e realizo. É o que me faz manter o equilíbrio desequilibrado (para os demais) da minha vida. Eu não sei se a possibilidade do anjo é real. Sei que nesse momento não é. Gostaria de imaginar que ela sente algum tipo de satisfação por ver que sempre há uma mensagem minha para ela quando abre o Instagram. Que essa presença de alguma forma que nem ela sabe identificar a faz bem, seria um sentimento que se assemelharia talvez à confiança, à fidelidade, a um porto seguro. Não sei, se se assemelhasse a isso seria extremamente positivo, acho eu. Afinal são atributos que se esperam de um companheiro.

17h50. Mas estou eu a divagar impossibilidades. Admito que tive raiva agora. Um amigo meu que há anos mora e trabalha no Canadá veio fazer piada – engraçada por sinal – sobre Haddad. Não me segurei e comentei: “Se Bolsonaro ganhar, você volta para o Brasil? Estou com saudade”. Isso me aliviou mais.

19h45. Estive com o meu amigo da piscina até agora e vi vídeos do programa de YouTube mamaefalei, o que me deixou impressionado foi como o povo pode ser manipulado facilmente, defendendo causas que não entendem, no caso, como o programa é de direita, mostrando a alienação das manadas de esquerda. Alunos que ocupam universidades, pessoas no que pareciam estar num movimento da CUT. E petistas em geral. Meu amigo da piscina disse que o protagonista desse programa foi eleito a um cargo político.

[19:51, 10/12/2018] Mário Barros: O caar foi eleito a que? O do mamaefalei? Não vi ainda o vídeo, estou escrevendo do impacto que o programa teve em mim.
[19:52, 10/12/2018] amigo da piscina: que programa?
[19:54, 10/12/2018] Mário Barros: mamafalei
[19:55, 10/12/2018] Mário Barros: O cara foi eleito a que?
[19:56, 10/12/2018] amigo da piscina: deputado
[19:57, 10/12/2018] Mário Barros: estadual ou federal, tu sabes?
[19:57, 10/12/2018] amigo da piscina: acho que fed
[19:57, 10/12/2018] amigo da piscina: mas oque te impactou ?
[19:58, 10/12/2018] Mário Barros: Ok. Valeu. Obrigado por me mostrar. Você sempre traz coisas interessantes ao meu universo particular.
[19:58, 10/12/2018] amigo da piscina: ???
[19:58, 10/12/2018] amigo da piscina: tem muito mais videos
[19:58, 10/12/2018] amigo da piscina: assiste ai e conversa com a galera
[19:59, 10/12/2018] Mário Barros: Como o povo é manipulável, é massa de manobra, ignorantes que são tangidos como uma manada.

20h01. É uma pena que não faça com eleitores de Bolsonaro. Sobre o cara ser deputado provavelmente federal? É um cara muito inteligente será um bom representante de direita e me parece ter princípios. E é jovem, não é nenhuma raposa. Me espanta é YouTube ter esse impacto midiático a ponto de eleger um deputado supostamente federal. Criei uma lista com os melhores discos do The Cure que eu acho, os que estava com mais saudade, e botei para tocar em modo aleatório; largamente satisfatório, excelente ideia. Vou fumar. Quero que mais ideias afluam.

20h16. Tive três ideia: registrar o nome de um blog caso Bolsonaro seja eleito; uma texto para o meu amigo da piscina ler; e escrever sobre armas. Cumprirei as missões nessa ordem.

20h19. Não havia o blog, agora é meu: eunaosoucristao.blogspot.com (LINK). Vou criar o primeiro post e esse ser o texto que enviarei ao meu amigo. Agora. Valendo. Eu não sou cristão mas acredito no “amar ao próximo como a si mesmo”, tento praticá-lo e falho, não reparto o meu com o próximo que tem menos, só reparto o que não me afeta abrir mão. A última coisa que reparti foram sete reais (dei dez e pedi para trazer o troco, que nunca veio) para um miserável comprar um sanduíche para comer porque, segundo ele, não havia comido o dia inteiro, que seja. Fato é que isso e assinar petições a favor de causas que acredito e reparti-las é tudo o que faço de bom no mundo. Como não sigo esse princípio basilar na sua completude, nem que fosse batizado, poderia me considerar cristão. Se abrigasse alguns mendigos aqui desde que se educassem, talvez me considerasse mais cristão. Não o faço, nem a vida me permitirá que eu faça. Vou fumar um cigarro e depois copiar o que eu acho que deveria ser a constituição de toda a nação na Terra. Com um adendo.

20h45. Procurei e não encontrei o que eu queria. Era a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Onde eu incluiria a inclusão digital como direito universal do homem. Não adianta mandar isso para o meu amigo da piscina sem a Declaração.

Meu amigo da piscina mandou um vídeo que reproduzo embaixo (se conseguir). Acho que sintetiza bem a sua posição política. É como se fosse tudo numa pílula de 32 segundos. 


21h06. Minha mãe leu o meu último post e me acho muito obcecado pelo anjo. Não sei se sei fazer de outra forma. Vou tentar. Mas o anjo sabe das condições especiais em que tive aquela viagem, mamãe não. Condições especiais que experimento agora. Meu padrasto foi ver o maamefalei e disse que o cara é do MBL (Movimento Brasil Livre de direita ultraliberal) que patrocina canais do YouTube pelo que entendi. Meu deus, o mundo é muito plural, eu vivo numa bolha muito pequena, quem expande mais a minha bolha e me faz repensar as minhas convicções é o meu amigo da piscina. Acho salutar esse questionamento. Quais eram os tópicos mesmo, sei que o segundo falhou. O post vai o que escrevi mesmo, estou sem paciência de escrever mais. Quem sabe não poste também a Novíssima Religião? Será divertido. Fá-lo-ei. Mas havia o último tema. Vou ver.

21h19. Armas. Sim há uma percepção e uma ficção. Vamos nessa ordem. A minha percepção é que não apenas a proposta de liberar o porte de arma, mas principalmente a glorificação da arma, o marketing a respeito de possuir uma arma gerou uma demanda, um desejo antes inexistente no povo brasileiro, a sensação que dá é que muitos vão querer ter uma arma e acho que geralmente quem quer as armas, o tipo de pessoa que quer comprar uma arma, é aquele que tem um desejo mesmo que enrustido de usá-la e digo mais: contra alguém. Acho que os estressados, aqueles que puxam briga no trânsito, briga de bar, têm este perfil. Adoraria estar equivocado. Vou fumar e vamos à ficção. É curtinha.

21h34. Minha tia-vizinha, meu tio, Clementine (minha primeira grande paixão platônica e a mais duradoura) e seu namorado conversam como uma família, algo que a minha ausência no seio familiar não permite aqui. Acho que minha ausência é bem-vinda ao meu padrasto e mais extensivamente ao casal, que pode viver desfrutar da “conjugalidade” de suas vidas. Eu me prefiro aqui escrevendo e ouvindo The Cure no ar condicionado, com o Hulk me velando. Vamos à ficção. Ficção: Bolsonaro libera o ataque à Rocinha para exterminar os traficantes de lá. Joga os panfletos anunciando que em seis horas vai começar a invasão. Como é uma fantasia, o êxodo o ocorre sem nenhuma intercorrência, mas os traficantes resolvem ficar lá e lutar até o fim. As forças de Bolsonaro vão avançando de exterminando os bandidos, e subindo rumo ao covil do chefe da facção. Quando lá chega há um escudo humano formado por civis, moradores da Rocinha de todas as idades e sexos, amarrados. O líder da operação em terra fala reporta a situação ao comando perguntando como proceder. O comando está sob tutela do próprio Bolsonaro que se exalta: filhos da puta! Querem me foder... Os direitos humanos vão cair em cima de mim... foda-se; não há guerra sem casualidades, sem sangue inocente derramado, eles não vão foder a minha operação, diga que a ordem é passar bala, quero todos os traficantes mortos! Só saem daí com a cabeça do chefe! Assim o fazem e matando dezenas de inocentes, limpam a Rocinha. De posse daquela informação, na próxima favela da lista, o Morro do Alemão, algo inesperado acontece, muitos dos civis não-traficantes resolvem se armar e se juntar na defesa da comunidade, gerando um massacre ainda maior. FIM.

21h51. Agora fiquei sem o que escrever.

21h55. Vou fumar para ver se me vem algo.


22h02. Só me veio um devaneio besta sobre a Singularidade Tecnológica. Por que escolhi o nome do blog “Eu não sou cristão”? Porque aquele insano disse que o Brasil não era um país laico, era um país cristão. Eu ouvi isso saindo da boca dele hoje ou ontem. Será um blog de contestação. Vamos ver se vou ter ânimo e liberdade para a empreitada uma vez que Bolsonaro assuma o poder. Pode ser que queira esmagar a oposição. Meu amigo da piscina ficou sem ter o que dizer sobre a ausência do “mito” dos debates. Ele disse que vai seguir a Constituição à risca e lá diz que o Brasil é um país laico, é uma cláusula pétrea. Sei não, viu? Espero que todo o medo se mostre em vão, pois só tenho para me defender as palavras, nada mais. Vou fumar de novo. A novidade do anjo é que não vê mais o que escrevo. Isso é triste. E já entrei na quarta página desse post vou revisar e postar.

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