segunda-feira, 12 de novembro de 2018

PORRE E ESPORRO?

Amarelo manga e grade por vir?


6h35. Amei a noite. Repleta de pessoas queridas com as quais pude interagir e me sentir enturmado, parte do grupo. Houve preocupação com a minha escolha, mas é minha e de mais ninguém. Pude desabafar de Blanka e isso me fez bem. Não acharam que a culpa era minha, mas continuo achando que a possuo. Queria que desse tudo certo e todo mês pudesse compartilhar de sua companhia. Minha mãe veio aqui, achou que bebi, o que de fato fiz, e ameaçou me internar, quando neguei a me deitar para dormir ela disse que eu “estava violento”. Foda-se. Se quiser me internar que me interne. Eu estou vivendo a minha vida e nada de mal fiz a mim. Tomei umas cervejas e me senti muito bem com isso, nem sombra de fissura em crack que é o meu problema com a bebida. Continuarei bebendo, a não ser que minha amada mãe me proíba de sair. Se proibir, é a vida e segue. Aceitarei, muito a contragosto. Não fiz mal a mim ou a ninguém. Não tive fissura de crack, acho que estou apto a tomar umas cervejas. Amar mais, sentir mais intensamente, conversar mais, ser menos bicho do mato. Minha mãe vai vir aqui de novo com um sermão mais elaborado, é o que pressinto. Não sei se aguentarei muito tempo acordado, queria muito. Mandei uma mensagem para a garota que me aceitou e que sumiu. Não sei o que deu errado, mas algo deu muito errado. Especificamente para o lado dela. É o que tudo me leva a supor. O seu desaparecimento do Tinder e a sua falta de resposta são prova evidentes de que algo deu errado. Ou que ela me despreza, sei lá. Queria saber a verdade e espero que esta não seja prejudicial a ela. Nossa, como queria isso. Sobre a bebedeira saberei amanhã e quero que isso seja público, por isso comecei um novo arquivo. Tudo o que tenho em mim é saudade de Blanka e o desejo que tudo esteja bem com ela. Mesmo que ela não me queira mais, queria ter a confirmação que sua vida segue bem e boa. Não tenho essa certeza e isso me corrói, me faz mal, me faz sentir um cara do mal. Por mais que o acaso-destino tenha sido o arquiteto, cruel, irônico e quase desonesto do possível ocorrido. Desonesto com ela eu diria. Talvez fique off-line nos finais de semana e como eu queria que fosse só isso. Não acredito que seja. Sobre a minha paquera de Maceió, que a enfermeira disse que era golpe, mas custo a crer, não creio, em verdade, espero retorno quando o tempo propício vier. São as duas que desejo, as duas que me encantam e se pudesse escolher alguma, por conveniência e afeto, escolheria Blanka, por mais que deseje ardentemente a figura de Maceió e que fosse uma aventura mais completa e excitante, na qual já há um investimento concreto. Preciso de Viagra para encarar essas garotas, seja qual das duas for. Tenho carinho e desejo por ambas, mas as duas estão incomunicáveis. Não sei o que me espera ao acordar a respeito da minha bebedeira. Queria e não terei um pouco de maturidade da minha mãe. Ameaça de internamento não combina com papo entre dois adultos, é infantil e desesperado. Não fiz nada de impudico ou equivocado, estive embriagado e a minha embriaguez me trouxe sentimentos os mais positivos, não me deu fissura de crack, razão pela qual deixei de beber por vários anos. Não faz sentido para mim, eu mudei, amadureci, melhorei, minha mãe ficou atrelada a um passado que não mais existe para mim. A bebida é um ato de celebração da vida, não a porta para uma busca autodestrutiiva que não faz mais sentido para mim. O caminho é em frente e quero ter meus momentos de embriaguez nele. São bons o torpor e o amor despertados pela bebida e não quero abrir mão desses prazeres. Minha relação com o álcool mudou, quem não mudou foi minha mãe e nem sei se vai mudar. Ela me vê como o viciado que internou pela primeira vez, mas estou muito longe disso. O tempo passou, a cabeça mudou, as prioridades e necessidades não mais existem, eu sou outro, minhas necessidades e prioridades são outras. Só não vê quem não quer e minha mãe não consegue mudar seu paradigma a meu respeito. Em verdade, no estado em que estou, tenho apenas um desejo consumista que pode esperar. A vontade que tenho, ébrio, é realizá-lo, mas não o farei, até porque quero provar a mim mesmo que mantenho o senso crítico e a minha palavra apesar de ter tomado umas e outras. Elas não me roubam de mim, até porque não bebi nem pretendo beber muito. Não quero o ridículo pelo qual várias vezes passei por causa do álcool, quero-o como um acréscimo da experiência de existir. Acho que vou comer, digitar é um tanto mais complexo e chato nessas condições, Vivi como um ser humano normal, não como um curatelado e é isso que importa. Vou comer.

8h00. Quando acordar, escrevo mais de cara.

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12h56. Dormi o domingo inteiro, só acordei para um lanche madrigal e voltei para a cama. Minha mãe já chegou e disse que quer conversar comigo. Conversa, na minha acepção da palavra, consiste numa troca em que ambos os lados se ouvem e se respeitam e tentam chegar a um entendimento. Não acho que seja o que se dará, o que se dará é um esporro que, na minha acepção, significa o vomitar unilateral, raivoso e autoritário da vontade de um alguém sobre o outro, sem o mínimo respeito pelo que a outra parte tem a dizer ou sente. Veremos. Nenhuma notícia de Blanka ou da garota de Maceió até agora. Nenhum desejo consumista, não há muita coisa a dizer para alguém que passou mais de 24 horas dormindo. Ah, hoje tem Ju.

13h13. Fui tomar um a Coca e fumar um cigarro. Confesso que me encontro indisposto com as palavras. Prefiro viver que descrever a vida nesse momento e acho que é o que vou fazer, por mais que a vida revolva esse computador por ora.

13h59. O tempo passou rápido agora e as letras do novo teclado já estão ficando apagadas o que me atrapalha tremendo, visto que ainda não tive tempo de memorizá-las. Outra coisa que me irrita é o Word apagar o acendo agudo dos verbos aos quais quero acrescentar hífen e o complemento. Mas não desativarei a autocorreção de digitação, pois ela me é extremamente útil em tudo o mais. Tive um excelente papo com o meu primo-irmão no final da saída do sábado. Expus tudo o que me trazia peso à alma. Continuaram pesando, pois seus pesos são pertinentes, não são ilusões criadas da minha cabeça. Preciso me lembrar que estou de volta ao Profeta para não escrever o que não cabe aqui.

15h07. Conversa que tive com o meu primo-irmão pelo WhatsApp enquanto a fantástica faxineira arrumava o meu quarto:

“[14:43, 11/12/2018] Mário Barros: Ei, obrigado pelo papo. Precisava botar aquilo do livro com um amigo de mente aberta e de confiança, embora tenha ficado na dúvida se sou psicótico ou não. Ainda bem que terei terapia logo mais. E receberei depois o esporro de mamãe porque bebi. Só não recebi ainda porque dormi o domingo inteiro só acordando hoje.
[14:46, 11/12/2018] Mário Barros: Você acha que me portei mal no sábado? Acho que foi tudo tranquilo. E não me vem mais fissura de crack. Só não me arrisco beber em Boa Viagem, pois era o meu ponto de consumo, tendo uma conexão afetiva negativa que não ouso enfrentar.
[14:47, 11/12/2018] Primo-irmão: Oi Mário. Também não sei. Sua companhia é um prazer. Mas veja aí a organização da sua vida, pois esqueci de dizer que sua mãe tava mandando mensagens de manhã pra mim, querendo saber se você tinha bebido e eu totalmente sem saber o que dizer
[14:50, 11/12/2018] Mário Barros: Joguei aberto com ela e continuarei jogando. Não é por causa da curatela que ela é dona de mim. Eu tenho 41 anos e alguma maturidade para fazer minhas próprias escolhas. E me gosto hoje. Não vou fazer escolhas autodestrutivas.
[14:52, 11/12/2018] Mário Barros: Não preciso sofrer mais do que já sofri. Eu não mereço e me respeito.

15h09. Hoje a terapia será repleta de novos conteúdos. Blanka, a garota de Maceió, minha saída e o vindouro esporro. Apesar de tantas coisas, não sinto culpa ou a alma com mácula. Não acho nada do que fiz equivocado, talvez precipitado, mas não equivocado. Não me trouxe problemas, não fiz querendo o meu mal nem o de ninguém. Minha medida para o certo é não prejudicar ninguém. Se minha mãe se sente prejudicada porque bebi com os amigos, ela precisa rever os seus conceitos. Sua vida seria mais tranquila se eu não bebesse, mas isso é muito cômodo para ela e desrespeitoso comigo. Ela não pode tolher a minha liberdade dessa forma. Se a minha droga de preferência fosse álcool, eu ficaria calado, pois beber implicaria em grave dano à minha vida e a dos que me cercam. Mas esse não é o caso. Nunca foi e se não foi até agora, nunca será. Meu pai era alcoolista, como chamam hoje em dia, não gostei do que vi e o vi morto no chão do banheiro por causa de álcool, e não é o que busco. Não sinto necessidade de álcool, mas ele torna as saídas mais alegres e descontraídas, eu fico menos bicho do mato e me comporto de forma mais sociável e animada. Sete anos sem beber provam que eu não sou dependente dessa droga. Sou dependente, sim, do cigarro. Completamente dependente. Desse não abro mão, ele é parte indissociável de mim. Sou dependente da cola, mas, desde a minha última recaída, ela perdeu o significado para mim. Que continue assim. E vejo que continuará, mas por precaução, nunca na minha vida irei a um armazém. Não quero despertar afetos ilusórios que minha presença em tais lugares possa fazer aparecer. Não se brinca com fogo. Aprendi isso a duras penas. Vou evacuar e partir para a terapia.

17h37. Estou de volta. A terapia foi ótima como sempre e Ju se predispôs a conversar com a minha mãe se se fizesse o caso. Estou ansioso com essa conversa que mamãe vai ter comigo, mas me sinto preparado. Espero contar dela neste post ainda. Sei que minha mãe vai vir irredutível, raivosa e autoritária, querendo retomar um controle que não tem mais sobre mim. Porque não deixarei que tenha. Ela pode me proibir de sair, mas decidi que vou tomar umas cervejas quando o fizer. Me faz bem e não prejudica ninguém, então, para mim, está tudo certo. Há outras coisas que gostaria de debater, mais bandeiras a fincar, mas não vejo possibilidade disso. Minha mãe tem um cabeça muito estreita e estrita. Bom, confesso que mais do que ansiedade, tenho medo da “conversa”. Mães não deveriam meter medo, pelo contrário, ainda mais para um cara de 41 anos, que cada vez mais se sente confortável com a idade que tem. Ela só impeditiva para as garotas que me encantam.


18h54. Tive a conversa com a minha mãe e mantive-me firme no meu propósito de tomar umas cervejas quando sair, deixei isso o mais claro que pude para ela, que redarguiu dizendo que iria perguntar à Doutora se posso beber. Eu, como conheço bem a Doutora e sei que prega ferrenhamente a abstinência completa, vai negar. Me manterei firme mesmo assim e se minha mãe quiser me enclausurar para que não beba, assim seja. Estará, por preconceito e neurose tornando a minha vida mais infeliz, mas sou capaz de suportar, suportei a internação no manicômio, hei de suportar a internação no meu quarto que é o lugar mais amado do mundo para mim. É uma pena que tenha que abrir mão da minha vida social por pensamentos arcaicos em relação a mim, a quem eu sou hoje e a como me encaro e encaro a minha vida. Bom, o tempo, movido pelas misteriosas forças do acaso-destino, há de resolver tal celeuma que nem deveria existir. Também quero pleitear a mudança da quantidade de cigarros para uma carteira diária, com uma extra para cada saída. Até porque estou fumando mais do que isso e quero reduzir. Queria pôr tudo em pratos limpos com a minha mãe, mas ela é muito fechada e tem seus preconceitos e traumas. Não nego que tem evoluído, mas sua evolução não é abrangente, são pontos fora da curva. Ainda me vê como o viciado descontrolado e autodestrutivo de anos atrás. Se sou autodestrutivo em algum aspecto é no cigarro, mas, desse, não abro mão. É o que muitas vezes me alivia da existência restrita que vivo enclausurado no quarto-ilha. Que muitas vezes é fonte de inspiração ao me dar oportunas pausas para me desgrudar do texto. Mas há muitos mais gatilhos para o cigarro, por esse sou completamente viciado e apaixonado. O texto já entrou na quarta página, vou revisar e postar.

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