14h04. Blanka (pois é, de novo ela) me agrada porque, embora
seja uma relação incomum que para os dela não pode ser revelada, é uma relação
real, bem se tornará real à medida em que houver afeto. Não sei se seremos
capazes de construir isso, não estou otimista nem pessimista, vou ver no que
vai dar. Acabei de publicar o outro post e o mesmo limitado universo de
assuntos toma a minha mente. O café me deixa mais esperto e um tanto mais
agoniado, ansioso. Vou fumar. E pegar mais café.
14h19. É uma construção estranha esse meu relacionamento com
Blanka, mas as construções de Gaudí eram estranhas e nem por isso eram menos
belas e apreciáveis. Muitos, senão todos, estranharão a diferença de idade e
deduzirão que ela não passa de uma oportunista, o que até o momento não é lá grande
desvio da realidade. Cabe a mim, com a ajuda dela, que deve estar aberta para
me acolher, mudar isso. Cabe em verdade ao tempo prová-los errados. Só o tempo
pode operar tal transformação. Só o tempo pode solidificar essa relação ou
destruí-la e me jogar no mais do mesmo que vivo. Não sei o que se dará, eu
escolhi confiar nas pessoas, é da minha índole, embora o faça hoje com a grain of salt que a experiência
acrescentou à receita de quem eu sou. Por causa disso, mantenho os pés no chão,
sonho menos, crio menos expectativas. É esperar para ver. Me darei na medida
que minha alma permitir. Espero o mesmo dela. Fato é que eu não sei como ela
enxerga essa relação. Não sei quais as expectativas dela. Talvez queira
respeitosamente me deixar o mais rápido possível e, nessa janela de tempo, eu
tenho a missão de me mostrar alguém válido e querido em sua vida: conquistá-la,
em uma palavra. Não sei se conseguirei e não estou me importando com isso
agora. Não estou me importando com muita coisa no momento. Me importa café e
cigarros. Vou saciar esses desejos.
14h48. Cada vez sei menos das coisas, da vida, das pessoas,
dos carros, das pressas que os guiam, cada vez sei menos porque escolhi não
saber, resolvi saber de mim e nisso também não sou muito bem-sucedido. Agora eu,
rosa fechada que evita desabrochar, terei que me abrir para receber uma nova
pessoa em minha vida, o despreparo é completo, farei o que me vier, não há nada
de diferente que possa fazer. Acumulei muita poeira nesses dez anos de solidão,
enferrujei e envelheci, não sei se saberei lidar com alma tão jovem, alma
feminina. Uma desconhecida praticamente. Como o sou para ela. Embora da pior
parte de mim já saiba. Sabe muito de mim, aliás. Espero que não me descarte
após o dia 22 de dezembro. Há essa possibilidade. Estou escrevendo a esmo, nem
sei direito o que digo, penso no que não posso dizer e não quero tornar esse um
post do Vate. Cada pausa desperta em mim a vontade de fumar um cigarro. Me
conterei dessa vez. Ou não, afinal a vida é uma só e deve ser vivida da forma
mais agradável possível. Ninguém entende a minha forma mais agradável de viver
e não preciso do entendimento deles. Já precisei, já dei importância indevida à
opinião alheia. Não mais. Basta o que sou se me basta o que sou. Os outros não têm
nada a ver com isso. Nem meu falecido pai, que volta e meia me assombra, tem
nada a ver com isso. O que diria a ele?
“Vê, pai: escrevo. Como disse que queria e faria e como você me alertou, sem
receber nada em troca, nenhum reconhecimento, seja o aplauso do público ou da
crítica ou o dindim no bolso. Mas vê, pai: escrevo e isso me faz pleno, me faz
ser e gostar e de ser. Se não te trago orgulho, se é vergonha o que tem do que
me tornei, guarda para ti, pois não a quero, nem preciso desse peso”. Agora é
um bom momento para fumar. E ligar o ar.
15h18. Deveria perguntar se tem Vila Edna hoje, mas não
encontro disposição para nada a não ser para me deixar aqui, no meu quarto-ilha
que agora que liguei o ar está com um clima bem mais agradável e se torna ainda
mais aprazível de ocupar. Não há nada que queira a não ser colocar a culpa no
café por esse estado. Gostaria que Blanka se comunicasse.
Minha irmã e eu no WhatsApp:
[05:36, 11/25/2018] Irmã: ❤ também
te amo, irmão querido! Depois quero saber do
teu rolo 😃
[15:30, 11/25/2018] Mário Barros: Chama-se Blanka e só nos
vimos pessoalmente uma vez, o resto foi papo pela internet. A segunda vez vai
ser no aniversário de Bia, sábado que vem. Ela tem 19 anos e a conheci no
Tinder, aplicativo de paquera. Ainda estamos no processo de ver se há ou não
química entre a gente. Ela vai pegar dois desafios pesados logo de cara,
enfrentar os Gonçalves e depois os Barros, pois vai à festa de Natal no dia 22.
Tento não criar expectativas, deixar rolar, estar aberto e me fazer afetivamente
disponível. Se houver retribuição, tanto melhor, significa que podemos, sim,
construir uma relação. Ela é uma pessoa bem legal. Vamos ver no que vai dar.
15h45. O dia passa voando, que voe. Quero falar com Blanka.
Ainda me sinto desconfortável a respeito do Superman e o café já está ofendendo
o meu estômago. Que dia morgado. Eita, hoje é domingo! Amanhã tem Ju. Amanhã é
segunda. Acho que hoje estou excessivamente desmotivado. E preciso comprar
Coca. Ter só um copo, copo e meio de Coca me deixa com um alerta no fundo da
cabeça que me chateia.
16h04. Fui fumar um cigarro com Coca e não tive coragem de
interromper o almoço do casal para pedir dinheiro para comprar Coca. O alerta
permanece, espero que minha mãe venha falar comigo antes de se deitar que acho
que seja o movimento óbvio que fará. Estou quase mandando cancelar o Superman,
só não entendo por quê. Não farei isso. É cutucar onça com vara curta. E não
vou conseguir o full refund que
imagino. Deixa estar. Eu quero ter um Superman, é um personagem que faz parte
da minha vida, um dos grandes e mais famosos personagens de todos os tempos. Certamente
um que chamará atenção dos visitantes, pois todos o conhecem, gosto de pensar
no meu quarto-ilha como um pequeno museu a ser visitado pelas pessoas que por
este apartamento passem. Gosto da ideia de repartir a minha coleção com os
demais. Acho que vou jogar Inside.
16h57. Fui interrompido por meu amigo da piscina que fez
croissants e folhados que ficaram bons, porém com gosto excessivo de trigo, na minha
opinião, e aproveitei para ir comprar as Cocas. Ele me chamou para descer mais
tarde, mas não estou nem um pouco a fim. Estou bem aqui comigo mesmo. Vou tirar
essa bermuda e botar o pijama.
17h09. Me perdi olhando fotos do Superman. E respondendo ao
meu amigo sobre os croissants, bestando na internet. Queria que Blanka me
respondesse, mas acho que só falará comigo amanhã. Acho que vou fumar outro
cigarro. A Coca acabou, preciso repor, faço as duas coisas.
17h21. Voltei completamente desligado do texto, o que pensei
foram desperdícios, prestei mais atenção nos sons da festa das amigas de
Clementine que está rolando aqui do lado. Acho que vou tentar o Inside.
19h13. A internet está muito devagar porque coloquei três
filmes para baixar. Joguei o game até uma parte muito chata e desisti. Criei um
perfil para cada um dos meninos do meu irmão já deixando o game preparado para
virar o presente de Natal deles. Estou com vontade de dormir. Nenhum sinal de
vida de Blanka. Deve estar de saco cheio de mim.
20h05. Meu amigo da piscina me pediu cigarros. Acho que se
Blanka for falar comigo será só tarde da noite, pois tem uma festa dos amigos
para ir hoje. Será difícil cativar aquele coração. Não sei nem se possível. Vou
tentar o meu melhor. Se não for suficiente, a vida, carregada pelo tempo,
continuará passando. E a solidão reinará de novo em minha vida. Mas não devo
ser tão pessimista. Eu não sou um lixo, sou apenas inútil. E gordo e velho. Sou
impulsivo. Dizem que sou legal e me acho carinhoso. Amanhã vou ter que fazer
exame de sangue. Não posso esquecer. Pelo menos Blanka me faz esquecer os
indevidos platonismos. Embora ache que ela me vê com frieza emocional completa,
com o distanciamento com que trata os demais.
20h25. Passei um bom tempo de olhos fechados alisando a
testa e a franja e pensando sobre quase nada. Queria tirar um cochilo. Eu acho
que vou.
0h04. Não tirei cochilo nenhum. Fiquei a zanzar pelo
fantástico mundo dos bonecos. Perguntei sobre o tamanho do queixo e do nariz do
Superman no grupo dos fãs da Sideshow e a maioria não viu problema, o que me
deixou mais confiante na minha aquisição. Pretendo torrar o resto do meu
dinheiro do Paypal em uma última aquisição que substitui à altura o Azure
Dragon, é mais barato e diz muito sobre mim. Ficará interessante ao lado do
Hulk. Estou esperando resposta dos fabricantes para fechar negócio, se
possível. Se responderem. Eu sinto que desisti do Azure Dragon. É uma peça
fabulosa, muito rica e bem característica da cultura chinesa, mas, por algum
motivo desgostei dele. Não é que tenha desgostado, mas essa outra peça é bem
mais impactante e reflete como sou, que penso com o coração. Pelo menos é assim
que me vejo. É uma peça única, diferente de tudo o que tenho.
1h01. Minha mãe não tem jeito mesmo. Está muito esquecida.
Eu disse a ela que Rebel Terminator seria lançada antes e que isso acarretaria
três meses de sobretaxa fora a parcela final de envio em fevereiro. E que daí
não haveria mais nada. Zero. Mas ela não lembra das coisas que digo e fica
enfurecida quando vê ou quando lhe conto de novo. E eu levo o mesmo esporro
duas, três, quatro vezes. É desgastante. Mas tenho que entender que é a idade e
que vai ser assim daqui por diante. Pelo menos não depois de fevereiro, quando
acabar de pagar a bendita boneca, o estresse com cartão vai acabar. Até lá será
um esporro todo mês. Eita porra! Esqueci de contar que comprei a art print da Mystique para fazer par com
a que tenho aqui da Spider Woman, uma de cada lado do quarto, possuem o mesmo
estilo visual. Usei meus pontos da Sideshow e paguei senão metade, quase metade
do valor, mas virão duas parcelas de valor muito menor que os da Rebel
Terminator. Ela vai me engolir por causa disso. Nossa, como pude esquecer?
Devia ter pedido a ela antes. Me fodi. Bom, em fevereiro acaba, graças. Minha
coleção estará completa. Falta eu negociar com o cara da peça final, a
substituta da Azure Dragon, que será inusitada e para muitos até repulsiva.
Acho que ele não vai concordar. Mas quem arrisca não petisca.
-x-x-x-x-
12h50. Não recebi comunicação do cara da peça final e estou
com pena do cara da Gantaku que tanto se esforçou por mim. Também tenho vontade
de cancelar o Superman. Não sei o que fazer. O esporro de mamãe e os esporros
subsequentes a cada nova parcela com sobretaxa da Rebel Terminator me
incomodam. Ainda bem que em fevereiro acaba. O tempo é senhor de todas as
coisas.
14h56. Voltei do exame de sangue.
18h06. Voltei da terapia. No interregno entre uma coisa e
outra falei com Blanka, que me contou as novidades e me deixou feliz com a
atenção. Na terapia, falei muito dela, que minhas expectativas oscilam e que
estou mantendo os meus pés no chão. Falei que percebi mamãe mais agressiva,
talvez pela alteração do medicamento, mas que eu estava bem por ela se sentir
melhor, segundo me confidenciou. Isso faz bem para mim. Falei das festas às
quais irei com Blanka...
22h53. Estou na casa da minha tia-mãe, minha mãe me trouxe.
A internet está uma sofreguidão pois estou muito distante da base. Mandei uma
mensagem de WhatsApp para mamãe dizendo as coisas em que me lembro que gastei
dinheiro sem avisá-la. Não sei se esqueci algo, pois não lembro o que podia
pagar com cartão e com PayPal. Vou revisar e postar isso, já está muito grande.
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