terça-feira, 27 de novembro de 2018

BLANKA, DÚVIDAS E DÍVIDAS


14h04. Blanka (pois é, de novo ela) me agrada porque, embora seja uma relação incomum que para os dela não pode ser revelada, é uma relação real, bem se tornará real à medida em que houver afeto. Não sei se seremos capazes de construir isso, não estou otimista nem pessimista, vou ver no que vai dar. Acabei de publicar o outro post e o mesmo limitado universo de assuntos toma a minha mente. O café me deixa mais esperto e um tanto mais agoniado, ansioso. Vou fumar. E pegar mais café.

14h19. É uma construção estranha esse meu relacionamento com Blanka, mas as construções de Gaudí eram estranhas e nem por isso eram menos belas e apreciáveis. Muitos, senão todos, estranharão a diferença de idade e deduzirão que ela não passa de uma oportunista, o que até o momento não é lá grande desvio da realidade. Cabe a mim, com a ajuda dela, que deve estar aberta para me acolher, mudar isso. Cabe em verdade ao tempo prová-los errados. Só o tempo pode operar tal transformação. Só o tempo pode solidificar essa relação ou destruí-la e me jogar no mais do mesmo que vivo. Não sei o que se dará, eu escolhi confiar nas pessoas, é da minha índole, embora o faça hoje com a grain of salt que a experiência acrescentou à receita de quem eu sou. Por causa disso, mantenho os pés no chão, sonho menos, crio menos expectativas. É esperar para ver. Me darei na medida que minha alma permitir. Espero o mesmo dela. Fato é que eu não sei como ela enxerga essa relação. Não sei quais as expectativas dela. Talvez queira respeitosamente me deixar o mais rápido possível e, nessa janela de tempo, eu tenho a missão de me mostrar alguém válido e querido em sua vida: conquistá-la, em uma palavra. Não sei se conseguirei e não estou me importando com isso agora. Não estou me importando com muita coisa no momento. Me importa café e cigarros. Vou saciar esses desejos.

14h48. Cada vez sei menos das coisas, da vida, das pessoas, dos carros, das pressas que os guiam, cada vez sei menos porque escolhi não saber, resolvi saber de mim e nisso também não sou muito bem-sucedido. Agora eu, rosa fechada que evita desabrochar, terei que me abrir para receber uma nova pessoa em minha vida, o despreparo é completo, farei o que me vier, não há nada de diferente que possa fazer. Acumulei muita poeira nesses dez anos de solidão, enferrujei e envelheci, não sei se saberei lidar com alma tão jovem, alma feminina. Uma desconhecida praticamente. Como o sou para ela. Embora da pior parte de mim já saiba. Sabe muito de mim, aliás. Espero que não me descarte após o dia 22 de dezembro. Há essa possibilidade. Estou escrevendo a esmo, nem sei direito o que digo, penso no que não posso dizer e não quero tornar esse um post do Vate. Cada pausa desperta em mim a vontade de fumar um cigarro. Me conterei dessa vez. Ou não, afinal a vida é uma só e deve ser vivida da forma mais agradável possível. Ninguém entende a minha forma mais agradável de viver e não preciso do entendimento deles. Já precisei, já dei importância indevida à opinião alheia. Não mais. Basta o que sou se me basta o que sou. Os outros não têm nada a ver com isso. Nem meu falecido pai, que volta e meia me assombra, tem nada a ver com isso.  O que diria a ele? “Vê, pai: escrevo. Como disse que queria e faria e como você me alertou, sem receber nada em troca, nenhum reconhecimento, seja o aplauso do público ou da crítica ou o dindim no bolso. Mas vê, pai: escrevo e isso me faz pleno, me faz ser e gostar e de ser. Se não te trago orgulho, se é vergonha o que tem do que me tornei, guarda para ti, pois não a quero, nem preciso desse peso”. Agora é um bom momento para fumar. E ligar o ar.

15h18. Deveria perguntar se tem Vila Edna hoje, mas não encontro disposição para nada a não ser para me deixar aqui, no meu quarto-ilha que agora que liguei o ar está com um clima bem mais agradável e se torna ainda mais aprazível de ocupar. Não há nada que queira a não ser colocar a culpa no café por esse estado. Gostaria que Blanka se comunicasse.

Minha irmã e eu no WhatsApp:

[05:36, 11/25/2018] Irmã: também te amo, irmão querido! Depois quero saber do teu rolo 😃
[15:30, 11/25/2018] Mário Barros: Chama-se Blanka e só nos vimos pessoalmente uma vez, o resto foi papo pela internet. A segunda vez vai ser no aniversário de Bia, sábado que vem. Ela tem 19 anos e a conheci no Tinder, aplicativo de paquera. Ainda estamos no processo de ver se há ou não química entre a gente. Ela vai pegar dois desafios pesados logo de cara, enfrentar os Gonçalves e depois os Barros, pois vai à festa de Natal no dia 22. Tento não criar expectativas, deixar rolar, estar aberto e me fazer afetivamente disponível. Se houver retribuição, tanto melhor, significa que podemos, sim, construir uma relação. Ela é uma pessoa bem legal. Vamos ver no que vai dar.

15h45. O dia passa voando, que voe. Quero falar com Blanka. Ainda me sinto desconfortável a respeito do Superman e o café já está ofendendo o meu estômago. Que dia morgado. Eita, hoje é domingo! Amanhã tem Ju. Amanhã é segunda. Acho que hoje estou excessivamente desmotivado. E preciso comprar Coca. Ter só um copo, copo e meio de Coca me deixa com um alerta no fundo da cabeça que me chateia.

16h04. Fui fumar um cigarro com Coca e não tive coragem de interromper o almoço do casal para pedir dinheiro para comprar Coca. O alerta permanece, espero que minha mãe venha falar comigo antes de se deitar que acho que seja o movimento óbvio que fará. Estou quase mandando cancelar o Superman, só não entendo por quê. Não farei isso. É cutucar onça com vara curta. E não vou conseguir o full refund que imagino. Deixa estar. Eu quero ter um Superman, é um personagem que faz parte da minha vida, um dos grandes e mais famosos personagens de todos os tempos. Certamente um que chamará atenção dos visitantes, pois todos o conhecem, gosto de pensar no meu quarto-ilha como um pequeno museu a ser visitado pelas pessoas que por este apartamento passem. Gosto da ideia de repartir a minha coleção com os demais. Acho que vou jogar Inside.

16h57. Fui interrompido por meu amigo da piscina que fez croissants e folhados que ficaram bons, porém com gosto excessivo de trigo, na minha opinião, e aproveitei para ir comprar as Cocas. Ele me chamou para descer mais tarde, mas não estou nem um pouco a fim. Estou bem aqui comigo mesmo. Vou tirar essa bermuda e botar o pijama.

17h09. Me perdi olhando fotos do Superman. E respondendo ao meu amigo sobre os croissants, bestando na internet. Queria que Blanka me respondesse, mas acho que só falará comigo amanhã. Acho que vou fumar outro cigarro. A Coca acabou, preciso repor, faço as duas coisas.

17h21. Voltei completamente desligado do texto, o que pensei foram desperdícios, prestei mais atenção nos sons da festa das amigas de Clementine que está rolando aqui do lado. Acho que vou tentar o Inside.

19h13. A internet está muito devagar porque coloquei três filmes para baixar. Joguei o game até uma parte muito chata e desisti. Criei um perfil para cada um dos meninos do meu irmão já deixando o game preparado para virar o presente de Natal deles. Estou com vontade de dormir. Nenhum sinal de vida de Blanka. Deve estar de saco cheio de mim.

20h05. Meu amigo da piscina me pediu cigarros. Acho que se Blanka for falar comigo será só tarde da noite, pois tem uma festa dos amigos para ir hoje. Será difícil cativar aquele coração. Não sei nem se possível. Vou tentar o meu melhor. Se não for suficiente, a vida, carregada pelo tempo, continuará passando. E a solidão reinará de novo em minha vida. Mas não devo ser tão pessimista. Eu não sou um lixo, sou apenas inútil. E gordo e velho. Sou impulsivo. Dizem que sou legal e me acho carinhoso. Amanhã vou ter que fazer exame de sangue. Não posso esquecer. Pelo menos Blanka me faz esquecer os indevidos platonismos. Embora ache que ela me vê com frieza emocional completa, com o distanciamento com que trata os demais.

20h25. Passei um bom tempo de olhos fechados alisando a testa e a franja e pensando sobre quase nada. Queria tirar um cochilo. Eu acho que vou.

0h04. Não tirei cochilo nenhum. Fiquei a zanzar pelo fantástico mundo dos bonecos. Perguntei sobre o tamanho do queixo e do nariz do Superman no grupo dos fãs da Sideshow e a maioria não viu problema, o que me deixou mais confiante na minha aquisição. Pretendo torrar o resto do meu dinheiro do Paypal em uma última aquisição que substitui à altura o Azure Dragon, é mais barato e diz muito sobre mim. Ficará interessante ao lado do Hulk. Estou esperando resposta dos fabricantes para fechar negócio, se possível. Se responderem. Eu sinto que desisti do Azure Dragon. É uma peça fabulosa, muito rica e bem característica da cultura chinesa, mas, por algum motivo desgostei dele. Não é que tenha desgostado, mas essa outra peça é bem mais impactante e reflete como sou, que penso com o coração. Pelo menos é assim que me vejo. É uma peça única, diferente de tudo o que tenho.

1h01. Minha mãe não tem jeito mesmo. Está muito esquecida. Eu disse a ela que Rebel Terminator seria lançada antes e que isso acarretaria três meses de sobretaxa fora a parcela final de envio em fevereiro. E que daí não haveria mais nada. Zero. Mas ela não lembra das coisas que digo e fica enfurecida quando vê ou quando lhe conto de novo. E eu levo o mesmo esporro duas, três, quatro vezes. É desgastante. Mas tenho que entender que é a idade e que vai ser assim daqui por diante. Pelo menos não depois de fevereiro, quando acabar de pagar a bendita boneca, o estresse com cartão vai acabar. Até lá será um esporro todo mês. Eita porra! Esqueci de contar que comprei a art print da Mystique para fazer par com a que tenho aqui da Spider Woman, uma de cada lado do quarto, possuem o mesmo estilo visual. Usei meus pontos da Sideshow e paguei senão metade, quase metade do valor, mas virão duas parcelas de valor muito menor que os da Rebel Terminator. Ela vai me engolir por causa disso. Nossa, como pude esquecer? Devia ter pedido a ela antes. Me fodi. Bom, em fevereiro acaba, graças. Minha coleção estará completa. Falta eu negociar com o cara da peça final, a substituta da Azure Dragon, que será inusitada e para muitos até repulsiva. Acho que ele não vai concordar. Mas quem arrisca não petisca.

-x-x-x-x-

12h50. Não recebi comunicação do cara da peça final e estou com pena do cara da Gantaku que tanto se esforçou por mim. Também tenho vontade de cancelar o Superman. Não sei o que fazer. O esporro de mamãe e os esporros subsequentes a cada nova parcela com sobretaxa da Rebel Terminator me incomodam. Ainda bem que em fevereiro acaba. O tempo é senhor de todas as coisas.

14h56. Voltei do exame de sangue.

18h06. Voltei da terapia. No interregno entre uma coisa e outra falei com Blanka, que me contou as novidades e me deixou feliz com a atenção. Na terapia, falei muito dela, que minhas expectativas oscilam e que estou mantendo os meus pés no chão. Falei que percebi mamãe mais agressiva, talvez pela alteração do medicamento, mas que eu estava bem por ela se sentir melhor, segundo me confidenciou. Isso faz bem para mim. Falei das festas às quais irei com Blanka...

22h53. Estou na casa da minha tia-mãe, minha mãe me trouxe. A internet está uma sofreguidão pois estou muito distante da base. Mandei uma mensagem de WhatsApp para mamãe dizendo as coisas em que me lembro que gastei dinheiro sem avisá-la. Não sei se esqueci algo, pois não lembro o que podia pagar com cartão e com PayPal. Vou revisar e postar isso, já está muito grande.    

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