19h59. Meu amigo da piscina está completamente convertido ao
“bolsonarismo”. Diz que o povo anseia por isso. Saiu enumerando todos os
defeitos dos demais candidatos, invalidando-os um a um. Elencou momentos
históricos que provavam a honestidade de Bolsonaro. E a corrupção de todos os
demais membros do congresso. Falou de um movimento mundial socialista que visa
a destruição da família e com isso ampliar o poder e abrangência do Estado.
Falou sobre a possibilidade de guerra entre o Brasil “bolsonarista” e países
fronteiriços “socialistas”. Que o plano dos comunistas, que na visão dele está
se concretizando, sempre foi tornar as Américas do Sul e Central num grande
bloco socialista e disso decorrer uma guerra com os Estados Unidos. Falou que
Bolsonaro pretende impor o modelo de colégio militar a todas as instituições de
ensino (públicas, imagino). Disse ser surreal explicar igualdade de gêneros e
qualquer outro assunto tratado no famigerado “kit gay” a crianças de seis anos
de idade. Disse que na Suíça, se bem me recordo, toda família tem em casa um
fuzil. Para ele, Bolsonaro é o único candidato à presidência que não tem rabo
preso com ninguém e que ter colocado um general com vice-presidente ajudará no
aparelhamento e militarização do país. Vi muita sinceridade, fé e reflexão em
seus julgamentos, de sua forma, com os seus valores, é um voto embasado e
consciente. Ele é realmente ótimo de papo e sua conversa é muito persuasiva.
Fala com o coração. Enunciou várias vezes que a sociedade não aguenta mais a
situação de corrupção do país e que isso irá nos tornar uma nova Venezuela,
especialmente caso o PT chegue uma vez mais ao poder. Perguntei-lhe se
acreditava que os brasileiros chegariam um dia ao nível de civilidade dos europeus
e disse que não. Que nosso histórico cultural, desde os primórdios da
colonização portuguesa foi a de que tudo tem o preço, tudo é negociável,
comprável. Que um dos reis pagou a um país para liberar uma parte dominada do
território (ele supõe que o Rio de Janeiro capturado por holandeses, mas não
tem certeza). Enfim, falamos muito de política e Bolsonaro. Mas não só disso.
Concluí dessa conversa toda que as escolas públicas são a principal ferramenta
de catequização e formação de opinião alinhada com o pensamento do Governo. Se
usadas tendenciosamente dessa forma. Tanto o “kit gay” quanto o militarismo são
formas de incutir o pensamento e o modo de agir do Estado nas novas gerações.
Meu amigo acha que sexualidade deveria ser um assunto a ser debatido no âmbito
da família, dentro do núcleo familiar, e não ensinado em escolas. A não ser a
parte fisiológica. Estou muito cansado para escrever ou fazer quaisquer outras
coisas. Vou comer e dormir. Amanhã escrevo mais sobre esse sempre fecundo
encontro com o meu amigo da piscina. Ele é uma pessoa com opiniões fortes que
me dão sempre muito o que pensar. Sou grato por isso. É um prazer compartilhar
de sua presença. O papo flui. Muito mais por causa dele do que de mim. Boa
noite.
-x-x-x-x-
15h11. Estou a meditar sobre ter dito o que disse à minha
amiga diretora sobre perder suas amizades (dela e da minha amiga psicóloga) por
conta do conteúdo do livro. Será que preferirá ou odiará barbas? Não sei por que
o silêncio dela desde então.
15h15. Estou com um desconforto físico que não saberia
definir. Tomei quatro xícaras de café desde que acordei e fumei quatro
cigarros, sei que é disso que decorre tal desconforto, pois não pode decorrer
de mais nada, pois nada fiz ou ingeri desde que acordei. Não me agrada me sentir
assim. E por algum princípio masoquista irei tomar mais uma xícara de café e
fumar mais um cigarro. Por quê? Porque posso e desejo. Preferiria Coca, mas não
disponho no momento.
15h26. Tomei, fumei e coloquei mais uma xícara para me
acompanhar na escrita. Por alguma razão inexplicável me sinto melhor. A minha
fisiologia é curiosa. Não a compreendo ou a respeito. Voltando à noite de
ontem, meu amigo da piscina e eu conversamos sobre toda a evolução tecnológica
que acompanhamos. Eu sugeri que, como não poderíamos imaginar o que decorreu
tecnologicamente desde que éramos crianças como, por exemplo, como do Atari
chegamos a uma PS4 Pro, não somos capazes de prever onde estaremos daqui a 15
anos. O que me vez intuir que, com o desenvolvimento das tecnologias de
realidade virtual, a princípio muito caras e grandes para serem aparelhos
domésticos, veremos o ressurgimento dos “fliperamas”, amplos locais dedicados a
entretenimento dessa natureza, pagos, obviamente. O renascimento dos fliperamas
nesses novos moldes é a profecia que deixo hoje aqui para o leitor.
15h34. Enquanto lá embaixo ontem, meu amigo da piscina, que
se admitiu um dependente do celular (o que me fez constatar que sou
extremamente dependente do meu computador, que canalizei a minha adição por
drogas para o uso desta maravilhosa máquina), recebeu uma meme do famoso, segundo ele, “negão do zap”. Ficou abismado que eu
nunca houvesse ouvido falar ou recebido a impressionante imagem pelo
aplicativo. Pedi que me mandasse a tal foto, mas não chegou, pois era uma meme mais elaborada, que necessitava de
um código, então só conseguiu me enviar a parte da bela moça que serve de
chamariz para que o incauto bote o código e se depare com a foto do “negão do
zap”. Sobre o “negão do zap” devo confessar que foi a única imagem que me fez
contente em ter um pau pequeno, não o trocaria pela aberração que a evolução
pregou nesse ser humano, que nem sei se é real ou Photoshop devido ao tamanho,
dando-lhe um pênis com mais de 50 cm, grosso como um braço. Uma imagem nada
agradável, devo acrescentar.
15h47. Meu amigo estava com o braço e o dedão do pé
enfaixados e imobilizados devido ao jiu-jitsu que começou a praticar e já se
diz apaixonado pelo esporte, do qual fez grande propaganda para que eu
ingressasse. E emendou dizendo que toda escola deveria oferecer desde a mais
tenra idade aulas de algum tipo de luta para que os cidadãos saibam se defender
em situações de perigo ou ameaça. Para ele, as escolas deveriam ter um dia
dedicado aos estudos “intelectuais” digamos e outro dedicado ao cuidado e
desenvolvimento do corpo e assim sucessivamente. Como disse, ele pensa na
sociedade muito mais do que eu. E não teme defender as ideias muito próprias
dele. Eu fiquei a imaginar um filme de ação e luta ambientado numa sociedade
como a proposta por ele onde todos sabem lutar e começamos a extrapolar as
situações até chegarmos a um quebra-pau generalizado num jogo de futebol,
quando caímos na gargalhada. Fui adiante e imaginei que em vez de um jogo de
futebol, numa sociedade com esta o que se assistiria em estádios seriam lutas
entre os melhores. E que o protagonista (esse seria o clímax do filme, que não
poderia ser mais clichê), enfrentado dezenas de torcedores no completo caos que
tomou a plateia, em busca da irmã da qual se perdeu no tumulto, vai deixando um
rastro de pessoas inconscientes e a sua desesperada busca o leva à beira do
gramado onde o torneio se dá e onde deixa sua irmã a salvo. Seu prodigioso
feito, acompanhado pelos olhos de águia do atual campeão, que acaba de matar o
deslealmente o mestre da escola onde o rapaz estudou, convida o nosso herói para
uma luta no ringue. A luta final do filme que obviamente o protagonista com
sobrehumano esforço ganha.
18h51. Acabei de voltar do supermercado. Pelo menos refiz o
meu estoque de Coca Zero e Bono de morango. Fiquei aliviado pois o meu primo
pegou um plantão no sábado, então não terei com quem sair nos finais de semana
por um bom pedaço. É assim que me sinto, confortável com o meu isolamento.
Pensei em chamar o meu amigo da piscina para descermos hoje, mas algo me faz
ficar grudado aqui nessa cadeira. Vou perguntar, hoje tenho Coca e gelo para
levar. Escrevi o convite, mas não postei. Algo me impede. Indecisão se quero ou
não tal interação. Acho que preciso acabar este post antes.
19h00. Mandei uma mensagem dizendo que desceria quando
acabasse de escrever isto. Vamos ver o que ele responde, se responder. Pode nem
estar aqui. Perguntei se a minha amiga diretora está chateada comigo. Não sei
precisar a razão, mas tenho a intuição que o que lhe disse de alguma forma a
magoou. Vou pegar mais Coca com muito gelo, que delícia da existência. Obrigado
realidade por se organizar dessa forma, é certo que tive que agir para que isso
acontecesse, mas tudo se dá numa complexa cadeia de interações da qual eu sou
uma mínima parte.
19h12. Meu amigo disse que descerá, mas não se demorará
muito. Minha amiga diretora disse que não estava chateada comigo nem a pau e
que queria aprofundar as questões levantadas na nossa conversa. Queria poder
dizer do que se trata, mas não posso revelar a ninguém. Muito menos a ela.
Estou ouvindo Britney Spears nas alturas. Mamãe não reclamou. Ainda. Depois das
duas de Britney não sei o que virá na lista 6. É bom ouvir música alta, que eu
goste, claro. Por incrível que pareça, essas duas músicas de Britney me agradam
sobremaneira. Gosto da voz dela doce e sussurrada... minha mãe gritou a plenos
pulmões para ser ouvida e me mandou baixar o som. Hahaha. Desculpe rir, mas a
situação é peculiar para mim, nunca ouso botar música dessa altura em casa
quando ela e meu padrasto estão, ademais com a porta aberta. Sabia que a
represália viria, mas resolvi arriscar mesmo assim. Ciranda da Bailarina na lista 6 depois de Britney. O que será que o
meu amigo da piscina achará do texto de hoje? Será que sentirá que suas ideias
foram fidedignamente apresentadas aqui? Gosto do jogo de compra e venda do
eBay. Um boneco que havia colocado em leilão, findou seu tempo sem receber
nenhum lance. O que foi ruim e bom. Ruim, pois não o vendi e bom porque acabou
quando um cara resolveu colocar o mesmo item em leilão por um valor demasiado
baixo, desvalorizando a figura aos olhos dos compradores. Esperarei pelo menos
quinze dias para colocá-la de volta online. Mas esse papo é mais chato ainda
que o resto que o cerca. Obviamente estou acompanhando esse leilão para aferir o
quanto estão dispostos a pagar pela estátua. Mas nunca a colocarei à venda ou
em leilão por menos do que paguei. É um item exclusivo com baixa numeração. O
celular vibra no meu bolso, vou ver o que é. É a moça de perfil fake do Tinder
que entrou no aplicativo dessa forma para testar o companheiro, este não passou
no teste e entendo que acabaram o relacionamento. Desde então conversamos
esporadicamente. Curioso isso. Ela acredita na lei do retorno. Eu acredito que
o mundo é muitas vezes injusto e cruel mesmo e pronto. Estou curioso para ver o
que ela disse e vou matar a minha curiosidade agora. Acho que ela me avisou que
iria sair do Tinder ou me “desgostar” no aplicativo, pois não tenho mais acesso
as mensagens dela. Bom, foi uma experiência cibernético-social interessante.
Nenhuma das que curti me curtiu de volta e não recebi nenhum “superlike” até o
momento, o que me permitiria saber que alguém que não curti me curtiu. Acho que
não mereço superlikes, também tirei uma foto sem camisa mostrando o meu bucho,
para não deixar dúvidas da minha compleição física e me disse um aposentado de
41 anos. Descobri uma nova tendência entre as mulheres jovens (ou seria uma
velha tendência trazida para o meio virtual?): são as “sugar babies” mulheres
jovens que querem um homem que banque tudo para elas. Ou seja, querem ser
dondocas donas de casa como a esposa do Temer, que seria o exemplo mais
ilustrativo e notório de “sugar baby”. O que deveria significar “açúcar” em
inglês assume vários significados mais significativos se virmos a palavra como
o verbo “sugar” em português. Hahaha. Acabou a terceira página. Bem a tempo de
revisar postar e descer para encontrar com o meu amigo. Como foto para esse
post vai o que desejo que seja a minha última compra até a próxima SDCC. Azure
Dragon.