17h29. Acho que faltou luz de ontem para hoje, pois perdi um
trecho que me lembro vivamente de ter escrito no meu blog. Diz respeito à
seguinte placa que vi na piscina do meu condomínio, uma atualização da placa
antiga, com ainda mais normas (esdrúxulas).
Você não sabe como essa placa me enerva e como eu vejo que o
cerceamento de liberdades individuais aumentou nos últimos 25 anos, não apenas
no mundão, mas no mundinho do meu condomínio. Lembro que há duas décadas, os
moradores velhos e jovens, nas animadas festas de réveillon que aconteciam
aqui, tomavam banho de piscina de madrugada e consumiam suas cervejas e outros
à beira da piscina nos finais de semana sem que isso causasse o mínimo problema
ou constrangimento a ninguém. Agora querem regular tudo, como se privar os
condôminos do uso do seu patrimônio fosse fazer uma bem maior à comunidade.
Ainda encheram a área da piscina com câmeras para vigiar os próprios moradores.
Acho isso o cúmulo. Bem, sou um velho dinossauro agora, ou como diria um dos ilustres
moradores daqui e aqui até hoje, sou um “lobo existencial”. Queria gritar aqui
a minha queixa já que ela não encontra eco fora do meu blog. Aposto que todos
hoje achem pertinente a proibição de usar churrasqueiras de menor porte na área
comum do condomínio, uma regra que não vejo o mínimo sentido de existir.
Acredito que essa mania de cagar regras só desmotive os jovens, principais
usuários da área da piscina, a se utilizar dela. Em vez de tornar o local
convidativo e lúdico, parece que visam torná-lo inóspito. Vade retro. Vou jogar Mario Odyssey, que está numa parte muito
próxima do final e particularmente desafiadora (leia-se chata). Antes, preciso
relembrar uma frase que minha mãe me disse e que me calou fundo, depois de
insistir sem sucesso que eu almoçasse mesmo estando sem fome, ela soltou, “me
desculpe, esqueci que você tem 40 anos”. A frase me desceu quadrada não sei bem
por quê. É um fato que eu tenho 40 anos e que ela deveria interferir menos na
minha vida, respeitar os meus maneirismos, assim como eu respeito os dela, mas
ela falou no tom de você é quem sabe de você, eu cansei, dane-se. Tal postura,
se se mostrasse verdadeira, deveria me trazer grande alívio, mas vejo que estou
tão acostumado a ser tratado como criança que fiquei um tanto desolado. Sei,
entretanto, que ela não vai conseguir mudar o seu jeito de ser. Seria muito
estranho se isso se desse. Me sentiria ainda mais só do que me sinto, eu acho.
Não sei. Penso que talvez a forma como mamãe me trate e a minha aquiescência a
respeito dela me infantilize. Eu me acho velho demais em muitas coisas e uma
criança desamparada em outras tantas, o que não é uma postura saudável. Acho
que tudo isso é para não me enxergar como homem de 40 anos. Não gosto de me ver
como homem de 40 anos. Não me sinto homem de 40 anos psicologicamente. Me sinto
fisicamente. Psicologicamente, me vejo ambulando entre um ancião solitário de
70 anos e um garoto de 12 anos. Ou 8, como sugeriu um dia meu pai ao meu
primo-irmão num desses longínquos anos que a vida só traz em recordação e que
meu primo decidiu rememorar ontem na praia, me causando forte impressão. Não
sabia que meu pai guardava essa impressão de mim. A achei tão verdadeira, me vi
tanto nessa frase que isso gerou um profundo desconforto na alma. Me gerou mais
ainda porque não quero mudar quem eu sou. Minto. Quero mudar em aspectos
essenciais, no lidar com garotas, no lidar com games, no lidar comigo. Mas
quero isso tudo de forma fácil, através da hipnose, uma possibilidade que se
alevanta com o meu primo-irmão treinando para se tornar um hipnotizador. Gosto
do caminho mais fácil e sempre tive tremenda curiosidade de ser hipnotizado.
Voltando à minha mãe, não sei o que se dá com ela. Vive com dores e zonzeiras,
vive não se sentindo bem fisicamente. Me preocupa isso, temo que em um ou dois
anos torne-se uma inválida. Não sei se isso é tudo por causa do remédio do
tratamento de câncer, mas espero muito que seja.
18h34. Ela agora me disse que sua pressão oscilou
abruptamente. Isso me põe preocupado. Vou jogar Mario Odyssey, qualquer coisa
ela me chama, já tirei até o som para poder escutá-la. Pobre mulher, não devia
se estressar ou sofrer tanto. E ela vem se tornando melhor em vários aspectos.
19h20. Joguei Mario Odyssey até agora, acho que cheguei no
mestre final, mas com já disse reiteradas vezes, não gosto de mestres. Esse até
que não é dos mais difíceis, mas não é tão divertido quanto o mestre final de
Super Mario Galaxy. Dentro em breve eu tento de novo. Queria e não queria sair
hoje. Estou apreensivo de novamente me calar e não interagir com a galera.
Ainda mais com o agravante de ter colocado aquele post para o grupo. Não sei
mesmo. Sei que amanhã não poderei sair, pois haverá o aniversário dos netos
consanguíneos do meu padrasto no domingo e acho que partiremos cedo no domingo.
Se é que é domingo. Se for sábado, não poderei sair hoje. Mas creio que é
domingo. Meu primo quer ir com o meu amigo professor para isso:
E disse para eu me apressar porque marcou com o meu amigo
professor no posto perto da casa deste de 20h30. Estou me animando, mas esse
processo tem que se dar mais rápido. Vou falar com mamãe.
20h05. Minha mãe liberou. Já tomei banho e estou pronto. Só
esperando o celular dar mais uma carga. E a resposta do meu primo.
2h41. Cheguei em casa na hora que combinei. Se errei, errei
por muito pouco. Lembro da moça da Sideshow, cujo avatar é a noiva de Chucky, e
o que ela me comunicou, que os pagamentos foram efetivados e que eu de fato vou
ser possuidor do meu tão sonhado busto do Hulk e da Red Sonja, a melhor
escultura de cabeça feminina que eu já vi. As lapadas vão ser no frete e nos
impostos. Death and taxes. Preciso
poupar Coca-Cola, tem pouca. Mamãe teve uma atitude muito louvável na forma
como se comunicou comigo, mandou-me só uma mensagem de WhatsApp e, mal sabe ela
que só entrei no Estelita graças a ela, pois sem identidade não entrava. Juro.
E mamãe calhou de achar e me fazer levar a carteira de identidade hoje, coisa
que não havia feito desde que aqui cheguei, vindo de terras estrangeiras. Foi
um timing perfeito. Às vezes acho que mamãe e eu temos um laço telepático. Sei
lá, ela quase certamente tem. Hahaha. Mas sério, eu já tive esse mesmo laço “telepático”,
digamos assim, com duas ex-namoradas minhas. Eu queria que a Gatinha tomasse
conta de mim na velhice.
3h04. Tirei a fita que estava no meu pulso e escrevi nela
“Iraque 27/01/18” com um lápis 4B que tenho aqui. A coloquei carinhosamente no
meu “bolo de memórias” onde guardo lembranças de momentos pitorescos da minha
vida.
Assunto: Saída
21:07. Ainda estou na casa do meu primo-irmão. Não sei o que
esperamos. Não sei o que esperar da noite. O que esperar de mim. Não sinto
ansiedade no momento, pelo menos isso. Estou tranquilo. Penso no Mario Odyssey,
que é o que estaria fazendo se estivesse em casa. Tenho todo o tempo do mundo para
ele, saídas é que são as coisas raras e preciosas que fogem do meu cotidiano e
me põem em situações diferentes, inusitadas, com pessoas que eu gosto e
desconhecidas também.
22:53. O nosso amigo professor celebra a chegada do cara do
isopor. Estamos de volta ao Estelita. Viemos mais cedo e nada rolava. Decidimos
(decidiram, em verdade) ir para o Só Caldinho. Não agradou. Souberam não sei
como que havia um palco rolando com música na praia do Polo Pina. Rumamos então
para o Festeja Recife, onde passamos cerca de meia hora e voltamos.
-x-x-x-x-
16h42. Pois é, a saída foi movimentada geograficamente,
fomos para o Estelita, para o Festeja Verão, de volta ao Estelita e, de lá,
para o Iraque. O que me lembro da noite? Lembro que quando chegamos ao Estelita
não havia ninguém na rua, o estabelecimento estava trancado, enfim, com toda a
aparência de que não iria rolar nada. Tocamos a campainha e fomos atendidos por
um carinha sem muito interesse pela nossa presença que disse que só poderíamos
entrar depois que consumíssemos o que estávamos bebendo. Quem estava
consumindo, consumiu e entramos para encontrar o local completamente vazio,
apenas com os funcionários fora de seus postos conversando. Depois de breve
deliberação seguimos para o Só Caldinho onde nem cogitamos entrar. Decidiu-se
então ir para o Polo Pina. Enquanto caminhávamos por lá, ficou-se sabendo, não
me pergunte como, que havia um palco na beira da praia ali perto e que estava
rolando um show. Nos dirigimos para lá e o show era dessas músicas populares de
hoje em dia. Ficamos por lá cerca de meia hora, 40 minutos, período em que
conversei com o meu amigo projetista sobre o seu curso de designer, entre
outras coisas, e voltamos para o Estelita, pois ninguém entrou na vibe do show
e porque havia duas meninas do Tinder na jogada. Ao voltarmos ao bar, já havia
gente do lado de fora e ficamos mais animados com o prospecto. Enquanto
consumíamos o que tínhamos que tínhamos comprado no Festeja Recife para entrar,
as duas garotas do Tinder chegaram e entramos. O grupo de cinco se dividiu,
ficamos meu primo-irmão, o nosso amigo projetista e eu conversando numa mesa e
nossos outros dois amigos com as meninas em outra mesa. Ficamos conversando
sobre projetos de carroceria e para-choques de caminhão, séries de TV, música e
o hábito de colecionar vinis, dentre outros. Enquanto isso, a vontade do meu
primo de partir para o Iraque crescia e se solidificava. O público era de uma
faixa etária mais nova do que nós e minguado até aquela hora, os shows que
iriam rolar eram covers de Blink 182 e Foo Fighters. O ambiente era
interessante. Visualmente estimulante para mim. Eis algumas fotos.
O nosso amigo professor, saiu da mesa “Tinder” e veio ter
conosco, lançou duas apostas à mesa, que o próximo presidente do Brasil vai ser
de direita e que o próximo governador de Pernambuco não vai ser de um partido
que não entendi se era PSB ou PSDB. De toda sorte, pouco depois a ideia de ir
para o Iraque se consolidou e se materializou, me restava cerca de duas horas
de noite, pois havia combinado com minha mãe que voltaria de 2h30. Tomado pelo
ímpeto do meu primo, verifiquei se tinha verba para a entrada e consumação e decidi
ir ao novo destino, abandonando o nosso amigo projetista como vela única do
encontro Tinder. Ele não quis nos acompanhar porque o Estelita era perto de sua
casa, muito mais que o Iraque, e seus vínculos mais estreitos eram com o nosso
amigo professor. Tive certa pena de deixá-lo lá com os dois casais mais ele me
certificou de que ficaria bem. Partimos meu primo-irmão e eu para o Iraque.
Iríamos passar no meio do caminho na casa da nossa amiga de Bruxelas e com ela
seguirmos para o Iraque, o que de fato fizemos. Chegando ao Iraque, nos
deparamos com um movimento tão fraco quanto o do Estelita, mas, uma vez lá, com
dois ingressos em mãos e sem muita alternativa outra para ir, visto que o
Recife inteiro estava no Enquanto Isso na Sala de Justiça, decidimos entrar.
Para mim foi ótimo, pois em vez de ficar no barulho sem conversar com ninguém
enquanto os outros dançavam, bebiam e paqueravam, sentamo-nos numa mesa
afastada do som, mas não o suficiente, e começamos, mesmo assim, a conversar os
três. Sim, eu fui mais comunicativo e sociável do que da outra vez, muito mais,
diria que me comuniquei tanto quanto qualquer outro. Isso foi ótimo, tanto no
Estelita quanto no Iraque. O Iraque é ainda mais visualmente estimulante que o
Estelita, pois é repleto de imagens exóticas e mensagens transgressoras ou
politicamente incorretas, poderia ter tirado 50 fotos do lugar e não esgotar as
mensagens e imagens que me chamaram atenção. Porém, só tirei essas.
Nossa amiga de Bruxelas ficou sinceramente feliz com o
ingresso do meu primo-irmão no mestrado e pagou-lhe uma dose de uísque com Red
Bull para celebrar a conquista. Abriram conversando sobre o tema do mestrado
que me escapou muitas vezes à compreensão. Entendi apenas – e nem sei se
entendi direito – que um dos filósofos que meu primo-irmão vai usar como
alicerce teórico do seu mestrado tem como um de seus postulados que o homem
vive com medo e à eterna sombra da morte, que a morte rouba um pouco de
significado da vida ao mesmo tempo que empresta motivação para alcançarmos
coisas que desejamos antes de morrer. Foi o que apreendi, mas não tenho certeza
se foi isso que quiseram dizer. Nem me lembro o nome do filósofo e nem que me
lembrasse saberia escrever. Conversamos também sobre shows inesquecíveis e que
precisávamos ir antes dos artistas morrerem. A nossa amiga de Bruxelas
conseguiu ir a shows bem legais, como o do Radiohead (e Kraftwerk e Los
Hermanos), e pretende ir para o de Eric Clapton lá na Europa, eu acho. Soube
que o pobre Eric está ficando irreparavelmente surdo e que talvez encerre sua
carreira em breve. Um homem que teve o mesmo tanto de glória e de sofrimento na
vida. Também conversamos sobre Berlim e a megafesta de virada de ano em Berlim a
qual a nossa amiga de Bruxelas foi. Se disse apaixonada por Berlim e que a
viagem de avião de Bruxelas para lá é somente 19,90 euros, 40 euros ida e volta
com uma hora e meia de vôo. Limpeza. Enquanto conversávamos sobre isso, o nosso
amigo bonitão e o conhecido nosso chegaram ao Iraque, conversamos sobre viver
com os pais e que o mínimo que poderíamos fazer seria cumprir o que nos pedem,
já que nos proporcionam abrigo e alimentação. Este é um ponto controverso para
mim, pois há um momento em que a vontade da minha mãe colide frontalmente com a
minha, me sinto invadido na minha individualidade e nesses momentos fica
difícil me dobrar à sua vontade, até porque não acho a postura correta, preciso
defender a minha independência. Por exemplo, quando após a nossa conversa
deu-se a hora de eu voltar para casa, me senti constrangido por abandonar a
galera contra a minha vontade. Estava bom, o papo estava fluindo, mas tive que
abrir mão de tudo pelo combinado com a minha mãe. Um cara de 40 anos com
horário de ir para casa imposto pela mãezinha. Soa um tanto ridículo. Foi como
me senti. Mas me saí com o que apregoavam na conversa, que o mínimo que podemos
fazer por nossos pais é obedecê-los em suas demandas e que era o que iria fazer
naquele momento, obedecer uma demanda da minha mãe. O assunto foi muito
oportuno e a conclusão a que chegaram mais oportuna ainda, me deixando menos
constrangido com a constrição de horário imposta pela minha mãe. E o grupo se
encontrava num impasse, metade queria ir para o Empório Sertanejo (acho que esse
é o nome do lugar, nunca decoro, é o bar que fecha mais tarde e para onde todos
que buscam uma saideira vão), mas minha amiga de Bruxelas queria permanecer no
Iraque e meu primo-irmão parecia indeciso. Foi assim que os deixei e não sei que
destino tomaram. Sei que vim para casa e não me desagradou vir. Mas fiquei embaraçado
na hora de ter que chamar o Uber e partir. Não foi legal. Não intentava voltar
para casa e o amigo bonitão e o conhecido haviam acabado de chegar. Mas assim
se deu, se fui vítima de algum comentário jocoso por conta disso foi mais do
que merecido. Cada um tem uma cruz para carregar. Estou achando o peso da minha
plenamente suportável no momento. Sobre a inescapável morte roubar e dar
sentido à vida, confesso que não sinto tal pressão da indesejada das gentes.
Não tenho medo da morte. Ela não me rouba a paz de espírito. Não penso muito
nela e, quando calho de pensar é geralmente a desejando, o que nunca é um bom
sinal do meu estado interior. No mais, a morte passa longe dos meus
pensamentos. Baseado em mim, essa pressão exercida pela consciência da finitude
não se dá de forma tão opressiva, pelo menos em nível consciente, quanto o filósofo
faz supor. Acho que ele mesmo tinha um medo excessivo da morte ou queria
acrescentar algo novo à Filosofia e viu aí um caminho, sei lá, só sei que
comigo não se dá assim. Minha amiga de Bruxelas, disse que vai rolar um show de
Björk por lá, mas ela não sabe se vai, me pareceu que não iria. Nossa, como
queria ir. É o show ao qual mais queria ir na vida. Ainda mais ouvindo “Utopia”
diuturnamente como faço agora. Ah, durante a noite ouvi músicas que gosto, o
que é uma raridade, ouvi Banda do Mar, Mallu Magalhães, Strokes, David Bowie,
Depeche Mode e The Cure. Isso foi ótimo. Aliás toda a experiência foi muito boa.
Foi uma noite que posso dizer que vivi com plenitude superior à que vinha
experimentando. Fui mais sociável e isso foi o ponto positivo fundamental. Sim,
também houve uma conversa sobre o Tinder, mas, como não uso o aplicativo (quando
usei, ninguém que eu curti me curtiu de volta, então não deu em nada) não tive
muito como opinar sobre o tópico. Sei que a conversa descambou para o tópico
traição e a única coisa que comentei foi que a vez em que traí teve
consequências horríveis na minha vida. Em resumo, a noite, do meu ponto de
vista, foi assim.
18h27. Minha cunhada quer o endereço do meu blog, mas tenho
vergonha de que ela leia. O pior é que já marquei as mensagens como lidas. Acho
que vou repartir com ela, se minha mãe lê, por que não ela? Mas estou com
vergonha ainda, vou deixar essa ideia se cristalizar na minha cabeça. Estou
tomando café e as rachaduras na xícara me encantam ou me encanta a capacidade
humana de ver padrão no caos. É uma pequena obra de arte da existência, uma
deterioração do objeto que agrega a ele um valor estético que não possuía
quando novo, o fazendo mais interessante e curioso aos meus olhos.
18h46. Estou criando coragem para enfrentar o último mestre,
eu acho, de Mario Odyssey. O mestre da zerada simples. Na zerada completa, em
vez de mestres, dois novos cursos superdifíceis são abertos, sem save points no meio do longo e cruel
caminho. Duvido que chegue a ver esses níveis se para atingi-los tiver que
coletar todas as power moons do jogo,
algo que simplesmente não serei capaz de fazer porque não tenho habilidade ou
paciência suficientes. Quero ver como o meu primo-irmão se sairá no jogo, se
gostará da nova aventura do Mario ou não. O final do jogo me desapontou um
pouco, pois ficou mais platformer
tradicional e menos inspirado que Mario Galaxy nesse aspecto. Eu gosto da
proposta desse Mario muito mais que a do Galaxy, mas no somatório de todas as
fases, acho que dá empate. Não sei. Talvez eu tenha uma leve tendência a
preferir o Odyssey, mas ambos me deram extremo prazer em jogar. São o
suprassumo dos videogames na minha opinião. Não há nada melhor. Nem o Zeldas.
Esse Zelda, ai, esse Zelda... não sei se vou conseguir zerá-lo. Mas me
esforçarei depois que extrair tudo o que conseguir (e quiser) extrair do
Odyssey. Já sei que não vou conseguir pular corda 100 vezes, ou rebater a bola
de vôlei 100 vezes, duas luas a menos para mim. Simplesmente não tenho as tais
habilidade e paciência para tais desafios. Quem me dera eu estivesse enganado
em relação a eles. Mas acho que não estou. E não quero falar de videogames
agora.
19h02. Meu deus, a moça da Sideshow conseguiu resolver o
problema com o meu cartão e debitar tanto a Red Sonja quanto o Hulk, agora acho
que eles vão vir mesmo. Os meus dois últimos bonecos. O arremate glorioso da
minha coleção. A maioria não vai entender o Hulk, não vão conseguir captar a
beleza que eu vejo nele.
19h17. Ouvindo Infected Mushroom ao vivo, graças a minha
amiga raver. Massa. Incrível que são
só duas pessoas fazendo o som todinho, um canta e outro produz toda a
instrumentação com um computador e outros equipamentos, mas todos digitais em
cima de uma mesa. Muito curioso. Grande parte deve estar pré-programada, mesmo
assim o resultado impressiona. O DJ é muito bom, faz um som incrível e eles só
estão tocando músicas que eu conheço. Ou quase, essa que está passando agora eu
não conheço. “Pink Nightmares” segundo os comentários. O curioso é que o
público está ouvindo essa música supermovimentada, superdançante, sentados ou
em pé parados. É estranho, mas é como eu gostaria de assistir a um show do
Infected Mushroom, sentado e prestando atenção à performance, mas gostaria que
as pessoas ao meu redor estivessem dançando loucamente, seria mais condizente
com a vibração da música e faria um espetáculo mais completo para mim. Um dia
ainda tenho que ir a uma rave vê-los. A minha amiga raver disse que me chamaria se rolasse uma com eles por aqui.
Veremos. Por sinal vai ter uma rave hoje, chamada Liquid Sky. Não sei quem vai
tocar, mas não posso sair hoje. Amanhã vou à Paraíba para o aniversário dos
netos consanguíneos do meu padrasto. Já me foi avisado previamente e acho que
estou preparado psicologicamente para o evento.
19h40. Fui no meu e-mail salvar as fotos que tirei ontem e
vi a mensagem da garota da Sideshow. Chega me dá um frio na barriga saber que o
Hulk vai um dia chegar aqui em casa. Estou cogitando muito em pedir para enviarem
a Sonja também para cá. Vou ver se o Hulk chega inteiro, se tudo der certinho com
ele, mando a Sonja para cá também. Meu irmão agradece e fica menos coisa para
trazer de lá. Talvez com duas viagens seja possível ter a coleção toda aqui.
Homem-Aranha e Rei Ayanami olham para mim com expressões enigmáticas. Hahaha. Nossa,
hoje está particularmente quente. Vou abrir a janela.
19h48. Por que minha cunhada quer
ler o meu blog? Que problema há nisso em verdade? Não sei a resposta para
nenhuma das perguntas. Sei que só vou repartir quando mudar o nome que coloquei
lá.
20h02. Reparti sem mudar nome nem
nada. É porque gosto do macaquinho no header e não consegui diagramar o novo
nome com o macaquinho. Mas vou mudar no devido tempo. Vou mudar agora. E,
porque vi essa foto no WhatsApp da minha cunhada, resolvi reparti-la aqui. Frio
de lascar.
.
20h17. Minha cunhada não viu
ainda. Dá tempo de mudar o título do blog, acho que vou fazer isso.
20h23. Mudei. Mas ainda vou ver
se cabe o macaquinho.
20h36. Coloquei o Macaquinho, mas
ainda não estou satisfeito. Acho que a tipologia do nome, por estar maior, me
pareceu grosseira para o tamanho, vou ver se ajeito isso.
20h47. Dei sorte, a primeira
tipologia que escolhi coube bem mais legal que a de cima. Pelo menos eu achei
mais elegante, menos grosseira.
20h52. Minha cunhada me
respondeu, disse que não vai espalhar o endereço do blog para ninguém, Mudei o
nome bem a tempo. Mas o post que está lá fala do título antigo, então fica tudo
na mesma. Hahaha. Tanto trabalho por nada. Por nada, não. Finalmente coloquei o
título que sempre quis na minha obra. Mesmo sem caber direito. Eu sempre sonhei
que a obra que eu produzisse se chamasse assim. Como me convenço a cada dia que
a minha obra é essa daqui, apenas isso e tudo isso para mim, resolvi nomeá-la
com o título que sonhei ser de um livro sonhado que nunca existirá. Primeiro
porque não me esforço para isso, segundo porque não sei fazer o networking para
ser publicado e terceiro porque não tenho nada que mereça ser publicado, então,
nada de livro, não preciso ter minhas palavras impressas em árvores mortas para
me sentir bem. Me sinto bem com os gatos pingados que aportam por aqui. Ou
gatas pingadas. Acho que mais que os EUA, o “Utopia” me lembra a minha fase
Switch, minha fase Mario Odyssey. A fase que começo nos EUA e vem até agora.
Ter o Switch, o Mario Odyssey, foi a melhor coisa que fiz para mim em um bom
tempo. Me diverti muito e me divertirei muito ainda procurando as luas do jogo.
Se bem que não posso desprezar o Hulk e a Red Sonja. Nem imagino o tamanho da
caixa do Hulk. Também não posso desprezar os bonecos que trouxe com a ajuda
incrível da minha mãe para o Brasil, eles tornam o meu ambiente de trabalho
mais interessante e rico para mim, embora esteja meio poluído visualmente, eu
me acostumei. E gosto de olhar para eles. Preciso responder à garota da
Sideshow que resolveu o problema da cobrança dos bonecos.
Meus dois últimos bonecos. Um
ciclo que se fecha na minha vida, mas que será eternizado no pequeno museu que
se tornará o meu quarto. Museu de gosto duvidoso para a maioria dos seres
humanos, que não veem tais estátuas como arte. E nem sei se são e pouco me
importa a nomenclatura, me importa que acho lindas e invocados. São brinquedos
de gente grande, eu sei. E que qualquer garota vai me achar infantilizado se
entrar no meu quarto, principalmente se psicóloga, como é o caso da garota da
noite. Mas a garota da noite não vai querer nada comigo. Para ser sincero acho
que nenhuma garota vá entrar no meu quarto. Não na situação de minha parceira.
Desencanei disso também. Deixa eu ser velho e gordo e só. Quarentão... ainda
bem que ontem um dos caras da turma ao me descobrir com 40 anos disse que eu
não parecia ter de forma nenhuma idade tão avançada. Quarentão mesmo assim e
não há nada o que eu possa fazer. É daqui para pior. Acho que agora o peso da
morte propagado pelo tal filósofo me atinge. Não terei outra chance. Joguei dez
anos da minha vida no lixo, os perdi em clínicas e internamentos. Não só perdi
tempo, perdi grande parte da habilidade de estar no mundo, regredi psicologicamente
e agora sou praticamente um interno por opção no meu quarto. O escape que
descobri na internação, escrever, é o escape que me cabe até hoje. É a coisa,
quantas vezes disse isso, mais fácil e divertida que tenho para fazer. É uma
grande inutilidade? Eu acho que para os outros é. Para mim é tão crucial quanto
não desgostar da vida. Eu perguntei ao cara do Uber na volta do Iraque para
casa, qual o sentido da vida dele. Ele me respondeu que só descobriria quando
morresse (olhaí o tal do filósofo com razão). Eu disse a ele que o sentido da
minha vida era escrever. Ele retrucou dizendo que tinha entendido que eu tinha
perguntado qual o sentido de existir a vida. Eu disse a ele que esta era uma
pergunta bem mais complexa e pensei cá com os meus botões, o sentido de existir
vida é criar singularidades tecnológicas, mas resolvi calar esse pensamento
comigo, não seria compreendido e a viagem já estava no fim para explicar
qualquer coisa sobre o assunto para ele. O motorista, entretanto, não conseguiu
elencar o sentido de sua existência. Por saber ou dar um sentido à minha vida
me sinto um privilegiado. Não são todos que têm claramente um sentido na vida.
Acredito que muitos encontrem esse sentido no trabalho, nos filhos ou nos dois
juntos, mas a minha turma, a turma que encontrei ontem, não os vejo como
possuidores de um sentido claro e vívido para existir, o hedonismo a que se
entregam não constitui um sentido em si, eu creio. Não acho que uma noite como
a de ontem seja o objeto maior de motivação para se viver que alguém possa ter.
É algo agradável, estimulante, socialmente legal, mas é muito pouco para se
tornar um propósito para existir. Não saberia dizer se são frustrados por não
terem um sentido claro, sei que eu seria profundamente frustrado sem a escrita.
Acho que não suportaria viver sem a escrita. Ela é o meu ar, meu chão, meu
território, meu reino, ela sou eu, ela é o que me faz segurar as pontas e não
despirocar, ela me preenche, me satisfaz, me liberta e me limita, é para onde
eu corro em busca de abrigo, é a luz quando paira a escuridão. Se bem que
percebi que há escuridões tão densas que me tiram até o ânimo de escrever.
Quando isso ocorre, como ocorreu logo que regressei dos EUA e estava me
aclimatando à minha realidade uma vez mais e o prospecto de viver trancado no
meu quarto escrevendo me pareceu pequeno e pouco, me vi tremendamente frustrado
e assustado. O que faria se tudo o que tenho é muito pouco? E, pior, se não há
nada mais que eu queira? Me pareceu uma sinuca de bico e bateu o desespero, me
bateu a vontade de cessar de existir. Mas aos poucos, os dias foram passando e
eu fui novamente me adaptando ao meu reino de um homem só, a ser náufrago no
meio da metrópole, sozinho no meu quarto-ilha com as minhas palavras. Palavras
inúteis para a humanidade, pois nada acrescentam a ela. Mas o outro não é a razão
principal dos meus escritos. Escrevo para saciar a mim mesmo. Para sentir os
dedos tocando o teclado e ver as palavras se encadeando umas às outras e se
transformando num texto. E agora que tenho uma câmera decente no celular
consigo ilustrar as minhas postagens, o que me dá uma satisfação extra. Tenho
um padrão de vida bastante superior à média dos brasileiros, pude utilizar o
meu dinheiro para conquistar tudo o que quero materialmente. Estou saciado materialmente.
O que quero ou está aqui no meu quarto ou está nos EUA ou está encomendado. Não
há mais nada que eu deseje. Talvez surja. Mas, por ora, não necessito de mais
nada na minha vida. A namorada? Desisti. Joguei a toalha. Não tenho mais a
disponibilidade social ou não a tenho por ora para tal investimento. E não sei
como me colocar para as garotas de hoje, não tenho a segurança ou energia sexual
necessárias para isso, não sei ser ousado sem parecer descortês.
22h03. Mamãe atrapalhou todo o
meu raciocínio agora me chamando para tomar os remédios e me alertando para o
fato de que vou acordar de seis da manhã amanhã para irmos ao que soube agora
ser o batizado das crianças. É pior do que eu esperava. Pensando bem, é bem
pior do que esperava. Eu não poderei fumar nem o cigarro elétrico perto das
crianças sob risco de meu padrasto dar um piti. Não sei se poderei escrever no
celular enquanto estiver na igreja ou na festa, espero desesperadamente que
sim. Deixarei o meu celular carregando durante a noite. Se bem que é sempre
desagradável para mim e para os demais ficar digitando em público. Se fosse um
bando de desconhecidos seria mais fácil, mas no meio da família... veremos.
Mesmo se puder, não produzo bem no celular, digitar é difícil e devagar, o
barulho ao redor me desconcentra, de toda sorte é melhor que nada. Nossa, como
gostaria de não ir. Acordar a hora que quisesse, ficar aqui no meu quarto-ilha
a escrever ou jogando Mario. Por falar em Mario, estou empacado no mestre final.
Não posso pegar luas enquanto não passar dele. Espero que o mercador que
aparece para me vender o dobro de sangue quando fracasso mais de cinco vezes,
eu acho, surja o quanto antes, não quero grandes estresses para zerar o jogo. A
zerada básica. E aí poder voltar nos mundos para pegar o resto das luas.
22h19. Uma coisa que percebi
agora dando uma rápida olhada no WhatsApp da família materna é que eles, os
quatro filhos da minha avó, minha mãe e meus tios, vivem a viajar e postar
fotos das viagens. Acho que porque viajaram muito com os pais, desenvolveram
esse gosto em suas vidas. É uma relação de causalidade meio esfarrapada essa,
viu? Hahaha. Só sei que viajam bastante. A julgar pelo que postam nas redes
sociais. Nada contra, cada um tenta ser feliz como pode e sabe. Eu faço o mesmo
a meu modo, como posso julgá-los? Só não gosto de viajar. Realmente não gosto
de viajar. A pequena viagem de amanhã para a Paraíba já me põe indisposto, que
dirá viagens internacionais. O traslado é muitíssimo chato, cansativo,
dolorido, demorado, monótono, desconfortável. Sair da minha zona de conforto é
ruim e pronto. Só de pensar na possibilidade de encontrar com os vizinhos do
prédio da minha irmã em Munique já me deixa agoniado, nervoso. Não queria
encontrar com eles nunca mais. São pessoas maravilhosas, mas não sei mais viver
esse papel de vizinho legal. Não estou mais disposto a isso. Ir para a casa de
desconhecidos me expor. Parece coisa de uma outra pessoa que agora desconheço
em mim. Nossa, como me sinto em paz no meu quarto-ilha. Quando penso que não
estou lá, na sala esfumaçada dos vizinhos de Munique e sim de pijamas no meu
quarto-ilha, com o Homem-Aranha e Rei Ayanami me olhando, com “Utopia” de Björk
tocando, com o Switch... vou tentar matar esse mestre agora.
23h11. Passei do mestre, os
créditos rolaram e... não vou dar spoiler. Agora tenho que catar luas em todos
os mundos. Mas não vou fazer isso hoje, já-já vou dormir, tenho o tal batizado
amanhã. Meu primo-irmão foi furtado, provavelmente no carnaval que foi hoje.
Bem, como vou dormir dentro em breve, quero revisar e postar isso. Mas antes,
um cigarro com Coca e muito gelo para comemorar o game zerado.
23h30. Fumei meu cigarro e não
estou com vontade de revisar isso hoje. Vamos ver se a coragem me vem. Tinha uma
coisa que queria dizer, mas me escapou. Se me escapou era porque não era
importante. O que é importante é carregar a bateria boa do Vaporfi para amanhã,
assim como o celular. Ah, lembrei, é uma besteira que nem sei se é verdade, mas
ontem no Iraque tive a impressão de que com o passar do tempo e mesmo com a
música alta eu conseguia ouvir melhor o que estava sendo conversado, como se o
meu cérebro houvesse se adaptado e aprendido a abstrair a música e se focar só
nas vozes dos meus interlocutores. A impressão foi muito nítida, visto que no
começo dialogávamos com extrema dificuldade, mas quarenta minutos depois
estávamos nos ouvindo tranquilamente. Acho que não aconteceu só comigo, em
verdade, mas com o meu primo-irmão e com a nossa amiga de Bruxelas também. Os
que chegaram depois, reclamaram da altura do som e da impossibilidade de
conversar ali. Pode ter sido só impressão, mas tenho essa convicção de que o
cérebro é muito adaptativo e capaz de pequenos milagres como esse. Falei dessa
minha percepção para um dos que haviam chegado depois e ele não levou a sério.
Posso estar equivocado, mas estava conversando tranquilamente como não
aconteceu no começo. É como aqui, está tocando Björk, mas enquanto eu escrevo,
ela não interfere, eu consigo abstrair da música e me focar na escrita. Acho um
efeito semelhante. Bom, vou revisar.
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