Houve um momento na saída de ontem que me foi muito
singular... e ruim. Me senti participando de um filme, ou melhor, de um teatro.
O grande teatro das relações sociais, onde cada pessoa representa o papel
social mais adequado para a situação. Nesse momento tive a sensação que eu
mesmo interpretava um papel social. Isso me deu uma trava e passei longos
momentos sem interagir com ninguém e a vontade que tive foi sair da Casa Astral
e vir para o meu quarto-ilha, mas subsisti, afinal, eu preciso de socialização.
Se a saída foi boa? Participei mais como ouvinte e ouvi coisas muito
interessantes e percebi que o teatro social é tanto mais teatro quanto menos
intimidade se tem com as pessoas. Com mais intimidade, não precisamos de tantas
máscaras e as conversas são mais espontâneas. Passei silêncios constrangedores
e até me utilizei do celular como forma de evitar contatos, uma pena que tudo o
que escrevi tenha se perdido, pois descrevi com muito mais detalhes, no calor
do momento, a sensação de estar participando desse imenso teatro que me pareceu
a vida em sociedade. Lembro que me senti extremamente constrangido com tudo
aquilo a ponto de querer sumir dali. De lá, fomos para o Recife Antigo, onde
peregrinamos até achar um local decente para ficar e optamos por um bar com
radiola de ficha, onde botei “Leave Me Alone” do New Order e “Given To Fly” do
Pearl Jam. Nele fiquei calado também, tentando puxar um ou outro papo com a
amiga que estava mais próxima a mim, sem muito sucesso. Mas foi bom
compartilhar e ouvir o que consegui ouvir dos papos da galera. Acho que quando
eu saio, mais do que me expressar eu objetivo assimilar vivências, visto que me
expressar é só o que faço diariamente, na saída prefiro, em vez de falar,
ouvir, saber, saborear o contexto. Ou então isso é uma desculpa para justificar
a forma antissocial que se apoderou de mim. Falar, com a boca, emitindo sons,
para mim, é algo que se torna cada vez mais difícil, mas acho que é só falta de
prática. Fato é que falei muito pouco durante a saída. E foi uma saída longa.
Não estou com saco de escrever, estou chateado porque perdi o que escrevi no
meu celular.
17h35. Achei o que escrevi no celular e está muito ruim,
ainda bem que reescrevi aqui de uma forma mais inteligível. Escrevi muito menos
do que supunha e a única informação relevante é que intuí ou me foi muito
sutilmente sugerido que devesse parar de me comunicar com a garota da noite.
Acho que não me enquadro mais no mundo das relações afetivas, pois esse não há,
pelo que pude aferir, para pessoas solteiras da faixa etária que me agrada.
Elas só têm interesse em sexo. Saco isso. Vou relaxar, pelo menos não vivo nada
do que é chato em um namoro e há partes chatas, que me lembro. Não me lembro de
partes chatas no namoro com a Gatinha, entretanto. Curioso isso. Dei muita
sorte. Acho que demos muita sorte.
18h02. Fui buscar água e ainda estou com sono. E com vontade
de jogar Mario. Não sei se durma ou se jogue. Acho que vou fazer um café para
despertar. Só criar coragem. Eu estou muito estranho no lidar social. Ouvi um
barulho estranho agora. Um barulho humano. Deixa para lá. Por mim, se não fosse
gerar estresse com a minha mãe, me deitaria mais um pouco, mas isso certamente
vai gerar desavenças, então vou fazer o café... já-já. Estou ainda ressabiado
da madrugada que passei acordado. Foi bom, não fora pela minha paupérrima interação
social. Não sei se ela foi tão gritante a ponto de gerar comentários póstumos
dos que comigo conviveram. Mas se esse é o caso, que seja, não há o que possa
fazer para revertê-lo. É tentar na próxima saída ser mais sociável. Acho que
conseguirei. Se bem que a próxima saída vai ser para o aniversário dos filhos
do meu irmão JP, meu deus, como terei dificuldade de interagir se possuir o
mesmo estado de ânimo social que ostento agora. O bom é que me foi avisado de
antemão, tenho mais tempo para preparar a alma para tal desafio. Mais essa
aventura no teatro social. Não posso pensar nas relações humanas como um
teatro, isso é nocivo para mim, mas não consigo espantar essa ideia da minha
cabeça. Vou lá sem querer ir, vou tentar ser o mais simpático que posso ser, o
que é cada vez menos, e buscar refúgio no meu celular. Esse esforço em tentar
parecer algo diferente do que sinto é o tal papel social. Quem dera eu pudesse
levar o computador e ficar numa mesa isolada escrevendo e tomando Coca. E
comendo coxinhas de galinha. Hahaha. Cogitei até em levar o Switch, mas uma
festa de crianças é um lugar um tanto arriscado para se levar um videogame. Não
saberia dizer não aos guris que quisessem jogar.
18h31. Vi que um casal de conhecidos foi com as filhas para
Tóquio. Tenho curiosidade de conhecer Tóquio. O Japão é um país minúsculo mas
tem forte impacto cultural no mundo. No meu mundo, pelo menos. Vejo muitos
amigos sendo adultos, com filhos, cônjuge, empregos e tudo isso me apavora e me
faz sentir uma criança manhosa, um adulto regredido e infantilóide. Falando em
coisas de adultos infantilóides, recebi um e-mail da Sideshow dizendo que a
data de cobrança do Hulk foi alterada para o dia 15, só que 15 de janeiro já
passou, não sei como essas cobranças vão vir, se é que virão. Aposto que virá o
porradão total em fevereiro. Que seja.
19h07. Fiz o café, tomei a primeira xícara acompanhado de um
providencial cigarro, conversei um pouco com a minha mãe, falei que não
consegui me comunicar direito com as pessoas. E esquento os tamborins para
embarcar no Mario Odyssey. Meu primo-irmão ficou curioso para jogar. Me
perguntou se é melhor que o Galaxy. Eu não soube responder, disse que eram
jogos diferentes. Mas estou quase achando melhor que o Galaxy. É o jogo
perfeito para mim, até agora. Acho-o delicioso de jogar, com tudo o que mais
desejei em um game, e me amarro na personalidade do jogo.
19h28. Respondi ao comprador do Skeletor, que me pagou no
meio da madrugada esperando que eu – na verdade, o meu irmão – enviasse a
estátua hoje, e lhe disse que só poderia enviar na segunda. Disse isso porque
foi o que meu irmão me disse quando lhe liguei informando do pagamento do
boneco e da geração do shipping label
para ele imprimir. Notei que o cara ficou um pouco frustrado, afinal se
esforçou para que eu enviasse nesse sábado, entendo ele. Provavelmente não
receberei cinco estrelas na avaliação. Mas fazemos o que é possível.
19h45. Falei com o meu irmão para mandar um WhatsApp quando
tivesse enviado a estátua para eu poder comunicar ao comprador. Ele, meu irmão,
estava jogando o rogue game que criou
para os filhos. Acho que o nome é Super Monster Treasure. Hahaha. Ele gosta de
inventar nomes bem estrambólicos para captar a imaginação dos petizes. Apesar
do meu fracasso social completo ontem, hoje não me sinto querendo deixar de
existir, acho que porque saí do meu quarto-ilha e apreendi um bocado do mundão,
isso refrescou as minhas ideias, foi uma fuga mais do que oportuna da rotina de
isolamento literário e gamístico que é a minha vida. Estou ficando corcunda de
tanto escrever, eu acho, e agora que não tenho pretensão de namorar mais
ninguém, isso me incomoda menos, mas há uma certa preocupação, não quero ficar
igual a Frei Damião. Nem em santidade, muito menos na postura. Será que Luís
Fernando Veríssimo faz exercícios, malha? Será que até ele sucumbiu a essa
epidemia da vida saudável? Nada contra, só não é a minha praia. Tantas coisas
que estão na onda hoje não estão na praia do meu quarto-ilha. Sexo pelo sexo,
como foi bastante discutido ontem, não rola para mim e vejo que é uma postura
meio que generalizada, então só me resta a solidão. Vou postar o outro texto
que está para lá de atrasado.
20h30. Postei. Graças aos céus hoje não estou naquele astral
deprê dos outros dias da semana. Graças à saída, eu creio. Percebi que o meu
estigma como drogado ainda é muito forte entre os meus amigos, o que é até de
se esperar, por mais que tenha parado de fazer alarde sobre o tema. É uma cicatriz
forte na imagem de uma pessoa, sem dúvida. Espero que fique cicatriz e no
passado. Eita, a bateria do computador carregou, vou tirá-la. Minha mãe disse
que faltou luz por um bom tempo aqui. Ainda estou noiando com a história do
teatro social. Mas como disse, ele é inversamente proporcional ao grau de intimidade
que se tem com o outro. Quanto mais íntimo, menor a necessidade de fazer
teatro. Ao menos assim me parece. O pior que a sensação que tenho é de que aos
poucos vou me distanciando, deixando escapara às mãos, as pessoas com quem
tenho proximidade. Me isolando do mundo, o que, não fora o tédio de ser e estar
só me seria o mais natural a fazer. Parece que é nessa direção que sigo, mas
algo mais fundo e quase esquecido em mim anseia e pede pelo contrário, pela
interação, pela intimidade com o outro. Mas essa parte de mim, está muito
destreinada, como ficou provado na noite de ontem. Embora ontem, tenha sido uma
noite sui generis. Espero que na próxima saída seja mais comunicativo. Acho que
agora só vá rolar depois do carnaval, pois não vou para prévia nenhuma e é só o
que vai ter daqui para frente, eu suponho. Ainda mais agora que sei que a
maioria que vai para essas farras só quer sexo pelo sexo e que tenho certeza
que não sou um exemplo de potência sexual, nem estou interessado pelo passatempo
número um do mundo, não vejo por que ir para um lugar apertado e barulhento
tendo intenções outras. Ou melhor, não tendo intenção nenhuma. Se fosse, iria
novamente para observar o comportamento alheio, como quem participa de um
experimento sociológico, ou como quem assiste a um espetáculo gigantesco de
teatro. Me atendo aqui e ali a pequenos dramas pessoais e não querendo interagir
com nenhum(a) desconhecido(a), por mais que o meu olhar vá procurar pelas
beldades como me é inevitável. E do olhar não passará porque não quero sexo
casual e porque me torno cada vez mais um covarde social. Talvez até fosse para
o evento para observar. Embora esses bailes sejam caríssimos, não sei se valeria
a pena. Considerarei. Nem sei o que estou falando direito, não estou
conseguindo me concentrar no texto, fico imaginando mil e uma coisas. Que
falarão de mim pelas costas. Da minha atitude antissocial e de como isso quebra
a vibe do grupo. Acho esse um
pensamento paranoico e desnecessário. Também fico pensando no que ouvi sobre a
garota da noite. E sobre uma coisa que ouvi minha amiga de Bruxelas falar, que um
carinha sugerir um filme para ela assistir, que esse tipo de approach, que foi justamente a última
coisa que fiz para a garota da noite, dava vontade, gesticulando, de vomitar.
Fiquei arrasado e mais consciente de que não há espaço no mundo das relações
afetivas para mim. É como se eu vivesse em uma realidade paralela, fosse, cada
vez mais, peça de outro quebra-cabeça. Um quebra-cabeça que saiu de linha. Não
acompanhei as mudanças de mercado, tão concentrado estava em me livrar do meu
pesadelo existencial que fiquei defasado. E agora (não nesse momento, ainda
bem) o pesadelo existencial quer se insinuar na forma de tédio. Ainda bem que
saí ontem. Isso me deu uma nova perspectiva do meu quarto-ilha. E da escrita.
Vi a escrita como algo compulsivo e como forma de fuga de situações que estão
me sendo desconfortáveis. O que posso dizer sobre isso, sobre esse
comportamento? Antes a escrita que a cola. Acho que não preciso dizer mais nada
e acho que todos vão concordar com a escolha, por mais que socialmente seja
estranha, não gera repúdio, aversão como o abuso de drogas, que é um puta tabu
social. Além de autodestrutivo. Escrever é apenas destoante, mas ninguém vê o
ato de escrever com repúdio. Ou quase ninguém. Novamente não sei direito sobre
o que escrevo, estou sem concentração hoje, acho que ainda cansado da noite de
ontem. Vou pegar outro café.
21h25. Não acreditei muito do que foi dito sobre a garota da
noite. Só em parte, a outra parte me soou muito convenientemente repulsiva. Não
sei. E pouco se me dá. Tendo essas doses de sociedade (ah, sim, acho que temos
comportamento de manada quando em grupos, acho que é inerente aos grupos de
todas as espécies tal comportamento), experimentando o grande espetáculo
teatral que são os grupamentos sociais periodicamente para chacoalhar a rotina
e espantar o tédio da mesma, não preciso de nada mais substancial. Ontem, como
disse, foi sui generis, mas houve momentos em que o meu silêncio foi muito
incômodo para mim, principalmente à mesa, com a minha amiga de Bruxelas (acho
que é Bruxelas, não tenho certeza); na volta, no Uber, quando ficamos apenas eu
e o conhecido com quem não tinha intimidade e fiz um silêncio quase sepulcral,
o rompendo pouquíssimas vezes, a primeira para pedir desculpa em relação ao meu
silêncio e as demais para replicar o seu hercúleo esforço de engatar uma
conversação comigo. Pena que o carnaval, tema levantado por ele, não faça parte
do meu cardápio de atividades e a conversa saiu truncada por causa disso. Foi
um momento de desconforto social para ambos. Outra vez foi ainda na Casa
Astral, enquanto esperava pela minha Coca Zero (por sinal, não vendem mais
latas de 350 ml de Coca em canto nenhum, só dessas mais finas, que vêm com
menos líquido, e por cinco reais, um absurdo, fico indignado com isso, vou
acabar mudando para outro refrigerante durante as saídas), bom, estava eu lá
esperando e uma garota surgiu para pegar também alguma coisa, ficamos os dois
esperando num silêncio que foi se tornando desconfortável para mim, me causando
uma ansiedade não produtiva, os minutos se esticaram até a Coca chegar às
minhas mãos. O que mais apreendi da noite? Que em Bruxelas as coisas são mais
caras que na Alemanha, pelo menos que em Berlim e Hamburgo. Embora houvesse
divergências sobre o custo de vida nas cidades europeias. Descobri que uma
mulher de 30 anos não tem mais idade, digamos, para rodeios quando quer fazer
sexo pelo sexo. Descobri que essa vida sexualmente plural meio que vicia e que
faz uma relação mais séria parecer monocromática e repetitiva, portanto, não desejável.
Ou seja, totalmente o contrário da minha percepção do que é valioso na
interação entre um par. Acho que é porque não viveram a solidão como a
experimento (por escolha própria, diga-se de passagem, não posso culpar ninguém
a não ser a mim mesmo) e porque tenham amigos para tratar de assuntos mais
íntimos. A música de Björk, “Tabula Rasa”, me lembra a casa do meu irmão e o
período que passei lá, massa. Gosto de músicas que me transportem no tempo e espaço
para uma realidade querida. Ouvi “Utopia” repetidas vezes lá justamente para
ver se programava na minha memória tal efeito. Funcionou. Me lembra os EUA e o
Switch.
22h04. Minha mãe e meu padrasto chegaram do shopping, foram
com o objetivo principal de comprar os presentes de aniversário dos netos consanguíneos
do meu padrasto, para a tal da festa de aniversário que terei de ir em JP, não
sei se fizeram mais coisa. Sei que fui perguntar pela caixa de discos em
surround de Björk que trouxe dos EUA à minha mãe e ela me lembrou do dinheiro
que pedi para as Cocas. Me deu dinheiro para duas. Às 23h00 vou lá comprar.
Agora não, agora estou quase em modo catártico aqui, os assuntos fluem. Acho
que em síntese o que quis dizer foi que uma imersão na sociedade expurga o meu
tédio, reafirma o meu amor pelo meu quarto-ilha e meu modo de ser e me mostra
como me distancio do pensamento social vigente. Vi gente, ouvi gente, estive
com gente, vivi com gente, foi bom e ruim, não sei se a próxima promete ser
melhor, mas tudo indica que sim. Queria ver como faço para botar o WhatsApp
pelo computador. Vou dar uma olhada.
22h14. Tem u QR code lá, que fica periodicamente sendo renovado
e preciso do meu celular para fazer o que quer que seja e permitir usar pelo
computador. Acho que meu celular já carregou. Vou ver e tentar essa coisa. Ou
não.
22h18. Consegui, foi superfácil, quase mágico, quando o meu
celular leu o QR code, na tela do computador instantaneamente abriu-se o meu
WhatsApp, fiquei impressionado com a tecnologia e sua praticidade. Assim posso,
se quiser, postar esta entrada do blog no meu grupo de amigos. Mas isso seria
constrangedor demais, eu acho. Entretanto, acho que foi precisamente por isso,
essa foi a motivação quase surda que me levou a abrir o WhatsApp no computador.
Entrou uma farpa no meu dedo mindinho. Estou poupando o Mario Odyssey porque
estou gostando tanto de escrever hoje. Pensando de outra forma sobre o meu
estigma de drogado, ele serviu de gancho para me inserir no contexto social,
foi o que foram buscar de mim que me trouxesse para dentro da conversa, serviu
como canal para que eu me colocasse perante o grupo de amigos, para que me
tornasse por um momento figura ativa, tivesse o direito à fala outorgado. Não
tinha visto assim antes, mas sinto que foi isso que se deu. Por esse prisma foi
uma atitude muito louvável. E talvez uma prova de que meu silêncio é
inconveniente. Será que consigo mudar de assunto ou acrescentar algo à minha
descrição da noite? 22h33. Será que meu computador ficará apitando quando e se
eu receber mensagens de WhatsApp? Bom, espero que os grupos fiquem silenciados
como no celular. Se o sistema é realmente inteligente ele espelhará essa
configuração no meu computador, o que significa que não serei importunado,
visto que quase ninguém escreve nada diretamente para mim no aplicativo. Ainda
bem. E eu que fui dar uma de romântico, quando isso é o inverso do esperado
pelas mulheres de hoje que, por outro lado, se dizem vulgarizadas e violentadas
por abordagens mais intrusivas ou diretas dos homens. Bom, nada entendo e
desisti de entender. Agirei do meu modo quando me convier e, no momento, não me
convém. Está chegando a hora de comprar as Cocas Zero. Eu estou quebrando tudo
o que me propus fazer em 2018, isso me deixa para baixo. Embora nem me lembre o
que havia firmado comigo mesmo. Hahaha. Sequelado é ozzy. Hahaha. E conveniente.
Mas, sério, só me lembro de não beber Coca e andar. Acho que tinha a tentativa
de me desfazer das bonecas indo (andando) até a lojinha que mamãe descobriu
munido de fotos dos produtos que quero vender, com os valores já estudados.
Isso era outra coisa. Do resto, se havia, não me lembro e não vou procurar em
posts antigos, sei que postei em algum lugar pouco antes ou pouco depois da
virada do ano. Mas não tenho saco para rever o que escrevo. Espero que essa
visão do teatro social evanesça da minha cabeça, embora haja vantagens nisso para
os bons atores sociais, acho eu. Acho que estou falando do óbvio aqui, todos
nós exercemos um papel diferente, adequado a cada situação (filho, amigo,
namorado, pai, empregado, professor, consumidor etc.), mas é diferente saber a
teoria e sentir na prática isso se desenrolando na minha frente, estar atento a
esse comportamento das pessoas de forma clara como o sol. Foi e ainda é uma
sensação estranha, senti quase como se tivesse sido iluminado, temi estar tendo
um surto psicótico e até agora não sei se tive. Sei que em psicologia se fala
desses danados de papéis sociais e sei que isso finalmente ficou evidente para
mim. Não são só palavras lidas em um livro ou ouvidas de algum profissional,
saiu do campo das ideias abstratas e pude experimentar na prática tal ideário.
De posse dessa percepção, a vontade que tive foi de observar o grande
espetáculo social que se desenrolava à minha frente, quão grandiosa, complexa e
interessante a existência pode ser para um ser insignificante como eu de posse
dessa percepção. A segunda coisa que percebi foi que queria ficar como sujeito
passivo, como observador, como quem assiste um filme, um documentário, uma peça
de teatro. E percebi que para permanecer passivo, tinha que me isolar do grupo com
quem fui, pois eles eram interativos, havia intimidade entre nós e tive medo de
repartir com eles a minha percepção, tão clara e verdadeira para mim, e não ser
compreendido. A situação se tornou tão insustentável, eu me achando esquisito
demais, que preferi sair do evento sentar na calçada e escrever sobre o que
estava passando. Voltei para dentro quando do final do evento praticamente e
segui com os meus amigos para o Recife Antigo. Ainda assoberbado, fui tomado
por um profundo bloqueio para me comunicar com os demais. Embora, aos poucos,
eu tenha começado a participar como ouvinte e assim permaneci quase o resto da
noite, tentando puxar um papo ou outro com a amiga de Bruxelas, o que foi
agradável, mas acompanhado por uma ansiedade de achar que deveria me colocar
mais, porém sem achar assunto para repartir. Aliás, estava com muita vontade de
repartir as sensações experimentadas na Casa Astral, mas achei que todos as
teriam como óbvias e idiotas, por isso calei sobre a sensação e em como ela me
empurrava ainda mais para dentro de mim. Esse me fechar em mim mesmo não é bom,
porque leva ao tédio no devido tempo. Por isso quero que isso suma. Pode ser
fato o que for, mas não é um fato relevante ou que me ajude a encarar a sociedade
de forma saudável. É uma visão pragmática da sociedade, mas eu não sou
pragmático, eu gosto de construir intimidade. Ou gostava quando tinha algum
conteúdo relevante para compartilhar. Não desvarios causados por uma crescente
fobia social, amplificados por um fator externo que favorece tal cisma. Bom, de
lá do Antigo fomos para a casa do nosso amigo bonitão e ficamos lá conversando
(eu quase não me coloquei, apenas quando fui indagado sobre a minha vivência
com drogas) até quase o sol raiar, ele veio a raiar no meio do caminho para
casa. Peguei uma linda manhã despontado no céu e foi tudo o que vi da manhã,
pois dormi até quase 15h00. E aí é onde começa essa narrativa. Não sei se vou
compartilhar um post quase inteiro dedicado a uma nova neurose que espocou em
mim como uma espinha. Não estou mais em idade para ter espinhas. Será que estou
na idade de ter mudanças radicais de paradigma? Será que essa mudança em questão
agrega algum valor à minha vida? Eu próprio ator social, inescapavelmente ator
social, por mais que me esforce para não sê-lo. Até aqui no blog tenho que ser
ator social porque há a possibilidade de a minha mãe ler. Mas aqui é o lugar
mais livre que possuo, é minha ilha de liberdade individual no meio da
sociedade. Somando-se ao meu quarto-ilha é a minha zona de conforto, onde me
experimento todos os dias. O problema é que, como percebi essa semana, eu
sozinho não me basto. Preciso dessas imersões sociais para quebrar a rotina e
poder amá-la ainda mais. Preciso de imersões sociais para me sentir menos
alienado, para aprender e me informar sobre as coisas do mundão, do que vai
além de mim, do vem do outro ou dos outros. Pena que os choques de realidades
às vezes sejam duros e me desmotivem a certas atitudes. Sim, falo da garota da
noite. Não sei se desistirei dela, mas ontem todas as evidências indicaram que
estou sendo nada mais que um inconveniente em sua vida. Não quero ser isso. Uma
formiga passeia pela tela, que ozzy. Formigas no meu quarto-ilha... espero que
não estejam fazendo formigueiro dentro de um de meus consoles. Ou quero ser
inconveniente porque receber suas respostas frias e distantes, com um puta
macaco, me apraz, me apraz interagir de forma parca e, segundo os especialistas
da turma, totalmente equivocada com uma pessoa que me atrai. Atrai menos desde
ontem, diga-se de passagem, mas deixa isso para lá, deixa eu fazer uma coisa
que mal não me faz, pelo contrário, se me assemelha a uma trela e trelas são
divertidas. Se vou dar ouvidos ao que me disseram? Já dei e já passou. Mas não
tem nada que eu queira dizer à garota da noite no momento. Quando houver
oportunidade, não me furtarei e a agarrarei (a oportunidade, quem dera a garota
da noite, ela me parece mais acessível desde ontem). Estou sem cérebro ainda
por causa da noitada de ontem. Estou ficando velho mesmo. Acho que chegou a
hora do Mario Odyssey. Se bater na telha volto aqui. Espero que com outro
assunto que não garota da noite e a neurose com a constatação de que a vida é,
de fato, um teatro social, o que é uma percepção inútil para mim, mais do que
isso, um tanto prejudicial, pois me põe mais cético em relação às interações
interpessoais. O mundo não mudou um pingo, só eu que mudei, mas sei que isso
minha psique vai jogar para baixo do tapete, para a prateleira de arquivos
mortos. Bom é que não estou entediado com o fato de estar num sábado à noite no
meu quarto-ilha a escrever. Agradeço a todos que participaram da minha noite e
ajudaram a tornar a experiência muito mais rica, íntima e interessante. Com
vocês não preciso fazer teatro, posso ser precisamente quem sou ou o mais
transparente que consigo ser. Vocês me acolheram mesmo estando meio amuado e
bastante introspectivo e isso vale o mundo para mim. Peço que tenham paciência
e não desistam de mim. Ontem foi uma noite peculiar, por isso o comportamento
tão pouco interativo. Na próxima será diferente. Mesmo que apenas ligeiramente.
Não desistam de mim porque graças a vocês eu não sou um completo alienado,
vocês são o ar de realidade e de sociedade que areja a minha alma tão trancada
em si. Se ouço mais, me permitam, acho tão interessante o que têm a dizer, é um
alívio ouvir uma outra voz que não a minha dentro da minha cabeça. Vocês não
sabem como isso é revigorante, renovador para a minha alma. E por isso, sou
muito grato, por permitirem minha presença junto a vocês. É uma dádiva, um
tesouro precioso, é o contato de fato que tenho com a vida fora do meu
quarto-ilha. Estou enferrujando rápido nas relações sociais. Espero contar com
vocês. Mas vamos ao game. 1h04.
A vista é linda do apé do amigo bonitão e do amigo cervejeiro, mas o fotógrafo é um jumento, poderia ter aberto a janela para não arruinar a foto com o reflexo. |
Manhã irrompe por trás do paredão de prédios |
3h08. Como deu para perceber eu estou muito secura no Mario
Odyssey. Acho extasiante, muito, muito divertido. Um dos melhores de todos os
tempos na minha opinião. E é difícil impressionar um velho perdigueiro como eu.
É um jogo que eu já sei que não vou dar a zerada completa, pegar as mais de 800
luas escondidas nos lugares mais obscuros do jogo e com várias maneiras não
menos obscuras de trazê-las à tona. Não adianta apenas saber o lugar, é preciso
descobrir como chegar lá. Ou onde é lá. Porque quando o cara não sabe mais onde
procurar, pode pedir, por cinquenta moedas, ao cogumelo que marque a
localização de uma lua no mapa, há um número limitado de luas que ele localiza,
de qualquer forma, essa revelação nem sempre ou quase nunca é o suficiente, são
necessárias exploração, engenhosidade e criatividade para se chegar a danada da
lua. E utilizar essas habilidades é o que torna o jogo tão divertido, é uma
grande caça ao tesouro. Ou aos tesouros, pois, como eu disse, há mais de 800
luas para serem achadas no jogo. Sei que não conseguirei pegar tudo, deve haver
luas absurdamente difíceis de serem pegas, tenho já umas três que paguei ao
cogumelo e que não teve jeito de descobrir onde de fato estavam ou como desencavá-las
do local. Outros lugares eu sei que tem luas, mas não consigo cumprir o
objetivo, espero que revezando com o meu primo-irmão nós consigamos pegar a de
pular corda cem vezes e a do carrinho de controle remoto em 25 segundos ou
menos. Tenho quase certeza que esses dois eventos serão recompensados com luas
ou power moons, como queiram. Parei
porque empaquei numa das luas que o cogumelo marcou no meu mapa e não consegui
achar. Além do que já tenho luas suficientes para ir para o outro mundo, o que
me apetece mais no momento, prefiro seguir pegando o que consigo achar por mim
mesmo e me divertindo com isso e depois voltar para aperrear o cogumelo e
buscar as luas que deixei escapar na minha primeira visita pelos mundos. Acho
que já passei da metade do jogo e não tenho nem 300 luas. Espero que meu primo-irmão
goste do jogo. É difícil não gostar. A viagem do teatro social, embora acredite
que verdadeira, não me aperreia tanto o juízo depois de ter me alienado um
pouco do mundo com o videogame. Matutar sobre isso o dia inteiro não foi nada
produtivo e tal paradigma não me auxilia em nada, não acrescenta nada à minha
vida, pelo contrário, rouba pela infeliz conclusão de que não posso jamais
conhecer realmente o outro ou eu mesmo me revelar completamente ao outro. Fato
é que é possível chegar perto disso, ter uma relação mais franca possível, como
o mínimo de dissimulações. É o que busco nas minhas relações, embora nem sempre
logre sucesso, por falha de caráter minha mesmo. Não sou perfeito. Mas estou
aprendendo a gostar de mim. Achar que em todas as relações de forma
inconsciente ou semiconsciente assumimos personagens que não são um espelho
cristalino do que vai no ser não quer dizer muita coisa, as coisas se dão assim
desde que homens são homens. Nada de novo aí. Ah, não vou começar a elucubrar
sobre isso. Papo ozzy, chato e para lá de repetitivo. Acho que vou ficar por
aqui. Ainda não decidi se compartilho no grupo dos amigos. Acho que não terei
essa coragem. É muita ousadia me revelar assim para eles. Redundante, raso e
óbvio. Só porque é algo diferente e novo, que muda a minha rotina, me sinto
tentado a fazer. Mas esse post foi só uma dissertação sobre uma neurose que se apoderou
de mim durante a saída. Gostaria, entretanto, que eles soubessem o que escrevo.
Dúvida cruel. Só quando revisar terei uma posição mais clara se é válido ligar
o foda-se e me repartir praticamente despido de qualquer pudor ou não. Nossa, já vão dar quatro da manhã. Preciso ir
dormir.
4h29. Acabei de passar o olho no texto e estou praticamente
decidido a repartir no grupo. Se conseguir pegar a foto do meu primo-irmão
quando acordar para postar no blog, eu divulgo no grupo. Pronto, acho que essa
é uma boa condição. Está decidido. Vou dormir agora. Preciso.
5h40. Não consegui dormir ainda, estou pensando em dar o
virote, mas aí vou ficar destruído o dia todo. Não é uma boa ideia.
5h57. Ainda não consegui dormir. Estou com vontade de jogar
mais Mario. Acho massa ter o nome igual ao do personagem, se você quer saber.
Sou fã. Alguns dos melhores momentos da minha vida foram proporcionados pela
Nintendo. Pode me chamar de nerd, geek, freak o que for, mas há jogos que me proporcionaram prazeres
maiores – e de outra natureza – que muita trepada que eu dei. É para mim, um
grande prazer quando encontro um jogo que me cativa profundamente como o Mario
Odyssey. E é cada vez mais raro que isso aconteça. Como já disse aqui, o Nintendo
Switch provavelmente será o meu último videogame, pois venho perdendo o encanto
por jogos eletrônicos. Esse Mario é um ponto fora da curva, é como se a
Nintendo tivesse feito um jogo baseado exatamente no que me diverte em
videogames. O Zelda, que também tenho, e que foi eleito jogo do ano em várias
publicações, não me cativou tanto quanto o Mario. Para ser sincero, e aí vai
uma heresia para quem é gamer, fiquei
desapontado com o Zelda. Até agora. Estou com menos de 20 horas de jogo,
empacado em um mestre. Achei o Zelda muito complexo, difícil e com desafios
muito baseados na física do jogo, o que me desagrada, embora a física do jogo
seja fantástica. O problema é que antigamente, nos Zeldinhas anteriores, era
tudo questão de saber quando e onde usar tal item ou usá-lo de uma forma
inusitada, era muito mais legal assim. E as armas não quebravam, aliás, a arma.
Não era necessário ficar catando armas e as trocando no meio de uma luta porque
uma quebrou. Isso é mais realista, é, mas é muito mais chato também. O mundo
criado para o Zelda é fantástico, dá vontade de sair explorando tudo, mas os
encontros com os inimigos resultam quase sempre de morte nessa parte inicial do
jogo. Mas não estou com saco de falar de videogames e ninguém está com saco de
ler sobre videogames. Vou sintetizar o meu pensamento sobre ambos os jogos, o
Zelda é para jogador hardcore, o Mario é para qualquer um (com um pouco de paciência
e interesse por games). Estou com os olhos ardendo. Isso é um bom sinal. Vou
tentar dormir.
-x-x-x-x-
17h10. Eis a única foto que tirei no celular do meu
primo-irmão. Como ele me enviou vou cumprir o prometido e publicar o meu post
no grupo da turma. Estou morrendo de vergonha e ao mesmo tempo curioso, embora
ache que ninguém vá ler e, se o fizer, se fará até o fim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário