domingo, 21 de janeiro de 2018

SAÍDA E ESTRANHA PERCEPÇÃO DA REALIDADE




Houve um momento na saída de ontem que me foi muito singular... e ruim. Me senti participando de um filme, ou melhor, de um teatro. O grande teatro das relações sociais, onde cada pessoa representa o papel social mais adequado para a situação. Nesse momento tive a sensação que eu mesmo interpretava um papel social. Isso me deu uma trava e passei longos momentos sem interagir com ninguém e a vontade que tive foi sair da Casa Astral e vir para o meu quarto-ilha, mas subsisti, afinal, eu preciso de socialização. Se a saída foi boa? Participei mais como ouvinte e ouvi coisas muito interessantes e percebi que o teatro social é tanto mais teatro quanto menos intimidade se tem com as pessoas. Com mais intimidade, não precisamos de tantas máscaras e as conversas são mais espontâneas. Passei silêncios constrangedores e até me utilizei do celular como forma de evitar contatos, uma pena que tudo o que escrevi tenha se perdido, pois descrevi com muito mais detalhes, no calor do momento, a sensação de estar participando desse imenso teatro que me pareceu a vida em sociedade. Lembro que me senti extremamente constrangido com tudo aquilo a ponto de querer sumir dali. De lá, fomos para o Recife Antigo, onde peregrinamos até achar um local decente para ficar e optamos por um bar com radiola de ficha, onde botei “Leave Me Alone” do New Order e “Given To Fly” do Pearl Jam. Nele fiquei calado também, tentando puxar um ou outro papo com a amiga que estava mais próxima a mim, sem muito sucesso. Mas foi bom compartilhar e ouvir o que consegui ouvir dos papos da galera. Acho que quando eu saio, mais do que me expressar eu objetivo assimilar vivências, visto que me expressar é só o que faço diariamente, na saída prefiro, em vez de falar, ouvir, saber, saborear o contexto. Ou então isso é uma desculpa para justificar a forma antissocial que se apoderou de mim. Falar, com a boca, emitindo sons, para mim, é algo que se torna cada vez mais difícil, mas acho que é só falta de prática. Fato é que falei muito pouco durante a saída. E foi uma saída longa. Não estou com saco de escrever, estou chateado porque perdi o que escrevi no meu celular.

17h35. Achei o que escrevi no celular e está muito ruim, ainda bem que reescrevi aqui de uma forma mais inteligível. Escrevi muito menos do que supunha e a única informação relevante é que intuí ou me foi muito sutilmente sugerido que devesse parar de me comunicar com a garota da noite. Acho que não me enquadro mais no mundo das relações afetivas, pois esse não há, pelo que pude aferir, para pessoas solteiras da faixa etária que me agrada. Elas só têm interesse em sexo. Saco isso. Vou relaxar, pelo menos não vivo nada do que é chato em um namoro e há partes chatas, que me lembro. Não me lembro de partes chatas no namoro com a Gatinha, entretanto. Curioso isso. Dei muita sorte. Acho que demos muita sorte.

18h02. Fui buscar água e ainda estou com sono. E com vontade de jogar Mario. Não sei se durma ou se jogue. Acho que vou fazer um café para despertar. Só criar coragem. Eu estou muito estranho no lidar social. Ouvi um barulho estranho agora. Um barulho humano. Deixa para lá. Por mim, se não fosse gerar estresse com a minha mãe, me deitaria mais um pouco, mas isso certamente vai gerar desavenças, então vou fazer o café... já-já. Estou ainda ressabiado da madrugada que passei acordado. Foi bom, não fora pela minha paupérrima interação social. Não sei se ela foi tão gritante a ponto de gerar comentários póstumos dos que comigo conviveram. Mas se esse é o caso, que seja, não há o que possa fazer para revertê-lo. É tentar na próxima saída ser mais sociável. Acho que conseguirei. Se bem que a próxima saída vai ser para o aniversário dos filhos do meu irmão JP, meu deus, como terei dificuldade de interagir se possuir o mesmo estado de ânimo social que ostento agora. O bom é que me foi avisado de antemão, tenho mais tempo para preparar a alma para tal desafio. Mais essa aventura no teatro social. Não posso pensar nas relações humanas como um teatro, isso é nocivo para mim, mas não consigo espantar essa ideia da minha cabeça. Vou lá sem querer ir, vou tentar ser o mais simpático que posso ser, o que é cada vez menos, e buscar refúgio no meu celular. Esse esforço em tentar parecer algo diferente do que sinto é o tal papel social. Quem dera eu pudesse levar o computador e ficar numa mesa isolada escrevendo e tomando Coca. E comendo coxinhas de galinha. Hahaha. Cogitei até em levar o Switch, mas uma festa de crianças é um lugar um tanto arriscado para se levar um videogame. Não saberia dizer não aos guris que quisessem jogar.

18h31. Vi que um casal de conhecidos foi com as filhas para Tóquio. Tenho curiosidade de conhecer Tóquio. O Japão é um país minúsculo mas tem forte impacto cultural no mundo. No meu mundo, pelo menos. Vejo muitos amigos sendo adultos, com filhos, cônjuge, empregos e tudo isso me apavora e me faz sentir uma criança manhosa, um adulto regredido e infantilóide. Falando em coisas de adultos infantilóides, recebi um e-mail da Sideshow dizendo que a data de cobrança do Hulk foi alterada para o dia 15, só que 15 de janeiro já passou, não sei como essas cobranças vão vir, se é que virão. Aposto que virá o porradão total em fevereiro. Que seja.

19h07. Fiz o café, tomei a primeira xícara acompanhado de um providencial cigarro, conversei um pouco com a minha mãe, falei que não consegui me comunicar direito com as pessoas. E esquento os tamborins para embarcar no Mario Odyssey. Meu primo-irmão ficou curioso para jogar. Me perguntou se é melhor que o Galaxy. Eu não soube responder, disse que eram jogos diferentes. Mas estou quase achando melhor que o Galaxy. É o jogo perfeito para mim, até agora. Acho-o delicioso de jogar, com tudo o que mais desejei em um game, e me amarro na personalidade do jogo.

19h28. Respondi ao comprador do Skeletor, que me pagou no meio da madrugada esperando que eu – na verdade, o meu irmão – enviasse a estátua hoje, e lhe disse que só poderia enviar na segunda. Disse isso porque foi o que meu irmão me disse quando lhe liguei informando do pagamento do boneco e da geração do shipping label para ele imprimir. Notei que o cara ficou um pouco frustrado, afinal se esforçou para que eu enviasse nesse sábado, entendo ele. Provavelmente não receberei cinco estrelas na avaliação. Mas fazemos o que é possível.

19h45. Falei com o meu irmão para mandar um WhatsApp quando tivesse enviado a estátua para eu poder comunicar ao comprador. Ele, meu irmão, estava jogando o rogue game que criou para os filhos. Acho que o nome é Super Monster Treasure. Hahaha. Ele gosta de inventar nomes bem estrambólicos para captar a imaginação dos petizes. Apesar do meu fracasso social completo ontem, hoje não me sinto querendo deixar de existir, acho que porque saí do meu quarto-ilha e apreendi um bocado do mundão, isso refrescou as minhas ideias, foi uma fuga mais do que oportuna da rotina de isolamento literário e gamístico que é a minha vida. Estou ficando corcunda de tanto escrever, eu acho, e agora que não tenho pretensão de namorar mais ninguém, isso me incomoda menos, mas há uma certa preocupação, não quero ficar igual a Frei Damião. Nem em santidade, muito menos na postura. Será que Luís Fernando Veríssimo faz exercícios, malha? Será que até ele sucumbiu a essa epidemia da vida saudável? Nada contra, só não é a minha praia. Tantas coisas que estão na onda hoje não estão na praia do meu quarto-ilha. Sexo pelo sexo, como foi bastante discutido ontem, não rola para mim e vejo que é uma postura meio que generalizada, então só me resta a solidão. Vou postar o outro texto que está para lá de atrasado.

20h30. Postei. Graças aos céus hoje não estou naquele astral deprê dos outros dias da semana. Graças à saída, eu creio. Percebi que o meu estigma como drogado ainda é muito forte entre os meus amigos, o que é até de se esperar, por mais que tenha parado de fazer alarde sobre o tema. É uma cicatriz forte na imagem de uma pessoa, sem dúvida. Espero que fique cicatriz e no passado. Eita, a bateria do computador carregou, vou tirá-la. Minha mãe disse que faltou luz por um bom tempo aqui. Ainda estou noiando com a história do teatro social. Mas como disse, ele é inversamente proporcional ao grau de intimidade que se tem com o outro. Quanto mais íntimo, menor a necessidade de fazer teatro. Ao menos assim me parece. O pior que a sensação que tenho é de que aos poucos vou me distanciando, deixando escapara às mãos, as pessoas com quem tenho proximidade. Me isolando do mundo, o que, não fora o tédio de ser e estar só me seria o mais natural a fazer. Parece que é nessa direção que sigo, mas algo mais fundo e quase esquecido em mim anseia e pede pelo contrário, pela interação, pela intimidade com o outro. Mas essa parte de mim, está muito destreinada, como ficou provado na noite de ontem. Embora ontem, tenha sido uma noite sui generis. Espero que na próxima saída seja mais comunicativo. Acho que agora só vá rolar depois do carnaval, pois não vou para prévia nenhuma e é só o que vai ter daqui para frente, eu suponho. Ainda mais agora que sei que a maioria que vai para essas farras só quer sexo pelo sexo e que tenho certeza que não sou um exemplo de potência sexual, nem estou interessado pelo passatempo número um do mundo, não vejo por que ir para um lugar apertado e barulhento tendo intenções outras. Ou melhor, não tendo intenção nenhuma. Se fosse, iria novamente para observar o comportamento alheio, como quem participa de um experimento sociológico, ou como quem assiste a um espetáculo gigantesco de teatro. Me atendo aqui e ali a pequenos dramas pessoais e não querendo interagir com nenhum(a) desconhecido(a), por mais que o meu olhar vá procurar pelas beldades como me é inevitável. E do olhar não passará porque não quero sexo casual e porque me torno cada vez mais um covarde social. Talvez até fosse para o evento para observar. Embora esses bailes sejam caríssimos, não sei se valeria a pena. Considerarei. Nem sei o que estou falando direito, não estou conseguindo me concentrar no texto, fico imaginando mil e uma coisas. Que falarão de mim pelas costas. Da minha atitude antissocial e de como isso quebra a vibe do grupo. Acho esse um pensamento paranoico e desnecessário. Também fico pensando no que ouvi sobre a garota da noite. E sobre uma coisa que ouvi minha amiga de Bruxelas falar, que um carinha sugerir um filme para ela assistir, que esse tipo de approach, que foi justamente a última coisa que fiz para a garota da noite, dava vontade, gesticulando, de vomitar. Fiquei arrasado e mais consciente de que não há espaço no mundo das relações afetivas para mim. É como se eu vivesse em uma realidade paralela, fosse, cada vez mais, peça de outro quebra-cabeça. Um quebra-cabeça que saiu de linha. Não acompanhei as mudanças de mercado, tão concentrado estava em me livrar do meu pesadelo existencial que fiquei defasado. E agora (não nesse momento, ainda bem) o pesadelo existencial quer se insinuar na forma de tédio. Ainda bem que saí ontem. Isso me deu uma nova perspectiva do meu quarto-ilha. E da escrita. Vi a escrita como algo compulsivo e como forma de fuga de situações que estão me sendo desconfortáveis. O que posso dizer sobre isso, sobre esse comportamento? Antes a escrita que a cola. Acho que não preciso dizer mais nada e acho que todos vão concordar com a escolha, por mais que socialmente seja estranha, não gera repúdio, aversão como o abuso de drogas, que é um puta tabu social. Além de autodestrutivo. Escrever é apenas destoante, mas ninguém vê o ato de escrever com repúdio. Ou quase ninguém. Novamente não sei direito sobre o que escrevo, estou sem concentração hoje, acho que ainda cansado da noite de ontem. Vou pegar outro café.

21h25. Não acreditei muito do que foi dito sobre a garota da noite. Só em parte, a outra parte me soou muito convenientemente repulsiva. Não sei. E pouco se me dá. Tendo essas doses de sociedade (ah, sim, acho que temos comportamento de manada quando em grupos, acho que é inerente aos grupos de todas as espécies tal comportamento), experimentando o grande espetáculo teatral que são os grupamentos sociais periodicamente para chacoalhar a rotina e espantar o tédio da mesma, não preciso de nada mais substancial. Ontem, como disse, foi sui generis, mas houve momentos em que o meu silêncio foi muito incômodo para mim, principalmente à mesa, com a minha amiga de Bruxelas (acho que é Bruxelas, não tenho certeza); na volta, no Uber, quando ficamos apenas eu e o conhecido com quem não tinha intimidade e fiz um silêncio quase sepulcral, o rompendo pouquíssimas vezes, a primeira para pedir desculpa em relação ao meu silêncio e as demais para replicar o seu hercúleo esforço de engatar uma conversação comigo. Pena que o carnaval, tema levantado por ele, não faça parte do meu cardápio de atividades e a conversa saiu truncada por causa disso. Foi um momento de desconforto social para ambos. Outra vez foi ainda na Casa Astral, enquanto esperava pela minha Coca Zero (por sinal, não vendem mais latas de 350 ml de Coca em canto nenhum, só dessas mais finas, que vêm com menos líquido, e por cinco reais, um absurdo, fico indignado com isso, vou acabar mudando para outro refrigerante durante as saídas), bom, estava eu lá esperando e uma garota surgiu para pegar também alguma coisa, ficamos os dois esperando num silêncio que foi se tornando desconfortável para mim, me causando uma ansiedade não produtiva, os minutos se esticaram até a Coca chegar às minhas mãos. O que mais apreendi da noite? Que em Bruxelas as coisas são mais caras que na Alemanha, pelo menos que em Berlim e Hamburgo. Embora houvesse divergências sobre o custo de vida nas cidades europeias. Descobri que uma mulher de 30 anos não tem mais idade, digamos, para rodeios quando quer fazer sexo pelo sexo. Descobri que essa vida sexualmente plural meio que vicia e que faz uma relação mais séria parecer monocromática e repetitiva, portanto, não desejável. Ou seja, totalmente o contrário da minha percepção do que é valioso na interação entre um par. Acho que é porque não viveram a solidão como a experimento (por escolha própria, diga-se de passagem, não posso culpar ninguém a não ser a mim mesmo) e porque tenham amigos para tratar de assuntos mais íntimos. A música de Björk, “Tabula Rasa”, me lembra a casa do meu irmão e o período que passei lá, massa. Gosto de músicas que me transportem no tempo e espaço para uma realidade querida. Ouvi “Utopia” repetidas vezes lá justamente para ver se programava na minha memória tal efeito. Funcionou. Me lembra os EUA e o Switch.

22h04. Minha mãe e meu padrasto chegaram do shopping, foram com o objetivo principal de comprar os presentes de aniversário dos netos consanguíneos do meu padrasto, para a tal da festa de aniversário que terei de ir em JP, não sei se fizeram mais coisa. Sei que fui perguntar pela caixa de discos em surround de Björk que trouxe dos EUA à minha mãe e ela me lembrou do dinheiro que pedi para as Cocas. Me deu dinheiro para duas. Às 23h00 vou lá comprar. Agora não, agora estou quase em modo catártico aqui, os assuntos fluem. Acho que em síntese o que quis dizer foi que uma imersão na sociedade expurga o meu tédio, reafirma o meu amor pelo meu quarto-ilha e meu modo de ser e me mostra como me distancio do pensamento social vigente. Vi gente, ouvi gente, estive com gente, vivi com gente, foi bom e ruim, não sei se a próxima promete ser melhor, mas tudo indica que sim. Queria ver como faço para botar o WhatsApp pelo computador. Vou dar uma olhada.

22h14. Tem u QR code lá, que fica periodicamente sendo renovado e preciso do meu celular para fazer o que quer que seja e permitir usar pelo computador. Acho que meu celular já carregou. Vou ver e tentar essa coisa. Ou não.

22h18. Consegui, foi superfácil, quase mágico, quando o meu celular leu o QR code, na tela do computador instantaneamente abriu-se o meu WhatsApp, fiquei impressionado com a tecnologia e sua praticidade. Assim posso, se quiser, postar esta entrada do blog no meu grupo de amigos. Mas isso seria constrangedor demais, eu acho. Entretanto, acho que foi precisamente por isso, essa foi a motivação quase surda que me levou a abrir o WhatsApp no computador. Entrou uma farpa no meu dedo mindinho. Estou poupando o Mario Odyssey porque estou gostando tanto de escrever hoje. Pensando de outra forma sobre o meu estigma de drogado, ele serviu de gancho para me inserir no contexto social, foi o que foram buscar de mim que me trouxesse para dentro da conversa, serviu como canal para que eu me colocasse perante o grupo de amigos, para que me tornasse por um momento figura ativa, tivesse o direito à fala outorgado. Não tinha visto assim antes, mas sinto que foi isso que se deu. Por esse prisma foi uma atitude muito louvável. E talvez uma prova de que meu silêncio é inconveniente. Será que consigo mudar de assunto ou acrescentar algo à minha descrição da noite? 22h33. Será que meu computador ficará apitando quando e se eu receber mensagens de WhatsApp? Bom, espero que os grupos fiquem silenciados como no celular. Se o sistema é realmente inteligente ele espelhará essa configuração no meu computador, o que significa que não serei importunado, visto que quase ninguém escreve nada diretamente para mim no aplicativo. Ainda bem. E eu que fui dar uma de romântico, quando isso é o inverso do esperado pelas mulheres de hoje que, por outro lado, se dizem vulgarizadas e violentadas por abordagens mais intrusivas ou diretas dos homens. Bom, nada entendo e desisti de entender. Agirei do meu modo quando me convier e, no momento, não me convém. Está chegando a hora de comprar as Cocas Zero. Eu estou quebrando tudo o que me propus fazer em 2018, isso me deixa para baixo. Embora nem me lembre o que havia firmado comigo mesmo. Hahaha. Sequelado é ozzy. Hahaha. E conveniente. Mas, sério, só me lembro de não beber Coca e andar. Acho que tinha a tentativa de me desfazer das bonecas indo (andando) até a lojinha que mamãe descobriu munido de fotos dos produtos que quero vender, com os valores já estudados. Isso era outra coisa. Do resto, se havia, não me lembro e não vou procurar em posts antigos, sei que postei em algum lugar pouco antes ou pouco depois da virada do ano. Mas não tenho saco para rever o que escrevo. Espero que essa visão do teatro social evanesça da minha cabeça, embora haja vantagens nisso para os bons atores sociais, acho eu. Acho que estou falando do óbvio aqui, todos nós exercemos um papel diferente, adequado a cada situação (filho, amigo, namorado, pai, empregado, professor, consumidor etc.), mas é diferente saber a teoria e sentir na prática isso se desenrolando na minha frente, estar atento a esse comportamento das pessoas de forma clara como o sol. Foi e ainda é uma sensação estranha, senti quase como se tivesse sido iluminado, temi estar tendo um surto psicótico e até agora não sei se tive. Sei que em psicologia se fala desses danados de papéis sociais e sei que isso finalmente ficou evidente para mim. Não são só palavras lidas em um livro ou ouvidas de algum profissional, saiu do campo das ideias abstratas e pude experimentar na prática tal ideário. De posse dessa percepção, a vontade que tive foi de observar o grande espetáculo social que se desenrolava à minha frente, quão grandiosa, complexa e interessante a existência pode ser para um ser insignificante como eu de posse dessa percepção. A segunda coisa que percebi foi que queria ficar como sujeito passivo, como observador, como quem assiste um filme, um documentário, uma peça de teatro. E percebi que para permanecer passivo, tinha que me isolar do grupo com quem fui, pois eles eram interativos, havia intimidade entre nós e tive medo de repartir com eles a minha percepção, tão clara e verdadeira para mim, e não ser compreendido. A situação se tornou tão insustentável, eu me achando esquisito demais, que preferi sair do evento sentar na calçada e escrever sobre o que estava passando. Voltei para dentro quando do final do evento praticamente e segui com os meus amigos para o Recife Antigo. Ainda assoberbado, fui tomado por um profundo bloqueio para me comunicar com os demais. Embora, aos poucos, eu tenha começado a participar como ouvinte e assim permaneci quase o resto da noite, tentando puxar um papo ou outro com a amiga de Bruxelas, o que foi agradável, mas acompanhado por uma ansiedade de achar que deveria me colocar mais, porém sem achar assunto para repartir. Aliás, estava com muita vontade de repartir as sensações experimentadas na Casa Astral, mas achei que todos as teriam como óbvias e idiotas, por isso calei sobre a sensação e em como ela me empurrava ainda mais para dentro de mim. Esse me fechar em mim mesmo não é bom, porque leva ao tédio no devido tempo. Por isso quero que isso suma. Pode ser fato o que for, mas não é um fato relevante ou que me ajude a encarar a sociedade de forma saudável. É uma visão pragmática da sociedade, mas eu não sou pragmático, eu gosto de construir intimidade. Ou gostava quando tinha algum conteúdo relevante para compartilhar. Não desvarios causados por uma crescente fobia social, amplificados por um fator externo que favorece tal cisma. Bom, de lá do Antigo fomos para a casa do nosso amigo bonitão e ficamos lá conversando (eu quase não me coloquei, apenas quando fui indagado sobre a minha vivência com drogas) até quase o sol raiar, ele veio a raiar no meio do caminho para casa. Peguei uma linda manhã despontado no céu e foi tudo o que vi da manhã, pois dormi até quase 15h00. E aí é onde começa essa narrativa. Não sei se vou compartilhar um post quase inteiro dedicado a uma nova neurose que espocou em mim como uma espinha. Não estou mais em idade para ter espinhas. Será que estou na idade de ter mudanças radicais de paradigma? Será que essa mudança em questão agrega algum valor à minha vida? Eu próprio ator social, inescapavelmente ator social, por mais que me esforce para não sê-lo. Até aqui no blog tenho que ser ator social porque há a possibilidade de a minha mãe ler. Mas aqui é o lugar mais livre que possuo, é minha ilha de liberdade individual no meio da sociedade. Somando-se ao meu quarto-ilha é a minha zona de conforto, onde me experimento todos os dias. O problema é que, como percebi essa semana, eu sozinho não me basto. Preciso dessas imersões sociais para quebrar a rotina e poder amá-la ainda mais. Preciso de imersões sociais para me sentir menos alienado, para aprender e me informar sobre as coisas do mundão, do que vai além de mim, do vem do outro ou dos outros. Pena que os choques de realidades às vezes sejam duros e me desmotivem a certas atitudes. Sim, falo da garota da noite. Não sei se desistirei dela, mas ontem todas as evidências indicaram que estou sendo nada mais que um inconveniente em sua vida. Não quero ser isso. Uma formiga passeia pela tela, que ozzy. Formigas no meu quarto-ilha... espero que não estejam fazendo formigueiro dentro de um de meus consoles. Ou quero ser inconveniente porque receber suas respostas frias e distantes, com um puta macaco, me apraz, me apraz interagir de forma parca e, segundo os especialistas da turma, totalmente equivocada com uma pessoa que me atrai. Atrai menos desde ontem, diga-se de passagem, mas deixa isso para lá, deixa eu fazer uma coisa que mal não me faz, pelo contrário, se me assemelha a uma trela e trelas são divertidas. Se vou dar ouvidos ao que me disseram? Já dei e já passou. Mas não tem nada que eu queira dizer à garota da noite no momento. Quando houver oportunidade, não me furtarei e a agarrarei (a oportunidade, quem dera a garota da noite, ela me parece mais acessível desde ontem). Estou sem cérebro ainda por causa da noitada de ontem. Estou ficando velho mesmo. Acho que chegou a hora do Mario Odyssey. Se bater na telha volto aqui. Espero que com outro assunto que não garota da noite e a neurose com a constatação de que a vida é, de fato, um teatro social, o que é uma percepção inútil para mim, mais do que isso, um tanto prejudicial, pois me põe mais cético em relação às interações interpessoais. O mundo não mudou um pingo, só eu que mudei, mas sei que isso minha psique vai jogar para baixo do tapete, para a prateleira de arquivos mortos. Bom é que não estou entediado com o fato de estar num sábado à noite no meu quarto-ilha a escrever. Agradeço a todos que participaram da minha noite e ajudaram a tornar a experiência muito mais rica, íntima e interessante. Com vocês não preciso fazer teatro, posso ser precisamente quem sou ou o mais transparente que consigo ser. Vocês me acolheram mesmo estando meio amuado e bastante introspectivo e isso vale o mundo para mim. Peço que tenham paciência e não desistam de mim. Ontem foi uma noite peculiar, por isso o comportamento tão pouco interativo. Na próxima será diferente. Mesmo que apenas ligeiramente. Não desistam de mim porque graças a vocês eu não sou um completo alienado, vocês são o ar de realidade e de sociedade que areja a minha alma tão trancada em si. Se ouço mais, me permitam, acho tão interessante o que têm a dizer, é um alívio ouvir uma outra voz que não a minha dentro da minha cabeça. Vocês não sabem como isso é revigorante, renovador para a minha alma. E por isso, sou muito grato, por permitirem minha presença junto a vocês. É uma dádiva, um tesouro precioso, é o contato de fato que tenho com a vida fora do meu quarto-ilha. Estou enferrujando rápido nas relações sociais. Espero contar com vocês. Mas vamos ao game. 1h04.

A vista é linda do apé do amigo bonitão e do amigo cervejeiro, mas o fotógrafo é um jumento,
poderia ter aberto a janela para não arruinar a foto com o reflexo.


Manhã irrompe por trás do paredão de prédios

3h08. Como deu para perceber eu estou muito secura no Mario Odyssey. Acho extasiante, muito, muito divertido. Um dos melhores de todos os tempos na minha opinião. E é difícil impressionar um velho perdigueiro como eu. É um jogo que eu já sei que não vou dar a zerada completa, pegar as mais de 800 luas escondidas nos lugares mais obscuros do jogo e com várias maneiras não menos obscuras de trazê-las à tona. Não adianta apenas saber o lugar, é preciso descobrir como chegar lá. Ou onde é lá. Porque quando o cara não sabe mais onde procurar, pode pedir, por cinquenta moedas, ao cogumelo que marque a localização de uma lua no mapa, há um número limitado de luas que ele localiza, de qualquer forma, essa revelação nem sempre ou quase nunca é o suficiente, são necessárias exploração, engenhosidade e criatividade para se chegar a danada da lua. E utilizar essas habilidades é o que torna o jogo tão divertido, é uma grande caça ao tesouro. Ou aos tesouros, pois, como eu disse, há mais de 800 luas para serem achadas no jogo. Sei que não conseguirei pegar tudo, deve haver luas absurdamente difíceis de serem pegas, tenho já umas três que paguei ao cogumelo e que não teve jeito de descobrir onde de fato estavam ou como desencavá-las do local. Outros lugares eu sei que tem luas, mas não consigo cumprir o objetivo, espero que revezando com o meu primo-irmão nós consigamos pegar a de pular corda cem vezes e a do carrinho de controle remoto em 25 segundos ou menos. Tenho quase certeza que esses dois eventos serão recompensados com luas ou power moons, como queiram. Parei porque empaquei numa das luas que o cogumelo marcou no meu mapa e não consegui achar. Além do que já tenho luas suficientes para ir para o outro mundo, o que me apetece mais no momento, prefiro seguir pegando o que consigo achar por mim mesmo e me divertindo com isso e depois voltar para aperrear o cogumelo e buscar as luas que deixei escapar na minha primeira visita pelos mundos. Acho que já passei da metade do jogo e não tenho nem 300 luas. Espero que meu primo-irmão goste do jogo. É difícil não gostar. A viagem do teatro social, embora acredite que verdadeira, não me aperreia tanto o juízo depois de ter me alienado um pouco do mundo com o videogame. Matutar sobre isso o dia inteiro não foi nada produtivo e tal paradigma não me auxilia em nada, não acrescenta nada à minha vida, pelo contrário, rouba pela infeliz conclusão de que não posso jamais conhecer realmente o outro ou eu mesmo me revelar completamente ao outro. Fato é que é possível chegar perto disso, ter uma relação mais franca possível, como o mínimo de dissimulações. É o que busco nas minhas relações, embora nem sempre logre sucesso, por falha de caráter minha mesmo. Não sou perfeito. Mas estou aprendendo a gostar de mim. Achar que em todas as relações de forma inconsciente ou semiconsciente assumimos personagens que não são um espelho cristalino do que vai no ser não quer dizer muita coisa, as coisas se dão assim desde que homens são homens. Nada de novo aí. Ah, não vou começar a elucubrar sobre isso. Papo ozzy, chato e para lá de repetitivo. Acho que vou ficar por aqui. Ainda não decidi se compartilho no grupo dos amigos. Acho que não terei essa coragem. É muita ousadia me revelar assim para eles. Redundante, raso e óbvio. Só porque é algo diferente e novo, que muda a minha rotina, me sinto tentado a fazer. Mas esse post foi só uma dissertação sobre uma neurose que se apoderou de mim durante a saída. Gostaria, entretanto, que eles soubessem o que escrevo. Dúvida cruel. Só quando revisar terei uma posição mais clara se é válido ligar o foda-se e me repartir praticamente despido de qualquer pudor ou não.  Nossa, já vão dar quatro da manhã. Preciso ir dormir.

4h29. Acabei de passar o olho no texto e estou praticamente decidido a repartir no grupo. Se conseguir pegar a foto do meu primo-irmão quando acordar para postar no blog, eu divulgo no grupo. Pronto, acho que essa é uma boa condição. Está decidido. Vou dormir agora. Preciso.

5h40. Não consegui dormir ainda, estou pensando em dar o virote, mas aí vou ficar destruído o dia todo. Não é uma boa ideia.

5h57. Ainda não consegui dormir. Estou com vontade de jogar mais Mario. Acho massa ter o nome igual ao do personagem, se você quer saber. Sou fã. Alguns dos melhores momentos da minha vida foram proporcionados pela Nintendo. Pode me chamar de nerd, geek, freak o que for, mas há jogos que me proporcionaram prazeres maiores – e de outra natureza – que muita trepada que eu dei. É para mim, um grande prazer quando encontro um jogo que me cativa profundamente como o Mario Odyssey. E é cada vez mais raro que isso aconteça. Como já disse aqui, o Nintendo Switch provavelmente será o meu último videogame, pois venho perdendo o encanto por jogos eletrônicos. Esse Mario é um ponto fora da curva, é como se a Nintendo tivesse feito um jogo baseado exatamente no que me diverte em videogames. O Zelda, que também tenho, e que foi eleito jogo do ano em várias publicações, não me cativou tanto quanto o Mario. Para ser sincero, e aí vai uma heresia para quem é gamer, fiquei desapontado com o Zelda. Até agora. Estou com menos de 20 horas de jogo, empacado em um mestre. Achei o Zelda muito complexo, difícil e com desafios muito baseados na física do jogo, o que me desagrada, embora a física do jogo seja fantástica. O problema é que antigamente, nos Zeldinhas anteriores, era tudo questão de saber quando e onde usar tal item ou usá-lo de uma forma inusitada, era muito mais legal assim. E as armas não quebravam, aliás, a arma. Não era necessário ficar catando armas e as trocando no meio de uma luta porque uma quebrou. Isso é mais realista, é, mas é muito mais chato também. O mundo criado para o Zelda é fantástico, dá vontade de sair explorando tudo, mas os encontros com os inimigos resultam quase sempre de morte nessa parte inicial do jogo. Mas não estou com saco de falar de videogames e ninguém está com saco de ler sobre videogames. Vou sintetizar o meu pensamento sobre ambos os jogos, o Zelda é para jogador hardcore, o Mario é para qualquer um (com um pouco de paciência e interesse por games). Estou com os olhos ardendo. Isso é um bom sinal. Vou tentar dormir.

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17h10. Eis a única foto que tirei no celular do meu primo-irmão. Como ele me enviou vou cumprir o prometido e publicar o meu post no grupo da turma. Estou morrendo de vergonha e ao mesmo tempo curioso, embora ache que ninguém vá ler e, se o fizer, se fará até o fim.

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