Estou conversando com o quarteto fantástico, sobre as
últimas novidades. Pena não serem tão boas, o sogro do meu amigo cineasta
faleceu. Pelo menos parece que sua esposa está lidando bem com essa perda.
Estou sem saco para escrever. Estou sem saco para nada. O maior choque da minha
volta para o Brasil foi térmico mesmo. O calor pegajoso que aderiu à minha pele
assim que saí do aeroporto foi o maior incômodo, mas a aclimatação foi
relativamente rápida e tranquila, embora tenha acabado de ligar o ar. Hahahaha.
Ouço vozes dialogando lá fora, uma é da minha mãe.
15h39. Fui pegar Coca, que esqueci na cozinha e vou ter que
voltar lá para pegar, e só ouvia a voz da minha mãe pois ela falava ao
telefone.
15h43. Peguei o copo, no qual inclusive só havia posto o
gelo, não a Coca. Mais um indício de que estou ficando gagá. Mamãe me pediu um
copo d’água e tive de provê-la com um. O mesmo que ela esqueceu em cima de um
livro, algo que se feito por mim, seria uma falta grave. Mas a dona da casa é ela,
ela pode tudo. Ainda bem que era um copo de água natural, não manchou a capa do
livro. Um belo exemplar com as melhores imagens da National Geographic. Sim,
mas mais da minha volta ao Brasil. Quando estávamos todos embarcados em
Frankfurt, prontos para vir para Recife, o comandante da aeronave constatou que
esta não tinha condições de voo e tivemos todos que descer e sermos
reconduzidos a novo avião. Ainda bem que ele descobriu o defeito antes de
decolarmos ou quem sabe eu não estivesse aqui para contar a história. Sei que
isso atrasou a nossa chegada em duas horas. Minha mãe sinalizou bem que fico
meio intragável quando passo muitas horas sem fumar. Só fiquei tranquilinho
quando cheguei em casa e fumei um Marlboro no hall de serviço. Chega me deu
aquela dormência peculiar de quem está sem nicotina nenhuma no sangue. Fiquei
calminho, calminho na hora. Parecia realmente o que é, uma droga da qual estava
com síndrome de abstinência. Comuniquei a meu amigo cineasta que as imagens que
fiz da Alemanha ficaram uma porcaria. Ele riu e disse que isso poderia
acrescentar à experiência. Vamos ver se ele vai manter a mesma opinião quando
vir as imagens. Hahahaha. Tenho me comunicado mais com a minha irmã pelo
WhatsApp depois dessa viagem, acho que intensificamos os elos de nossa relação.
Eu, pelo menos, sinto assim. Fui anormalmente proativo dessa vez, o que acho
que não ocorrerá nos EUA. Por falar em EUA, vou tentar falar com o meu irmão.
16h18. Liguei para ele, contei de todas as desventuras e
aventuras em Munique (mais das desventuras) e perguntei a ele se ele havia
comprado o meu Zeldinha e mandado pela tia da minha cunhada, algo que ele
confessou que esqueceu completamente e que tentaria reparar antes da volta da
família da minha cunhada para o Brasil, para que assim eles tragam o game para
mim. Falando em games, comecei a jogar Persona 4 ontem, mas a fantástica
faxineira veio arrumar o meu quarto e acho que não salvei nada. Não descobri
onde salvava e dei um quit game.
Todos os meus controles estavam descarregados devido ao longo período sem uso,
então carreguei o do Wii U e um dos dois do PS3. Talvez dê mais uma chance ao
Persona 4 hoje, não sei. Estava muito no comecinho ainda e só o comecinho já
demora bastante. Não sei se o jogo salva automaticamente, mas acho difícil dada
a natureza do jogo. Seria uma ótima receber o Zeldinha antes de ir para os EUA.
Muito embora a própria Nintendo diga que o jogo dura mais de cem horas. Só se
securar muito, consigo alcançar esse patamar de horas em dois meses. Queria
fazer uma coisa agora, mas não posso. As leis da casa não permitem. Nem o
cochilo que quero tirar, tirarei. Ficará tudo para a noite mesmo, quando as
leis da casa são mais minhas, visto que as duas autoridades do recinto dormem. Se
bem que com o sono que estou, não vai dar para fazer muita coisa à noite. Da
minha viagem, apesar de todos os percalços de saúde que atingiram os meus
familiares, guardo ótimas lembranças. Foi muito bom ter criado expectativas tão
ruins, as piores possíveis, pois tudo de bom que aconteceu se descortinou como
uma agradável surpresa. A familiaridade com a cidade foi outro ponto positivo,
me senti num lugar conhecido e, portanto, mais acolhedor, mais fácil de me
adaptar. As crianças não me atazanaram muito, foram muito menos intrusivas do
que imaginava. E, principalmente, os vizinhos não apareceram! Ufa! Agora
preciso preparar o meu coraçãozinho para a viagem para os EUA, que promete ser
bem mais caótica em termos de sobrinhos e morgada em termos de passeios que a
de Munique. Preciso também ir me preparando para encarar o severo inverno de
lá, um outro aspecto que me desagrada deveras. Sei que não vai ser como o
friozinho gostoso do outono europeu. Vai ser um frio canadense de doer na alma.
Como queria que o meu quarto no porão estivesse pronto para poder me esconder
das crianças e ficar escrevendo e fumando o meu Vaporfi por lá. Mas sei que
isso não vai acontecer e que terei que fumar Vaporfi do lado de fora, no frio
glacial que me espera. Pior ainda será para comprar cigarros lá. Se minha mãe
fosse um pouco mais cabeça aberta, poderia me comprar cigarros para levar e
isso solucionaria a questão. Iremos passar 20 dias. Acho que cinco, seis
carteiras seriam mais que suficientes. Veremos. Melhor seis carteiras.
17h12. Me perdi pela internet, cuja conexão está uma droga,
e fui pegar Coca. Já sei que amanhã terei que ir com mamãe ao médico fazer o
seu exame. Ozzy. Mas é a vida de curatelado com tempo livre. Prefiro mil vezes
que estar enfrentando as pressões e responsabilidades do mercado de trabalho,
pressões e responsabilidades essas que me são insuportáveis, que me arrastam às
mais escuras profundezas do ser. Prefiro esperar no consultório por minha mãe,
ouvindo o meu iPod e pensando. Aparentemente mamãe está negociando sem muito
sucesso uma carona com o motorista de vovó. Mas parece que mesmo se for com o
motorista de vovó, eu vou ter que ir. Ai, ai... é a vida, é a vida. Começo a me
preparar negativamente para a minha ida aos EUA, é a postura psicológica que me
traz mais benesses, uma vez lá. Pois tudo de ruim que acontecer já me pega
preparado e tudo de bom me surpreende. Quero ver se compro o Persona 5, último
grande lançamento do PS3. Minha mãe quer que eu compre um celular. Acho que não
conseguirei escapar disso, mas é algo que não me incomoda, aliás vai ser um
bônus, pois meu celular está sem memória nem para fazer as atualizações dos
programas. Tenho que toda vez limpar tudo do WhatsApp para conseguir fazê-las.
Um com mais memória seria muito bem-vindo. E com uma câmera que minimizasse o
tremor das minhas mãos na hora de bater uma foto. E que seja pequeno, caiba no
bolso. Não preciso mais do que isso. Acabei de ver, por coincidência, que a
Google está lançando novos aparelhos os Pixel 2 e o Pixel 2 XL e que a versão
mais peba vai custar cerca de 650 dólares (mais taxas). Não sei se é uma boa
pedida, pois acho que eles vão ter o mesmo problema do meu, ter todos os
aplicativos da Google instalados (além de serem caros para chuchu). A coisa
mais legal deles é que o mais peba vem com 64 GB de memória, mas acredito que
consiga achar coisa semelhante, mais barata e sem as imposições da Google, de
outras marcas, até celulares mais antigos.
18h40. Me perdi na internet de novo pesquisando celulares
desbloqueados na Amazon. Confesso que pouco entendi. Confesso também que me
bateu a vontade de comprar o Nintendo Switch com o Super Mario Odyssey, mas
comprar e não jogar seria o cúmulo do ozzy. Principalmente para a minha mãe.
Segundo para mim. E eu posso jogar na casa do meu amigo gordinho quando ele
comprar (eu acho, também não posso ir me convidando assim). Em verdade, prefiro
muito mais o Zeldinha do que o novo Mario. Pelo menos essa é a preferência que
se faz agora dentro de mim. Não vou negar que guardo alguma curiosidade pelo
Mario, mas essa não é o suficiente para justificar a compra de um console.
Ademais, pode ser que o meu amigo gordinho me chame mesmo para uma sessão de
Mario quando o adquirir. Vou falar com ele na nossa próxima ida ao cinema, que,
segundo ele, se dará na semana que vem. Ou para ver “It” ou para ver o novo
“Blade Runner”. Estou muito mais para a segunda opção, mas, como disse a ele,
eu escolhi o do “Planeta dos Macacos” no nosso primeiro encontro, nada mais
justo que ele escolha dessa vez. Não gosto de levar susto em cinema, mas me
submeto se esse for o desejo cinematográfico dele. Estou com sono. Acho que
ainda estou no fuso-horário alemão. Lá seriam 0h15 já. Mencionando isso, o que
posso eu falar mais da minha volta ao Brasil? Encontrei-me com a mesma rotina
de antes com a benesse de não ter o CAPS. Vou tentar negociar com a minha mãe
trocar o CAPS pela terapia. Não sei se vai funcionar.
20h19. Me perdi pela internet pesquisando mais a fundo, a
pedido de mamãe, esse negócio do celular. O que vi era GSM, sem CDMA. Fui
pesquisar o que era GSM e se o tal do GSM era usado Brasil. Vi que era usado no
Brasil, assim como CDMA, então fiquei meio que na mesma. Aparentemente, o CDMA
é mais avançado, mas o GSM é mais utilizado. Bom, de qualquer forma perguntei
na Amazon se ele funcionava no Brasil, vamos ver se algum bom samaritano
responde à questão. Positivamente, eu espero. Acho que o celular é muito
grande, mesmo em sua versão menor, preciso ver ao vivo para ver se cabe no meu
bolso. Mas esse papo está muito chato, especialmente para mim que não tenho o
mínimo interesse por celulares. Acho que meu padrasto chegou (enfim!) do
trabalho. Isso é que é ser workaholic.
Espero que não esteja evitando a casa com a nossa chegada. Ou com a chegada de
mamãe especificamente. Mamãe fez um longo desabafo comigo sobre tudo o que a
incomodava no momento. Não mencionou meu padrasto em momento algum, não tem
queixas quanto a ele. Também não vou aqui expor o que me foi exposto. Acho
indelicado e de uma insensibilidade sem tamanho. Minha leitora número um, que
acho que deixou de ler este blog, me deu um abraço de verdade, mesmo sendo
pouco afeita a tais tipos de contatos. Achei superlegal da parte dela e ela me
pareceu melhor do que da última vez que nos vimos. Ficou feliz de eu ter
curtido a viagem. A encontrei porque fui deixar os perfumes encomendados pela
usuária do grupo AD, mas esperei até 13h30 mais ou menos e ela não apareceu,
então minha talvez futura psicóloga achou que eu já havia esperado demais e me
sugeriu marcar um novo encontro, mais combinado, por assim dizer, visto que não
havia combinado nada com ela, apenas deduzi que ela não perderia esse grupo, o
que ela de fato fez, mas chegou muito em cima da hora ou atrasada para o grupo.
Fiquei de deixar lá na sexta, amanhã, na hora do almoço, mas agora com essa ida
com mamãe ao médico não sei como vai ser. Espero que dê tempo para fazer as
duas coisas. Acabei de mandar uma mensagem para a dona dos perfumes pedindo que
ela chegue entre 10h30, 11h00 ao CAPS para que eu possa fazer a entrega. Não
sei nem se vou acordar nesse horário, mas boto o despertador. Se ela me
responder. Pode ter ficado injuriada com alguma resposta que dei ou deixei de
dar, sei lá. Espero que não.
21h17. Limpei todas as imagens e vídeos do WhatsApp para
atualizar os aplicativos do meu celular. Para variar. Espero que isso demore
para acontecer no suposto novo aparelho que adquirirei nos EUA. Quero ver
quando mamãe souber do Hulk. Ela anda tão enervada e para baixo, triste e com
raiva, que não acho um bom momento para compartilhar essa informação com ela. Espero
que ela melhore de ares antes de a merda se dar. Bater no ventilador, como
dizem. Saber se ela quer arriscar trazer a figura de avião, mesmo sabendo que o
Brasil não aceita pacotes de tamanho maior que o permitido pela regulação. Tenho
inquiri-la sobre a coragem dela de usar ou não o jeitinho brasileiro com a
alfândega do Brasil. Isso se a figura for realmente entregue enquanto
estivermos lá nos EUA. O que acho que tem uma probabilidade de 30% de acontecer.
É possível, mas não provável. Vamos escrever como no Desabafos do Vate. Ou
tentar?
22h28. Vou botar “Medúlla” para me inspirar. Mudei de ideia,
decidir ouvir um CD mais fácil. O “Vulnicura”. A Coca está geladíssima e acabei
de traçar uma paçoca com feijão preto, tudo frio da geladeira, claro. Não gosto
de comida esquentada em micro-ondas, não sei por quê. Nem vou sujar panelas e
queimar a comida. Então, como não me incomodo, como-a gelada. É quase um pecado
falar de trivialidades ouvindo “Vulnicura”. 22h24. Parei agora para sacar o
som. Isso seria para falar de amor. Mas vamos pular esse assunto porque não
estamos de fato no Desabafos do Vate. Vou parar de botar aspas, nunca as boto
lá, isso posso trazer momentaneamente para cá. Agora me sinto bem. Há um banho
a ser tomado e antes ser tomada a coragem para tal intento. Aqui no meu
quarto-ilha, está tão bom por enquanto. São 22h38. De 0h00, tomo o meu banho e
vou dormir. Vou ter que ir para Porto no sábado para o aniversário da minha
tia, irmã caçula da minha mãe e que tem enorme ascendência sobre minha
genitora, tanto que a convenceu a ir. E eu vou a tiracolo e sem levar o
computador, o que é pior. Seria muito sinistro se eu chegasse no meio da
celebração, sentasse no meio do terraço, ligasse o meu computador e começasse a
escrever, me excluindo de todo o convívio social. Não o levarei, então.
Levarei, sem dúvida, o iPod. Se possível, uma carteira de Marlboro vermelho.
KS. Acho que vou tomar banho. O sono começa a bater. Não, ainda não, ainda há
mais leite a se tirar dessa pedra. Eu que me torno cada vez mais insensível aos
problemas alheios. Com a couraça que me separa do mundo cada vez mais espessa.
Aos poucos construo um muro em volta de mim, me separando da sociedade com em
The Wall. Ao mesmo tempo que faço esse movimento, faço o movimento outro de me
permitir filmar para um documentário que nunca vai sair (não vejo como), o que
significa interação social, e saindo para o cinema com o meu amigo gordinho uma
vez ao mês. Mesmo assim, sinto que interajo com eles por cima do muro que estou
erguendo ou talvez sendo estranho demais. Fato é que ambos voltam a me procurar
ou eu a eles e o contato é querido por ambos os lados. Ou assim me aparenta
ser. Do meu lado meio receoso, de não alcançar as expectativas deles em relação
a mim, pois sou uma pessoa tão outra do que fui quando nos encontrávamos quase
todo dia aqui no condomínio. Grandes tempos. Muita interação social com um
grande grupo do que pode se considerar amigos, que formou uma forte conexão
entre nós, alguns permaneceram mais próximos, outros se distanciaram mais. A
maioria se dissipou após sair do prédio, essa é a verdade, mas ao nos encontrarmos,
transformados pelos anos, o que deve ser motivo de estranhamento de ambas as
partes, ainda vem uma conversa fácil, calorosa e honesta. 23h05. Vou fumar um
cigarro.
23h13. Falávamos sobre reminiscências do passado. Abaixei o
som para o volume 9. Estava muito alto, acho que podia se ouvir do quarto da
minha mãe, um absurdo. Eu não devo perturbar o sono dos demais integrantes da
casa com as minhas sandices. Mas que preferia mais alto, eu preferia. Quando
acabar o copo de Coca que acabei de encher, pretendo tomar banho. Vamos ver
quão pretensioso estou sendo. Guardo muito poucas memórias da época da Turma
das Ubaias. Lembro ou me vem à mente com enorme claridade uma coisa que fazia,
acariciar a sombra da minha futura primeira namorada no piloti do prédio onde
sentávamos no respiradouro da garagem, eu acho que aquilo era isso e acho que
nem existe mais, de onde a sombra das pessoas sentadas eram projetadas com
nitidez na grande coluna à frente. E eu acariciava sua sombra num quase-toque,
que dava uma sensação quase táctil aquele ato que acho tão poético hoje em dia
e que, hoje em dia, dificilmente repetiria com alguém. Minha couraça está mais
espessa o muro está mais construído, e não estou inundado de hormônios da
puberdade como estava na época. Acabou o copo de Coca, vou tomar banho.
0h10. Banho tomado, pronto para dormir.
-x-x-x-x-
12h37. Acabei de voltar do CAPS, onde entreguei os perfumes
para uma esfuziante e feliz proprietária. Ela me contou as novidades, duas para
ser específico, uma engraçada e outra sem graça nenhuma, aliás trágica, não
fora a evolução da medicina dos dias de hoje. Voltei meio mole e tonto, não sei
se por conta do calor, não me sinto no meu melhor agora. Estou resfriando no ar
e tomando Coca com gelo. Estou ligeiramente enjoado. Não sou dado a esses
faniquitos, isso é algo novo para mim. De repente eu esteja mais atento ao meu
corpo, sei lá. Sei que isso não me impedirá de acompanhar mamãe ao médico e,
sim, amanhã irei a Porto de Galinhas para o aniversário da minha tia. Sem
computador. Novamente não guardo as melhores expectativas em relação ao evento,
pode ser até que haja momentos de estresse devido a uma pendenga financeira de
um dos meus tios, então o que vier de bom vai ser lucro. Se houver esse
estresse familiar, que parte do meu tio, mas envolve todos os filhos de vovó,
eu, sem titubear, irei para a praia até os ânimos se acalmarem. Se se
acalmarem. O babado pode no pior cenário simplesmente acabar com a festa. Mas
acho que estou sendo demasiado catastrófico nesse prospecto. Acho que vai ser
um momento de alegria e confraternização. Tenho que dormir cedo hoje, ou dormir
à tarde quanto voltar. Preciso descansar. Não me sinto realmente bem.
13h21. Estou melhorando. Já me sinto mais disposto. Estou
todo pronto, só falta colocar os sapatos, que já separei.
16h22. Acabamos de voltar do exame que não houve, pois mamãe
esqueceu a requisição do médico. Começo a ficar – e ela dá sinais de estar
também – profundamente preocupado com a sua memória. Acho que já é o momento de
ver um médico para analisar isso e desvendar o que está havendo com a sua
cabeça. Vou discutir isso com a minha tia amanhã em seu aniversário, o tal de
Porto. Incrivelmente não estou muito amuado com a situação do aniversário, me
incomoda apenas o fato de acordar cedo. O resto acho que pode até ser
divertido, caso não haja a lavagem de roupa suja sobre a herança entre os
irmãos. Isso poderia arruinar a festa. Eu acho que mamãe está com receio de ir
a um médico da cabeça e descobrir o pior, mas caso o pior seja, quanto antes
começar a se cuidar, mais qualidade de vida terá. E também pode não ser nada.
Ou pelo menos nada de tão grave quanto Alzheimer. Perdi o sono, mas hei de
reencontrá-lo ao me deitar na cama. 16h57. É o que vou fazer agora. Ou melhor,
daqui a pouco. Preciso realmente conversar com titia a respeito dos problemas
cognitivos de mamãe. Não posso me esquecer. Acho que levarei a câmera amanhã
para fazer uma filmagem. Se pudesse, levaria o computador também. Mas acho que
realmente não cabe na história o meu CPU. Só se fosse dormir lá, aí caberia,
pois poderia usá-lo depois da festa. Ontem contribuí com vinte reais para o
Wikipédia. Acho um dinheiro superbem investido. Poucas coisas consigo conceber
como sendo tão úteis em se empregar dinheiro. O Wikipédia, na minha cabeça,
será, se já não for, a grande fonte de conhecimento da humanidade e me sinto na
obrigação de contribuir com isso, me agrada a ideia de que eu faço parte de uma
forma mínima dessa história que se confundirá com a própria história da
humanidade, que ajudará milhões ou bilhões de jovens – e não só jovens, mas
mulas velhas como eu – a adquirir conhecimento confiável. Cada vez mais
confiável. 17h29. Me perdi pela internet e perdi o sono. Botei o CD – é, CD –
de Britney, “Blackout”. Incrível como nesse som, ele ganha uma nova dimensão,
profundidade, noto detalhes que não havia percebido até hoje, é superbem
produzido. Estou voltando a cogitar pedir o reembolso do Goliath, um boneco que
comprei há três anos praticamente, senão factualmente, e ainda não foi lançado.
Foi prometido para o quarto quarto desse ano, ou seja, até dezembro. Pensando
bem vou esperar o prazo se esgotar e então pedir o reembolso total. Talvez,
como incentivo para receber o reembolso total, eu mencione que penso em abrir
um processo contra a empresa. Acho ozzy usar desse expediente, mas acho muito
mais ozzy ser enganado e perder o meu dinheiro. Bom, eles ainda estão dentro do
último prazo que me deram. Dureza é que não vou poder trazer ele para o Brasil,
pois é outro produto oversized. Não
sabia nada sobre essa coisa de oversized
quando o comprei. Só fui descobri da forma mais amarga possível com o busto do
Hulk. Dura realidade que preciso repartir com a minha mãe. Cuja reação eu só
posso supor e o que suponho me dá calafrios. Preciso arrumar uma maneira de
comprar a Red Sonja antes de dar a ela esta notícia. Argumentar que se eu
comprar até novembro, as parcelas serão menores, a partir daí vão aumentando,
pois há menos meses para dividir. Sei que parece uma jogada perniciosa e é.
Mas, por outro, lado comuniquei tudo a ela por e-mail, inclusive do envio desse
boneco diretamente para o Brasil. Não há nada que esteja fazendo realmente às
escondidas, ela pode não ter ideia do valor a ser pago pelo busto do Hulk, do
qual faço apenas vaga ideia também. Só sei que vai ser muito caro. Extremamente
e estupidamente caro. E ainda corre o risco de vir danificado pela alfândega.
Isso se entregarem. Mas espero que com tantos tributos a resgatar, eles queiram
entregar e colher a dinheirama. Para ser sincero estou com a cabeça em outro
lugar no momento. Em outro impossível que quero tornar possível. É incrível
como Britney não tem voz nenhuma. Gosto muito dessa música que passa agora. Por
sinal é uma cantora que está totalmente fora da mídia. Vou procurar no Spotify
quando saiu o seu último disco. Deve fazer tempo. Me enganei, ela lançou um
disco no ano passado, mas aparentemente não fez tanto estardalhaço como em
épocas anteriores. E o rosto dela parece plastificado na capa. Estranhamente
plastificado. Como se tivesse mudado o nariz e aumentado os lábios bem no
padrão das plásticas norte-americanas. E a foto é bem lavada, com muita luz,
como se quisesse ocultar o seu rosto mais que revelá-lo. Fiquei curioso para
ouvir esse “Glory” dela. Quando o que estou ouvindo acabar, vou botar para
ouvir. Quero ouvir também os mais novos do Linkin Park, sempre tive curiosidade
e o Spotify, coisa mais maravilhosa, me dá essa possibilidade, dentre inúmeras
que nem posso imaginar quais são. Sei que virtualmente (em ambos os sentidos) toda
e qualquer vontade musical que tenha pode ser satisfeita por esse serviço. Algo
que os que nasceram num mundo com Spotify não vão conseguir compreender é como
a música era consumida antes do Spotify, eles certamente vão estranhar o
conceito de mídia física e de se comprar um álbum inteiro de um cantor, não só
os hits. Estou ficando velho mesmo. As tecnologias com que cresci vão ficando
para trás, sendo virtualizadas cada vez mais. Gostei da primeira de “Glory”, “Invitation”,
gostei tanto da voz, quanto dos arranjos quanto da melodia. Surpreendente.
Tanto gostei, de prima, que já adicionei ao meu playlist mais tocado, o número 6. Gostei da segunda também. Estou
gostando mais que de “Blackout” até agora. E ela está usando falsete, o que é
legal, seu falsete é bem doce. Na terceira, que também gosto, embora menos, sua
voz está parecendo como a de desenho animado. Hahahahaha. É um disco mais calmo
que o “Blackout”, isso me agrada. Pelo menos até a terceira música. Estou
sentindo que uma dor no cóccix se aproxima. Fiquei pasmo que não tive nenhuma
na Alemanha. Ou nos voos. Gostei da quarta também. Interessante que o jeitinho
dela cantar parece mais jovial que no CD que ouvia. Mais delicado, feminino. Interessante.
Interessante são as técnicas de mixagem para dar suporte à sua voz. A quinta já
não gostei, embora seja praticamente sussurrada, o que é uma coisa legal,
diferente, não me agradou a melodia. Pelo menos não de primeira como as demais.
Estava cogitando acrescentar o disco inteiro à playlist 6, mas já mudei de ideia. A não ser que essa seja a única
fraca, o que acho difícil. Definitivamente não vai entrar na lista 6. Para
falar a verdade, vou pular as músicas para ver se há mais alguma balada. Essa
Britney não tem voz nenhuma, nasceu foi com o belo bumbum voltado para lua.
Pelo menos costumava ser um belo bumbum. 19h20. O disco torna-se cansativo. Salvei
mais uma “If I’m Dancing” e pulei para o último do Linkin Park. Começou
extremamente leve e pop. Estranho. Parece balada de boy band. Isso me deixa interessado pelo resto do disco. A segunda,
apesar do rap, também é lentinha e melosa. Vai ver que é um disco póstumo. Acho
que ao invés de ficar narrando músicas, vou jogar um pouco de Persona 4. Mas
estou sem vontade nenhuma. O disco até agora é bem light. Curioso. Será que
essa era uma vertente que eles estavam trilhando ao longo dos álbuns
anteriores? Me lembrei de um colega de internação que era fã de Britney e
Linkin Park, talvez por isso tenha inconscientemente pulado de uma para o
outro. Não é mera coincidência na minha opinião. Foi outro que “conquistou”
Nina durante a internação. Não que isso fosse difícil, só era impossível para
mim, talvez porque a tratasse bem demais e fosse um cavalheiro para com ela. Esse
disco embora menos chato que o de Britney, é chato também. Vou fazer o que meu
primo urbano condena, vou colocar em modo aleatório na discografia do Linkin
Park para ter uma visão mais abrangente do que os caras fizeram depois de “Hybrid
Theory”, o último e único que realmente ouvi e do qual tenho o CD por algum
lugar aqui de casa. O modo aleatório já colocou numa música mais urgente, mais
no estilo que esperaria do Linkin Park. 19h43. Minha mãe me prometeu fazer uma
farofa de calabresa com cebolas e manteiga, mas até agora nada e, pelo que
prevejo, ficarei no nada mesmo. Daqui a pouco ela vai estar muito cansada para
fazer qualquer coisa e vai dormir e eu que só comi Manner hoje, que minha irmã
comprou para eu trazer, vou ficar com fome. Vou comer feijão com farinha. Mas
estava desejando essa farofa da mama. Sim, eu mesmo posso fazer a farofa, mas
não tem a mesma graça de uma feita pela minha mãe. Estou achando o som do
Linkin Park menos inventivo que Infected Mushroom e vejo certa similaridade
entre os sons de ambas as bandas. Vou ouvir o disco do Blink 182 do qual ouvi
algumas músicas durante a internação, o primeiro disco sem o vocalista da
banda, eu acho. Sem algum dos integrantes. Achei a música que procurava, que
virou um hit da internação “No Future”, do disco “California”. Já foi para a
lista 6. Coloquei outra, uma baladinha, “Home Is Such a Lonely Place”. Aposto
que o Marinheiro, superfã da banda, deve odiar esta. Bateu saudade do
Marinheiro.
20h05. Meu padrasto já chegou e conversa com mamãe. Comi um
pedaço velho de queijo de coalho frito para preencher o vazio da minha barriga,
se ficar só no Manner, vou acabar enjoando da guloseima. Acho que vou me deitar
um pouco, pois não encontro vontade de fazer mais nada. Penso no Persona 4, mas
passar por tudo de novo me dá preguiça. Não é isso. É que estou sem vontade de
jogar mesmo. Ou com uma vontade tão pouca que não justifica o esforço para mim.
Talvez essa vontade crie raiz, mas por enquanto é só estéril semente. Fico
tentando me enganar que se fosse o novo Zelda eu estaria mais disposto a jogar.
Isso me soa como verdade, mas não tenho certeza. Acho que não vou possuir a
estátua do Swamp Thing. Pelo menos não até saber o tamanho da caixa. Ou seja,
até depois de ela ser lançada. Não me importo com isso, de quando. E quero ver
fotos, mais fotos, digo, para tomar a decisão final. Mas tudo se encaminha para
a Red Sonja ser a minha última estátua, se a minha estratégia das parcelas
funcionar com a minha mãe. A caixa da Red Sonja eu sei que cabe como bagagem.
Tenho sérias dúvidas sobre a do Swamp Thing, entretanto, então a melhor
estratégia para ele é esperar. Se fosse apostar, apostaria que sua caixa será
maior que o permitido em voos para o Brasil. Infelizmente. Se bem que nem estou
tão animado com a figura mais, o afã da novidade passou. A Red Sonja, por outro
lado, ainda me encanta como a mais bela estátua feminina já produzida pela
Sideshow. Só a pintura da cabeça é que pode detoná-la, mas confio que o
controle de qualidade da Sideshow melhorou bastante. Ou assim, minha esperança
quer crer. Nossa, como estou preocupado com a alfândega abrir e arranhar a
pintura do meu Hulk ou danificá-lo de alguma forma. 20h40. Acho que essa farofa
não vai sair hoje. Melhor ir me acostumando com a ideia. Qualquer coisa, ataco
o peixe que será o almoço do meu padrasto amanhã. É, meio como uma retaliação
mesmo por me criar uma grande expectativa e frustrar. Não, isso é muito
infantil. Como feijão com farinha ou faço eu mesmo a farofa. Claro que vou
ficar só no feijão, né? Preguiça chegou aqui e ficou. Hahahahaha. Queria muito
a farofa da mama. Vou passar para pegar Coca e fazer uma pressãozinha com a
minha aparição.
20h48. Aparentemente a pressãozinha funcionou. Ela disse que
iria ao banheiro e que iria fazer a farofa. A não ser que o meu padrasto a desestimule
a isso. É uma probabilidade. Mas vamos fazer de conta que não é. Minha mãe pode
adentrar no meu quarto e dizer para eu me virar com o que tem na geladeira. Sem
problema. Ela anda muito cansada emocionalmente. Mais que fisicamente, eu acho.
Preciso acabar de digitar o diário do Manicômio. E agora que estou de férias do
CAPS, não tenho desculpas. Aliás, nunca tive. Só se realmente começar a jogar o
Persona 4 e imergir mesmo no game. Acho que o Word só não reclama da palavra “game”
como estrangeirismo porque também é uma conjugação do verbo gamar. Bom, vou
fingir que não deduzi isso e continuar escrevendo game sem itálico, o que é um
trabalho chato de se fazer e não estou com saco de fazê-lo para uma palavra que
uso tanto. Tenho que me lembrar de levar a GoPro amanhã. Tenho que botá-la num
local inesquecível para mim. Ou junto de itens inesquecíveis. Quem sabe não
leve a minha mochila? Com o computador dentro! Hahahaha. Acho uma boa ideia. Se
der para usar, uso, se não der, não uso. Penso em outorgar à filha caçula da
minha tia a missão de capturar as imagens, visto que tenho que estar nelas. Se
ela não quiser, o que acho que ela pode encarar como uma divertida brincadeira,
eu passo para algum outro primo. Mas acho que uma criança ou tween teria um olhar novo diferente, até
pela estatura, que um adulto. Veremos. Começo a não achar uma ideia tão boa
levar a mochila. Onde colocar a câmera é que são elas. Talvez em cima do
computador, quando o desligar, sabe-se lá de que horas eu vou dormir hoje. Mas
coloquei a câmera em cima da cama para não esquecer. Sabe de uma coisa? Eu vou
levar a mochila com o computador, câmera e o equipamento do Vaporfi. Vou
revisar isso para postar, já está enorme, para variar. Para qualquer gringo,
nada como sair do frio outonal da Alemanha e cair direto no clima praieiro
supertropical de Porto. Mas não sou gringo. Sou alienígena Hahahahaha.
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