sexta-feira, 28 de setembro de 2018

INSTAGRAM



11h58. Depois de um longo hiato, produtivo hiato, em que escrevi o meu segundo livro (bem, quase todo, falta o capítulo de fechamento), estou de volta ao lugar primeiro das minhas palavras. Me impressiona como a vida, mesmo a minha, é dinâmica. Várias coisas aconteceram. Uma delas foi que conheci a garota do Instagram e, entre trancos e barrancos, pois ela demora séculos para me responder, temos construído um diálogo. Fazia muito tempo, nem sei quanto, que não conversava tanto com uma garota que me interessasse afetivamente. Desde a portuguesinha. Mas a portuguesinha veio me revelar depois que namorava e que morava com ele. Agora, talvez tolamente, vejo a garota do Instagram como a luz no fim do túnel da minha solidão e queria me tornar a luz de sua vida. Por sinal, ela está conversando comigo agora. Entre trancos e barrancos. O meu teclado está com um problema de espaçamentos duplos, a tecla de espaço está com defeito. Aqui nesse post é mais fácil consertar, mas no livro, decidi que vou mantê-los, para acrescentar uma camada extra de autenticidade à narrativa. Como conheci a garota do Instagram? Ela começou a me seguir no aplicativo, eu a achei bonitinha e não sabia se a conhecia, então, tendo descoberto que o Instagram tem chat, iniciei um papo com ela para ver se me lembrava de quem se tratava. Não nos conhecíamos. Estamos no quarto dia desde o primeiro contato. Já nos conhecemos um pouco.

12h40. Fui fumar e nada da resposta dela. É assim. Espera sofrida, que a mim demonstra a falta de interesse dela pela minha pessoa e que finjo não ver dessa forma. No mais, mandei a versão revisada do Diário do Manicômio para o meu tio intermediar com as editoras e mandei também para o pai da Vila Edna – pois é, criei coragem para voltar lá depois de mais de ano, creio – e temo pela receptividade que o texto terá para uma família tão querida. É o primeiro teste de fogo da reação do público. Espero não macular a relação. Se macular foi uma escolha consciente que eu fiz. Quero me reconhecer escritor de fato, não de blog. Segurar o objeto livro contendo as minhas palavras nele. Ainda estou na dúvida se o meu tio fará a parte dele, mas me agarro nessa esperança. Deixei o capítulo final do novo livro, que intitulei de Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso Ou Mário Odyssey, para depois, pois abri todos esses arcos e acho que deixá-los sem conclusão é um desserviço com o hipotético leitor. Sigo à espera de uma sugestão de música maravilhosa por parte da garota do Instagram. Estou curioso para conhecer os seus gostos musicais. Estou um pouco cansado da lista 6, vou colocar a discografia de Björk para tocar em modo aleatório. Aliás não vou. Vou continuar ouvindo a seleção de Björk da lista 6, tem o Utopia que sempre me relaxa.

13h37. O meu amigo da piscina está fazendo um pão e me chamou para experimentar quando estiver pronto. A garota do Instagram não deu mais sinal de vida, estou começando a me acostumar com seus longos silêncios. Ficava ansiosíssimo, não mais. Se é assim que a existência se mostra para mim, tenho que relaxar e aproveitar. Melhor tê-la dessa forma fugidia em minha vida que ser jogado de volta à solidão. Contei a ela que voltei a escrever o blog e que poderia mandar o link caso estivesse interessada. Minha mãe está com alguma doença, gripe, virose, sei lá, que ataca a garganta e a deixa mole. Está descansando no quarto. Creio que não seja nada de grave, embora ela já fale em pneumonia. Ela descobriu que eu compro cigarros por fora e cortou os Marlboros que me dava dia sim, dia não.

14h17. Ainda nenhuma resposta da garota do Instagram. Mamãe entrou aqui no quarto para me alertar que, quando a voz melhorar, vai querer ter uma conversa comigo. Tal comunicado me deixa com um desconforto interior porque ela tem uma cabeça muito diferente da minha. Ah, no processo de composição do novo livro passei por uma profunda transformação existencial. O título do livro reflete e sintetiza isso. Saí da sombra do meu pai e do meu irmão, deixei de me comparar aos outros, me meço por mim mesmo,  aceito os meus defeitos,  os acolho e  tento mudar os que consigo, os que me incomodam.

15h41. Estive com o meu amigo da piscina e seu contundente bolsonarismo. Acabei de mandar uma mensagem para a garota do Instagram. Achei que mandei bem. A mensagem foi dada em quatro partes, cada uma visando criar uma emoção diferente, me surgiu de um impulso e do tempo que tenho para pensar cada mensagem. A princípio pensei em colocar apenas “seu silêncio é eloquente...”, então concluí que tinha que seguir adiante e o complemento foi pipocando na minha cabeça, inclusive o emoticon de fechamento. Pois bem, crio o drama com a primeira frase, curiosidade com a segunda (“Sabe o que ele diz?”), com  a terceira apresento um fato inegável (“Que eu não pertenço às suas prioridades cibernéticas”). E no final a alegre surpresa: “Ainda.” com um emoticon muito contente de si, muito tranquilo e muito confiante. Que é como me sinto no momento. Acho que a minha mãe está deprimida, não está gostando de existir, não acha que está levando uma vida feliz, como se tivesse dado um “cansou” nela. A vontade que tem é ficar em casa descansando da vida inteira de trabalho e a impossibilidade disso a está deixando doente. Isso pode ter aflorado porque eu parei de dar “trabalho” e ela teve oportunidade de olhar para si e seus conflitos emergiram. A idade também tem lhe pesado muito e sido muito severa. Eu e meu amigo da piscina tivemos divergências ideológicas a respeito do bolsonarismo.

[15:44, 9/28/2018] Mário Barros: Não percamos a amizade por questões ideológicas, apenas discordamos em alguns aspectos. Ademais a minha opinião é baseada em muito pouco conhecimento (que não pretendo expandir).

16h20. Estou pensando na garota do Instagram. Isso tem alguns traços de paixão, mas não é paixão ainda, não é hora, não está nem perto. Sabe o que eu projeto, que não sei se conseguiria aplicar realmente, por ser ousado demais? Que, caso nos encontrássemos na passeata, eu pudesse andar de mãos dadas com ela por alguns momentos. Há quantos anos não sonho em andar de mãos dadas com uma garota? Uma garota pela qual eu tenha sincero interesse? Nossa, nem sei. Quem ainda me dá algum carinho é a Gatinha. Bom, nada disso vai acontecer, é só ficção. Outra ficção que criei enquanto fumava era dar a um dos alunos da minha mãe a ideia de organizar um evento surpresa de despedida, quando da sua aposentadoria, com todos os alunos dela e os professores no auditório e coquetel depois. Fazia uma quotinha no departamento para que todos contribuíssem para a consecução do evento, que não seria caro, a estrutura está toda lá. O auditório tem inclusive o nome do meu pai. Seria massa se meu padrasto terminasse o discurso com: “...e além disso é o amor da minha vida”. Eu estaria presente, claro. FIM. Acho que não tenho coragem de jogar a ideia para o aluno. Mas acho que mamãe gostaria dessa manifestação da existência. Talvez gostasse de saber que eu fui o mentor. Vou pensar no caso. Sei lá, pegar o e-mail do cara, ou mesmo falar com o meu padrasto. Será que consigo? Seria uma atitude positiva da minha parte. Acho que poderiam até ex-alunos virem. Tive uma ideia! Vou mandar um e-mail com esse trecho do texto para o meu padrasto.

16h52. Mandei. Cutuquei a existência. Não sei no que isso vai resultar. Espero que em nada negativo. Agora fiquei apreensivo.

16h59. Fiz, está feito, não há volta. A vida não tem ctrl + Z. Por isso não me arrependo de tentar o meu máximo para conquistar a garota do Instagram. Demorou tanto para eu achar uma garota que merecesse ser a minha namorada, nos meus seletivos critérios, e o acaso/destino me apresenta a garota do Instagram. Uma garota encantadora pelo que tudo indica por dentro e por fora. Uma garota que posso conhecer com calma, para que a nossa relação se construa aos poucos para que eu vá me acostumando e me preparando para mudança que é ter uma parceira para encarar e usufruir a vida. Que possa dormir ao meu lado. Nossa, como sinto falta disso. Ter o ser amado ali confiando o seu sono a mim, acordar no meio da noite e ter alegria de vê-la. É uma existência provida de mais sentido, de mais alegria, de mais intimidade, mais cumplicidade, mais afeto, de mais admiração. Claro, morro de medo de isso vir a acontecer de fato. Seria uma mudança muito radical do status quo que agora impera em minha, por mais que positivo, radical. Eu precisaria readequar a minha vida para comportar uma nova pessoa, minha vida social seria mais agitada, mas respeitando os meus limites. Muitos programas ela poderia fazer sozinha, eu suponho, pois os faz hoje. Eita, outra ficção! Estou ficcional hoje. Hahaha. Vou fumar e encher o refil de Coca Zero.

17h23. Minha mãe e meu pai, parece que o meu padrasto veio depois, junto com outros professores agora decanos, fundaram o DQF da UFPE, fizeram a revolução e evolução do ensino de química da universidade, tenho muito orgulho dessa conquista deles.

17h28. O ar estava me deixando com frio. Desliguei. E pensar que até a semana passada eu nem sabia que Instagram tinha chat. Realmente a vida tem cada uma. Tenho que me conscientizar que nunca vou namorar a garota do Instagram. Mas essa ficha ainda não caiu.  Ainda há uma renitente esperança em meu peito. E vou insistir até que se prove inviável. Ou que outro milagre desses aconteça. Não tenho nada a perder, ela me diverte quando resolve falar, o que se prova extremamente raro (ela falar, digo). Estou aprendendo a relaxar com isso. Confesso que sou um aprendiz medíocre e ansioso. Eu não sei jogar o jogo de seduzir, eu só consigo ser eu mesmo. Vou postar como imagem deste post o quadro que pintei e recebeu uma quantidade razoável de elogios no Instagram. Pois é, estou assíduo do programa como jamais fui. Por que será? E além da garota do Instagram há o anjo do Tinder, que me serve de conselheira. Em verdade a encontrei primeiro e ela me levou à outra, por me fazer ver o Instagram, este me informar de que uma nova garota havia começado a me seguir e eu decidir investigar quem era. O acaso/destino agiu de uma forma muito singular. Sobre o anjo do Tinder? É uma garota lindíssima que entrou no aplicativo só para tirar onda, me pegou e tentou me fazer de otário, mas a desmascarei. Passei-lhe um sermão e nos tornamos amigos de Instagram, por assim dizer. Sempre quer saber em que pé anda a minha interação com a garota do Instagram. Nossa, estou cansado de escrever a palavra Instagram. Acho que esse vai ser o título do post.


17h54. A terceira página está quase acabando. E nada de resposta da garota. Até o anjo do Tinder já veio falar nesse ínterim, perguntar como andavam as coisas. Acho que a minha mensagem para a garota do Instagram ficou redonda, mas quando publicar isso vou postar o link do Profeta para ela. E daí me segurarei até que ela fale, senão tento amanhã de novo. Entre ficar só escrevendo aqui e ouvindo música, me comunicar em pílulas com a garota do Instagram é uma ótima adição à minha rotina, se eu não ficar com ansiedade. Seria uma  história para contar aos nossos  netinhos que nos encontramos pela primeira vez  numa passeata histórica, de um momento histórico do país, mostraria que tínhamos ideais políticos e poderíamos explicar contra o que lutávamos: contra a militarização do país, a favor das minorias e da  base da pirâmide social, pelos direitos constitucionais invioláveis, pelos  direitos  humanos como um todo, para prevenir que alguém completamente despreparado assuma o controle do Brasil e com o apoio dos militares sabe-se lá engendrar o quê. É muito perigoso um homem incompetente, reacionário, que incita o ódio no poder. Enfim, seria legal, bem legal que nos encontrássemos lá. Sua presença valorizaria muito mais a pessoa que é para mim por estar demonstrando que ela se valoriza e se mobiliza como mulher e cidadã num momento tão extremo. Eita, entrei na quarta página, vou revisar e postar.

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

MOTHER!



A juventude passa, mas não passa o desejo de usufruir da juventude, não passa o encantamento que ela desperta. Isso é injusto pois não tenho juventude para oferecer em troca. Minha mãe está preocupada comigo, com o meu atual estado de ânimo e com o meu isolamento. Sua preocupação me incomoda ao mesmo tempo que demonstra de forma clara o amor que tem por mim. Postei mais um texto no blog de bonecos, mas esse não divulgarei. Chamando a todos nós, colecionadores, de consumistas. Que é uma verdade. Aliás viver num sistema capitalista é ser um consumista em potencial, pois é para isso que ele serve, para consumirmos mais do que não precisamos realmente, criando novas necessidades para o enriquecimento de alguns poucos. O capitalismo também gera a invenção, a descoberta, infelizmente as verbas para tais avanços estejam ligadas a interesses sombrios. Ou não, sei lá. Guardo imensa esperança na humanidade, mesmo que tenhamos colocado Trump como líder do mundo. É muito bom tomar Coca geladíssima. São 15h21 e já acordei há algum tempo. Não me sinto particularmente de mal da vida hoje, um dia de alívio, eu mereço, eu acho. Ainda estamos na terça-feira, mas dou essa semana como ganha pelo show de Caetano com a filharada. Minhas costas doem por ficar tanto tempo sentado na mesma posição.

15h50. O desânimo se abate sobre mim uma vez mais. Meu post no maravilhoso mundo dos bonecos está com mais de 900 visualizações. Algo que me agrada pelo menos.

15h55. O que fazer com esse montão de vida que me resta se nada me agrada? Eu não gosto de seguir sugestão dos outros, eu não gosto de nada que me seja imposto, eu não quero fazer nada a não ser escrever aqui. Eu estou ferrado. Não sei como perdi o interesse pelas coisas do mundo, mas elas simplesmente não me apetecem. Não tenho paciência para mais nada, só se for algo realmente muito interessante para mim. O alento só me vem – e às vezes nem vem – com o meu subterfúgio.

16h14. Usei do meu subterfúgio, foda-se. A vida é agradável para mim agora. O sol da tarde na minha cara não me vem como uma chateação, um inconveniente, me vem como necessária luz que me alimenta e me traz saúde, principalmente por eu passar a maior parte do meu tempo no quarto-ilha sem ter contato íntimo com o astro-rei. Estava pensando em jogar Zelda. Talvez o faça, mas não agora. A música de Marcelo Camelo me entra muito bem, assim como a Coca gelada. Santa Chuva. Fantástica também na voz de Maria Rita, primeira a gravá-la. Marteladas ecoam pelo quarto, trocam os azulejos do prédio. Interessante que antes estava condicionado a relevar o barulho ou então começaram agora, sei lá. Sei que não consigo me desligar dele no momento. Eu poderia aumentar o som. Afinal não tem ninguém em casa. Téo e a Gaivota. A Coca acabou e a vontade de fumar emerge. Não me sinto tão bem agora, não saberia dizer por quê. Mas ainda está bom. Não posso ser assim tão sensível.

16h33. Maria Rita, Menina da Lua, essa música me é muito evocativa. Há tantos nomes que colocaria numa filha, esse pensamento às vezes me assalta: Maria, Aurora, Francisca, Poema, Vida... havia outros, mas não me recordo. Qual será a história de Estrelinha, uma prostituta jovem com quem fumei crack junto com uns moradores de rua, também jovem e viciados? Ela chorou de culpa por estar recaindo, disse que tinha uma família que morava num apartamento de Boa Viagem, mas por algum motivo que não me recordo, não podia voltar para lá. Não entendo o que leva uma menina bem-criada a acabar naquele fundo de poço. Ou sei, o crack. É uma droga maldita, foi perversão e crueldade a terem inventado. Pensando no meu companheiro de espera na terapia. Assumir-se vagabundo, um imprestável é uma tarefa difícil é um papel que pesa muito pela culpa. Por enquanto as benesses que usufruo desse papel compensam.

16h54. Saquei qual a solução para o meu problema e é o que Ju disse, uma mudança de perspectiva, em vez de ficar me martirizando com o que acho que a sociedade pensa, eu poderia me ver como homem extremamente bem-sucedido que sou, para os meus parâmetros. Eu consegui reverter toda autodestruição e parte do desamor que eu tenho por mim em um meio de conseguir o meu sustento, ademais eu vivo uma vida sem estresse e burocracia, sem trânsito, ordens, horários, obrigações, não experimento nada de ruim que uma pessoa da minha idade experimenta e, sem alternativa, se submete diariamente. Eu sou livre, livre de tudo isso por ser incapaz civilmente. Sempre haverá alguém para cuidar desses aspectos por mim. Só me falta, de posse de todo o tempo livre que tenho para mim, aumentar as possibilidades de diversão. Eis aí outra pedra. Cada vez menos coisas me despertam interesse. Estou meio que nem aquela música de Björk, I’ve Seen it All. O que me mantém são é a escrita. Não tivera essa válvula de escape, eu nem sei de mim. Será, talvez, por ser a válvula perfeita, que eu não tenha me viciado nela? Se bem que agora quero jogar videogame. Fumar um cigarro antes.

17h19. Eu fumei e resolvi voltar para cá, ainda não me bateu uma vontade forte o suficiente de jogar. Se tudo permanecesse assim, como me sinto agora, estava de boa. Mas não é como geralmente me sinto. Apesar de toda a minha genialidade de conseguir a vida que sempre sonhei, dedicada à escrita, sem responsabilidades outras, essa se prova insuficiente a maior parte do tempo. Há momentos em que me odeio profundamente, visto que não posso odiar mais nada, pois nada me falta, não necessito de mais do que tenho. Falta-me uma pessoa, uma garota jovem e bela e uma paixão mútua que evoluiria para amor entre nós. Infelizmente, o meu isolamento não me levará a isso. E eu acredito que nada me levará a isso. Ou quase nada. Tenho uma última desesperada cartada na mão, que nem sei se tenho coragem de abrir para a existência. Veremos o que decorre. Queria mesmo que o anjo do Tinder me desse um match e eu conseguisse seduzi-la. Acho que vou ver um filme. Ou The Walking Dead.

17h50. Coloquei Mother! e Conjuring 2 no pen-drive. Estou com vontade de dormir. Mamãe me ligou e disse que trará sanduíches do McDonald’s, um deles sendo uma novidade. Não estou nem um pouco interessado em ver filme agora. O sanduíche novo muito me apetece, entretanto. Vou fumar outro cigarro antes de eles chegarem.

18h11. Voltei e me deixei estar um pouco no maravilhoso mundo dos bonecos. Um cara criou uma polêmica boba, mas que está gerando conteúdo. Será que não namorarei mais ninguém? Me parece um futuro tão insólito.

18h15. Fechei um pouco os olhos e apreciei a música, It’s In Our Hands, de Björk. Amo muito essa música. Me lembra uma viagem de cola. Acho que porque já tive viagens de cola assistindo aos clipes dela. E foram boas. Mas não quero mais isso para a minha vida. Pensei em como abracei Ju com mais afeto na nossa despedida da segunda. Ela me é uma pessoa preciosa. E aí, faço o quê da vida? Acho que vou tentar o Zeldinha uma vez mais.

18h45. Tentei, não progredi, desisti por ora. Comi um dos sanduíches que mamãe trouxe, ela e meu padrasto já estão aqui. Ela conversa com uma vizinha à porta. Parece que a moda de ser largado pega. Hahaha.

18h48. Coloquei na tela o filme basta selecioná-lo e assistir, mas não estou disposto no momento.

19h02. Passei por um momento de tédio agora navegando na internet. Eu não sei o que fazer. Aliás, sei: vou fumar um cigarro já, já. Um colecionador nunca está satisfeito com a sua coleção. Pelo menos é o que percebo. Sempre está ou estará faltando algo.

21h57. Assisti Mother!. Consegui captar algumas referências bíblicas, como sugeriu a minha prima, mas o filme é muito doido. Certamente deixa uma impressão naquele que assiste. Imagino naqueles que têm bebês recém-nascidos. Entendo o criador ter extremo apego pelo que cria, mas acho que amor é mais importante. Talvez porque tenha a oportunidade de criar – mais parece descrever – e não tenho a oportunidade de amar. Meu primo urbano me sugeriu fazer cursos, criar contos. Até sugeriu transformar o conteúdo do blog em um livro. Ele me perguntou se eu tinha ideia para uma segunda obra, disse-lhe que tinha, mas que era impraticável. Pelo menos na atual conjuntura. Minha mãe nunca me deixaria passar dois meses vivendo em meio a mendigos escrevendo do celular. Eu poderia começar um narrando o meu momento atual.  Acho que vou tentar. Vou só acabar este post que já está na terceira página. Ah, para quem quiser ler um review de Mother!, fica o link da minha adorada Portuguesinha aqui (LINK)

22h17. Estou com vontade de escrever o segundo livro que não diferirá do que escrevo aqui, tentarei só dar mais contexto.

22h34. Zanzei pela internet e perdi a vontade de escrever. Um novo livro, digo. Não há muito o que dizer, embora sempre haja o que dizer pois a vida continua acontecendo para mim.

22h49. Não estou com vontade de fazer nada, talvez recorrer ao meu subterfúgio uma vez mais. Provavelmente o farei. Ainda há muito papel a ser escrito antes do final deste post. Não sei com o que preenchê-lo. Mas como disse a vida continua acontecendo então sigo a escrever mesmo que nada de relevante se alevante na minha existência. O mundo gira, pessoas morrem, a morte, como bem lembrou o meu primo urbano nos rondou de perto em agosto. Meu primo urbano sugeriu uma série de coisas para chacoalhar a minha rotina, é uma pena que nenhuma me fez brilhar os olhos. É difícil meus olhos brilharem por coisas outras que uma bela boneca e uma bela garota. Não vejo interesse em mais nada e passo o meu tempo a escrever para tentar enganar o tédio. Nem sempre sou bem-sucedido. O que mais posso falar sobre o filme Mother!? É um filme que intenta causar sensações estranhas no espectador, deixá-lo desconfortável, em certo suspense, tenso. Nisso é muito é bem-sucedido. Várias alegorias podem ser feitas, uma para cada espectador. A explicação do autor e diretor é que queria fazer um filme sobre a Mãe Natureza, segundo o blog da Portuguesinha. Até entendo essa visão.

0h06. Há uma estátua que eu queria e que nunca vou ter. Acontece. Frustra, mas nada de muito pungente. Minha mãe me sugeriu tomar um banho. Acho que vou fazer isso e dormir.

0h42. Fiz nada. Comi e me bateu um sono, vou aproveitar, dou o meu dia por visto. Queria dizer vivido, mas é muito para o pouco que foi. Não sou ingrato. Sou grato todos os dias pelo meu lugar no mundo.  


segunda-feira, 10 de setembro de 2018

DIA DE TERAPIA

1h17. O subterfúgio. Nem muito nem tão pouco. Sabe qual o álbum duplo eu colocaria como melhor depois do Álbum Branco? Mellon Collie & The Infinite Sadness, do Smashing Pumpkins. Talvez para parecer descolado eu colocasse em terceiro o London Calling do The Clash, mas tenho que admitir minha pobreza musical e meu gosto pessoal e colocar Rattle & Hum do U2, antes até do Álbum Branco. Certamente foi um dos discos que mais ouvi na vida, em vinil ainda, na minha primeira adolescência, época mais marcante da minha formação musical, onde mantive o que gostava do que meu pai colocava e buscava novos sons. Os meus sons. O Rattle & Hum é uma pedra basilar dessa formação, toda a ideia que o encarte me passava da banda, com suas fotos em preto e branco, toda a experiência que o vinil me proporcionava, além de ser um filme que assisti no cinema e no cartaz dizia “a maior banda do planeta”. Eu pensava que a banda maior do mundo era o A-Ha à época. A experiência de assistir aquele filme no cinema foi marcante para mim, tanto que até hoje assisto, tive em VHS, em DVD e agora tenho em Blu-Ray e acho que nunca vou passar à definição posterior ou posteriores. Quero que a minha TV dure a vida toda. Por sinal fiquei de botar Mellon Collie para ouvir. Vou fazê-lo. 

1h32. Porra, botei o último disco deles para escutar e a primeira música é invocada. Ouxe, a segunda parece a primeira, pesadona, deu uma acalmada, estou gostando. Devo ser um dos poucos. Estou achando bom. Como experiência musical nova. Muito válido. Vou fumar um cigarro. A terceira é fraca.

1h49. Estou de volta, pensava sobre o post de bonecos que publiquei agora à noite. Não vai ter muitas visualizações, eu assumo. Ah e enquanto fumava me deu vontade de jogar Call of Juarez. Acho que vou fazer isso.

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13h42. Novo dia com Ju, o que sempre é bom. Não sei se vou aceitar o convite de ir ao restaurante nessa quarta. Descobri que estou sem superlikes no Tinder, acabou-se o meu poder. Pelo menos dei para as garotas mais belas que encontrei. Ainda está passando o mesmo disco de Smashing Pumpkins desde ontem. Ainda bem que tenho algum tempo para preparar o meu espírito para mais um encontro com Ju. Há bastante café, a irmã da fantástica faxineira está aqui hoje a ajudá-la. Não se parece em nada com ela. Suponho que seja uma irmã mais velha. O anjo do Tinder não deu match em mim. Espero que dê.

14h07. Dentro em breve tenho que estar pronto para Ju. Às 15h vou tomar banho. Ainda há tempo. Acho que a diferença de idade irá assustar o meu anjo. Que seja. A vida é assim. Existe o preconceito de idade, como eu tenho preconceito de idade em relação a garotas. Me arrependo apenas de não ter lido o seu perfil.

14h28. Fui fumar mais um cigarro. Vou dar um tempo maior entre este e o próximo, não me desceu bem. O café também não está descendo de forma pacífica, gerando certo desconforto. Nada comparado ao que me causou no dia da sensação de morte, mas acho que vou dar uma desacelerada também. Estou com a minha cabeça feita de que não irei ao restaurante com Ju essa semana. Não me sinto disposto ou preparado para isso. Odeio quando me falta assunto, me bate um pequeno desespero. Um “o que é que eu vou fazer agora da minha vida?” que não me agrada de forma alguma. Tal sentimento tem me assolado cada vez mais frequentemente. Meu alento nesse momento é que dei os superlikes para as pessoas certas, pelo menos esteticamente. Alento bobo de uma empreitada sem sentido. Acabou o café. Estou relutante em pegar mais. Acho que talvez apele para um copo de Coca com muito gelo e mais um cigarro. Como disse em algum momento, nalgum post, depois de um longo hiato eu publiquei no blog de bonecos e o post está com mais de 500 visualizações. Dificilmente alcançará mil. Mas sigamos torcendo. O dono da XM, a empresa sobre a qual escrevi, elogiou o meu post e achou que foi positivo para ele (para a XM) isso talvez alavanque as visualizações um pouco. Acho que vou pegar essa Coca com cigarro. 14h43. Dezessete minutos para me aprontar. E o teclado insiste em colocar espaçamentos duplos. Que irritante.

14h51. Um copo de Coca e nove minutos até a entrada no banho. É interessante que, à medida que a hora se aproxima, uma resistência em mim vai crescendo como uma onda. Mas sei que estarei lá em Ju às 16h. Lá é um espaço para ser eu mesmo. Eu tenho que introjetar que eu posso ser eu mesmo em qualquer lugar. Mas nenhum me é tão acolhedor, compreensível e amigável quanto diante de Ju. É certo que ela vê o mundo de um modo um tanto mais espiritualizado, por assim dizer, que eu, mas isso é o de menos. Ela valoriza demais a conexão corpo espírito e eu sou bruto demais para tais sensibilidades. Três minutos me separam do banho. A Coca já se foi. O que mais queria? Que a última que dei superlike me curtisse de volta e pudéssemos nos amar. Malditos espaçamentos duplos. Não sei como escrevi tanto desde que acordei. E não disse nada. Hahaha. É o meu espaço, é a minha vida, o meu ofício, que seja assim.  Também não achei o texto do blog de bonecos legal, mas estão lendo. É curto e cheio de imagens. 15h. Hora de tomar banho, enfrentar o mundão e Ju.

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PÓS-TERAPIA

Ju me deu um dever de casa. Ela disse que eu o fizesse independentemente do blog, mas a desobedecerei nesse quesito, pois em nada mudará o que quero dizer se escrever aqui ou numa folha em branco. Não me incomoda que minha mãe ou quem quer que seja leia. Não busco causar impressão, apenas deixar as minhas a respeito de mim e da existência que me cerca. A tarefa consiste em elucubrar a respeito de dois postais que montei durante a sessão, respondendo a três perguntas. Por mais que não esteja com a mínima disposição de fazer isso, o farei. Acho que estou com uma resistência sobrecomum em relação ao que me é imposto de fora, o que não parte de mim. Mas vamos lá.





Quando olho a imagem

Eu vejo... Um autorretrato, uma pessoa que não consegue enxergar o óbvio, que a existência é bela e está aí para ser aproveitada o mais plenamente possível, não para ser desperdiçada trancado dentro de um quarto escrevendo caraminholas. Os braços de metal, mostram com a eloquência de mil palavras a dificuldade que tenho para enxergar a vida de forma positiva. A boca com musculatura constrita é similar à minha própria nos meus piores momentos.

Eu sinto... um profundo dissabor, uma desesperança, sinto que a minha situação é insolúvel e isso dói, pois não sei quanto tempo suportarei isso. Sinto que sou eu que estou fazendo isso comigo e que não sei parar de fazer. Sinto que estou condicionado demais para que qualquer mudança seja possível. Me sinto mal, fracassado, tendo tudo e fracassando de posse disso. Sinto que sou um covarde que se apieda de si mesmo e não consegue sair desse papel de coitadinho. Otário. Burro. Ser odioso e mesquinho e débil.

A imagem me aconselha a...  me matar, pois não há solução para o meu caso. Mas não vou seguir o seu conselho. Não quero e não consigo. Há algo que ainda me prende à existência, há eventos por vir que mantém o interesse em enfrentar esse infortúnio que é ser eu. Por exemplo, ter o meu quarto remodelado com todas as minhas figuras expostas. Ela também me diz que eu não tenho força para retirar as traves diante dos meus olhos e que isso não é possível, não para mim que não possuo força para dobrar canos de ferro. Se fosse me dar um conselho construtivo seria o de que eu estou olhando para a direção errada.





Quando olho a imagem

Eu vejo... o buraco negro e insólito em que me meti e que talvez só consiga sair dele quando for tarde demais, quando estiver velho demais, quando muito pouco me restar, quando a minha qualidade de vida já estiver comprometida. Pelo menos ainda me resta a esperança de sair. Hahaha. Mas tenho a sensação que só conseguirei fazer isso aos 45 do segundo tempo, desperdiçando um bocado de vida boa para ser vivida. Eu vejo que estou perdido, completamente perdido na floresta escura em que me meti, não sei mais sair dela. Desacreditei quase que completamente que saia. Deposito minhas esperanças em coisas absurdas como ayahuasca e uma namorada.

Eu sinto... que sou um merda, que alcançou tudo o que buscou e não se contenta com isso, alguém que reclama de barriga cheia, um ingrato com a existência, um ser deprimente com uma existência inútil. Sinto que me odeio. Sinto um profundo desânimo em relação ao futuro, em relação ao dia de amanhã. Eu sinto que tudo me agride e machuca como se tivesse me tornado hiperfrágil ou hipersensível. Tudo que não seja estar no meu quarto protegido e comigo mesmo me causa desconforto. Sinto que estar no meu quarto muitas vezes me causa desconforto também, mas mais suportável. Sinto que me fechei para o novo. Que o mundo está morto para mim, pois nada nele, a não ser jovens e belas mulheres, me interessa. Sinto que escolhi sofrer, mas não sei por que optei por essa escolha. Não sei por que me punir. Acho que por acreditar que tenho mais do que mereço e isso não me parecer justo, me martirizo e me apego ao que me prometi fazer, que foi escrever. Sinto a necessidade urgente de me dizer e de onde vem essa necessidade me é misterioso. Se não me disser, melhor desistir de tudo. Me sinto mal, perdido, pesado, velho, gordo, alienado, sinto que a hora de me abandonar já chegou há muito tempo, mas me agarro a essas palavras para me manter vivo.

A imagem me aconselha... a desistir pois nunca vou sair das brenhas em que me meti. Ou, sendo mais otimista, me aconselha a ter paciência e respeitar o meu ritmo. O meu ritmo me incomoda, a inércia é enorme, colossal. Me sinto burro por não conseguir progredir e sair da porra da floresta. Antes tarde do que nunca, a imagem me consola. Bem, assim espero, imagem.

18h59. Pronto. Dever de casa cumprido, com o máximo de sinceridade de que sou capaz, agora vou fumar um providencial cigarro com Coca bem cheia de gelo que eu mereço esse agrado depois de um desabafo tão indigesto.


19h09. Interessante. Depois que botei tudo para fora me sinto melhor. E a terceira página acabou. Vou escanear as imagens para postar. 

domingo, 9 de setembro de 2018

GAROTAS DO TINDER

Acho que o Mario Odyssey agracia o jogador com constantes pílulas de alegria. Olhei para o Switch e pensei nisso. Acabo de publicar e divulgar o meu post anterior. Estou com a cabeça vazia, mas como vazio também é o meu itinerário para hoje, venho me refugiar nas palavras. Amanhã encontro com Ju, talvez quarta saiamos para almoçar num restaurante vegetariano no Poço da Panela. Não me sinto disposto a isso. Acho que preciso de mais um cigarro e um pouco de Coca para começar propriamente isso, para estar todo aqui.

14h48. Cá estou. Pensei em mandar uma mensagem para o meu amigo redator para saber como está se saindo lá por Maceió, mas a falta de vontade de mergulhar na rede social me impede de fazer isso no momento. Escutando U2, final da lista 6. Cheguei à conclusão que, mesmo do meu modo estranho de ser, eu amo a minha família, amo ter uma família, aliás, duas, a paterna e a materna, que se separaram com a separação dos meus pais. Guardava mais receios em relação à minha família materna no passado, tendo maior identificação pela paterna, mas isso se dissipou com o tempo. A ida a Porto me fez perceber isso. A socialização me deixou exausto mesmo assim. Eita, o show de Caetano já é no próximo sábado! Quantas expectativas tolas depositadas no evento. Achar que conseguirei convencer alguém como Caetano Veloso a ser entrevistado por mim. Nonsense. A garota do Tinder me mandou um vídeo que deve ter mandado para todos os seus contatos. E uma vez mais cobrei uma conversa. A resposta foi vamos pensar. Que também não sei se foi mandada para todos os contatos a respeito do vídeo ou se foi uma mensagem para mim. Começo a achar que a primeira opção é a mais pertinente.

15h06. A outra garota do Tinder, cujo perfil achei ser fake me adicionou no Instagram, pedi para ela me adicionar no Facebook para que possamos bater um papo franco e honesto. Vamos ver no que é que dá.

15h11. Pensando que se uma beldade daquelas pintasse para mim, minha vida brilharia intensamente. Se bem que tenho que ver o que vai na cabecinha dela. Em tese tem 21 anos. Ou seja, eu tenho o dobro de sua idade, o que não me incomoda, acho a juventude feminina o que há de mais belo na existência. Ainda mais sendo em exemplar tão sublime da espécie. Mas preciso tirar várias dúvidas a seu respeito. Por que a frase meu nome é vitóriandré e segundo porque usar fotos falsas no perfil do aplicativo de paquera.

15h33. Achei outra ninfa, uma Lolita no Tinder, não perdi tempo e dei um superlike nela. Que menina linda. Ainda mais linda que a anterior, para os meus padrões. Perfeita. Agora nem olhei o seu perfil, só a fotos. E não há como reverter isso. Não consigo ver novamente ou não sei ver novamente quem eu dei like. Acho que talvez com a versão paga haja essa possibilidade, mas não quero fazê-lo. Nem acho que minha mãe consentiria.

15h44. Abri o Tinder no meu computador pois a bateria do meu celular vai arrear em instantes. Quero acompanhar se aquele sonho de garota vai me dar um match. Bem que ela poderia. Dentre todos os que conheço, acho que sou o maior merecedor dessa graça. Minha solidão é longa e dolorida. Sou um homem que procura mais qualidade que quantidade. Aliás sou bastante seletivo quando o assunto são garotas. Extremamente seletivo. Esse novo tesouro apresentado pelo Tinder seria o match perfeito para mim. Estou excitado, não sexualmente, mas com grande expectativa de receber esse match ou mesmo uma comunicação da garota anterior. As duas são lindas, mas a segunda faz ainda mais o meu gosto. Vou fumar mais um cigarro.

15h57. Nossa, como queria ter visto o perfil completo da minha nova musa. Nem o nome eu olhei, tão encantado fiquei com as imagens. Melhor me resignar que não conseguirei o match. É areia demais para o meu caminhãozinho. Ela é um sonho, não passará disso. Houve uma feira de bonecos nova, mas não sinto interesse em escrever sobre ela. Foi de uma empresa da qual nunca comprei nem comprarei nada. Não porque as peças mostradas não sejam interessantes, mas por ser muito caro e difícil conseguir as figuras. Eles só têm direito de venda para Ásia e Europa. É inviável para mim. Incrível como as possibilidades (ou impossibilidades) reveladas pelo Tinder deram uma melhorada no meu astral. Tenho uma coisa diferente, algo distinto para esperar, algo além do nada. E pode ser que fique só no nada. Mas enquanto o nada não está de volta completo, eu me sinto animado. Como queria ter papo para conquistar uma dessas garotas. Se elas responderem ao meu chamado, digo. É difícil, ambas com 21 e lindas, eu com 41, gordo e feio. Mas por uma dessas coisas que me brotam na cabeça, me acho merecedor. Acho que chegou a minha vez de amar de novo. Meu perfil do aplicativo é bem claro em relação a quem eu sou e o que espero. Se aceitarem, aceitarão com uma ideia bem concreta de como sou, do que desejo e de como me pareço.

16h30. O tédio começa a se abater sobre mim. Acho que vou jogar um pouco de videogame. Acho é que vou fumar outro cigarro.

16h40. Ainda com as garotas na cabeça, é bom ter garotas na cabeça. E lindas, lindas.

16h45. Fico pulando da net para cá. Arisen My Senses, espetacular música de Björk, passa no som. O que jogaria, caso jogar fosse? Penso no Call of Juarez ou no Mario Odyssey.  Penso em revisar o livro também, mas não quero de fato nada disso. Não quero nada. Só a resposta de uma das meninas.

17h52. Me perdi na internet, o que foi bom. Vou tentar jogar videogame.

18h46. Passei da primeira fase de Call of Juarez, mas não queria mais continuar a me submeter àquilo. Não estava me dando prazer realmente. Talvez tente o Switch mais tarde, não sei. Vejo pessoas mais jovens, amigos e amigas, com filhos e me sinto menor por não tê-los. Ao mesmo tempo um grande alívio me toma, pois a responsabilidade para com uma cria minha seria enorme. Não sei se jamais estarei preparado para isso. Acho que a minha tecla de “espaço” está com defeito, dando espaçamentos duplos. Queria que o meu amigo da piscina viesse jogar hoje, mas meu celular ainda não carregou então estou incomunicável para ele. A não ser pelo Facebook. Nem tinha pensado nisso. Verei se está online lá.

19h14. Não está e entrei na minha conta do maravilhoso mundo dos bonecos. Não sei como conseguirei levar os demais anos da minha vida desse modo que levo, a ideia me parece intolerável. Cada dia é uma luta, por mais que nada faça, mas a solidão e o tédio somados ao meu total desinteresse da maioria das coisas me é desestimulante. Vou fumar. Ainda faltam muitas horas até o meu subterfúgio.

19h34. Isso me preocupa, o surgimento da palavra “intolerável” atrelada à palavra “vida”. Por alguma razão o cigarro dissipou um pouco essa intolerância. Penso nas garotas do Tinder. Quem dera eu fosse uma borboleta sonhando ser um homem e despertasse. Não quero ir para o almoço com Ju. Não esta semana. Como tornar a minha vida agradável? Só consigo pensar em uma namorada. Não vejo outra saída, pois meus amigos estão indisponíveis sempre, afora o meu amigo da piscina que por ora se encontra sem emprego. Queria contatá-lo. Mas o celular ainda não carregou.

19h45. Estou com medo da vida, eu escolhi esse caminho e não há outro que queira trilhar, mas esse não me parece um caminho feliz como costumava ser. Todos os outros caminhos me apavoram ou são ainda mais desagradáveis do que esse. Eu me sinto perdido, sem saída, sem querer sair. Às vezes bate até o desespero. E me sinto culpado por me desesperar tendo a vida que a maioria das pessoas sonha em ter, com todo o tempo do mundo para fazer tudo de legal que eu quiser, com todo conforto e comodidade, com todas as minhas necessidades materiais realizadas, sem cobranças, sem estresse, sem obrigações, seguro e com saúde. Me sinto culpado por achar tudo isso insuficiente. Algo me falta, o fator humano talvez. Carinho certamente. Dar carinho e encantar alguém que me encante. Até disso tenho medo, tornei-me demasiado covarde, demasiado preguiçoso, demasiado acomodado, apesar de todo o desconforto interior. Eu vi uma foto que me deu o que pensar. Sobre a consequência de ter o meu livro publicado. Definitivamente a tecla de espaço está com defeito, dando espaçamentos duplos. Seria isso razão para trocar de computador? Será uma coisa que me atrapalhará muito na minha principal ocupação que é tecer esses textos. Instalei um aplicativo para corrigir a minha gramática em inglês para o Word e estou com medo de reiniciar o programa e ativar o tal corretor, pois não sei o que ele vai fazer com a revisão dos meus textos em português. Nossa, está dando muito espaçamento duplo, que saco. Isso é um golpe na minha qualidade de vida substancial. Afinal, passo a minha vida a escrever. Causa esta do defeito no teclado ter surgido, suponho. Gostava muito dos teclados antigos de desktop, parrudos, adoro digitar agredindo as teclas, eles eram perfeitos. Coisa em que a tecnologia evoluiu numa direção que não me agrada. Gosto da portabilidade do meu notebook, isso compensaria o teclado se este fosse mais durável. Esta máquina deve ter três anos, eu acho. É muito pouco para isso acontecer. Por mais que eu seja um heavy user do teclado. Puxa, como queria que a hora do subterfúgio já tivesse chegado.

20h17. Tenho o meu celular de volta e com ele o WhatsApp. Vou fumar.

20h43. A garota do Tinder, a primeira de todas, me ligou quando o celular estava desligado carregando. O acaso/destino é mesmo surpreendente. Morro de vergonha de falar ao telefone. Será que ligará novamente? Não ligarei de volta. Não tenho essa ousadia (e os espaçamentos duplos me irritando...).  Vou reiniciar o Word para ver o que acontecerá com a instalação do add-in de inglês.

20h50. Ainda bem que é preciso apertar no botão que apareceu para ativar o negócio. Não quero nem tocar, mas se eu for realmente escrever um post para o blog de bonecos como venho arquitetando na minha cabeça, o ativarei.


21h18. Este post está acabando, acho que me aventurarei pelo post em inglês com a ajuda do plug-in que instalei. Não tenho realmente muito a dizer, mas estou relativamente animado para tentar. Relativamente. O que mais quero é ser dono da noite aqui em casa. Minha mãe já me proibiu de abrir outra Coca além da que acabo de abrir, isso não é legal. Mas comprometi-me a não abrir e assim será. Minha mãe... O tempo passa e vou aprendendo a amá-la mais e mais. Acabou-se a terceira página. Acho que vou revisar e publicar logo isso aqui.

QUADRO

18h02. Tentei revisar a revisão do livro, mas não suportei fazer por muito tempo.

18h15. Deixe-me estar na internet e não me agradei do maravilhoso mundo dos bonecos. Antes me agradava muito. Meu amigo da piscina me chamou para ir à casa dele. Disse que iria pensar. Minha mãe certamente virá aqui antes de ir ao restaurante. Falarei com ela sobre a ideia. Ela talvez me motive. Eu não tenho motivação por mim mesmo. Não estou bem. Isso, sentir-me assim, não é normal. Droga de cabeça cheia de caraminholas. Me vejo numa situação sem saída. Estou passando muito tempo sozinho a remoer as minhas neuroses. É um ciclo que se autoalimenta.

18h25. Meu amigo da piscina quer vir aqui jogar videogame. Acho que vou concordar com isso e ir um pouco mais além. Não estou com vontade. Mas é algo que acrescenta mais do que rouba. E vai deixá-lo feliz. Uma boa ação. Vou fumar um cigarro. Eu não mereço existir, mas inexplicavelmente existo. É algo que não faz muito sentido para mim.

19h42. Mamãe vai voltar a ler esse blog, coisa mais curiosa. Acabo de volta da casa do meu amigo da piscina onde ele me incentivou a fazer um curso, me disse que eu deveria ter levado o curso de pintura até o final para só aí, tendo estudadas as técnicas todas, ou as do gosto do professor, eu desenvolveria a minha. O que ele não entendeu é que eu já tinha a minha própria técnica. A que eu fazia sem técnica alguma só por prazer e pela experiência adquirida com a prática. A parte da minha vida em que pintei mais foi durante um internamento no Raid. Foi quando vendi o meu primeiro quadro, o que causou o desligamento do comprador, um sociólogo que fazia um estudo lá, da instituição de forma bastante dura. Ele aprendeu da forma mais difícil e clara que não se pode dar dinheiro a viciados em estado de fissura. Bom, nessa época eu era um eu muito mais seguro e de bem com a vida, é como se eu tivesse realmente envelhecido em espírito. Ou tenha encontrado o meu verdadeiro espírito. Mas não acredito nisso. Um espírito válido é um que gosta e está em harmonia com a existência. Como a existência é muito caótica eu me agarro a esse computador onde tenho quase controle total (a internet é indomável e são muitos). Em breve o meu amigo da piscina deve surgir aí e mostrarei a pintura que fiz no centro da sala. Chamo de “Virgem” e pintei durante a fase de internamentos do Raid e continuei pintando quando saí, e estava a pintar o quadro no momento em que meu pai morreu. Então é um quadro com muitas vivências atreladas, mas saiu um quadro alegre, mesmo e apesar das situações. Eu acho às vezes que causei a morte do meu pai por estar produzindo algo que ele achava válido e ele se viu pela primeira vez menor que eu, mais adoecido do que eu e tal constatação, quando somada a todas as outras, aos remédios com bebida... acho que morreu sufocado no próprio vômito. Eu nada ouvi pois estava na varanda pintando e ouvindo música muito contente de mim. Enquanto no banheiro trancado ele tinha a convulsão fatal.

20h13. Fui tomar uma Coca e fumar um cigarro. Meu pai é um ser mítico para mim. Um ser sobre-humano, inalcançável ou pelo menos essa era a ideia que vendia de si e a qual comprei integralmente. Como todo o ser humano, com a convivência nos seus últimos anos de solidão, percebi falhas estruturais, mas nada que o fizesse viver em desacordo com os seus iluminados valores. Sofria bastante para imprimi-los sobre a Terra, mas era a sua missão pessoal ser o melhor. Pelo menos eticamente e profissionalmente. Com as mulheres, acho que nunca levou muito jeito e parece que herdei tal defeito. Herdei os defeitos todos e nenhuma das qualidades. Meu amigo acabou de mandar uma mensagem dizendo que não vem. Bem, vou apagar todas as luzes da sala, que havia ligado para mostrar o tal quadro que me trouxe à relação que tenho com meu pai. Vou tirar uma foto para postar. Vocês vão achar uma merda. Hahaha.





20h31. Estou me sentindo bem, tranquilo. Uma pausa no sofrimento existencial. Me sinto bem estando só em casa no momento, sinto que meu reinado se expande à toda a área comum do apartamento. Vou pôr Arisen My Senses. Vou não, a sequência de Björk que vem depois dessa música muito me agrada. Acho que vou tomar um banho. Bem quente.

20h48. Mudei de ideia por enquanto. Vou fumar outro cigarro e ver se daí a coragem de tomar banho ressurge. Deixaria a minha mãe feliz. E vou fumar na escada para não poluir o corredor.

20h59. Minha mãe acaba de telefonar. Disse que não vai poder pegar o carro para dirigir e, portanto, não haverá Cocas, isqueiro ou lanche. Trará um prato do japonês para mim e me financiará para que compre os refrigerantes, espero que na pizzaria. Estou com vontade de fumar mais um cigarro antes de eles chegarem. Não sei bem por quê. Acho que é porque é um cigarro mais livre. Eu peso às costas da família, mas ela também pesa às minhas. Estou tranquilo e acho que o que vou fazer é tomar banho mesmo. Vou à pizzaria de banho tomado, que mal há nisso? Vou fumar e tomar banho, pronto.

21h34. Acabei de voltar da escada, estava fumando. Eles chegaram. Estava pensando ao me olhar nu no espelho em como a minha vida seria diferente se tivesse menos cérebro e mais pau. Certamente não teria conseguido alcançar o status de célula praticamente autônoma do sistema, de alcançar o meu sonho profissional de escrever. Seria alguém que ainda estaria acorrentado às engrenagens da máquina, adequado ao sistema, com emprego, profissão, esposa, filhos. Seria completamente outro. Acho que a minha tacada de mestre, o meu momento de maior genialidade foi reverter todas as merdas, todos os equívocos, todos os excessos, todo o meu rastro de autodestruição em algo que me garantisse a liberdade para exercer esse ofício. O que se passa atualmente é que percebo que isso se prova insuficiente e que me tornei talvez excessivamente autônomo socialmente a ponto de ter dificuldade severa ou de faltar disposição sincera de me socializar. Daqui a pouco minha mãe vai me chamar para tomar os remédios. Que são o que me impede de cair em depressão de fato, na minha opinião. Amanhã terei um desafio para o qual não me sinto nem minimamente preparado. Só teria disponibilidade, eu acho, para conviver com as filhas da minha tia, mas, pensando na minha tia, não me parece tão difícil interagir com ela também. Com certo esforço me socializo com os demais, mesmo que breve e superficialmente. Pintei no quadro que deu início a esse post lágrimas que resisti derramar no funeral do meu pai. Só as chorei muito depois, quando de uma recaída pesada de cola que me deprimiu profundamente. Foi necessário ir a tal extremo para chorar a morte dele, enjaulado no Manicômio, sem ninguém para me oferecer ombro ou consolo. Foi a última vez que chorei e ainda me lembro quão libertador o choro pode ser, como serve como unguento para a alma. Sei que teria muito o que chorar nas atuais condições, mas lágrima não me vem. As lágrimas são quando as máscaras caem, quando toda a dor se mostra plena e é expiada ou expelida. Pelo menos temporariamente. Acredito que melhor as chorar que prendê-las, mas não consigo fazer de outra forma, não sei me fazer chorar. Acho que me tornei emocionalmente frio demais em relação à morte. Talvez por me ser uma coisa secretamente desejada. Acho que só falo asneiras, isso sim.

21h56. Me perdi na internet por alguns poucos minutos. É uma pausa necessária, um alienamento de mim. Tomei também alguns refrescantes goles de Coca e isso me pôs mais em paz e satisfeito com a minha existência. A vontade de fumar um cigarro me toma e vou ceder a ela, dessa vez fumando no hall, visto que meu padrasto não mais sairá de casa e no hall posso beber Coca e fumar sem sujar o chão, além de espiar a noite do bairro pela janela. Vou-me lá.

22h19. Estou empanzinado pela comida que mamãe trouxe, enorme quantidade de arroz. Fumei dois cigarros, um antes e outro após a refeição. Tudo o que falam ou que o meu padrasto assiste é sobre o atentado a Bolsonaro. Me deu certo enjoo por alguns momentos a comida. Já tomei os remédios. Não sei se tardo aqui, pois, como disse iremos à Porto amanhã cedo. Não sei se leve o computador. O pen drive certamente levarei. Acho que levarei tudo. Já é quase de praxe que fique escrevendo em meio à família, o que chega a ser um acinte social, mas é o que posso oferecer em troca da minha nula presença. Queria que mamãe lesse este post, não sei por quê. Escrevo pensando nela mais das vezes. Algo daqui quero comunicar, não sei precisar qual ou quais partes, mas não me incomodaria que começasse a sua leitura do blog por esse post. Tomaria pé rapidamente do que vai em mim. Não de todo, mas mais revelarei quanto isso se fizer presente na minha cabeça. Quero divulgar esse blog no Facebook também. Acho-o, como dizer, diferenciado em relação aos dois últimos que escrevi. Não tenho nada no momento a acrescentar, então vou dar um pulo no ciberespaço.

22h57. Estava perdido na internet. Vou fumar um cigarro já com o pensamento em ir dormir. Resistirei ainda, entretanto.

23h05. Fumava e pensava em algo que não é meu e que mesmo assim é muito meu. Irrealidades. Sonhos que a alma em vão sonha.

23h09. Chega uma hora em que me dá um enfado de viver de lascar.

23h13. Acabei de ver o Tinder e nada. E nada da única garota real que me curtiu simultaneamente. Acho que era real. A outra que reportei como fake começou a me seguir no Instagram, pedi para seguir ela de volta, mas ela – ou ele, fiquei nessa dúvida – precisa me dar permissão. Quero mergulhar mais profundamente nessa história, estou curioso. Ver se me aproximo dos fatos. Se fosse realmente a garota que está na foto e me desse bola, seria quase que a concretização de um sonho. Deve haver algo de errado. E é isso que quero descobrir. Meu ar não está gelando o suficiente. Não quero ir para a cama. Não quero nada, voltou o meu desinteresse pela minha existência. Não acredito que haja “tampa para toda panela” como popularmente se diz. Não há luz no fim do meu túnel. Terei que fazer a volta e andar tudo de novo em direção à saída. Eis o que não me disponho a fazer. Tenho um plano de anos, fadado ao fracasso completo e absoluto, do qual não quero abrir mão. E a coisa mais saudável seria descartar tudo. É só perda, só resulta em perda. Se essa garota me aceitar, a do Instagram que era do Tinder, vou pedir para ter uma conversa privada com ela. Estou realmente curioso. Pelo menos é algo que desfoca um pouco de mim, que abre para o outro, aponta para outra direção. Me ocupa a mente sem ter que mergulhar em mim.

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Hoje é domingo, 13h33, não escrevi ontem pois fui a Porto e não tive disposição. Dormi cedo. Levei meu computador, mas não usei, achei que, da maneira em que a mesas foram colocadas, seria insensível demais da minha parte me alienar da companhia da família escrevendo. Foi bom, ouvi muito mais que falei, mas participei, estava presente à reunião. Minha tia me achou mais gordo, o que me incomodou, mas que é um fato e que não sei como reverter. Só se cortasse a Coca Zero, é a única coisa que pode estar me engordando. Relutei um pouco hoje em voltar para as palavras e a página acabou. Vou revisar, publicar e divulgar. 

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

SENTIMENTO BOBO DE MORTE IMINENTE


Acho que a garota do Tinder quer me fazer de palhaço, que deveras sou, pois vê as mensagens e não responde. Bom, que seja. Está fora do meu controle. Loser passando, bela coincidência. Estou empachado, mamãe me botou para comer mesmo eu estando sem fome. Ela e a fantástica faxineira intuíram que o meu estado de espírito era causado pela fome. O que posso dizer? Minha mãe me liberou comprar duas cocas na pizzaria, o que foi ótimo. O que tenho que fazer é suportar as horas que me separam do meu subterfúgio. Vou ter que levar a fantástica faxineira lá embaixo para chamar-lhe um Uber. Tenho 8% de bateria. Espero que dê. E, se não der, é a vida. A vida, a vida, a vida. Acho uma palavra tão bonita. Acho que daria até nome para uma filha. Que nunca terei. Melhor assim. Tanto para mim quanto para a suposta filha. E a mãe, cadê? E minha parceira nessa jornada, onde encontro? Aparentemente não no Tinder.

19h40. Passei um sermão na garota do Tinder. Hahaha.

20h03. Voltei lá de baixo.

20h13. Estava lendo uma carta sobre Trump que a minha irmã mandou ou foi vírus, sei lá, acho que foi ela mesma. De volta ao meu mundinho particular aqui no quarto-ilha. A carta dizia que os próprios homens do presidente, à sua revelia e muitas vezes sem o seu conhecimento ou consentimento tomavam decisões políticas saudáveis ao país apesar de Trump. Interessante a leitura. Bem, agora de volta mesmo ao meu quarto-ilha.

21h00. O meu amigo da piscina está aqui ao lado a jogar Call of Juarez. Eu me sinto como se estivesse vivendo um sonho do qual vou despertar em breve. Tive a sensação nítida de que iria morrer quando fui comprar mais Cocas na pizzaria. O cara da pizzaria perguntou quanto eu já havia escrito. Novamente a sensação de que não passava dessa noite se deu muito forte durante o banho. Não sinto que meu corpo está legal, há algo de errado com ele. É assim que me sinto nesse momento. Sei que é tudo ilusão.

21h27. Passou mais.

21h37. Ainda estou meio nesse clima de despedida da vida, é tão estranho. É como se pressentisse que algo vai falhar no meu corpo e causar a minha morte. Não sei por que esse pensamento me assalta. Não estou nem dando atenção ao meu amigo em meio ao constante tiroteio do game.

22h07. Minha sensação de morte praticamente se esvaiu. Diria que se esvaiu quando joguei um pouco do Uncharted: 3 com ele, mas não estou com saco de resolver o quebra-cabeças da vez. Não achei divertido ou lógico. Ou não compreendi a lógica.

22h22. Meu amigo da piscina acaba de me deixar, confesso que estou mais feliz sozinho. Parece que nosso elo de tantos anos o faz perceber que prefiro a solidão hoje. Ainda estou com um sentimento ruim, a tal sensação ridícula de morte. Mesmo assim acho que apelarei para o meu subterfúgio hoje. Não sei por que me quero tão mal. Preciso aprender a me querer bem. A única coisa que funcionou, mesmo que momentaneamente, foi repetir “eu gosto de mim” diversas vezes para mim mesmo duas vezes ao dia. Não sei. Só sei que me sinto fisicamente mal. Pode ser psicossomático. Mas a sensação que tenho é que hoje ultrapassei algum limite e que meu corpo está padecendo por conta disso. E o mal-estar se alastra para o meu próprio eu. Ou do eu irradia para o resto, vai saber.

22h32. Minha mãe acabou de vir aqui e me perguntar se eu estava sentindo algo físico. Outra que parece que pressente. Respondi o que escrevi acima, que eu me sinto meio mal, mas não sei a causa. Ela me dará dois ansiolíticos. Acho que me sentiria grato se essa fosse a minha última noite na Terra. Recebi muito e do melhor sem oferecer nada em troca, só esses escritos e um ou outro momento marcante na vida de algumas pessoas. Mas, falando racionalmente, eu não acho que vou morrer, isso tudo é drama, frescura. Quero fumar outro cigarro. Sentimentozinho desagradável esse. E essa autopiedade toda, para quê? Nada demais vai acontecer de hoje para amanhã. Provavelmente acorde melhor. Como irei nesse estado de ânimo para Porto de Galinhas depois de amanhã? Reunião familiar e eu me sentindo completamente esgotado psicológica e fisicamente? Será o mesmo que uma sessão de tortura. Não quero ir para canto algum. Não quero sair do meu quarto. Só para fumar e encher o copo de Coca-Cola. Vou pegar o remédio e fumar um cigarro. Nem os cigarros estão me descendo bem hoje. Nem eles, nem a Coca-Cola e insisto em consumir os dois. Vou lá.

22h59. Hoje me sinto realmente diferente, isso é inegável. Desde que comecei a tomar café. E fumar. A sensação é que o meu organismo chegou ou ultrapassou algum tipo de limite. Me sinto sonolento, mas isso passa. Estou me sentindo completamente estranho. E não de uma forma prazerosa. Fico até curioso em como as horas vão decorrer daqui por diante. Vou olhar a internet, de nada me custa e geralmente me deixa melhor.

23h13. Recebi um e-mail do meu irmão muito bonito, emocionante. Não saberia o que responder ou não sei no momento. No momento só consigo pensar em meu estado que não saberia descrever. Meu irmão diz que não devo me isolar mas procurar pessoas que me validem. Mas não quero ver ninguém. Exceto Ju. Ela é o meu principal elo com a humanidade e que belo elo fui escolher, figura maravilhosa, admirável. Generosa, boa, cuca superfresca e bem resolvida, acolhedora e inteligente. E ainda por cima é jovem e não é de se jogar fora. Hahaha.

23h42. Lullaby remix toca e todo o sofrimento passou. Que alívio, que bem-estar. Pensar que tenho que esperar tanto para estar assim talvez amplifique a sensação. Muito melhor que a sensação de morte. Coloquei a comida que deveria comer num Tupperware na geladeira. Não pretendo comer, mas as coisas podem mudar. Será que acho aquele livro de Frakenstein? Acho que não, acho que por não ter capa dura, mamãe o descartou como obra menor. Tinha ilustrações fantásticas, em preto e branco, sempre muito escuras, se bem me lembro, mas não deixando de ser reveladoras. Que bom que pensei nisso e noutras coisas pensarei mais, espero que diferentes da existência que levava minutos atrás. Não posso ficar só dependendo disso, desse subterfúgio. Preciso gostar do meu dia. Mas não quero pensar nisso, é desperdício e desgaste emocional. Close To Me, clássico do The Cure, também versão remix. Há uma força me levando para dormir. Talvez ceda. Mas daqui a dois cigarros ao menos. Um vai ser agora.

0h04. A sensação de morte se foi, vim lembrar dela agora que sentei aqui. Lembrei do que estava pensando, mas é muito grande e inútil para narrar aqui; tinha a ver com salão de beleza. Nada a ver. Acho que uma mudança legal poderia começar da iniciativa de pessoas físicas agindo coletivamente. Como em um condomínio de alto padrão. Que, além de tudo, é formador de opinião. Haveria um ônus nisso, mas talvez temporário. Não sei e não quero falar disso, já pensei demais sobre o assunto agora. Não vale a pena repetir. Nossa, o que me assolou hoje me assolará amanhã? Seria péssimo. Espero que não. Acho que vou comer. Fumar um cigarro bebendo uma Coca e ir dormir. Podia ter como sobremesa o iogurte de frutas vermelhas.

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15h18. Como se vê, acordei, estou vivo e toda aquela paranoia de morte não passou disso. Sinto que meu corpo ainda não está 100%, mas me sinto muito melhor que ontem. Dormi bastante, mais de doze horas. Meu amigo da piscina já perguntou se eu acordei. Não estou propriamente acordado ainda ou com disposição para interações sociais no momento.

15h31. O sol da tarde agride meu rosto enquanto trago um cigarro que não me desce bem e sua fumaça infla os meus pulmões, que existência sem propósito. Abaixo, uma menina desafinada atrapalha a banda da festa. Já estive muito no papel dessa menina quando bebia. Novamente que vida sem propósito. Ainda não me sinto disposto a responder o meu amigo da piscina. Acho que ele vai querer vir jogar videogame aqui. Não é uma má ideia, só não estou preparado para ela agora. Sei que vai ficar mais interessante com a presença dele aqui, mas não estou a fim no momento. Loser passa de novo. Está no começo da lista 6, visto que Beck é com “B” e a lista está organizada por ordem alfabética dos artistas. Antes, Sabotage dos Beastie Boys, lembranças do tempo em que a MTV formava nossas opiniões musicais. A menina do Tinder leu o meu sermão e nada me respondeu. Dou como um esforço perdido. Nada virá do Tinder. Penso na garota dos Correios. Não me custa muito. Só uma grande dose de coragem. Ela é linda aos meus olhos. Deve ter seus 30.

15h55. Acho que vou responder o meu amigo. Já estou mais preparado para tê-lo aqui.

15h58. Respondi. Não sei o que fazer do meu tempo livre. Estou me sentindo moderadamente angustiado. Não é legal sentir angústia. O pior é que não quero sair desse lugar onde me coloquei. É a única posição de vida aceitável para mim.

16h03. A internet me distrai um pouco, mas quando volto para mim e minhas palavras a vida dói, algo em mim reclama, sofro. O cigarro é um escape, uma pausa. Minha mãe não deixou cigarros como lhe pedi e está dormindo o sono da tarde agora. Tenho alguns poucos que espero que me supram até que ela me dê nova carteira. A carta do meu irmão ainda ressoa na minha cabeça. Eu estou supersensível, superfrágil ou me sinto assim. Qualquer coisa que interrompa esse estado de coisas em que me encontro só o faria piorar, por isso prefiro minha mãe dormindo por ora e a ausência de resposta do meu amigo da piscina. Se bem que ele não viria me roubar de mim, acrescentaria algo de positivo à minha prisão autoimposta no quarto-ilha. Vou pegar mais Coca e fumar um cigarro.

16h29. Minha mãe veio aqui, queria me levar para almoçar com o meu padrasto num restaurante japonês aqui perto. Obviamente tive um bloqueio imediato à ideia. Também me mostrou que o Netflix voltou a funcionar, mas não estou com vontade de nada. Muito chata essa fase. Espero que seja uma fase. Terei que ir a Porto amanhã encontrar com a família. Nossa, como será difícil e desgastante. Estou deprimido, não consigo ver outra razão para as coisas em mim se darem assim. E não quero mudar. Arrotei, foi bom. Acho que vou fumar um dos novos cigarros que mamãe me deu. Na escada, visto que eles vão sair dentro em breve. Acabou-se a página três. Vou publicar. A minha propaganda do Profeta do YouTube pulou para cinco visualizações. Interessante.




quinta-feira, 6 de setembro de 2018

UNTITLED


19h27. O marido da minha prima vai vir aqui pegar o Wii U. Já está a caminho. A garota do Tinder ainda não me respondeu. Minha mãe foi para a hidroginástica. Meu padrasto ainda não chegou. Eu quero fumar um cigarro com uma Coca bem gelada.

19h45. Tomei a Coca e fumei um quarto do cigarro, não me desceu bem. Ninguém chegou ainda. Ou se manifestou, no caso da garota do Tinder. Meu amigo da piscina, para quem falei do Tinder, já instalou o aplicativo e já se encontrou com uma garota. Ele é, sem dúvida, mais eficaz e eficiente do que eu.

20h10. O Wii U foi entregue e o raro DVD do show do U2 que emprestei está de volta sob a minha possessão. Penso que a cada dia morro e isso me é um alento. O lado ruim é me sentir menos vivo a cada amanhecer. Meu padrasto acaba de chegar. Coloquei Björk, da lista 6, para ouvir. Queria que já fosse tarde da noite. Queria ter mais Coca. Queria me sentir bem. Não estou mal, mas isso não significa que o contrário seja verdade, me encontro num estado de completa apatia. Não queria... nem lembro o que não queria, me perdi em pensamentos sobre o meu irmão. Ele compartilhou um texto para eu ler. Sobre a existência, pelo que entendi, uma narrativa alternativa sobre a história, inclusive do universo. Mas não me sinto disposto agora para ler.

20h35. A vida está se tornando insuportável, isso não é nada bom. Não sei o que dizer. Estou com os nervos à flor da pele, tudo me parece desconfortável. Estou em sofrimento existencial que é sofrimento de fato. Queria acordar de mim. Ver outro lado meu, estou cansado deste que me destrói moralmente, emocionalmente, fisicamente (embora não me importe muito com este último, minha máquina é ótima, tenho orgulho de sua resistência). Alguém me mandou um WhatsApp. Vou ver.

21h23. Era um amigo. A garota do Tinder já visualizou as mensagens que mandei para ela e nada disse. Mandei uma pergunta agora, o que demanda uma resposta e disse que queria perguntar algumas coisas a ela e que ela poderia fazer o mesmo a meu respeito. Mas nem isso me anima. Acredito que ela vá me bloquear e ficará por isso mesmo. O que é que está acontecendo comigo? Não estou bem. Tudo o que quero é a noite só para mim. É só aí que o alívio pode me alcançar. Essas palavras, essas palavras... são o que me resta, onde me agarro para seguir. Isso, cigarros, café e Coca.

22h07. Tomei os remédios e mandei a última mensagem que mandarei para a garota do Tinder. Foi uma mensagem simpática a convidando para bater um papo quando estiver disponível. E está de bom tamanho. O convite está feito. Nossa, espero que o pessoal vá para a cama mais cedo hoje. Quero desesperadamente a noite só para mim. Para colocar um unguento na minha desperdiçada existência. Vou fumar outro cigarro. E averiguar o movimento na casa.

22h20. Já estão no quarto, mas ainda conversam. Não quero saber.

22h32. Björk me faz pensar em um cogumelo no tronco de uma árvore e isso tem tudo a ver com a letra que trata de forma poética, transforma a existência do vírus numa canção de amor, chama o vírus de “My sweet adversary”. O vírus que muitos consideram como um ser vivo, o ser mais simples de todos, e outros consideram que não, porque não possuem uma propriedade fundamental inerente a todos os seres-vivos, que não me lembro qual é. E ambos estão com a razão. O vírus é um ser vivo diferente dos demais seres vivos. O que pediria a arquiteta é que estudasse os exemplos de display que gostei e não gostei e que de uma forma criativa, artística e funcional ela dispusesse as bonecas no quarto, livros, HQs, CDs, DVDs, Games, Blu-ray e deixasse um espaço reservado para as minhas roupas, eu daria a do Destiny para o meu amigo cientista político. Será que ele entenderia o gesto positivamente? Não sei, logo não sei mais se o farei. Vejo que o que tem de mais em comum comigo é ter um corpo resistente e abusar dessa benesse como eu, além da afinidade por games. Acho que deveriam lançar um game em que, em se atirando nas pernas dos inimigos inutilizasse aquele membro e deixaria o cara urrando de dor, dando oportunidade (tempo) ao protagonista, eu, você, de mirarmos e matarmos ele. Se demorássemos demais eles voltariam a pegar a arma e atirar de volta, mesmo aleijados no chão.

23h59. Meu amigo da piscina pediu para eu mandar um cigarro para ele pelo elevador.

0h01. Fiquei a cismar nele. Pensei sobre Bolsonaro já estar no segundo turno. Cocei o meu ouvido e já penso em me retirar para a minha cama, não sei. Outra coisa que exigiria da arquiteta seria o isolamento acústico da parede do escritório e da porta de entrada. Poderia haver outra janela no meu quarto. Só me dei conta disso agora. Habito uma das quinas do prédio, então tenho duas paredes passíveis de receberem janelas. Mas isso seria um problema bem maior para colocar os bonecos e tudo o mais. Vou fumar e tomar a decisão se durmo agora ou não.

0h20. Ataquei o biscoito Tortinha de Limão e o amendoim japonês. Pensei sobre o meu quarto enquanto fumava. Gostaria que todos os bonecos sejam acessíveis por portas de vidro. Com as bordas mais finas possíveis.

0h36. Último quarto do último copo de Coca da casa. Só amanhã agora.

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14h01. A garota do Tinder visualizou todas as mensagens, mas não respondeu. Não sei mais o que possa fazer.

14h22. Mandei uma mensagem perguntando os três filmes prediletos dela. Incentivei um comprador indeciso a adquirir o busto do Hulk que tenho aqui do meu lado. Não o meu, pois adoro o meu Hulk, mas um igual.

14h32. Acordei de melhor astral hoje. Isso ainda não quer dizer que esteja bem, mas estou menos ruim. Isso é bom e acho que tem a ver com o meu subterfúgio. Hoje, se tudo der certo, tem mais. Ontem houve um momento em que não aguentei mais olhar para a tela desse computador. E pensar que hoje estou apenas começando essa interação. Nada ocorre de interessante no eBay, no maravilhoso mundo dos bonecos, na vida. Não quero sair para nenhum canto, não quero encontrar com ninguém, gostaria apenas que a garota do Tinder respondesse. É muito pouco. Estou tendo refluxo. Passeis mais de uma hora quase regurgitando enquanto tentava dormir, pois o primeiro ataque de refluxo me acordou. Muito chato. Acho que é isso que dá comer à noite. Preciso repensar isso. Ou não. Posso me acostumar com os refluxos. Sei lá. E pouco se me dá. Já entrei na terceira folha e tenho outro post para publicar. Estou produzindo mais, voltei à minha capacidade usual. Me agarro aqui para manter a sanidade, para ocupar o meu tempo, para tornar a vida minimamente interessante. Ah, tenho o negócio que o meu irmão me mandou para ler. Vou dar uma olhada. E botar um som. Sempre é bom botar um som. Rimou. Hahaha.

16h09. Li o texto que meu irmão compartilhou e prefiro a minha fé. Acho, por mais surreal que seja, mais plausível. Talvez porque, ao contrário dele, nunca tenha visto óvnis. Pedi que trouxesse minhas bonecas fora das caixas no meio da bagagem para poder trazer mais de uma vez só. Estou me sentindo mal, fisicamente falando. Não sei se é falta da Coca. Vontade de morrer. A vida é desnecessariamente longa. Aposto que quando sentir realmente vontade de viver a vida vai me roubar a saúde e me levar à morte, só para pregar mais uma de suas irônicas peças comigo. Eu mereço. Sou um ser que em nada acrescentou ou acrescenta à sociedade em que estou inserido. Cada vez me distancio mais dela e essa distância me agrada. Pelo menos não ofende. Preciso revisar o livro e mandar para o meu tio. É algo no estômago, como um enjoo brando e uma acidez excessiva. Isso reverbera no meu psicológico também, afinal sou todo uma coisa só. Estou desconfortável em mim mesmo no momento. Queria uma Coca gelada, acho que isso daria uma melhorada no meu organismo. Na falta de, vou fumar mais um cigarro.

16h31. Aparentemente esfaquearam Bolsonaro. Resta saber se é golpe de marketing. Tudo é possível. A fantástica faxineira fez mais café, sinto leve vontade de vomitar. Nesse exato momento gostaria de ser agraciado com um câncer terminal. Seria um processo doloroso em todos os sentidos, é um desejo que sei que não se sustenta. Sei lá. Agora, por mais contraditório que pareça olhei para o meu Switch e não me deu vontade de me desfazer dele, talvez seja uma pulsão de vida combatendo a predominante pulsão de morte. Curioso, minha alma é a mais contraditória que conheço. Queria que morrer fosse um desmaio para o nunca mais. Tomar café aumenta a minha ânsia de vômito, talvez seja muita bílis acumulada. Nada entendo do funcionamento de organismos, estou a falar besteira. Lembrei-me da portuguesinha enquanto fumava. Será que ainda me lê? Acho que não, resolveu se desapegar de mim, peso morto que sou. Crescente vontade de revisar o livro. Pensava sobre ele. E suas consequências. Me sepultar em vida, que é uma decorrência natural e previsível do caminho que trilho. E a realização de um sonho. O maior sonho. O segundo maior sonho, em verdade. Minha vida é a espera do meu subterfúgio, embora hoje esteja mais suportável que ontem. Ontem foi mais difícil me aturar. E esta terceira página que não acaba? Também não quero que acabe agora. Senão me veria obrigado a revisar o livro. Não quero fazer nada. Não quero ser nada. Quero deixar de ser. Estou exagerando, eu acho, é mais um desabafo que um comentário racional. Há coisas a acontecer que despertam a minha curiosidade. O Batman branco, por exemplo. Não sei lidar com o mundo, com as pessoas. Desisti praticamente do mundo e das pessoas. Acho ambos maravilhosos, mas muito complexos para o meu cérebro de ervilha. Acho que estou assim por causa do que o excesso de café está me fazendo sentir. Acho que vou tomar um copo de água com gelo e fumar um cigarro. A garota do Tinder ainda não me respondeu nem viu a minha mensagem. Não vai dar em nada, o que corrobora com a minha hipótese da última cartada. Que é o que realmente desejo. E que não vou obter. Meu corpo pesa sobre mim, deixo me encurvar ante o seu peso. Não sinto desespero. Uma calma fria e cortante me domina. Não quero que ela seja perturbada. Ouvindo The Cure com o ar ligado, escrevendo o que me vem, por mais inútil que seja. Quero permanecer exatamente assim até a hora de ir dormir. Acabou-se a terceira página. Vou revisar os dois posts que tenho e publicá-los. Divulgarei só o anterior, provavelmente. Sofro sem sofrer. Me sinto melhor. Estranho.

17h16. Perdi a vontade de revisar e publicar. Bebi um copo d’água com muito gelo e coloquei outro. E mais uma xícara de café. Hoje só queria sair do meu quarto para ir à pizzaria comprar Coca. Duas, zero, de dois litros. Queria que minha mãe permitisse. Vou revisar e postar.

TINDER




20h45. À espera de uma foto chegar para colocar num post do maravilhoso mundo dos bonecos e então me conectar ao meu Facebook brasileiro para divulgar a nova postagem do Profeta.

21h36. Mandei duas mensagens para a garota do Tinder. Tem 23 anos, não é feia e tem um belo nome, o que me agrada. O corpo também me agrada. Pelo pouco que se revela dele. Enfim, me gerou atração. Vamos ver se alguma conversa se desenrola. Estou com preguiça de existir hoje, espero que isso mude mais tarde. Mas não posso ficar dependendo de subterfúgios para tornar a existência mais interessante. Ou transformá-la de suportável em agradável. Ela tem que me ser agradável em sua maior parcela. Isso significa que estou vivendo de forma errada. Agora, há uma variável nova na minha vida. A garota do Tinder. Caso venhamos a ter uma conversa mesmo. Ela pode ter clicado no meu perfil por engano. Hahaha. Não me lembro de tê-la curtido, essa para mim é a parte mais curiosa. Ela teria que ter desperdiçado um precioso superlike em mim. Sei lá. Vai ver que a curti e não lembro.

22h36. Não sei como uma hora se passou. Isso é bom. Uma hora a menos disso que chamo de vida. Eu tenho a convicção que se não fossem os remédios eu estaria em depressão. Santos remédios. Queria magicamente pular mais uma hora. O que posso fazer? Não quero fazer nada. Queria que a garota do Tinder me respondesse. Isso seria deveras interessante.

23h00. Cruzei com minha tia-vizinha e ela me contou da viagem a São Paulo, estava acabando de chegar. Boas novidades todas. Disse que somos e seremos sempre provincianos comparados a São Paulo. Deve estar certa. Mas desse tamanho para mim está bom. Não dependo de muito. E tudo o que necessito chega aqui. A menina do Tinder respondeu. Disse que me curtiu porque achou o meu sorriso sincero. Vamos ver no que isso vai dar. Perguntei se ela havia lido o meu perfil, para saber a diferença de idade entre nós. E que tenho bucho.

23h30. Acho que vou fumar mais um cigarro. E analisar a situação dos demais habitantes. Quero muito ter a noite só para mim hoje. Não acho que o negócio do Tinder vá vingar. Seria ótimo que estivesse enganado. Eu acho, embora seja uma coisa meio assustadora. A casa em breve será minha. Meu irmão mandou as fotos do Iron Man. Já as coloquei no eBay e comuniquei aos possíveis compradores.

0h13. A noite é minha e está agradável, gostosa de ser vivida e apreciável, ela bem que poderia ser assim por mais tempo. Poison Ivy, uma barata voadora inexistente. Essa barata me levou longe. Pensei que a minha existência seria muito mais agradável, tranquila, legal, se baratas voadores não existissem. Daí pensei como seria insensível da minha parte roubar da existência um ser que consegue sobreviver a uma hecatombe nuclear, que segundo o conhecimento popular é imune à radiação que erradicaria praticamente a vida como um todo desse planeta, ela subsistiria e em sobrevivendo ela e outros poucos seres vivos restantes conseguiriam formar um novo ecossistema, uma outra cadeia alimentar para que algum provável ser mais evoluído intelectualmente surgisse que a predasse. Será que algumas ilhas esquecidas, com seus ecossistemas próprios, sobreviveriam, escapariam ao ataque irracional e suicida de humanidade, da sua sede de poder que o levaria a quase matar a Natureza (embora acredite que ela seja maior que todo o poder de destruição humano), se a radiação não alcançar algumas áreas da Terra onde há vida, onde exista uma fauna e uma flora desenvolvidas e ricas, um ecossistema evoluído, com vários degraus da cadeia alimentar será que emergiria daí, em anos de evolução, os mesmos anos que levaria talvez para a Terra ser habitável uma vez mais, outro ser tão ou mais inteligente que o homem? Seria a inteligência a virtude ou atributo mais importante a ser desenvolvido para que um ser domine e subjugue os demais? Ou haveria outro? Acho difícil, acho que a inteligência leva à tecnologia que evolui mais rápido que a evolução das espécies, permitindo ao ser mais inteligente manipular a natureza a seu favor, criando tecnologia a priori para matar e se proteger. Que são o bem comum. As tecnologias só servem ao bem comum, exceto pelas armas, elas deveriam ser de uso muito restrito, se possível, impossíveis de serem letais para ao homem. Poderiam agredir, se necessário, pois a coerção às vezes é necessária. E cada um poderia escolher uma arte marcial para se especializar e haveria estudiosos pensando em como evoluir tais artes marciais para se tornarem mais eficazes pelo menos as lutas praticadas pelo poder coercivo do estado, se estado se desenvolvesse.

1h04. Eu fui fumar e estou a fim de botar o Álbum Branco dos Beatles e falar sobre baleias e krils (não sei como escreve). Eita, Pagan Poetry. Vou ouvir, merece e eu mereço. Queria que Björk abolisse as máscaras. Se assumisse com a idade que tem. Isso não alienaria o seu público.

1h16. Muita coisa aconteceu desde o parágrafo anterior, eu coloquei o Álbum Branco, recebi outro like do Tinder. A garota para quem dei o superlike hoje. Muito legal isso acontecer.

1h41. Estou conversando com essa segunda que deu like no Tinder.

1h57. Falei um monte de coisa lá ela não respondeu, voltei para cá. E coloquei Björk porque o Supercombo do qual ela gosta não estava me agradando muito. O Utopia me é familiar e gostoso de ouvir do início ao fim.  Estou pensando na figura do Tinder. Que pena que ela não respondeu.

2h28. Acho que destruí o papo. Não sei. Qualquer coisa ela pode dar o unmatch em mim ou até me bloquear. Vamos ver no que dá. Sugeri que migrássemos para o Facebook para que eu pudesse utilizar o teclado do notebook e conhecer um pouco mais sobre ela. Mas está tarde, acho que ela deve ter ido dormir, sei lá. O acaso/destino decidirá. Fiz a minha parte e diria que fui além. Demais. Descobriremos. Ela é linda e gosta de malhar, embora não tenha um corpo voluptuoso, mas um corpo que muito me agrada. Ah, se ela pintasse para mim, seria magnífico. Não acredito que seja capaz disso. Ela já fez intercâmbio, o que significa uma educação legal, eu assumo. Mas não conseguirei. Bom, enquanto ela não me tirar, há esperança. Mudaria completamente a rota dos meus planos.

2h43. Descobri que era um fake user pelas fotos e havia uma mensagem estranha dizendo que o verdadeiro nome era vitóriaAndré. Ouxe, que ozzy.

3h04. Fui fumar um cigarro, mas antes deixei uma mensagem para a que julgo que seja real.

3h06. Estou sem sono nenhum. Estou achando ótimo estar aqui a escrever. Quando acordar, vou fazer um café para mim. Vai ser bom. Gosto do meu estado de espírito atual. A minha única neura é mamãe vir me pastorar. E esquecer de pedir a carteira de amanhã a ela. Ju quer me libertar das correntes em que me aprisiono. Quer que eu me veja de outra perspectiva, mas não consigo sequer imaginar outra perspectiva. Outra pessoa que eu namoraria tranquilamente é com a moça dos Correios. Qualquer dia que me bater no tino, vou levar uma rosa e o meu endereço de Facebook e WhatsApp para ela. Dizendo que prefiro o Facebook, pois, como disse ao fake, somos desconhecidos e não troco telefone com desconhecidos. Acho que fico por aqui. Vou dormir. Amanhã acabo.

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15h24. A pior parte do despertar já passou. Acordei por volta das 14h. Nenhuma comunicação da garota do Tinder. Não sei se virá. Dei o like para uma prostituta. Estou curioso no que vai dar. Não tem nem foto. E ainda é casada. Não sei por que fiz isso.

16h47. Fui preparar o café e falei com o meu amigo cineasta. Reparti com ele o vídeo de divulgação do Jornal do Profeta. Minha mãe me ligou e trará novo lanche do McDonald’s para mim hoje. Estou curioso no que conversaria com uma mulher teoricamente de 20 anos que é casada e se prostitui. Por que cliquei nela? Por causa do nome. Os nomes podem ser atrativos ou repelentes para o meu interesse por uma garota. Aposto que seu nome verdadeiro não seja o que colocou no Tinder. Ela parece ser profissional demais para isso. E não escreve um mau português, isso também me interessou. Teria mil coisas a perguntar a ela.

16h53. Sem ímpeto para coisa outra que não escrever. O café me desce bem e me anima. Estou ouvindo o playlist do meu amigo cineasta.

17h06. Fumei um cigarro e pus mais café. Nara Leão passa no som, fazia muito tempo que não ouvia. Ela tinha um charme que me encantava.

17h11. Ouvindo uma música bem antiga Camisa Amarela, que em tempos feministas como os de hoje seria vista com preconceito pelas moças mais bem esclarecidas e engajadas.

17h56. Surpreendente, a garota do Tinder me mandou o seu WhatsApp. Adicionei e mandei duas mensagens para ela. Esperar resposta. Se esta vier. Mas já me sinto mais animado. Não posso me depreciar para ela. Esse jogo não funciona. Mas seguirei no meu ritmo. Não quero me violentar com isso, mas também não posso ser tímido demais. Se chegar ao ponto de ser presencial, como lidarei com isso? Estou com calor. Minha mãe me vê abatido. É essa falta de interesse por tudo. Espero que a garota do Tinder traga uma luz para a minha vida. Será uma experiência curiosa.

18h26. Não sei se quero alguém outra que a minha paixão platônica. Mas não posso viver de irrealidades. Vamos ver se algum papo se desenrola. É a vez de ela responder. Ouvindo Desafinado com João Gilberto e talvez Stan Getz.

18h35. Parei de ouvir a lista do meu amigo cineasta, pois começou a se repetir. Vou ver se minha mãe achou a chave do carro.

18h48. Fumei outro cigarro. O mal-estar que comer uma batatinha do McDonald’s me causou está finalmente cedendo. Só tenho uma Coca de dois litros para o resto da noite, isso é mau. Pois quero a minha noite longa como ontem. Eu não sei definir como me sinto, talvez acelerado e moderadamente angustiado como um sufocamento da alma. Estou na expectativa sobre o contato da garota do Tinder, mas menos do que poderia supor. Na verdade, nesse momento não queria conversar com ninguém. Não queria fazer nada. Mas a despeito das vontades da alma o corpo segue existindo e eu sigo com ele. Acabou-se a página três.