quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

DO DOMINGO ATÉ O ESCRAVO



Li coisas aterrorizantes sobre friend zone. É um perigo que me ronda. Não tanto quanto antigamente. Mas tenho que ser menos lambe-chão. Tenho que ser menos doce. Tenho que assediá-la menos. Tenho um medo de me pelar de encontrar com ela. Ao mesmo tempo sou tomado de imensa vontade de revê-la. Estou entre a cruz e a espada. Só cruzei com ela três vezes na vida. A receptividade dela é misteriosa. Não sei mais o que dizer no momento. Não estou com vontade de dizer nada. Gostaria que meu primo-irmão voltasse a escrever para o seu blog. Eu estou me sentindo entediado hoje e cometendo vários erros de digitação. Hoje teria ou está tendo o maracatu do meu primo. 16h32. Minha mãe e meu padrasto saíram para almoçar há cerca de duas, três horas. Me deixaram 20 reais para eu comprar algo para comer. Disse que compraria uma Coca, mas estou sem vontade ou disposição suficiente de fazê-lo. Poderia ir comer uma coxinha com pastel na Praça, seria uma novidade, mas acho calórica demais para quem quer perder o bucho. Será que pessoas bonitas acham a si mesmas bonitas? Se encantam com a sua imagem como Narciso? Acho que todas as pessoas com autoestima se acham interessantes. Coisa que preciso trabalhar na terapia, essa bendita falta de autoestima. Passarinhos cantam à minha janela e se encaixam perfeitamente às músicas de “Utopia”. A filha da amiga da minha prima ontem, uma garota entre os 15 e 20 anos, estava com um decote de tirar o fôlego. Era difícil não olhar para os seus seios. Olhei o mínimo que consegui. Ela também estava bem deslocada e muda lá. Achei a roupa de uma ousadia que beirava o vulgar, mas sem dúvida, se o intuito dela era chamar atenção para os seus seios, conseguiu magistralmente. Eram seios bonitos, fartos, mas não demais, com algumas estrias, provavelmente frutos do desenvolvimento rápido dessa parte do corpo durante as transformações físicas da puberdade. A juventude feminina é a coisa mais bela que existe. Gostaria de saber a idade da garota da noite, embora não me importe muito. Talvez ela se incomode com a minha idade, isso, sim. Espero que não. Psicólogas, creio são mais tolerantes quanto a esses tabus. O que eu quero agora? Coragem para comprar uma Coca Zero em frente de casa. Acho que vou lá.



17h15. Estou miserável nas interações sociais de hoje. Estou com vergonha do mundo. Estou com vergonha de mim. É até estranho ter Coca para beber. E ela me desce mais ácida do que eu me lembrava. Acho que vou dizer para o meu irmão não comprar Coca para mim nos EUA.

17h37. Foi muito bom falar com meu irmão. Eu o amo profundamente. Pude sentir isso. Disse-lhe para não comprar Coca e desabafei que estava antissocial. Ele meio que me tranquilizou. Mas não muito. Pelo menos está avisado de que serei antissocial. Ele disse que dormirei no escritório. A palavra escritório me reconfortou bastante, pois tem a aparência de que dormirei sozinho. Tomara, odiaria repartir o quarto com o tio da minha cunhada, ou com qualquer pessoa, mesmo a minha mãe. Embora a minha mãe seja a companhia mais aceitável para mim. Bem, veremos. Ele disse que vou ouvir o barulho todinho da casa. Talvez seja um recanto aberto, não um quarto. Bom, o que for, terei que enfrentar. Queria um Nintendo Switch. Mais do que o Switch, eu queria que a garota da noite e eu nos encantássemos um pelo outro. Mas acho que isso se se der, vai ser só em 2018. Quem será o nosso próximo presidente? Se Luciano Huck com aquela cara engraçada conseguiu conquistar Angélica, por que eu com a minha cara engraçada não posso conquistar a garota da noite? Porque eu não tenho a atitude e a autoconfiança dele, oras. À distância, pelo computador, sou muito mais corajoso, diria que até ousado. Hahahaha. Não tem graça nenhuma. Preferia que fosse o inverso.  Talvez aí já tivesse levado o meu fora. Hahahaha. Deixa de ser derrotista, rapaz! Você fez homenagens que poucos homens do Recife fariam. Muito poucos, eu creio. Eu preciso estar envolto numa aura de mistério segundo os conselhos da internet. Eu preciso acreditar mais em mim. Mas, e o sexo? O sexo se tornou um grande tabu para mim, tudo coisa da minha cabeça. Espero que meu primo-irmão aprenda logo a hipnose para ver se me tira essa trava e me bota mais atirado, afoito em relação às mulheres. Nossa, quando começo a beber Coca eu piso fundo. Já bebi um litro mais ou menos desde aquela hora e não quero parar de beber. Entretanto, tenho que me segurar, pois quero ter Coca para o resto da noite. Acho que vou dar um tempo e beber água. 18h19. Minha mãe ligou me perguntando o lanche que eu queria do McDonald’s. Mandei um WhatsApp para ela. Deixo intencionalmente o iconezinho do Messenger da garota da noite aberto no meu celular, me dá uma falsa impressão de proximidade. Me dá uma sensação boa, deixa eu fantasiar enquanto fantasiar ainda é possível. A dura realidade virá espatifar minha cara contra um muro de rejeição, é o que prevejo. A não ser que de alguma forma eu tenha a tocado com o que reparti com ela. Não é de todo impossível. Talvez ela tenha desenvolvido uma ligeira curiosidade de me conhecer melhor por causa disso. Ou pode passar quase que fugida ao me ver, como da última vez. Sei lá. Sei lá qual é a da garota da noite. Sei que o meu último post está tendo vários acessos. Acho que por causa da minha enquete sobre a poesia, talvez porque uma pessoa que leu a poesia calhou de ler e gostar também do post. Nossa, como estou antissocial hoje, nem coragem para falar com o meu amigo Marinheiro pelo WhatsApp eu tenho. Quero muito saber se ele foi bem-sucedido no emprego. Se é que o teste foi nesse final de semana, o que não acredito.

18h34. Pronto, criei um pouco de coragem e mandei a pergunta. Ele precisa muito desse emprego. Espero que não tenha cometido nenhuma loucura nesse ínterim. Ele parece estar focado e motivado com a possibilidade de emprego. É geralmente quando gente como nós é acometido por uma vontade irracional de se autossabotar. Espero que não seja o caso dessa vez. Não estou com fome nenhuma agora. Mas sei que quando o sanduíche chegar, eu vou atacar com voracidade. Só de pensar agora me deu água na boca.

18h44. Nenhuma resposta do meu amigo Marinheiro ainda. Pensando nele, eu poderia digitar um pouco do diário. É, acho que vou fazer isso.

19h54. Digitei mais um dia do diário. É o suficiente. Muito chato de se fazer. E rememorar aqueles tempos não é legal. Mas passou. Faço o meu melhor para que nunca mais seja internado.

20h36. Ainda assustado com os memes sobre friend zone.

20h38. Vi no Facebook que meu amigo Marinheiro está no trabalho. A calça deve ter funcionado. Isso me deixa muito feliz. Tomara que ele passe no teste.

21h36. O Marinheiro me contatou. Pelo que entendi está empregado. A calça azul-marinho funcionou. Que bom. Que ótimo. Já estava na hora de a vida soprar para o lado dele. Caramba, eu sou muito, muito afortunado. Comparando as enrascadas em que ele se mete com a vida que eu levo, a minha é smooth sailing. Por outro lado, não fica sozinho, não tem o coração seletivo como o meu, ele só não quer ficar sozinho, ter seu sexo garantido e para ele está bom. É certo que já se apaixonou e sofreu por desamor na vida, mas sempre que não está internado por alguma desandada, ele está com alguém. É mais parecido com o meu primo-irmão nesse aspecto. Por falar no meu primo-irmão... não, deixa para lá, ele não gostaria de ser exposto aqui. O Marinheiro, por outro lado me pediu para que eu narrasse sua história, então não tenho pudores de a contar aqui.
0h31. O Marinheiro me chamou ao WhatsApp e nada disse.

0h34. Foi só para tirar onda.

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11h59. Estou à espera de alguém que virá fazer algum serviço aqui. Minha vontade é dormir mais um pouquinho. O último post foi o segundo mais bem visitado desde que eu parei de reparti-los com os amigos. 58 visualizações.

12h24. Sem a menor disposição para escrever, quero ver o que vou fazer do meu dia. Mamãe quer que eu coma antes de ela chegar. O que eu queria era dormir. Talvez consiga quando o cara que vai aparecer for embora.

12h34. Estou na mesma. Hoje está de lascar. Marasmo monstro. Só me resta ver Facebook.

13h09. Até digitar me está sendo uma atividade penosa. Queria que o cara que vem aqui chegasse logo e logo se fosse.

13h47. Sabe o que é não querer absolutamente nada? Não desejar nada, não querer fazer nada, sem estímulo para nada, não consigo pensar em nenhum cenário que me agradasse nesse exato momento. “Tédio com um T bem grande pra você.” Por falar nisso, nunca ouvi Legião no Spotify e nem posso ligar o som agora, pois o cara do gás pode chegar e eu não ouvir. Descobri com a minha mãe qual era a meta ou função do cara. Ela me ligou há alguns minutos. Tem uma coisa que eu queria, ver a garota da noite dormindo na minha cama. Essa visão seria carregada de significados positivos na minha vida. Seria uma visão bastante feliz.

19h56. Acabei de assistir “Kong Skull Island”. Pensei que era pior. Ainda bem que estava com baixas expectativas, acabou passando o tempo legal. Não é um filme inesquecível e o gorila não é tão bem-feito quanto os primatas da nova trilogia de “O Planeta dos Macacos”. Estou com um pouco de dor de cabeça, que coisa. O Vaporfi, depois de tanto tempo sem fumar, me dá crises de tosse. O cara do gás veio e disse que estava tudo ok em casa, só precisava trocar a peça do hall de serviço, a que faz o gás ficar com uma pressão maior, pois estava fora da validade. Interessante que peças assim tenham validade definida. Eu vi escrito atrás dela, abril de 2017, como o próprio cara do gás me mostrou.

20h07. Vou botar Björk para ouvir. Resolvi recolocar “Abraçaço” de Caetano, o último da trilogia com a Banda Cê. Estava ouvindo antes de Kong. Acho que estou ficando surdo, eu não consigo entender o que Caetano canta direito. Preciso tomar banho. Não agora, depois de comer. Não estou com fome agora.

20h23. Vou me deitar um pouco, para ver se essa dor de cabeça passa. Esse post tem que ser publicado hoje. Acho que não irei divulgá-lo. Está muito chinfrim.

20h32. Olhar para tela aumenta a minha dor de cabeça.

21h27. Fui comer e o marasmo me acometeu novamente. Meu deus, o que será isso? Só posso pensar em uma coisa, mas o tempo é que dirá. Sei que é um sentimento bastante incômodo. Nem aguento ouvir as músicas da lista 6. Pode ser a falta de cafeína também. Essa hipótese testarei amanhã. A dor de cabeça também pode ser falta de cafeína. Eu acho. Sei lá. Só quero que passem o marasmo e a dor de cabeça. A dor de cabeça oscila. Acho que vou tomar banho dentro em breve. A Gatinha poderia vir essa semana aqui em casa. Acho que preciso desabafar, sei lá. Seria muito bom vê-la. Seria uma mudança na minha rotina semanal. Meu deus, já-já viajo para os EUA. Espantar pensamentos ruins. Já estou com um sentimento ruim, que dirá com pensamentos ruins? Focar no Zeldinha. Por dentro estou chorando, espero que não seja um começo de depressão.

21h59. Estou preocupado. Espero que amanhã acorde melhor. Tomei os remédios, nada me impede de dormir agora. Só a falta de sono. Estava planejando tomar um banho, mas estou tão desmotivado que acho que vou deitar assim mesmo. Amanhã, depois de um café, tomo. Vou ligar o ar.

Angústia
Me corrói as entranhas
Coisa da complexidade humana
Que é só desagrado
É um não me caber dentro de mim
É uma vida que se amiúda
Oprime e aperta
É um mal-estar
Nesse aqui e agora
Queria saber chorar
Queria poder chorar
Copiosamente
Demoradamente
A mente, ah a mente
Parece apodrecida
Parece doente
Não de novo
Por tudo o que é mais sagrado
Não de novo
Não há razão
Ou a razão é não ver sentido
Na existência como ela se me dá?
Não sei
Só sei que angustia
Como queria chorar
ou dormir
Tentarei dormir
E me esquecer um pouco de mim
Dessas palavras
Do universo ao meu redor
Essa coisa escura em que habito

22h18. Esse desabafo até que me aliviou um pouco.

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12h12. “Passei nas duas”, mensagem do Marinheiro. Primeira coisa que vi hoje ao acordar. Perdi dois quilos também da semana passada para esta. Acordei com um humor bastante melhor que ontem. Graças. E tem café. Graças x 2. Vou pegar o café.

12h22. Peguei o café, vou perguntar a ele, em qual emprego vai ficar. A bateria do celular arreou quando eu cliquei para ver a resposta. É a vida, vou botar para recarregar e depois o respondo, ou melhor, inquiro. Começar o dia com uma notícia boa é a melhor maneira de começar um dia. Duas notícias, afinal, tenho café. Vou testar se a ausência de cafeína é mesmo um agente que me perturba. Estou animado. Acho que hoje vou dar uma caminhada até o McDonald’s da Agamenon, tomar um sundae e voltar. Espero que a bateria do meu iPod dure todo o percurso. Penso já em almoçar para que minha mãe não fique dando escândalo por causa disso. Mas não estou com fome. Sei que sem comer não vou andar. Não me garanto, ainda mais com a quantidade de café que tomarei até lá. Comer um pouquinho, para não ficar com o bucho vazio. Botar “Arisen My Senses” para coroar essa manhã sem a angústia que me acometia ontem. Estou tremendamente aliviado. Pensei que seria uma coisa persistente. Pensei ter caído nas garras da depressão novamente. Ainda bem que não parece ser o caso. Agora estou bem-humorado e disposto. E sem dor de cabeça.

12h45. Comi. Pouco, mas o suficiente para a comida me pesar no estômago e me dar uma leseira, uma vontade de deitar e jiboiar um pouco. Deixei o ar ligado porque hoje quero me mimar um pouco para me enamorar de novo com a vida. Deixar o dia de ontem definitivamente para trás. Foi um momento de certo desespero para mim. Aos poucos vou entendendo os movimentos do meu ser. Ontem foi mais uma lição. Uma boa lição. As lições mais duras são as que mais educam. Eu tenho experiência em lições duras da vida. Minha mãe viu o texto que escrevi para o Natal da família. E isso me fez relembrar a viagem que farei em cerca de uma semana. Isso ainda me apavora. Mas não vou me focar nisso, manter o olhar nesse agradável hoje que se descortinou para mim. Sorver as energias boas que emanam. Não, não acredito nessa coisa de “energias”, mas não saberia como descrever de forma melhor o que agora sinto. Apreender essa ensolarada realidade que invade a minha vida. Pronto, assim fica mais a minha cara.

13h07. Assinei uma petição a favor da neutralidade na internet. Para que eu tenha total liberdade é necessária essa neutralidade. A liberdade de expressão é algo protegido pela Constituição. Há os excessos e sempre haverá, mas a censura por parte de algum poder sabe-se lá de onde é algo altamente perigoso. E temo porque os Estados do mundo estão cada vez mais tomando o papel de pais e mães da população, querendo se imiscuir cada vez mais nas intimidades das pessoas. As pessoas parecem que pedem por isso por alguma falta parental que me escapa. Não quero ter as mensagens que eu troco monitoradas, por mais que ache que já sejam, de forma impessoal, pelas grandes empresas como Google e Facebook, elas se apoderam do conteúdo que publico em seus serviços para me direcionar propagandas. Não sei se chegam a entrar nas conversas interpessoais, mas não duvido. Entretanto, como disse, não restringem a minha liberdade de expressão. Querem saber meus gostos pessoais de consumo apenas. Sei lá o que querem saber, mas não acho que façam juízo de valor, eles querem apenas lucrar e direcionar suas propagandas para quem tem interesse por elas. Falei com uma conhecida, desejando-lhe feliz aniversário e que ela não desanime, pois depressão passa. Ela disse ter novidades que me contaria depois. Espero que boas. Hoje quero esse post mais para mim, embora ainda queira descobrir qual dos empregos o meu amigo Marinheiro vai escolher ou escolheu. Acredito que o segundo, pois já começou a trabalhar lá e recebe cem reais a mais. A não ser que o outro tenha feito uma contraproposta de valor superior. Não sei se ande até a Agamenon. Talvez seja um passo maior que as pernas. 13h47. Espero que meu celular carregue até as 16h00. Está em 58%, o que é um bom prospecto.

13h56. Fui pegar água. Eu já tenho que me censurar por causa da minha mãe. Certamente ela vai ficar de cabelos em pé com a narrativa de ontem e o poema. Mas hoje estou todo “Utopia”. Amando a vida e me atendo apenas ao momento, como se o futuro não existisse, como de fato ainda não existe. Tudo relacionado a ele são apenas projeções. Não levam em conta o acaso. O homem e sua eterna luta contra o acaso. Não quero pensar nisso. Não quero pensar muito hoje, quero que flua. Me animando de novo para a caminhada até a Agamenon. Dura vai ser a volta. Eu poderia pegar um ônibus para voltar, mas só posso fazer isso do McDonald’s da Agamenon, pois é onde conheço o ônibus que vai para minha casa. Mas não quero pegar ônibus em plena hora do rush. Quero voltar andando por uma cidade paralisada pelo caos urbano causado pelo excesso de carros para as vias superlotadas. Quem sabe até me movimente mais rápido que eles. E não estarei num ônibus entulhado de trabalhadores cansados e estressados com a correria de uma segunda-feira de trabalho árduo por um salário mísero, a via-crúcis da qual me libertei, tendo apenas em comum com eles, a vontade de estar o mais rápido possível em casa. Seguirei andando. Acho até que vou dar uma carregada no meu iPod só para garantir. Ele está quase carregado, 3/4 da bateria ainda. Mas vou carregar, mesmo temendo que isso diminua a vida útil da bateria. Não quero ficar sem música em caminhada tão longa. O iPod me permite ilustrar o mundo com a minha trilha sonora, o que é uma sensação muito prazerosa. A buzinas e os motores do trânsito dão lugar a melodias as mais variadas, de Audiosalave a Belle & Sebastian, passando por Chico Buarque, Sandy e Junior, Zizi Possi, Jesus & Mary Chain, Björk e por aí vai. Obviamente tem Los Hermanos e Legião. As minhas duas bandas brasileiras de coração. E The Cure. E New Order e U2. Tudo isso vai estar disponível para ouvir. Espero que não seja assaltado. Cada vez que saio a probabilidade de ser assaltado e atropelado aumenta. Sei que esse é um pensamento negativo, mas acho que também realista. Não sei. E acho que quão mais longe vou tão mais essas probabilidades aumentam. Estatísticas sem dado de realidade nenhum, apenas a minha intuição. Bom, espero que não seja o fatídico dia disso acontecer. 14h22. Vou dormir no escritório nos EUA. Isso ainda me soa como uma boa notícia, talvez possa escrever sem sair do quarto. E talvez ficar com o meu irmão enquanto trabalha. Não sei se conseguiria trabalhar em casa, é necessário um senso de comprometimento e responsabilidade que não sei se tenho. Se bem que me comprometo completamente com esse ofício de escrever. Mas isso é mais uma necessidade da alma ou um hábito que qualquer outra coisa. Mas é o meu ofício, é o que me esforço e me esmero em fazer. Só não há a contrapartida financeira e sinceramente é tudo o que isto não precisa, a pressão do deus-dinheiro, o fazer pela necessidade do vil metal. Me libertei desse grilhão e foi a maior liberdade que senti em minha vida. E por isso sou todos os dias grato. Não há um dia em que não me lembre desta libertação. Foi o que salvou a minha vida. Não nasci com a composição psíquica necessária para o mercado de trabalho supercompetitivo em que me meti. Um mercado que hoje passa por turbulentas transformações graças às mudanças de hábito geradas pelo advento da internet. Entrei num momento de transição da publicidade feita à mão para a publicidade feita no computador e saí quando a publicidade estava migrando dos meios de comunicação tradicionais para a internet. Em 20 anos ou menos, a quase totalidade da publicidade vai ser feita através da internet acredito eu. Não estaria preparado para isso. Me daria muito mal, caso ainda estivesse na profissão. Por mais que a publicidade necessite de uma boa redação e de uma agradável e chamativa direção de arte. Mas não saberia programar, nem teria vontade de aprender. Essa transformação me geraria outra crise e acabaria por me matar. Ainda bem que pulei fora do barco antes. Senão hoje estaria obsoleto para a profissão, eu creio. Senão hoje, muito breve. Esse sentimento de obsolescência eu comecei a sentir na última vez que tentei trabalhar, há uns três anos, imagina agora. Pelo menos eu tenho uma coisa que a maioria não tem, um domínio rudimentar da língua. A juventude, via de regra, é semianalfabeta. Embora, nunca tenha sido muito de ler, por alguma razão eu aprendi, não sei como, pois também odiava as aulas de Português, a escrever de forma relativamente certa.

15h12. Para mim beira o surreal. Não deveria mas vou contar por ser muito inusitado. Uma conhecida minha foi em uma festa BDSM (procure no Wikipédia como me foi sugerido por ela) e arrumou um escravo. Isso é muito louco para os meus padrões mais ortodoxos. Mas cada um sabe o que vai na alma para se sentir feliz. Como digo sempre, toda forma de amor vale a pena, toda forma de amor vale amar. Se é que isso pode ser considerado amor. Ela está meio cansada do escravo, pois esse só quer que ela o maltrate. Que coisa mais inusitada. Fiquei até curioso em ir numa festa dessas. Hahahaha. Como dominador, é claro. Hahahaha. Não vou pagar uma de escravo para ninguém. Deve dar um senso de poder muito grande, subjugar alguém que anseia por isso. Não sei se teria o sangue frio para provocar dor em alguém, não é a minha vibe. Talvez não seja a minha praia, pensando bem. 15h22. Daqui a pouco parto em direção ao McDonald’s. Está me batendo a preguiça. Mas vou encarar. 15h28. Minha conhecida me dará mais detalhes dentro em breve. Mas já sei que o escravo se fez de mesa e ficou beijando seus pés no meio de um bar ou boate, sei lá. Bastante curioso. Essa foi mesmo surpreendente.

15h42. O Santander me ligou querendo me empurrar outro cartão de crédito. Nessas horas ser curatelado e incapaz judicialmente é uma mão na roda. Fica muito fácil convencer o(a) pobre operador(a) de telemarketing de que eu não posso ter mais um inútil cartão. 15h50. Dez minutos para a partida ou para eu me aprontar para a partida. Já chequei o celular e ele está 100% carregado. A bateria do iPod há muito já carregou. A minha conhecida disse que iria mais detalhes sobre a história do escravo. Quando voltar falo com ela. 15h53. Será que aguentarei ir e voltar da Agamenon? E tomar um sundae que tornará todo o meu esforço físico vão. Não sabia que existia o verbo tranar, não faço a mínima ideia do que ação ele represente. Significa cruzar ou atravessar a nado, transnadar. Hoje é um dia de descobertas. Fiquei curioso de ir a uma festa BDSM. Sério. Deve ser uma experiência sociológica para lá de interessante. 15h59. Hora de me aprontar para partir. Cheio de fantasias dominadoras na mente. Eu que sinto sempre subjugado pela minha mãe, teria uma boa válvula de escape sendo o dominador de uma escrava. Desde que gatinha e bem-feitinha. Teria que rolar alguma atração, eu creio. Creio também que, pelo mesmo motivo que eu queira ser dominador, as mulheres em geral devem ser dominadoras por serem tão subjugas em suas vidas cotidianas numa sociedade majoritariamente machista, mas isso preciso investigar com a minha amiga do escravo quando eu voltar da caminhada. 16h03. Preciso ir. Até a volta.

18h45. Cheguei da andada às 18h05, mas fui tomar banho, salvar a prova de que, sim, fui até a Agamenon e voltei, e, tirando os pés meio detonados por causa da sola fina do sapato, estou inteiro. Acho que a próxima andada será até o Recife Antigo. No caminho o que me marcou mais foi o cheiro de manga que me remeteu à minha infância, nas primeiras vezes que fui a Macau, quando os meus avós paternos ainda viviam lá e o cheiro de frutas, predominantemente de manga invadia a cozinha e a sala de almoço. Bons tempos que os anos não trazem mais. No mais, vi uma garota interessante de bicicleta. Por coincidência nos cruzamos na ida e na volta. Nada que desbanque a garota da noite, mas pelo menos algo que me faz perceber que nada está perdido. Que há muitas garotas nesse mundo. Porém não sou de abordar desconhecidas. Entretanto, a garota da noite é praticamente uma desconhecida que eu calho de ter o Facebook. O que já é uma grande diferença, é verdade, mas talvez eu consiga induzir ou convencer uma desconhecida a me dar o Facebook também. Afinal, não é o WhatsApp, que é algo de cunho mais íntimo (pelo menos eu acho). Sei lá o que estou falando. Quem está na minha mira é a garota da noite. Se vou conseguir, o acaso há de decidir. Fiz o meu melhor e acho que agora é momento de silenciar um pouco. Pretendo tirar uma foto específica e mandar para ela no Natal. Acho que é um bom momento para isso. Mas estou curioso para descobrir mais sobre o tal do escravo da minha conhecida.

19h13. Ela está off-line. Mas acho que os detalhes mais sórdidos e, portanto, deliciosos, já foram narrados aqui. O que posso dizer agora. Acho que minha próxima caminhada será até o Recife Antigo. Talvez ida e volta. É a caminhada que tem mais probabilidade de assalto, pois o Recife Antigo tens uns malas, mas acho que se me ativer ao Marco Zero não terei problemas. E sair mais cedo, umas 15h00. Não poderei. Quinta é o dia que pretendo arrumar as minhas malas para a viagem. Nossa, como estou bem comparando a ontem. Ontem foi um dia que não deveria ter existido. Ou melhor, é bom que tenha existido para me lembrar da preciosidade de dias como hoje. Fiquei imaginando se naquele mar de carros passou alguém que me conhecesse. Em verdade, cada carro vermelho e pequeno, sem ser sedã, eu ficava a imaginar que poderia ser a garota da noite a ver o meu esforço para conquistá-la. Hahahaha. Ô, bicho besta. Mesmo que visse nunca iria saber porque eu estava ali naquele momento. Nem se interessaria pelo assunto, não perderia tempo com questionamentos a meu respeito. Hahahaha. Melhor investir na escrava. Hahahaha. Mas sem zona, fiquei supercurioso para entrar nesse gueto e ver como é. Nunca imaginei que em Recife havia disso. É de fato uma metrópole com todo tipo de gente. Será que é um ambiente doentio, macabro ou alto astral? Fico na dúvida. Imagino que quem está lá é para se divertir, ter prazer sensorial. Mesmo que através da dor.

19h58. Fui pegar as compras no carro e, nesse ínterim, a pessoa do escravo se manifestou. Mas não vou puxar o assunto. Se ela quiser falar, fala, pois é uma das que às vezes lê isto daqui. E não quero aparentar manipulação.

20h22. Estamos conversando. Aliás estou conversando com o meu amigo jurista sobre videogame e sobre BDSM com a pessoa. Depois narro as partes mais interessantes de ambas as conversas.

21h40. Finalmente saí do Facebook. Sobre o escravo, a pessoa disse que ele arrumava a casa, que saiu para a praia com ela usando coleira e mordaça e que comia num pote de cachorro. Infelizmente estrilou quando ela resolveu comprar uma lanterna que dava choques elétricos de até dois mil volts. Diga se não é uma coisa inusitada? Ah, e era rico. Ah, e ela tentou mata-lo afogado na privada (disso ele gostou). O que motiva uma pessoa a se submeter a isso é algo que desperta a minha imaginação e curiosidade. Se eu arrumasse uma escrava para mim, teria medo de supercompensar demais e sei lá. Melhor não me meter com essas coisas. Melhor manter meu foco na garota da noite. Sobre os videogames meu amigo jurista não consegue entender o meu desinteresse por games. Eu também não consigo. Simplesmente o Word se tornou o melhor videogame que eu poderia ter, pois ele me diverte, entretém e me dá controle completo e irrestrito sobre o personagem, a palavra. Isso me diverte bem mais do que tentar sobreviver a uma série de desafios pré-programados, por mais que os gráficos me cativem e sejam bem mais interessantes que os caracteres pretos sobre o fundo branco do Word. Como disse estou apostando todas as minhas fichas no Zelda Breath Of The Wild e se mamãe for boazinha no Mario Odyssey do Nintendo Switch que pretendo trazer de lá.    

21h51. Acho que esse post está grande demais já. Mas ainda é cedo e não quero ir hoje para o Desabafos do Vate. Cada vez tenho menos convicção de que irei abrir o blog para alguém enquanto vivo. Não preciso passar pelo ridículo maior de fazer isso. Quando falei dos jogos que tinha, aí foi que meu amigo jurista ficou sem entender. É, é uma pena, é como ter um tesouro e não querer usá-lo. Tenho os melhores jogos de dois sistemas e nenhuma vontade de jogá-los. E, amiga dominadora, me perdoe se contei essa parte do escravo aqui, mas achei uma parte interessante demais do meu dia para não registrar. Não tem nada que denuncie quem você é. Não se preocupe. Apenas eu e você sabemos quem é a personagem dessa história.


23h09. Voltei a conversar com a pessoa do escravo sobre coisas outras. Estamos conversando até agora. Pelo menos é um passatempo. Não tenho mais conteúdo para pôr aqui. Comi um sanduíche e meio de pão francês com mortadela e queijo mussarela (eu acho). Deixei uma metade para a fome dos remédios. Que espero que não seja grande hoje. Segundo a balança, eu perdi pouco mais de um quilo com a caminhada. Vou começar a revisar isso. 

Olha a prova de que comi sundae no McDonald's da Agamenon.
Olha a Agamenon lá atrás.

Achei que as florzinhas deram um toque às calçadas sempre tão cinzentas da cidade.

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