Meu amigo Marinheiro está à procura de um emprego, vai ter
três dias de teste num restaurante como atendente e precisa de uma calça social
preta. Ele disse que me escolheu como confidente para que um dia eu escreva a
história da sua vida. Como sei que nunca farei isso da forma convencional, crio
hoje o marcador “Marinheiro” no meu blog para que a história dele, à medida que
se desenrola, fique arquivada aqui. Bom, voltando à calça preta, ele tem
certeza que tem a sua na casa da mãe. A mãe, que não quer vê-lo de maneira
nenhuma pelo que entendi, afinal foi acusado de agredir a avó que tem Alzheimer
avançado, coisa que ele jura que não fez, disse que ele havia dado a calça para
um irmão.
Eis o que disse ao pai, que foi o seu interlocutor perante a
mãe, ao ouvir a resposta dele:
“Acho bom o senhor deixar de ser bunda mole e pau no cu e
parar de acreditar em tudo o que minha mãe fala porque se eu tô dizendo que não
dei essa porra dessa calça pra ninguém é porque eu não dei esse cacete pra
ninguém, não, tá entendendo? Agora não venha o senhor dizendo que eu dei essa
calça, não, porque o senhor não sabe de porra nenhuma, não, entendeu? Seja
bunda mole, não, rapaz, se eu tô dizendo esse cacete que eu não dei carai para
ninguém, não, é porque eu não dei, não, rapaz. Seja um homem, tenha sua
palavra, sua convicção, vá pela sua cabeça, não vá pela cabeça dos outros, não,
rapaz. Seja homem, seja bunda mole,
não.”
Quando mencionei que ele tinha sido agressivo demais, ele
disse que eu precisava ouvir como os pais o tratam. É realmente uma relação
muito adoecida e muito arisca, para dizer o mínimo, caso os pais se comuniquem
no mesmo nível realmente, o que acho que deve se dar. Não duvido. O que a mãe
já fez com ele, de negação e rejeição, não está no gibi.
Disse-lhe para procurar com os amigos. Depois lembrei que
tinha uma calça social preta e a ofereci a ele. Ele não respondeu. Talvez
chateado por eu dizer que não iria escrever um livro sobre ele, como ele
sonhava. Acho que vou andar hoje. São 15h27. Ele tem que me responder se quer a
calça ou não até as 16h00. Nada tem sido fácil na vida dele. Nada nunca foi
fácil em sua vida. Às vezes porque ele mesmo dificultou. Sempre foi bicho
solto, amante da liberdade. Nunca se preocupou se tinha pouco ou muito. Valia
mais amar. Como quando se mandou com uma namorada para Salvador e para se
sustentar passou a vender picolés em ônibus. Morava num vão, mas era feliz com
a garota que amava, até trazer uma pedra de crack para casa e ela o abandonar
para nunca mais voltar. Foi um dos grandes amores de sua vida. O crack arruinou
muita coisa. Foi por causa desse vício insano que o conheci, num internamento
na Clínica de Drogados, quando ela funcionava no primeiro endereço. Lá a
identificação foi imediata e recíproca, tornamo-nos melhores amigos, por mais
que nessa época eu já gostasse de me isolar e ouvir o meu iPod. A turma foi a
melhor que peguei em todas as minhas internações. Muito unida e com pessoas
muito legais. Bem, a maioria. Todos se davam bem, mas aqui e ali havia
desavenças, era como estar num Big Brother, até porque à época a turma era
mista, garotos e garotas. Foi quando conheci Nina, Borderline que estava com problema
com cocaína. Ela ficou com todos os almas do internamento, sim, havia esses,
menos comigo. Hahahaha. É minha sina. Também não ficou com o Marinheiro, até
onde sei. O Marinheiro não era alma. Não é. É um rebelde, altamente repelente à
hierarquia e ordens, principalmente familiar. Por outro lado, como disse, a família
não facilita com ele.
18h11. Cheguei da andada e o Marinheiro ainda não arrumou a
calça. Achou que a minha seria grande, disse que iria ficar folgada nas pernas.
Sem dúvida. Ele é magérrimo. Disse que se virava por lá. Aguardo notícias. Se
eles a quiser dar. O Parque dos Baobás só tem um baobá e havia quatro mulheres
a se fotografarem mutuamente em frente à árvore, o que me desmotivou a ir lá
tirar minha foto. Estou ouvindo o novo do U2 e, ao contrário do novo de Björk,
não estou muito impressionado. Aliás estou muito pouco impressionado. Para ser
sincero, desde o “No Line On The Horizon” o U2 falha em me agradar. Não estou
muito inspirado para escrever hoje. E me sinto na obrigação de falar do
Marinheiro. Por que o chamo de Marinheiro? Porque ele já trabalhou de garçom
num desses cruzeiros que fazem pela Europa. Falo muito sobre ele e sua história
de vida no diário que fiz da minha última internação no Manicômio. Tenho que
terminar de digitar. E mandar revisar. E mandar para alguma editora. Mas é
muito chato. Duvido que alguém se interesse. Seria a glória ter um livro
publicado. Mas deixemos os sonhos de lado.
19h06. Tentei compor uma poesia para a garota da noite, mas
estou cansado e desgostoso com as poesias que escrevo para ela. Não sai nada
que preste. Se eu lesse um pouco de poesia talvez ajudasse.
19h19. Li dez poesias de Fernando Pessoa. Vamos ver o que
sai
Serei ridículo, como diz o poeta
Pondo-me a falar de amor
Como se tivesse sobre o amor
Alguma propriedade
Quando é ele e todo ele
Que se apropria de mim
E vem me despir como a um bebê
Que a ama vai trocar as fraldas
Nu sem nenhum pudor
Porque ainda não conhece o pudor
Porque não há por que pudor
Em repartir a boa nova que a alma me apresenta
E que quer se revelar a ti
Completa e nítida e bela como a manhã
Que aos poucos se derrama
Nas encostas marítimas da minha terra
E alcança o batente da tua porta
Que não ousas abrir
Temendo que a minha manhã
Temendo que a minha manhã
A manhã que deveras sou
Te amanheça a face
E todo o resto
O que há de mais profundo e sagrado
Mas o que há de mais profundo e sagrado
É isso mesmo que me preenche o peito
É essa a oferta ridícula que faço
Ridícula por ser minha e não do outro
Ridícula porque inútil
Improbabilidade metafísica
Que se dane toda a metafísica!
Que soem e ressoem todos os clarins
Do meu coração
Que os quatro ventos
Ou a indecisa brisa
Que agora me afaga
Levem como um carinho
Essa música peculiar
Que agora sinto transbordar
Do meu peito em vontade pura
De desaguar em ti
Sim, sou reles, ridículo, um idiota
Poeta eu não sou
Nunca o fui e nunca o serei
Mas trago o sonho de todo poeta
Para te dar
Porque não abres a porta?
21h03. Foi o que saiu e já mandei. Mas acho que a garota da
noite não vai ler mesmo. Mandei como se pedisse que ela avaliasse para eu
mandar para outra garota. Hahahaha. Pode ser que isso a motive a ler.
21h37. Estou no Facebook a coletar impressões de garotas
sobre o “poema”. Até agora as opiniões têm sido favoráveis, só uma achou muito
grande. Hahahaha. Verborrágico como sempre. Não sei o quanto as impressões foram
sinceras e quanto foram hipócrita incentivo, sei que já está na caixa de texto
da garota da noite. Resta saber se ela vai ler ou não. Espero que não tenha por
assédio ou coisa que o valha. Hoje em dia as mulheres andam tão cheias de dedos
e pudores desmesurados em relação aos homens. Sei lá. Minha prima achou que não
soaria como tal. Não sei como soará somado aos vídeos que mandei, se ela
resolver rolar a conversa mais para cima. Isso me deixa preocupado, mas fiz de
coração. Não poderia ter feito mais de coração que isso. Se ela achar que estou
sendo excessivo, ela vai sinalizar de alguma forma, tenho certeza. Ninguém
gosta de ser assediada.
Sou muito pouco
Em vista do que fui
E o que fui me angustia
Quem eu sou
Embora não saiba quem de fato sou
É alguém que me cabe
Alguém que não quer mais sair de si para o nada
Sim, é verdade
Sou apenas um borrão do que fui
Um verso doente, manco, torto
Por isso me transformei
Em palavras
E em palavras vou me transformando
As palavras me dão forma, volume, conteúdo
As palavras me dão e são minha vida
As palavras me acolhem, me aninham, me ninam
As palavras me alimentam
Não do vulgo alimento
Mas do alimento que move a alma
E sigo adiante
Eu e minhas palavras
Sei que não sou lido
Sei que não sou grande
Mas me dou com a minha pequenez
Estou bem no convoluto quarto
Do meu ser
De onde fluem as palavras
Que despejo ao léu
E que me resgatam
Da estranha condição
De ser eu mesmo
Daqui a pouco vou criar o hábito de fazer versos. Hahahaha.
Que ridículo não devo estar passando, meu deus. Houve um episódio de plágio na
minha vida que a modificou completamente. Eu estava fazendo um estágio para
direção de arte na maior agência de publicidade daqui. O cara copiou o meu
layout, tanto que me mudaram de lugar. Acontece que a cópia ficou melhor que o
original e a pessoa ficou com a minha vaga de estagiário. Eu poderia, quem
sabe, talvez, hoje estar na maior agência de Pernambuco. Quem sabe contente com
a minha profissão. Ou quem sabe não? Acho que esta última me soa mais
verdadeira que a anterior, pois só de pensar na pressão criativa que eu
receberia sinto um tremendo mal-estar. Fico feliz por meu amigo aqui do prédio,
coincidentemente homônimo, que chegou lá, numa das grandes de São Paulo, uma
das melhores do mundo, pois a Publicidade brasileira está entre as melhores do
mundo. Ou estava à época em que eu me importava com isso. Hoje em vez de um
publicitário medíocre, sou um escritor medíocre. E me sinto tremendamente bem
sendo isso. Coisa que nunca me senti enquanto publicitário. Bem, talvez só no
começo, quando achava que a mediocridade era porque tinha muito a aprender.
Ledo engano. Nunca fiz nada nem remotamente genial como as coisas que via no
anuário do Clube de Criação de São Paulo ou na revista Archive. E quase me
matei por causa dos bloqueios criativos. Literalmente. Hoje não há bloqueios
criativos porque escrevo sobre a minha vida e ela não para de acontecer.
Some-se a isso as recordações como as que enumerei agora e tenho uma infinda
quantidade de conteúdo. É certo que há certos dias em que não estou para a
escrita e ela me vem difícil e sem vontade, mas descobri que a cafeína ajuda. A
cafeína talvez seja a melhor amiga do eu escritor.
0h32. Acabei de comer.
Tenho muita sorte em existir. O acaso me trouxe a ser quem
eu sou. Desde a célula primeira até o homem cismando em frente ao computador foi
uma longa sequência de acasos que se tornaram favoráveis a mim. E sou ser da
raça mais poderosa do planeta, que ainda trata a Terra como um nômade, destruindo
e consumindo o que vê pela frente como se acreditasse que daqui migrará para
outro lugar, outro corpo celeste a ser devorado. Ou como não tivesse filhos ou
netos. Totalmente consumida pela ambição. A fome insaciável de ter mais. A mais
doente das doentes, a mais insana das insanas. Uma fome vazia de significado. Uma
vida vazia de significado. Mas que posso eu dizer de uma vida sem significado? Eu
que passo os meus dias a escrever. Eu cujo ofício é escrever para si? Eu que
desonro a obrigação ancestral de ter uma criança? Eu que faço tão pouco. Que
faço menos do que devo. Certamente do que esperam de mim. Sou pouco, eu sei. E
tremendamente egoísta. Eu sou o rei bebê. Eu sou aquele que não devia ser. Eu
sou o inverso do sucesso. Eu sou a liberdade. Minha alma está livre, livre. É
só lidar com as culpas da forma adequada. Culpas que eu mesmo aplico a mim e
que nada mais são que projeções mentais que crio. Não são reais. Algumas me
parecem reais até demais. Tenho que pedir desculpas à minha mãe por não ir
amanhã com ela a Porto.
1h08. Esqueci um “a” na poesia. Que ozzy. Já coloquei aqui,
mas na que mandei para a garota da noite tem o erro. Ozzy, ozzy, ozzy. É a
vida. Não revisei direito. E se ela vir? Com o pedido e achar realmente achei
outra para encarnar?
1h26. Ela entrou há uma hora e não leu nada. Realmente devo
ter algo de muito ridículo, de muito repulsivo. Não pode ser só o bucho, deve
haver mais. Acho que a insistência. Só pode ser insistência. Não vejo outra
razão. Acho que ela me mitificou (negativamente) e eu a mitifiquei
(positivamente). Que ozzy.
2h01. Sei lá qual foi a da garota da noite comigo. Ela deve
se indagar o mesmo a meu respeito. Acho que ela vai fugir sempre que me vir. Ou
então vai encarar ficar na minha presença sem falar comigo. Talvez, se eu
perguntar, responder amigavelmente, aliás, fria e rapidamente, o que é a ou o
Encontrarte. Vai ser ozzy. As coisas que eu crio no universo. Só besteira. Só
burrice. Eu teria que ser um às da socialização para reverter isso. Me cruzou a
cabeça tomar duas cervejas no próximo encontro. Deus me livre. Ela não merece
tanto de mim. Minha mãe não merece isso de mim. Eu não vou me arriscar por
causa de uma garota. Por causa de seu ninguém. Minha sina é ficar realmente só.
Se for, que seja. Sempre que surgir uma raríssima, quase única oportunidade
como essa, tentarei aproveitar. A garota da noite é um caso perdido, na minha
opinião. Acho que na opinião de quem quer que saiba dessa história. É possível
que o meu amigo cervejeiro ainda acabe com raiva de mim.
Imaginando algum cenário em que a conversa com ela fosse
inevitável. O que queria mesmo é que a mensagem que eu mandei agora “Fez bem em
não ler” despertasse a curiosidade acerca do que foi escrito e ela visse tudo.
Acho que concluiria daí, psicóloga que é, que estou num quadro de mania.
Hahahaha. Não há saída para mim com a garota da noite. Soubesse ela que em mais
de dez anos, ela foi o mais próximo que cheguei de me encantar e encantar uma
garota. Que pena que a reação dela tenha sido tão negativa às minhas investidas
posteriores. Sempre passa pela cabeça que a amiga dela a alertou para me
evitar. Ou foi o que eu disse a ela sobre mim mesmo que a bloqueou. Como já
falei, sei lá qual é a da garota da noite. Só posso especular. Mas sem dúvida
as minhas postagens são um ponto supernegativo para mim.
2h36. Acho que vou dormir, mas ainda não estou com sono o
suficiente. Está gostosinho e um pouco doído e outro pouco vergonha e
constrangimento ruminar sobre a garota da noite. Se ela soubesse a enquete que
eu fiz com diversas mulheres, jovens e não tão jovens, a respeito do “poema”
antes e depois de enviá-lo. Se soubesse quantas palavras de incentivo recebi.
Não adianta se a garota da noite me tem quase por um stalker. Deve ter medo de mim. Medo e repulsa, exatamente os
sentimentos contrários aos que queria cultivar. Estou realmente fora de moda. É
melhor me resignar. Não só com a garota da noite, mas com qualquer outra
garota. O meu tempo passou, sou um homem ultrapassado. Quando a idade as
atingir, sentirão na pele o que sinto, caso continuem na vida que levam. Se
estiverem solteiras, digo. Não estou rogando praga. Ou será que estou? É que
fico meio chateado. Eu pelo menos responderia, eu acho, se uma menina tentasse
me conquistar. Se me arrependo de algo relativo a esse caso? Algo que eu fiz?
Não. Posso sentir um pouco de vergonha de ter me exposto assim. Me mostrado
tanto assim. Ainda bem que ela não viu e não vai ver. O que diria a ela se a
encontrasse? Tudo bem, eu já entendi. Na sua cabeça não rola nem nunca rolará
nada entre a gente. Passada essa etapa, eu tendo já essa noção, podemos ao
menos conversar como dois adultos que somos? Se não, também não ficarei
espantado. Entenda, entretanto, que enquanto o meu coração não desencanar e
partir para outra, vou lhe mandar mensagens – que você não lerá – porque me
apraz e diverte. É melhor do que a solidão afetiva completa, é a solidão
afetiva completa com um tempero. E para quem vem comendo desse prato há tanto
tempo, qualquer variada no sabor é bem-vindo, por mais que seja um sabor
doce-azedo.
3h18. Eu queria um Nintendo Switch com o Zelda e o Mario
para jogar... mas é outra coisa que não posso ter... ozzy. Acho que não jogaria
muito mesmo. Ou jogaria? Zelda eleito o melhor game do ano. E Mario quase barrando
ele. O Mario eu sei que é fantástico e viciante. O Zelda sendo mais incrível
ainda. Nossa, acho que vou me decepcionar com o Zelda. E acho que jogaria, sim.
Muito. Vou dormir.
-x-x-x-x-
19h00. Cheguei de Porto muito cansado, houve uma
confraternização da família materna hoje. Eu que disse que não ia me vi
obrigado a ir. E foi bom. Família reunida sempre é bom, por mais que fique mais
de espectador (para variar). Dormi muito pouco. Mas tenho novidades (boas, eu
acho). Conto depois com o espírito devidamente preparado. Vou tirar um cochilo.
Porto de Galinha e o mar (que já lar do meu amigo Marinheiro) |
19h32. Não consegui dormir e é melhor que não o faça pois
amanhã tem um chá de alguma coisa da vindoura filha da minha prima, irmã do meu
primo-irmão.
Eu não danço
Não sei dançar
Mas dentro de mim
Algo se agita e baila
Como passista da Mangueira
De contente alegria
Como se minha escola fosse campeã
Pois ela me viu
E respondeu
E isso vale avenidas
19h42. As novidades são essas, a garota da noite viu as
minhas postagens e agradeceu. Achou o “poema” “muito belo”. Não sei se isso
significa mais do que o que foi dito no grande esquema das coisas, mas se há
algo que aprendi foi a tomar tais coisas com boa dose de ceticismo. Assim me
descem mais realistas, senão me vejo caminhando em nuvens e a queda lá de cima
é grande. Pelo menos o doloroso véu do silêncio foi levantado e a resposta não
foi um fora. Quem sabe aos poucos, “poema” a “poema”, eu não acabe conquistando
um espaço em seu coração. Olha aí, já começo a viajar na maionese. E temo muito
um encontro cara a cara, quando não terei a tela do computador para me
proteger. E a tecla de delete para me ajudar com as palavras. E não saberei dar
as investidas físicas, o tal “chegar chegando”. “Pobre de mim que invento rimas
assim e outro vem em cima e você nem pra me escutar...”, acho que Paulo Ricardo
profetizou o nosso próximo encontro. Hahahaha.
20h53. Não soube mais do meu amigo Marinheiro. Já-já vou
dormir. Vou arriscar outra poesia
As mãos na nuca
O olhar distante
O cabelo revolto
Um perfeito retrato
De tudo o que mais quero
Impressiona a minha retina
E impressionado fico
A me indagar
Quantas histórias
Temos para nos ninar?
Como fazer o pouco
Que há de comum (se pouco há)
Em algo grande?
Confesso não achar resposta
Nesses versos
E a imagem permanece
A evocar mil sonhos
Feitos de nada
Vivendo de migalhas
O faminto coração
21h10. Comecei com essa história de poesia e agora não quero
mais parar. Que coisa! E são tão fracas, por que insisto? Porque me diverte,
oras. Ajuda a passar o tempo. E a direcionar o meu bem querer pela garota da
noite para algo um pouquinho mais concreto que a minha imaginação pura e
simples.
O tempo, essa ironia da existência,
Se estica quando quero que passe
E se encolhe quando mais preciso dele
O tempo que vive a me pôr cabelos brancos
Que vive a me roubar a minha vida
Como se tivesse algum desagrado de mim
O tempo que faz até a luz parecer lenta
É o mesmo tempo que leva você de mim
Antes mesmo de poder conhecê-la.
-x-x-x-x-
10h58. O Marinheiro arrumou uma calça social azul-marinho. Espero
que dê para o gasto.
Torcendo para que funcione! |
20h15. Acabo de voltar do chá de fraldas da irmã do meu
primo-irmão. Foi bom rever a família paterna e conversar com meu primo sobre neurose
noogênica e friend zone. Para os que não sabem, como eu não sabia até essa
tarde, neurose noogênica é praticamente o mesmo que viver uma vida sem sentido,
sem um direcionamento, sem uma meta. Friend zone é quando o cara está a fim de
uma mulher e acaba virando amigo. Esse negócio de friend zone aconteceu comigo
muito mais vezes do que gostaria. Acho que é minha sina. A garota da noite foi
fria e seca comigo acerca dos meus recentes comentários. Essa garota... mas que
garota. Seria como tirar a sorte grande. Quem sabe não o seria para ambos os
lados? Só falta ela descobrir isso. E acho que não é o que ela esteja
procurando. E o pior, estou morrendo de medo de encontrá-la, de trocar os pés
pelas mãos, travar, ficar sem ação. Se eu conseguisse enxergá-la menos musa,
menos tudo o que acho, seria uma ótima. A longínqua possibilidade de sucesso,
por mais distante que esteja, já me apavora. Eu que estou tão acostumado ao
fracasso, tão acostumado à solidão. Eu que agora tenho a friend zone como um
novo e assustador fantasma, sou só receios, cheio de dedos, um Maracanã lotado
de dedos, todos trêmulos de medo de destruir essa frágil possibilidade como a
uma bolha de sabão.
Minha incrível incapacidade fotográfica impediu de revelar o nome da futura integrante do clã, Alice. Que o mundo lhe seja dócil, Alice. |
Esse post já está muito grande. Vou revisar e postar. Helmet
toca “Unsung” no som. Só coloquei essa música por pura nostalgia do Disk MTV.
Veja só, as votações eram por telefone, pois não havia ainda a internet como ela
se dá hoje. Como será a internet daqui a 20 anos? Essa é uma pergunta que me
enche de curiosidade, mas não vou divagar sobre o tema aqui. Acho apenas que
mais e mais faremos tudo pela internet, todas as compras e transações bancárias,
pelo menos. E isso é o mínimo. A Google projeta que “até 2025, uma pessoa comum
conectada usará dispositivos conectados aproximadamente 4.800 vezes por dia,
o equivalente a uma interação a cada 18 segundos.” Uau. Vendo como jovens
e crianças estão conectados hoje, não duvido. Bom, vou revisar. Só uma última
coisa, a cada vez que paro aqui para ver o Facebook aparece que a garota da
noite se conectou há poucos minutos e está off-line. Curioso isso. Acho que se
a visse conectada me daria um frio congelante na espinha e no estômago, um
jorro de adrenalina e não teria coragem de falar nada. Nossa, morro de vergonha
dessa covardia e insegurança. De novo. Ela estava online há um minuto. Talvez
não queira entrar enquanto estou conectado. Sei lá. Pela última vez, sei lá
qual é a da garota da noite.
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