quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

ÚLTIMOS DIAS NO BRASIL (O QUE SERÁ, SERÁ)

Em breve estarei cruzando os céus.


11h45. Acordei há um tempinho, 11h03, e não sei o que fiz até agora que o tempo passou tão rápido. Tenho que lembrar de ligar para Maria. Meu amigo cineasta ainda não se manifestou. Estou esperando ele para colocar os remédios da viagem nos potinhos. Acho válido filmar. Pode ser que ele nem queira ou se interesse. Descobrirei. Se é que ele vai se manifestar para vir hoje aqui.

12h11. Não queria filmagem hoje. Parece que não vai ter encontro com as minhas amigas psicólogas nem hoje, nem amanhã, logo não haverá encontro (com a minha presença, pelo menos), pois viajo na quarta-feira. Hoje queria ficar como ontem, aqui no meu quarto escrevendo e jogando apenas. Como sempre, não começo o dia no melhor dos astrais. Estou achando repetir as frases cada dia mais cansativo. A turma está tentando marcar o encontro para amanhã à tarde. Espero que dê certo. Eu estou com um embrulho no estômago por causa da viagem. Mas é de se esperar. A viagem está em cima. Estou quase desistindo do Nintendo Switch. Dos bonecos. Da garota da noite. De tudo. Espero que o meu ânimo mude.

13h00. Fiz um café e acho o que eu faço mais gostoso. Talvez porque faça com mais pó, não sei. Sei que estou achando uma delícia. Já estou sabendo que vai ter o aniversário de dois dos meus sobrinhos no sábado. Com uma galera totalmente desconhecida. A viagem torna-se a mais e mais ozzy a cada dia. É a vida, como sempre digo, é aceitar e acolher e tentar me virar da melhor forma. Não vai ser o fim do mundo, mas será uma situação social para lá de difícil para mim. Acho que meu amigo não vai filmar hoje, até agora não mandou nenhuma notícia a respeito. Vou reiniciar a máquina para ver se o som e o laptop se entendem.

13h32. O som está finalmente pareado com o computador. Obviamente, botei para abrir o meu dia musical com “Arisen My Senses”. Acho que meu amigo cineasta não vem me filmar hoje. Tanto melhor. Eu acho, mas não tenho certeza. Havia três coisas que ele poderia filmar. A arrumação dos remédios, eu jogando o Toad e fumando um cigarro no hall de serviço. Seriam situações diferentes. Que dariam mais dinamismo à sua obra. Os únicos shows que sinto falta de ir são o de Björk e da filarmônica de Berlim tocando a Nona de Beethoven. Mais Björk. O resto dou por visto. Entre ver Björk e ter o Nintendo Switch? O Nintendo Switch, sem sombra de dúvida. Me dará muito mais prazer de uma forma sensorial mais completa que o show. E os shows eu posso sempre assistir por Blu-ray ou DVD ou qualquer coisa que valha. A verdade é que não tenho mais paciência para shows.

14h09. Falei com o meu amigo cineasta e ele está vindo. Acredito que dentro de 45 minutos esteja chegando. Disse que não vai poder encontrar com nossas amigas psicólogas no horário que podem. Acho que os três se encontrarão depois que eu viajar. Se meu amigo cineasta confirmar isso, eu deixo os CDs das meninas com ele. Comprei o “Vem” de Mallu Magalhães para as duas. Estou pensando na seleção dos bonecos que estão nos EUA. Só ficarei com os que realmente quero. O resto, a parte que não vou vender, quero dizer, eu peço para meu irmão doar para algum orfanato ou coisa do gênero.

18h38. Meu amigo cineasta esteve aqui e filmou até cerca de uma hora atrás. Filmamos no quarto, na sala e na varanda enquanto havia luz. Quase saímos com as amigas psicólogas hoje, mas eu e meu amigo concordamos que ficaria puxado demais para ele, pois tem outro encontro logo mais que não termina tarde, então seria complicado para ele. Aparentemente está sem carro, tanto é que deixou o seu equipamento aqui. Amanhã quer me filmar acordando. Estou um pouco embaraçado com isso, mas não muito. O que realmente me incomodou hoje foi o bloqueio que senti em relação a encontrar com as minhas amigas. Foi algo forte e pungente. Conversamos sobre muita coisa, desde o ato e hábito da leitura até o pesadelo em vida que é Alzheimer. Mais até para quem fica que para o próprio doente. Ele trouxe um equipamento com rodinhas e pude perceber que era uma gostosa novidade para que experimentava, como brinquedo novo de Natal. Nossa, a viagem agora veio como uma faca cega a me rasgar a alma violentamente. Viajo depois de amanhã. Tenho que parar de ser bicho do mato! Minhas amigas e minha família gostam de mim e eu gosto de todos da mesma forma. Me pareceu apenas que minhas amigas têm muito mais interesse em encontrar com o meu amigo cineasta que comigo. Eu seria apenas um acessório, um figurante no encontro. Essa é a minha sensação. Faz tanto tempo que não as vejo que isso me encheu de tremenda vergonha da reunião. Se estou assim com as minhas amigas, que dirá com a garota da noite? Hoje estou muito antissocial mesmo. Acho que gastei toda a minha desenvoltura com as câmeras. Acredito que realmente preciso de uma terapia. Ingressarei assim que possível. Ou para reverter esse quadro antissocial ou para aceitá-lo e acolhê-lo, só não posso ficar nesse dilema. A verdade é que não queria encontrar com elas como não queria encontrar com ninguém. Eu não queria mais sair do quarto-ilha hoje. Só para pegar água e café. Eu não sei o que se deu comigo hoje. Ou o que se dá comigo hoje. Estou tremendamente antissocial. Ainda bem que com meu amigo eu até que falei. Falei muito mais do que estou acostumado a falar. Falei demais na minha opinião. Passei da conta do falar por um dia. Meu gás social se extinguiu com a filmagem. Essas frases não estão me adiantando de nada. Repeti não sei quantas vezes que sou legal e comunicativo. Acho que talvez tenha que ser mais direto. Eu sou muito sociável talvez seja a frase certa a ser massificada para a minha mente.

19h31. Eu estou repetindo “eu sou muito sociável” e não estou me sentindo nem um pouco melhor por causa disso. Acho que a minha lua-de-mel com a autossugestão vai chegando ao fim. Pelo menos ainda gosto de mim. Só não gosto quando estou antissocial dessa forma, o que é frequente. Mas meu amigo cineasta concordou que eu fui sociável na festa da minha família. Será que o meu bloqueio com as amigas psicólogas seja de outra natureza? Será que me sinto desprezado por elas? Eu não sou da turma do colégio, como eles são. Mas eu costumava me considerar muito amigo delas.

20h10. Ouvi agora uma mensagem da minha cunhada dizendo que não posso levar duas malas. Estou tentando entrar em contato com a Decolar.com pelo telefone e com a Avianca, por chat, para tirar isso a limpo.

20h48. Esse tempo todinho para nenhum dos dois serviços me esclarecerem nada. Que vergonha. A Decolar.com disse que no bilhete tem dizendo “bagagem 2” mas não conseguiu me especificar se eram duas por pessoa ou duas como um todo. Grande ajuda. A Avianca disse que eu tinha que ligar ou entrar em contato com a parte internacional da companhia, não a brasileira. Porra, como é que esses dois lugares não podem me informar algo tão simples? Estou irado aqui com a incompetência.

21h04. Falei para o meu padrasto do meu dilema e ele vai averiguar isso amanhã. Ele acha que são duas por pessoa, mas vai confirmar. A tia da minha cunhada viajou de American Airlines, o que não é nosso caso nem na ida nem na volta. Iremos de Avianca e voltaremos de United Airlines. Talvez isso faça alguma diferença.

21h16. Comprei o Nintendo Switch, o Super Mario Odyssey e o joy-con cinza. Está feito. Ainda bem que comprei logo. Está estimado para chegar até 2 de janeiro e dia 10 a gente viaja. Se tivesse demorado mais, poderia não dar tempo. Minha mãe vai ficar uma arara. Mas agora está feito. Não me sinto bem por ter comprado. Me sinto culpado. Mas e se não desse tempo de chegar? E eu avisei a mamãe que iria comprar. Eu só não entendi se ela concordou ou não. Por isso me sinto culpado e receoso. Queria que o Switch me desse prazer, mas não tenho mais muito prazer em comprar coisas, não é o tipo de coisa que me move. O mais estranho é que fiquei achando que não vou jogar os jogos. Isso é mais do que estranho. Isso é péssimo e deve ser só o anticlímax da compra. Se eu não jogar eu vendo os meus três videogames. Isso é um compromisso que firmo comigo mesmo em público. Vou ligar o ar que não tem quem aguente o calor. Hoje eu vou tomar um bom banho e trocar a camisa de dormir. Estou com certo repúdio às frases de autossugestão. Sabia que isso não duraria muito. Mas tentarei uma vez mais essa noite. E amanhã. E quando chegar nos EUA. Não vou desistir assim tão fácil, em verdade. Ter escrito isso me animou um pouco mais. Eu estou emocionalmente muito inconstante, isso me incomoda. Algo está me incomodando em mim ou na vida. Espero que seja só a viagem. Mas por que o receio de encontrar com as meninas? Poderia indagar a elas até da autossugestão. Sei lá. Agora estou menos aflito, acho que porque a coisa talvez não vá acontecer. Não sei, estou numa oscilação emocional monstra. Vou voltar à terapia. Até isso me causa ojeriza. Eu queria que me deixassem aqui escrevendo. Sem viagens, sem amigos, com o Switch, o Mario (já garantidos, se mamãe não cancelar a compra) e o Zelda (se meu irmão me der, o que acho muito possível).

22h06. Vi agora relendo o começo do post que eu não queria a filmagem hoje também, mas que quando rolou foi a maior limpeza. Isso me reconforta bastante. Todos esses monstros que estou criando em relação à viagem e ao encontro com as amigas podem desaparecer se eu encarar tais realidades. Minha cunhada já disse que eu posso ficar trancado no escritório que não tem problema. Em último caso, é o que farei. Se houver encontro amanhã, vou encarar, o receio vai vir, como está vindo, mas, quando chegar lá, pode ser a maior limpeza também. E acredito firmemente que será. Quanto a viagem, pode ser limpeza também. Quando chegar lá, vou perguntar a meu irmão e minha cunhada se posso dar três dos meus bonecos aos meninos de Natal. E, em se podendo, se meu irmão embrulha para mim. E se concordam com as escolhas. Além disso, vou perguntar se há algum lugar para doar os bonecos que eu não quero. Uma igreja, sei lá. Já estou começando a ficar na securinha do Mario Odyssey. Uêba. Mas começarei pelo Zeldinha, que é a deliciosa picanha, com direito à gordurinha e tudo. O Mario é o sundae da McDonald’s com muita calda de chocolate. Primeiro o prato principal depois a sobremesa. A entrada é o Captain Toad Treasure Tracker. Que joguei bastante hoje enquanto o meu amigo me filmava. Uma delicinha também. Não sei se foi porque tomei café, mas estou mais tranquilo. Não posso colocar tudo na conta do café. Se for assim estou muito dependente da iguaria. Vamos ver como é que eu vou ficar durante a viagem, quando dificilmente tomarei café, ainda mais na quantidade que tomo aqui. Mas não tive grandes angústias na viagem para a casa da minha irmã. Algo piorou em mim de lá para cá. Mas nada está perdido, posso ser mais sociável que na última viagem que fiz aos EUA. Posso ser, talvez, tão sociável quanto fui na viagem para a casa da minha irmã. Tomara. Só não sei se a ponto de ir escorregar na neve. Tudo é possível. Mas não fui exemplarmente sociável na casa da minha irmã. Também não preciso ser exemplar, só não posso ser uma negação completa. Estou mais leve. E confesso que feliz por ter adquirido o Nintendo Switch. Provavelmente ouvirei de mamãe amanhã, mas é a vida. Ela bem que podia não reclamar. Seria tão bom. Uma vez na vida. Talvez eu seja um pouco matreiro e utilize a presença do meu amigo cineasta aqui para contar a ela. Sei que mamãe não gosta de dar vexame na frente de estranhos, então ela pode me dar um esporro contido. Talvez.

22h58. Fui fumar um cigarro.

23h08. Falei com meu amigo jurista, que, como os leitores mais assíduos já sabem, possui um Switch e foi onde eu vi o Mario Odyssey e ele me mostrou o trailer do Metroid Prime 4! Agora me animei de vez com o Switch! Já sei qual vai ser meu presente de Natal do ano que vem. Hahahaha. Espero retomar o gosto por games e jogar os do PS3 no ínterim. Depois de ter zerado os dois de Switch que, se os astros conspirarem a favor, terei. Espero que leve pelo menos um mês em cada um. Para valer o dinheiro investido. Por mais que o Zelda e o Mario, para mim, já deem para o gasto. Valem mais que o boneco ou os bonecos que venderei. Vou fazer o que mamãe me pediu e ligar para a lojinha que ela conheceu amanhã. Perguntar se eles revendem uns bonecos e games que tenho aqui e que quero dar fim. Se a resposta for afirmativa, eu digo que passo lá depois da viagem com a mercadoria. Se mamãe me der o auxílio luxuoso de uma carona. Também pode ser que eles digam que não. Mas o não eu já tenho, só ligando para ver qual é. Nossa, jogar um Metroid Prime novo era além do que poderia imaginar. Tomara que os gráficos sejam fenomenais. Têm tudo para ser. Mas estou mais contente com o Zelda e o Mario.

1h07. Tomei um relaxante banho quente. Eita, botar a temperatura do boiler em 41 graus de novo.

1h10. Havia aumentado para 45, pois meu padrasto colocou mais baixa por conta do verão. Ele estava achando a água muito quente. Mas não nos atenhamos a isso. Estou muito animado com o Nintendo Switch. Me lembrei agora de botar o celular para carregar.

1h13. Voltando ao Switch, meu amigo jurista é um entusiasta do console, ele que não tinha um Nintendo há muito tempo, se não me engano, me contagiou com a sua vibração em relação ao console. Já sou eu mesmo um grande fã. Especialmente por causa dos grandes jogos que jogarei. Não gosto muito da direção de arte do Zelda, mas acho que acabarei me aclimatando. E ele disse que o jogo era bem grande. Isso é legal, tem que fazer valer o investimento no console. O Mario é um pouco menor, creio, mas tem uma grande concentração de diversão. Só espero que minha mãe não pipoque tanto quanto acho que vai pipocar por causa do videogame. Espero muito que não queira cancelar a compra.

1h29. Este é um post que não vai ser divulgado. Está muito vazio e não me concentrei direito para escrever. Estou ficando com sono. Terminá-lo-ei amanhã, pois quero que os dois dias de filmagem fiquem juntos. E também porque serão os últimos dias no Brasil antes de partir para os EUA, o que dá um bom nome para post. Lembrar de fotografar a camisa que usarei na viagem para ilustrar o texto e de ligar para Maria. Vixe, só estou com a cabeça no Super Mario Odyssey. O que vai fazer minha mãe pipocar mesmo é o controle extra. Mas direi a ela que venderei dois bonecos. Penso em vender três, mas ainda não me convenci disso. Mas o terceiro seria para pagar a pintura dos bonecos que estão na China. Por falar em pintura de bonecos, Daisy do Yeti-Art, o ateliê para o qual mando os kits para pintar, nunca mais me deu notícias. E já faz um bocado de meses desde que enviei o dinheiro para ela. Espero que não venha me dar calote. Ou se me der, pouco importa. Mas importa um pouco, paguei uma grana preta para ela pintar a minha Asuka na moto para não receber é fogo. Se eu tivesse com esse dinheiro em mãos, pagaria a encomenda toda do Switch e ainda sobraria dinheiro. Como disse, foi realmente caro o serviço. E parece que ainda terei que pagar o frete para o Brasil. Só por essa última razão, eu até prefiro que ela demore a me contatar. Deixa eu pagar o Hulk e a Red Sonja. Ao menos o Hulk, que daí vai dar uma folga no meu orçamento. O Hulk vai ser uma pedrada violenta por causa do frete e das tarifas alfandegárias, mas é o boneco que mais quero ter. De longe. A Sonja vem num distante segundo lugar. Acho que vou vender mesmo três dos quatro bonecos grandes que tenho lá. Se tiver outro que não me lembro acho que poupo a Captain Marvel. Ou não. Decidirei nos EUA mesmo, como havia mencionado.

Nem acredito que vou ter o meu já querido Switch, meu outro filhinho. Vou ter que desativar um dos dois videogames para poder ligá-lo. E acho que desmontarei o PS3. Pois estou jogando o Wii U. É bom que fico imerso em Nintendo de ambos os lados. Depois que zerar o Zelda e o Mario, desligo o Switch e religo o PS3. Só voltando a religar o Switch com a chegada do Metroid Prime 4. É acho que vou ficando por aqui. Mas não quero parar de escrever sobre os meus hobbies agora. Foi bom ter abandonado o colecionismo de estátuas. Era um hobby muito caro e que depende exclusivamente da reforma do meu quarto para ser apreciado. O desapego que adquiri às figuras me permitirá separar apenas as que realmente valem a pena para mim, as que ainda têm algum sentido em figurar no meu quarto. Estou tranquilo, talvez seja o sono. Vou comer um pouco de batata chips e biscoito e dormir. Até amanhã.

-x-x-x-x-

12h56. Meu amigo cineasta capta sons ambientes do meu quarto. Parece que quem vai compor a trilha é meu primo urbano. Fico supercontente com a notícia. Hoje foi acordando e já filmando, mas ele não me pegou acordando de fato. Ficou com vergonha, disse. Entretanto, encenamos dois despertares. Falei para mamãe que havia encomendado o Switch. Ela não reclamou. Milagres às vezes acontecem e não poderia ser em melhor situação. Eu sou um figurante na família. Não sei se quero deixar esse papel. Ao mesmo passa que me categorizar assim me incomoda. Wild mood swings inside of me. Era até um disco para eu ouvir agora. Mamãe arruma as malas, quem está deixando os detalhezinhos para última hora sou eu. Vou encher logo os frasquinhos com o líquido do Vaporfi. Péra.

14h18. Enchi. O meu amigo me filmou almoçando com mamãe, mas disse que a bateria acabou no meio da filmagem. O equipamento de captar sons dele também está dando defeito. Acho que hoje não vai ser um dia muito produtivo cinematograficamente falando. Estou estressado. Não gosto de estar estressado. Ainda não sei quantas malas poderei levar. Não quero pensar nisso. Sei que amanhã de uma forma ou de outra estarei no ar rumo a Boston, passando por Guarulhos e Chicago no caminho.

14h53. Liguei para Maria e minha Tia de Natal, figura maravilhosa, acometida de uma doença terrível e mesmo assim vivendo e gostando da vida plenamente, ficou de ligar para a minha prima, que trabalha numa agência de turismo, para ver se ela pode se informar a respeito da quantidade de malas que posso levar.

15h03. Mandei as fotos da passagem para que minha prima possa averiguar. Vamos ver no que é que dá. Ah, era só o que me faltava. Mas a solução é simples, em caso de dúvida, levo apenas uma mala. Com menos roupa. Minha cunhada disse que com o frio usa a mesma roupa vários dias, farei o mesmo. Outro post não divulgável. Estou impressionado é com o post da autossugestão. Continua a ter acessos. Está com 83 já.

15h13. Minha tia respondeu. Segundo minha prima, nós podemos, sim, levar duas malas de 23 quilos cada um. Vou confiar nela. Acho que meu padrasto vai querer tirar a dúvida mesmo assim. Foi uma providência divina ter ligado para falar com Maria e minha tia ter a brilhante ideia de falar com sua filha e se predispor a isso. Massa. Tomara que a informação proceda. Não vou esquentar mais com isso. Vou relaxar. Não consigo. Dentro em breve o meu amigo cineasta chega aqui para mais um round de imagens. Estou com aquela ansiedade chata antes de uma grande mudança, antes de deixar minha zona de conforto. Que coisa chata, coincidentemente, ou intencionalmente, uma amiga me mandou um vídeo motivacional sobre fechar ciclos antigos e abrir novos ciclos. Eu já avisei à galera que estou antissocial. Vamos ver como me saio lá. Para ser sincero o que me incomoda agora é o traslado. Espero que as malas embarquem e só as recebamos em Boston. Bom o que será, será. Não há como fugir, pedir para desistir, nada. Só há uma alternativa, ir. Quantas pessoas não gostariam de estar no meu lugar? Passar um típico Natal americano com pessoas amadas que a gente quase não vê? Com neve e tudo o mais? É, pondo dessa forma parece até aprazível. E não deixa de ser verdade. Ozzy não conseguir ver dessa forma, que acho que é como mamãe está encarando. Para mamãe essa viagem é uma fonte de prazer. Queria entrar no mesmo clima. Mamãe está estressada no momento. E isso me estressa ainda mais. O que me aliviaria? Saber que o Nintendo Switch já está a caminho. Isso mudaria o meu foco para algo mais interessante. Não, percebo agora que até o Switch me dá agonia. Medo de não o jogar. Mas vou jogar. Eu quero jogar. Mais o Mario do que o Zelda. Mas começarei pelo Zelda.

15h45. Passei uma fase do Toad para desopilar. Desopilei mais ou menos. Se mamãe soubesse como estou me sentindo em relação a essa viagem, se ela pudesse entrar em mim e sentir o que eu sinto, ela perceberia talvez que não gosto de viajar. Agora entendo o meu pai. Mas antes eu gostava de viajar. Eu gosto de viajar, eu gosto de viajar, eu gosto de viajar. É o que me repito agora.

15h56. Por incrível que pareça estou mais tranquilo depois dessa série de repetições. Já fui tão corajoso, já viajei sozinho para o Rio para ver o show do U2 e consegui chegar do aeroporto até a casa da minha tia-avó e de lá para o autódromo de Jacarepaguá, local do show. Como pude me tornar tão incapaz assim? Eu sou curatelado por ser incapaz, mas não posso ser tão incapaz. É absurdo. De qualquer forma estou mais relaxado. Eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem...

16h00. Não sei quanto o meu amigo vai conseguir filmar com essa pouca luz que agora adentra o meu quarto nesse dia que se tornou nublado e chuvoso. A temperatura está agradabilíssima, pelo menos.

16h02. Confundi o “G” com o 6 na hora de digitar o horário. Ter a cabeça muito atarantada dá nisso. Os meus últimos dias no Brasil não me são prazerosos. Espero regressar logo e trazer boas lembranças. Que consiga ao menos interagir legal com o meu irmão e minha cunhada. Já inventei os nomes dos bonecos que quero dar aos meninos, Super Ninja Girl, Alien Female Warrior e Strange Ironman. Como acho que todos vão querer a caixa maior, do Strange Ironman, farei um sorteio e meu sobrinho que sabe ler vai dizer quem ganhou o quê. Uma pequena gamification do ato de ganhar presente, que por si só já é gostoso. Olha aí, já estou pensando em coisas divertidas de se fazer com os meus sobrinhos na viagem. Isso se meu irmão e minha cunhada permitirem eu dar os bonecos a seus filhos. Sabe-se lá. Vamos ver se eu tenho coragem também de fazer isso frente à presença dos tios da minha cunhada. O que será, será.

16h23. O estresse de mamãe é crescente. E me contamina. Mas estou mais de boa. Acho que meu amigo não vai filmar mais hoje. Já está tarde para isso. Sabe-se lá. Mais uma vez, o que será, será. Pelo horário também não vai ter encontro com uma de minhas amigas psicólogas, visto que a outra não pode hoje.

16h43. Eu não sei o que dizer. Ah, o meu amigo cineasta chegou e está tentando mais takes com o carrinho para a câmera. Pegamos ontem uma tábua que sobrou da reforma da casa da minha tia-vizinha para servir de base plana para a câmera. Ele a pôs no chão e está tentando fazer a tomada de lá. Coloquei uma música mais apropriada para a escrita e para a filmagem, quem advinha? Quem chutou “Utopia” de Björk acertou. Eu sei que ninguém chutou nada. Mas o número de leitores aumenta. Agora percebo que o álbum da cantora islandesa está conectado com a imagem da garota da noite pois é o disco desse período da minha vida. Mesmo se levar um fora, vou me lembrar dela quando ouvir “Utopia”. Curioso. Espero que não doa (muito). Quem sabe até se torne uma memória feliz, se o quase impossível acontecer. Confio no meu taco. Confio no meu taco. Confio no meu taco. Confio nada! Mas vou confiar um dia. Confio mais do que confiava antes. E quase me acho capaz de ser sedutor. As frases realmente se fixam na minha memória. Espero que fiquem impressas em quem eu sou. Gostaria muito de ser sedutor, legal, confiável, feliz honestamente e por aí vai. Estou sem ter o que dizer, mas está no meio de uma tomada, preciso parecer produzindo um texto descompromissado e contínuo. Então me foco em narrar o que se dá. Os passarinhos cantam. Estou pensando que depois de amanhã a essa hora já estarei provavelmente na casa do meu irmão. Esgotado da viagem, mas já acomodado. Isso vai ser muito bom. Aposto que terei que acordar por volta das 8h00 ou 9h00 da manhã. Não quero pensar nisso, a ansiedade da viagem me domina se começo a fazer projeções. É, ansiedade é chato. Sou acometido por ela toda vez que me vejo forçado para fora da minha zona de conforto, do meu quarto-ilha. Eu não sei o que escrever agora, empulhado com a câmera, ela está dentro do meu campo de visão. Eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem eu vou gostar da viagem. Eu vou deixar os CDs que comprei para as minhas amigas psicólogas com o meu amigo cineasta, pois certamente ele vai conseguir encontrar com ela, coisa que eu não consigo. Talvez os CDs as motivem a me ver. Sei lá. O que será, será.

17h31. Agora estão meu amigo cineasta e o meu primo urbano aqui no quarto, meu primo de contrarregra, segundando o “trilho”. Conversamos sobre bonecos e agora conversam sobre o filme em que o meu amigo cineasta trabalha, um tal de “Unicórnio”. Estamos conversando mais que filmando e isso me diverte. Meu irmão, o que dizer? Sei lá, estou todo empulhado. A viagem. Meu amigo cineasta colocou uma iluminação alternativa aqui para dar um clima diferente. Eu posso trocar de camisa. Se isso for uma coisa que dê variedade à narrativa. Eu estou pensando agora no Switch. Estou querendo muito jogar o Mario.

18h15. Eles se foram, o cartão de memória da câmera acabou. O terceiro. Acho que ele coletou um material rico nessa vinda. Principalmente pela filmagem da festa de Natal. Foi muito bom ter os dois aqui, o astral, a energia boa de suas companhias, o amor que temos uns pelos outros ainda reverbera nas paredes do meu quarto-ilha. Foi muito bom esse finalzinho de filmagem. Três é o número mágico para boas conversas. O papo sempre surge. Somos amigos desde que somos meninos. Meu primo urbano, por mais estranho me pareça, foi uma das pessoas que mais tentou me animar com a viagem. Ele é uma pessoa muito diferente de 20 anos atrás, para melhor, muito melhor. Melhor inclusive para si. Essa é a parte mais importante. Tenho orgulho de quem ele se tornou. Um orgulho fraternal. Incrível como o tempo e as experiências de vida mudam as pessoas. Incrível o que o tempo operou comigo. O rótulo de fracassado me vem à mente, quando me comparo a eles. Não deveria. Mas é. Não posso cair de novo na armadilha da autocrítica exacerbada. Eu gosto de mim, eu gosto de mim, eu gosto de mim. Eu gosto de mim. Sim, eu gosto. Eu sou a pessoa que mais tem que gostar de mim. Eu me gosto, eu me gosto, eu me gosto. Hoje mais do que nunca. Mentira. Me gostava mais na festa de Natal paterna, houve uma série de introversões que minaram um pouco a minha autoestima. Preciso reencontrá-la. Reencontrar aquele bem-estar, aquele bem-ser comigo mesmo que experimentei. Não posso deixá-lo escapar. Nunca mais. Depois de ter provado o doce sabor do amor próprio, não quero deixar de experimentá-lo. Quero que se torne algo sólido, permanente na visão que tenho de mim mesmo. A curatela me incomoda, acho que ela e essa minha introversão são os aspectos que mais me incomodam. Não quero mudar um, a curatela – quero aceitá-la e acolhê-la – e quero mudar desesperadamente o outro, me tornar mais acessível e sociável. Pela conversa do meu primo urbano com o meu amigo cineasta, vi que eles têm um grupo de amigos em comum, que inclusive vão passar um tempo na mesma casa de praia, e que eu sou excluído desse círculo. Queria muito pertencer a ele. Queria ir para a casa de praia também, eu acho. No ano que vem, digo. Se bem que nunca poderei ir para a casa de praia pois é na mesma época em que meus irmãos vêm geralmente para cá. Isso inviabiliza a minha ida. Não abro nem abrirei mão de comungar da presença dos meus irmãos por causa de algo saudável para a minha socialização. Me sinto mais tranquilo. Acho que desabafei no meio dessas asneiras algo que descomprimiu um pouco a pressão no meu peito. E volto a pensar no Nintendo Switch. Uma das coisas que me incomoda é a dificuldade de fumar um cigarro de verdade no frio congelante da casa do meu irmão. Mas isso é um detalhe mínimo. Não posso amplificar tal detalhe a ponto de arruinar toda a experiência para mim. Não é só isso, eu sei e sinto. Mas sei e sinto que todos os meus temores podem se dissipar uma vez lá. Estou é com muita frescura. Isso tudo é medo de deixar a zona de conforto. Ninguém vai me obrigar a nada lá, a não ser minha mãe me obrigando a acordar cedo e ter as refeições com o resto da família. À medida que as crianças crescem acho que vão começando a dormir mais tarde. E daí? Não posso ter medo de crianças. Não vão me fazer mal. Mas o medo é o inverso, é eu influenciar de forma negativa as suas formações. Mas acho que para isso eu teria que ser de alguma forma algo que não sou. Sei lá, bruto, brabo, autoritário, querer ensinar coisas que desafiem ou antagonizem o que é ensinado pelos pais... sou apenas calado e distante. Frio, eu acho. É só colocar um pouco de calor humano que fará uma grande diferença. Será que sou capaz? Pelo menos de fazer a brincadeira dos bonecos, se meu irmão e minha cunhada aceitarem a ideia? Quem sabe, talvez, eles deixem eu ligar o Switch para os meninos jogarem o Mario. Não, acho que eu mesmo não quero isso, não quero ser eu a viciar os pequenos em videogames. É justamente desafiar e antagonizar a educação que lhes é dada pelos pais. Assunto encerrado. Não quero nem que vejam o que há dentro da caixa, senão ficarão doidinhos para jogar, creio eu. Não quero ir de encontro às regras da casa. Lembro que aqui eles deixavam os meninos jogar muito pouco. E jogos bestas, de mecânica simples. Mas acho que já estão maiores, conseguiriam encarar um Mario. Não sei e não vou arriscar. Mudar de assunto.

19h05. E a garota da noite? Que será que pensa de mim? Será que o conjunto que faz é positivo ou negativo? Não saberia precisar. Talvez esteja entre um e outro. Seria bom que estivesse. Quanto mais distante do negativo, melhor. Sei que comecei no negativo, pois me disse todo defeitos escabrosos. Tentei reverter com um vídeo e uma poesia. Depois a desafiei dizendo que iria conquistá-la e amá-la e prometendo que seríamos muito felizes. Não sei que juízo faz de mim depois de tudo isso. Queria que pelo menos ficasse intrigada com a minha pessoa, curiosa em me conhecer melhor. Não gostaria de repúdio. O que pretendo mandar agora é algo fofo e íntimo. Se tiver coragem de fazê-lo. Se achar pertinente fazê-lo. Acho que a foto eu conseguirei que tirem e me enviem por e-mail. A fofura é garantida pelos personagens nela. Ouço a voz da minha mãe e sinto um frio na espinha, não queria que ela me chamasse agora. Agora estou muito fechado em mim, não quero estresse de viagem para cima de mim. Sei que ele virá, ainda hoje, com as coordenadas finais dadas por meu padrasto e por ela para mim. E a hora de fechar as malas. Espero muito que minha prima esteja certa a respeito da quantidade de malas. Que ozzy. Amanhã, a esta hora, estaremos eu e mamãe fazendo hora em Guarulhos para pegar o voo para Chicago. Ainda estaremos a menos da metade da viagem que nos espera. Não vou pensar nisso. O que será, será. Depois de amanhã, no mesmo horário, estarei na casa do meu irmão. Serão cerca de 24 horas de viagem. É um tanto excessivo. E pode começar mal com a recusa de levar uma das malas. Não vou cantar agouro. E se não puder, o máximo que terei de fazer é transferir os itens de uma mala para a outra. Atrasar um pouco a fila de embarque, passar um pequeno constrangimento, mas está beleza. Depois disso iremos certinho até o final. E pode não acontecer isso, podem ser que aceitem as duas malas.

19h33. Estou conversando com a figura do escravo que deu alforria ao servo uma vez mais. Disse que ele era delicadinho demais para os eu gosto. Hahahaha. Que onda. Mas não estou muito na vibe de conversar. A hora agora é de... nem sei. Que calor da murrinha. Vou reiniciar o meu computador. Quero ouvir a música vinda do som.

19h58. Pronto. E meu padrasto me confirmou que podemos levar duas malas cada. Estou muito mais aliviado agora. E o som está maior vindo das caixas do meu mini system. Não vou entrar no Facebook agora. Me desdisse e entrei. Achei que seria descortês da minha parte, dizer que voltaria e não voltar, mas serei reticente agora. Não estou a fim de conversar. Uma coisa que me deixou com uma pulga do tamanho de uma manga atrás da orelha foi que quando fui usar o Skype, ele disse que minha câmera estava sendo usada por outro aplicativo. Duas vezes em dois dias distintos. Isso me fez pensar que alguém, em algum lugar do mundo está me vendo, o que me incomoda deveras. Não quero ser hackeado. Que aplicativo seria esse que usa minha câmera, ignoro. Vou ver até em configurações. Não consegui achar... cada vez me torno mais burro em relação à tecnologia. Não que me incomode muito, mas nessas horas faz falta. Ainda bem que meu irmão saca de informática, posso ver isso com ele. Se ele tiver tempo para uma coisa pequena dessas. Nossa, vai ser bom ver o meu irmão. Essa é a melhor parte da viagem. Não estou com paciência para conversar no Facebook. Aliás, não gosto muito. Nem se fosse a garota da noite. E principalmente ela. Mas tentarei fazer um texto de Natal para acompanhar a foto. Acho tão piegas e cansei de fazer textos de Natal quando trabalhava. Embora tenha feito um para entregar lá nos EUA. Lembrei-me de pegar sacos ziplock para botar os líquidos do Vaporfi. Penso em colocar o chip do meu celular também. Não penso em levar o celular. Se bem que seria o único passatempo que eu teria. Dúvida.

21h00. Estava falando no Messenger. Pedindo mais uma vez a foto de Poeira e conversando com a ex-dona do escravo. Também organizei algumas coisas da viagem. Depois desse negócio das malas, estou mais zen com a viagem. Ainda bem. Com o traslado até. As coisas estão bem encaminhadas. Vou ligar o ar aqui. Está muito calor. Daqui a pouco, ainda consigo resistir mais um pouco. Não quero mudar nada agora, quero apreender a cidade e o meu quarto-ilha como são uma última vez. A cidade murmura pela janela aberta. Não sei se meu amigo conseguiu gravar os sons que queria e não me pareceu muito preocupado com isso. Sabe que haverá outras oportunidades. Talvez mande consertar o curioso aparelho que capta sons. Já pensei em comprar um para mim, mas achei muito caro. A pergunta que me faço é, para que eu queria um negócio daquele? Eu não tenho a mínima ideia. Hahahaha. Estou ficando realmente caduco. Uma pessoa do CAPS me passou a ficha completa de uma usuária do serviço, do meu grupo, e não consegui me lembrar de jeito maneira da pessoa. Isso me preocupa. Meu amigo cineasta disse que Alzheimer, quanto mais cedo se manifesta, tão mais severo é. Espero que não seja o meu caso. Agora que ensaio aprender a gostar de mim, me ver acometido de doença tão maquiavélica seria um grande desperdício. Contra isso nada posso fazer. O que será, será. A viagem se aproxima, inexorável, inevitável. Em breve, terei que parar de escrever para guardar o computador.

21h36. Os ânimos estão ficando mais acirrados à medida que o tempo começa a urgir. Estou isolado no meu quarto-ilha e Björk me protege do estresse. Mesmo assim fico estressado. Que não venham trazer para cá para dentro o estresse. Minha mãe não arrumou a mala toda ainda. E já está com sono. Minha casa não é o lar mais tranquilo das Ubaias nesse momento. Não sei se o meu padrasto vai poder nos levar para o aeroporto e não quero descobrir agora. Rogo para que sim. Não acho que faria isso com mamãe, ainda mais guardando tão pouca confiança em mim. Estou ansioso. Quem desacostumado e avesso a viagens não estaria? Ouço as conversas, mas Björk as tornam ininteligíveis para mim. Deduzo que pedirão que o motorista de vovó nos deixe. É isso que pude aferir. Posso estar enganado. 21h44. Meio tarde para ligar para vovó. O que será, será. Mas pegar um táxi seria ozzy. Viagens, ai, ai, viagens... focar no meu irmão e no Nintendo Switch. Vi que o Super Mario Odyssey que só ia chegar dia 22 de dezembro à Amazon, está em estoque. Talvez o Switch chegue mais cedo do que esperado. We’ll see. Nem sei mais o que dizer. Minha mãe fala ao telefone, me parece, tem a voz tranquila. Acho que está resolvida a nossa ida. Não sei. Saberei em breve.

22h07. Meu padrasto vai nos levar. Me sinto bem mais seguro. Tudo se encaminha bem. Só falta mamãe acabar de fazer a mala dela. Meu deus, como é de deixar tudo para última hora. Já me deu moedas, que acho inúteis, pois não tenho por hábito usar, porém nada disse para não estressá-la ainda mais. Embora ela tenha me parecido bastante calma. Também não necessito moedas, pois não pretendo comprar mais nada nos States, mas nunca se sabe. Talvez as moedas se mostrem úteis em alguma ocasião. Não vou dissertar agora sobre moedas, já tomaram espaço demais do meu texto. Eu estou bastante mais relaxado agora, não saberia precisar por quê. Carregarei o meu iPod até as 23h00 – são 22h22 – e depois porei o Kindle de mamãe para carregar. Terei de deixar o meu computador ligado durante a noite para poder carregar o aparelho. Da última vez demorou bastante. Meu primo urbano adentrou o meu quarto depois de vários anos. Talvez mais de década. Finalmente pôde ver o meu boneco do Demolidor e pareceu bem menos repelente aos bonecos. Acho que tentou ser simpático. Hahahaha. Fico grato pelo carinho. Hahahaha. O filme do qual meu amigo cineasta participa vai concorrer na categoria “Generations” do festival de Berlim, um importante festival do cinema, segundo me informou. Esqueci desses detalhes da nossa tarde. Quero fumar um cigarro, mas só posso ou só me sinto confortável para fazê-lo quando o meu padrasto se retirar. Com mamãe ainda arrumando a mala, quando eles irão se retirar é uma incógnita.

22h33. O iPod já está carregado mas deixarei até as 23h00 por garantia. Não gosto de carregar dispositivos que não arrearam a bateria, mas não tive alternativa. Não sabia a quantas andava a carga. Espero que tenha Kentucky Fried Chicken no aeroporto de Chicago. Gostaria de comer um sanduíche de lá. Chega me deu água na boca agora. Nem tudo na viagem precisa ser ruim, não é? Nem tudo será ruim. Há, inclusive, a possibilidade de ser uma boa viagem. Não sei porque estou mais positivo, acho que porque finalmente caiu a ficha de que vou viajar e me entreguei a essa possibilidade. É a única razão que consigo divisar. Não quero pensar nas 11 horas de voo que encararemos para Chicago. Essa parte vai ser uma tortura. Ou pensar que talvez não haja lugar para fumar durante todo o traslado. Isso me incomoda também. E as alfândegas, em especial a americana e a da volta no Brasil. Temo ser parado. E temo não entrar nos EUA. O que será, será. Não há muito o que fazer a respeito desses eventos, independem de mim.

22h49. Mamãe não tem jeito. Está arrumando tudo menos a mala. Já estou vendo, vai ficar com sono demais e vai dormir, acordando amanhã cedo para terminar a mala. Acho que inconscientemente (ou não) já planeja isso. Que coisa louca. Cada cabeça é um mundo mesmo. É como se ela quisesse se estressar, sei lá. Minha teoria de que é viciada em estresse ainda ronda as minhas ideias. Eu tenho que desligar o computador e guardar, mas agora com essa coisa do Kindle, vou ter que esperar até amanhã para fazer isso. Mas acredito que não me tomará mais de dez minutos.

23h02. Hora de desconectar o iPod e conectar o Kindle. Conectado. Agora é com o tempo e ele. Tenho que revisar isso e postar antes de ir dormir. Não quero pensar no que pensei agora. Tenho uma carteira de cigarros cheia para levar para os EUA e dois cigarros da outra carteira para fumar aqui. Um hoje e outro amanhã quando acordar. Vou dormir, no máximo, de 1h00. Assim tenho oito horas de sono ou algo próximo a isso. São 23h10. Se der 0h30 e o pessoal ainda estiver acordado, vou fumar o meu cigarro mesmo assim. De 0h00 paro de escrever. Vixe, vai demorar para carregar o Kindle. Bom, vai carregar até eu acordar amanhã e vai com a bateria que estiver até lá. Não é possível que não carregue tudo. Tenho que pensar onde vou botar o Switch aqui no quarto, a única maneira que vejo de arrumar algum espaço para ele é colocando o Wii U na posição na vertical, com os dois apoios que vieram com ele. Não sei se o Switch vem com cabo HDMI. De qualquer forma, eu sempre posso usar o que está conectado ao Wii U, que não é o que veio com ele, pois o que veio com ele é muito curto. Para tudo se dá um jeito. Ou quase tudo. A garota da noite será que tem jeito ainda? Não faço ideia. Pense num mistério para o qual não tenho a mínima pista. Sei que agi equivocadamente sendo tão incisivo, de acordo com os profissionais da paquera. Mas agora que fazer, já era. Tenho que focar no que ainda não veio, no que virá. Confiar no meu taco e saber que o que será, será. Desamor ou um grande amar. Não existe meio-termo. Em questões do coração nunca há.

23h27. Viajei na maionese agora, querendo escrever meio que rimando, que patético. Hahahaha. Pelo menos me divirto. Escrever é mesmo o meu grande barato, mesmo que não tenha talento nenhum. Essa é a minha voz. Para mim, para você, para nós. Vou pegar café, água e tomar o meu remédio.

23h34. A vida segue mais calma, eu estou mais calmo. A coisa ruim em relação à viagem, mesmo rememorando agora acho que passou. Estou como com a garota da noite, no pagar para ver. Curioso para saber no que vai dar. Se prefiro uma viagem péssima e um desfecho feliz com a garota da noite que o inverso? Com uma forte ansiedade, prefiro. Ainda bem que uma coisa independe totalmente da outra e possa ser que tenha uma ótima viagem as well. Não sei se estou digitando mais rápido ou mais horas, fato é que meus posts tem ficado gigantescos. Não sei como ainda leem. É algo miraculoso e inexplicável. Algo que me deixa profundamente feliz. Estou levando os meus comandos na mala para praticar nos EUA. Eu preciso operar essa transformação interna se desejo ter uma mínima possibilidade com a garota da noite. O eu que era não teria a mínima chance. Ele não teria coragem de enfrentá-la. Calma, Mário, você ainda é este eu. Ou não? Eu acredito que gosto de mim, ou melhor, eu não desgosto mais de mim. Estamos no processo de fazer as pazes. Mas há momentos em que gosto verdadeiramente de mim e isso nunca aconteceu antes. Eu ainda estou muitíssimo antissocial. Tal parte desgosto profundamente, porém 20 dias enfurnados numa casa com um monte de gente pode me ajudar a reverter isso. Ou pelo menos aliviar. Agora não dá para ver mais a quantas anda o carregamento do Kindle, mas mamãe disse que a luz muda de amarela para verde quando está carregado. Assim seja. Quero ver é se ela vai ler mesmo durante a viagem. Eu cada vez mais levo menos coisas. Mas o computador me é essencial. Ainda mais sem celular para digitar nada. Espero que a bateria esteja cheia. Acho que vou levar a tomada na mochila. Ou não. O casaco de neve está na mochila e ocupa um espaço mostro. Não quero mexer nisso. Qualquer coisa, compro uma revista que me interesse. Sei lá. Dou meu jeito. Mas não passaremos tanto tempo em São Paulo na ida, eu acho, deixe-me ver. É um tempo considerável, cerca de quatro horas, minha bateria sobrevive exatamente esse tempo, mas tenho que contar que o check-in vai nos tomar algum desse tempo. O que será, será. Não há como escapar da realidade.

23h59. Vou revisar o texto para postar.


P.S.: relendo, percebi que não tirei a foto da camisa que vestirei na viagem, nem liguei para a lojinha que a minha mãe descobriu. Agora é tarde. Só na volta. Já tirei o chip do celular e a loja obviamente já fechou. É a vida. Passei o dia inteiro filmando e estressado com a viagem, acabei esquecendo. Foi mal.  

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