Em breve estarei cruzando os céus. |
11h45. Acordei há um tempinho, 11h03, e não sei o que fiz
até agora que o tempo passou tão rápido. Tenho que lembrar de ligar para Maria.
Meu amigo cineasta ainda não se manifestou. Estou esperando ele para colocar os
remédios da viagem nos potinhos. Acho válido filmar. Pode ser que ele nem
queira ou se interesse. Descobrirei. Se é que ele vai se manifestar para vir
hoje aqui.
12h11. Não queria filmagem hoje. Parece que não vai ter
encontro com as minhas amigas psicólogas nem hoje, nem amanhã, logo não haverá
encontro (com a minha presença, pelo menos), pois viajo na quarta-feira. Hoje
queria ficar como ontem, aqui no meu quarto escrevendo e jogando apenas. Como
sempre, não começo o dia no melhor dos astrais. Estou achando repetir as frases
cada dia mais cansativo. A turma está tentando marcar o encontro para amanhã à
tarde. Espero que dê certo. Eu estou com um embrulho no estômago por causa da
viagem. Mas é de se esperar. A viagem está em cima. Estou quase desistindo do
Nintendo Switch. Dos bonecos. Da garota da noite. De tudo. Espero que o meu
ânimo mude.
13h00. Fiz um café e acho o que eu faço mais gostoso. Talvez
porque faça com mais pó, não sei. Sei que estou achando uma delícia. Já estou
sabendo que vai ter o aniversário de dois dos meus sobrinhos no sábado. Com uma
galera totalmente desconhecida. A viagem torna-se a mais e mais ozzy a cada
dia. É a vida, como sempre digo, é aceitar e acolher e tentar me virar da
melhor forma. Não vai ser o fim do mundo, mas será uma situação social para lá
de difícil para mim. Acho que meu amigo não vai filmar hoje, até agora não
mandou nenhuma notícia a respeito. Vou reiniciar a máquina para ver se o som e
o laptop se entendem.
13h32. O som está finalmente pareado com o computador.
Obviamente, botei para abrir o meu dia musical com “Arisen My Senses”. Acho que
meu amigo cineasta não vem me filmar hoje. Tanto melhor. Eu acho, mas não tenho
certeza. Havia três coisas que ele poderia filmar. A arrumação dos remédios, eu
jogando o Toad e fumando um cigarro no hall de serviço. Seriam situações
diferentes. Que dariam mais dinamismo à sua obra. Os únicos shows que sinto
falta de ir são o de Björk e da filarmônica de Berlim tocando a Nona de
Beethoven. Mais Björk. O resto dou por visto. Entre ver Björk e ter o Nintendo
Switch? O Nintendo Switch, sem sombra de dúvida. Me dará muito mais prazer de
uma forma sensorial mais completa que o show. E os shows eu posso sempre
assistir por Blu-ray ou DVD ou qualquer coisa que valha. A verdade é que não
tenho mais paciência para shows.
14h09. Falei com o meu amigo cineasta e ele está vindo. Acredito
que dentro de 45 minutos esteja chegando. Disse que não vai poder encontrar com
nossas amigas psicólogas no horário que podem. Acho que os três se encontrarão
depois que eu viajar. Se meu amigo cineasta confirmar isso, eu deixo os CDs das
meninas com ele. Comprei o “Vem” de Mallu Magalhães para as duas. Estou
pensando na seleção dos bonecos que estão nos EUA. Só ficarei com os que
realmente quero. O resto, a parte que não vou vender, quero dizer, eu peço para
meu irmão doar para algum orfanato ou coisa do gênero.
18h38. Meu amigo cineasta esteve aqui e filmou até cerca de
uma hora atrás. Filmamos no quarto, na sala e na varanda enquanto havia luz.
Quase saímos com as amigas psicólogas hoje, mas eu e meu amigo concordamos que
ficaria puxado demais para ele, pois tem outro encontro logo mais que não
termina tarde, então seria complicado para ele. Aparentemente está sem carro,
tanto é que deixou o seu equipamento aqui. Amanhã quer me filmar acordando.
Estou um pouco embaraçado com isso, mas não muito. O que realmente me incomodou
hoje foi o bloqueio que senti em relação a encontrar com as minhas amigas. Foi
algo forte e pungente. Conversamos sobre muita coisa, desde o ato e hábito da
leitura até o pesadelo em vida que é Alzheimer. Mais até para quem fica que
para o próprio doente. Ele trouxe um equipamento com rodinhas e pude perceber
que era uma gostosa novidade para que experimentava, como brinquedo novo de Natal.
Nossa, a viagem agora veio como uma faca cega a me rasgar a alma violentamente.
Viajo depois de amanhã. Tenho que parar de ser bicho do mato! Minhas amigas e
minha família gostam de mim e eu gosto de todos da mesma forma. Me pareceu
apenas que minhas amigas têm muito mais interesse em encontrar com o meu amigo
cineasta que comigo. Eu seria apenas um acessório, um figurante no encontro.
Essa é a minha sensação. Faz tanto tempo que não as vejo que isso me encheu de
tremenda vergonha da reunião. Se estou assim com as minhas amigas, que dirá com
a garota da noite? Hoje estou muito antissocial mesmo. Acho que gastei toda a
minha desenvoltura com as câmeras. Acredito que realmente preciso de uma
terapia. Ingressarei assim que possível. Ou para reverter esse quadro
antissocial ou para aceitá-lo e acolhê-lo, só não posso ficar nesse dilema. A
verdade é que não queria encontrar com elas como não queria encontrar com
ninguém. Eu não queria mais sair do quarto-ilha hoje. Só para pegar água e
café. Eu não sei o que se deu comigo hoje. Ou o que se dá comigo hoje. Estou tremendamente
antissocial. Ainda bem que com meu amigo eu até que falei. Falei muito mais do
que estou acostumado a falar. Falei demais na minha opinião. Passei da conta do
falar por um dia. Meu gás social se extinguiu com a filmagem. Essas frases não
estão me adiantando de nada. Repeti não sei quantas vezes que sou legal e
comunicativo. Acho que talvez tenha que ser mais direto. Eu sou muito sociável
talvez seja a frase certa a ser massificada para a minha mente.
19h31. Eu estou repetindo “eu sou muito sociável” e não
estou me sentindo nem um pouco melhor por causa disso. Acho que a minha
lua-de-mel com a autossugestão vai chegando ao fim. Pelo menos ainda gosto de
mim. Só não gosto quando estou antissocial dessa forma, o que é frequente. Mas
meu amigo cineasta concordou que eu fui sociável na festa da minha família.
Será que o meu bloqueio com as amigas psicólogas seja de outra natureza? Será que
me sinto desprezado por elas? Eu não sou da turma do colégio, como eles são.
Mas eu costumava me considerar muito amigo delas.
20h10. Ouvi agora uma mensagem da minha cunhada dizendo que
não posso levar duas malas. Estou tentando entrar em contato com a Decolar.com
pelo telefone e com a Avianca, por chat, para tirar isso a limpo.
20h48. Esse tempo todinho para nenhum dos dois serviços me
esclarecerem nada. Que vergonha. A Decolar.com disse que no bilhete tem dizendo
“bagagem 2” mas não conseguiu me especificar se eram duas por pessoa ou duas
como um todo. Grande ajuda. A Avianca disse que eu tinha que ligar ou entrar em
contato com a parte internacional da companhia, não a brasileira. Porra, como é
que esses dois lugares não podem me informar algo tão simples? Estou irado aqui
com a incompetência.
21h04. Falei para o meu padrasto do meu dilema e ele vai
averiguar isso amanhã. Ele acha que são duas por pessoa, mas vai confirmar. A
tia da minha cunhada viajou de American Airlines, o que não é nosso caso nem na
ida nem na volta. Iremos de Avianca e voltaremos de United Airlines. Talvez
isso faça alguma diferença.
21h16. Comprei o Nintendo Switch, o Super Mario Odyssey e o
joy-con cinza. Está feito. Ainda bem que comprei logo. Está estimado para
chegar até 2 de janeiro e dia 10 a gente viaja. Se tivesse demorado mais,
poderia não dar tempo. Minha mãe vai ficar uma arara. Mas agora está feito. Não
me sinto bem por ter comprado. Me sinto culpado. Mas e se não desse tempo de
chegar? E eu avisei a mamãe que iria comprar. Eu só não entendi se ela
concordou ou não. Por isso me sinto culpado e receoso. Queria que o Switch me
desse prazer, mas não tenho mais muito prazer em comprar coisas, não é o tipo
de coisa que me move. O mais estranho é que fiquei achando que não vou jogar os
jogos. Isso é mais do que estranho. Isso é péssimo e deve ser só o anticlímax
da compra. Se eu não jogar eu vendo os meus três videogames. Isso é um
compromisso que firmo comigo mesmo em público. Vou ligar o ar que não tem quem
aguente o calor. Hoje eu vou tomar um bom banho e trocar a camisa de dormir.
Estou com certo repúdio às frases de autossugestão. Sabia que isso não duraria
muito. Mas tentarei uma vez mais essa noite. E amanhã. E quando chegar nos EUA.
Não vou desistir assim tão fácil, em verdade. Ter escrito isso me animou um
pouco mais. Eu estou emocionalmente muito inconstante, isso me incomoda. Algo
está me incomodando em mim ou na vida. Espero que seja só a viagem. Mas por que
o receio de encontrar com as meninas? Poderia indagar a elas até da
autossugestão. Sei lá. Agora estou menos aflito, acho que porque a coisa talvez
não vá acontecer. Não sei, estou numa oscilação emocional monstra. Vou voltar à
terapia. Até isso me causa ojeriza. Eu queria que me deixassem aqui escrevendo.
Sem viagens, sem amigos, com o Switch, o Mario (já garantidos, se mamãe não
cancelar a compra) e o Zelda (se meu irmão me der, o que acho muito possível).
22h06. Vi agora relendo o começo do post que eu não queria a
filmagem hoje também, mas que quando rolou foi a maior limpeza. Isso me
reconforta bastante. Todos esses monstros que estou criando em relação à viagem
e ao encontro com as amigas podem desaparecer se eu encarar tais realidades.
Minha cunhada já disse que eu posso ficar trancado no escritório que não tem
problema. Em último caso, é o que farei. Se houver encontro amanhã, vou
encarar, o receio vai vir, como está vindo, mas, quando chegar lá, pode ser a
maior limpeza também. E acredito firmemente que será. Quanto a viagem, pode ser
limpeza também. Quando chegar lá, vou perguntar a meu irmão e minha cunhada se
posso dar três dos meus bonecos aos meninos de Natal. E, em se podendo, se meu
irmão embrulha para mim. E se concordam com as escolhas. Além disso, vou
perguntar se há algum lugar para doar os bonecos que eu não quero. Uma igreja,
sei lá. Já estou começando a ficar na securinha do Mario Odyssey. Uêba. Mas
começarei pelo Zeldinha, que é a deliciosa picanha, com direito à gordurinha e
tudo. O Mario é o sundae da McDonald’s com muita calda de chocolate. Primeiro o
prato principal depois a sobremesa. A entrada é o Captain Toad Treasure
Tracker. Que joguei bastante hoje enquanto o meu amigo me filmava. Uma
delicinha também. Não sei se foi porque tomei café, mas estou mais tranquilo.
Não posso colocar tudo na conta do café. Se for assim estou muito dependente da
iguaria. Vamos ver como é que eu vou ficar durante a viagem, quando
dificilmente tomarei café, ainda mais na quantidade que tomo aqui. Mas não tive
grandes angústias na viagem para a casa da minha irmã. Algo piorou em mim de lá
para cá. Mas nada está perdido, posso ser mais sociável que na última viagem
que fiz aos EUA. Posso ser, talvez, tão sociável quanto fui na viagem para a
casa da minha irmã. Tomara. Só não sei se a ponto de ir escorregar na neve.
Tudo é possível. Mas não fui exemplarmente sociável na casa da minha irmã.
Também não preciso ser exemplar, só não posso ser uma negação completa. Estou
mais leve. E confesso que feliz por ter adquirido o Nintendo Switch.
Provavelmente ouvirei de mamãe amanhã, mas é a vida. Ela bem que podia não
reclamar. Seria tão bom. Uma vez na vida. Talvez eu seja um pouco matreiro e
utilize a presença do meu amigo cineasta aqui para contar a ela. Sei que mamãe
não gosta de dar vexame na frente de estranhos, então ela pode me dar um
esporro contido. Talvez.
22h58. Fui fumar um cigarro.
23h08. Falei com meu amigo jurista, que, como os leitores
mais assíduos já sabem, possui um Switch e foi onde eu vi o Mario Odyssey e ele
me mostrou o trailer do Metroid Prime 4! Agora me animei de vez com o Switch!
Já sei qual vai ser meu presente de Natal do ano que vem. Hahahaha. Espero
retomar o gosto por games e jogar os do PS3 no ínterim. Depois de ter zerado os
dois de Switch que, se os astros conspirarem a favor, terei. Espero que leve
pelo menos um mês em cada um. Para valer o dinheiro investido. Por mais que o
Zelda e o Mario, para mim, já deem para o gasto. Valem mais que o boneco ou os bonecos
que venderei. Vou fazer o que mamãe me pediu e ligar para a lojinha que ela
conheceu amanhã. Perguntar se eles revendem uns bonecos e games que tenho aqui
e que quero dar fim. Se a resposta for afirmativa, eu digo que passo lá depois
da viagem com a mercadoria. Se mamãe me der o auxílio luxuoso de uma carona.
Também pode ser que eles digam que não. Mas o não eu já tenho, só ligando para
ver qual é. Nossa, jogar um Metroid Prime novo era além do que poderia
imaginar. Tomara que os gráficos sejam fenomenais. Têm tudo para ser. Mas estou
mais contente com o Zelda e o Mario.
1h07. Tomei um relaxante banho quente. Eita, botar a
temperatura do boiler em 41 graus de novo.
1h10. Havia aumentado para 45, pois meu padrasto colocou
mais baixa por conta do verão. Ele estava achando a água muito quente. Mas não
nos atenhamos a isso. Estou muito animado com o Nintendo Switch. Me lembrei
agora de botar o celular para carregar.
1h13. Voltando ao Switch, meu amigo jurista é um entusiasta
do console, ele que não tinha um Nintendo há muito tempo, se não me engano, me
contagiou com a sua vibração em relação ao console. Já sou eu mesmo um grande
fã. Especialmente por causa dos grandes jogos que jogarei. Não gosto muito da
direção de arte do Zelda, mas acho que acabarei me aclimatando. E ele disse que
o jogo era bem grande. Isso é legal, tem que fazer valer o investimento no
console. O Mario é um pouco menor, creio, mas tem uma grande concentração de
diversão. Só espero que minha mãe não pipoque tanto quanto acho que vai pipocar
por causa do videogame. Espero muito que não queira cancelar a compra.
1h29. Este é um post que não vai ser divulgado. Está muito
vazio e não me concentrei direito para escrever. Estou ficando com sono.
Terminá-lo-ei amanhã, pois quero que os dois dias de filmagem fiquem juntos. E
também porque serão os últimos dias no Brasil antes de partir para os EUA, o
que dá um bom nome para post. Lembrar de fotografar a camisa que usarei na
viagem para ilustrar o texto e de ligar para Maria. Vixe, só estou com a cabeça
no Super Mario Odyssey. O que vai fazer minha mãe pipocar mesmo é o controle
extra. Mas direi a ela que venderei dois bonecos. Penso em vender três, mas
ainda não me convenci disso. Mas o terceiro seria para pagar a pintura dos
bonecos que estão na China. Por falar em pintura de bonecos, Daisy do Yeti-Art,
o ateliê para o qual mando os kits para pintar, nunca mais me deu notícias. E
já faz um bocado de meses desde que enviei o dinheiro para ela. Espero que não
venha me dar calote. Ou se me der, pouco importa. Mas importa um pouco, paguei
uma grana preta para ela pintar a minha Asuka na moto para não receber é fogo.
Se eu tivesse com esse dinheiro em mãos, pagaria a encomenda toda do Switch e
ainda sobraria dinheiro. Como disse, foi realmente caro o serviço. E parece que
ainda terei que pagar o frete para o Brasil. Só por essa última razão, eu até
prefiro que ela demore a me contatar. Deixa eu pagar o Hulk e a Red Sonja. Ao
menos o Hulk, que daí vai dar uma folga no meu orçamento. O Hulk vai ser uma pedrada
violenta por causa do frete e das tarifas alfandegárias, mas é o boneco que
mais quero ter. De longe. A Sonja vem num distante segundo lugar. Acho que vou
vender mesmo três dos quatro bonecos grandes que tenho lá. Se tiver outro que
não me lembro acho que poupo a Captain Marvel. Ou não. Decidirei nos EUA mesmo,
como havia mencionado.
Nem acredito que vou ter o meu já querido Switch, meu outro
filhinho. Vou ter que desativar um dos dois videogames para poder ligá-lo. E
acho que desmontarei o PS3. Pois estou jogando o Wii U. É bom que fico imerso
em Nintendo de ambos os lados. Depois que zerar o Zelda e o Mario, desligo o
Switch e religo o PS3. Só voltando a religar o Switch com a chegada do Metroid
Prime 4. É acho que vou ficando por aqui. Mas não quero parar de escrever sobre
os meus hobbies agora. Foi bom ter abandonado o colecionismo de estátuas. Era
um hobby muito caro e que depende exclusivamente da reforma do meu quarto para
ser apreciado. O desapego que adquiri às figuras me permitirá separar apenas as
que realmente valem a pena para mim, as que ainda têm algum sentido em figurar
no meu quarto. Estou tranquilo, talvez seja o sono. Vou comer um pouco de
batata chips e biscoito e dormir. Até amanhã.
-x-x-x-x-
12h56. Meu amigo cineasta capta sons ambientes do meu
quarto. Parece que quem vai compor a trilha é meu primo urbano. Fico
supercontente com a notícia. Hoje foi acordando e já filmando, mas ele não me
pegou acordando de fato. Ficou com vergonha, disse. Entretanto, encenamos dois
despertares. Falei para mamãe que havia encomendado o Switch. Ela não reclamou.
Milagres às vezes acontecem e não poderia ser em melhor situação. Eu sou um
figurante na família. Não sei se quero deixar esse papel. Ao mesmo passa que me
categorizar assim me incomoda. Wild mood
swings inside of me. Era até um disco para eu ouvir agora. Mamãe arruma as
malas, quem está deixando os detalhezinhos para última hora sou eu. Vou encher
logo os frasquinhos com o líquido do Vaporfi. Péra.
14h18. Enchi. O meu amigo me filmou almoçando com mamãe, mas
disse que a bateria acabou no meio da filmagem. O equipamento de captar sons
dele também está dando defeito. Acho que hoje não vai ser um dia muito
produtivo cinematograficamente falando. Estou estressado. Não gosto de estar
estressado. Ainda não sei quantas malas poderei levar. Não quero pensar nisso.
Sei que amanhã de uma forma ou de outra estarei no ar rumo a Boston, passando
por Guarulhos e Chicago no caminho.
14h53. Liguei para Maria e minha Tia de Natal, figura
maravilhosa, acometida de uma doença terrível e mesmo assim vivendo e gostando
da vida plenamente, ficou de ligar para a minha prima, que trabalha numa
agência de turismo, para ver se ela pode se informar a respeito da quantidade
de malas que posso levar.
15h03. Mandei as fotos da passagem para que minha prima
possa averiguar. Vamos ver no que é que dá. Ah, era só o que me faltava. Mas a
solução é simples, em caso de dúvida, levo apenas uma mala. Com menos roupa.
Minha cunhada disse que com o frio usa a mesma roupa vários dias, farei o
mesmo. Outro post não divulgável. Estou impressionado é com o post da
autossugestão. Continua a ter acessos. Está com 83 já.
15h13. Minha tia respondeu. Segundo minha prima, nós
podemos, sim, levar duas malas de 23 quilos cada um. Vou confiar nela. Acho que
meu padrasto vai querer tirar a dúvida mesmo assim. Foi uma providência divina
ter ligado para falar com Maria e minha tia ter a brilhante ideia de falar com
sua filha e se predispor a isso. Massa. Tomara que a informação proceda. Não
vou esquentar mais com isso. Vou relaxar. Não consigo. Dentro em breve o meu amigo
cineasta chega aqui para mais um round de imagens. Estou com aquela ansiedade
chata antes de uma grande mudança, antes de deixar minha zona de conforto. Que
coisa chata, coincidentemente, ou intencionalmente, uma amiga me mandou um
vídeo motivacional sobre fechar ciclos antigos e abrir novos ciclos. Eu já
avisei à galera que estou antissocial. Vamos ver como me saio lá. Para ser
sincero o que me incomoda agora é o traslado. Espero que as malas embarquem e
só as recebamos em Boston. Bom o que será, será. Não há como fugir, pedir para
desistir, nada. Só há uma alternativa, ir. Quantas pessoas não gostariam de
estar no meu lugar? Passar um típico Natal americano com pessoas amadas que a
gente quase não vê? Com neve e tudo o mais? É, pondo dessa forma parece até
aprazível. E não deixa de ser verdade. Ozzy não conseguir ver dessa forma, que
acho que é como mamãe está encarando. Para mamãe essa viagem é uma fonte de
prazer. Queria entrar no mesmo clima. Mamãe está estressada no momento. E isso
me estressa ainda mais. O que me aliviaria? Saber que o Nintendo Switch já está
a caminho. Isso mudaria o meu foco para algo mais interessante. Não, percebo
agora que até o Switch me dá agonia. Medo de não o jogar. Mas vou jogar. Eu
quero jogar. Mais o Mario do que o Zelda. Mas começarei pelo Zelda.
15h45. Passei uma fase do Toad para desopilar. Desopilei
mais ou menos. Se mamãe soubesse como estou me sentindo em relação a essa
viagem, se ela pudesse entrar em mim e sentir o que eu sinto, ela perceberia
talvez que não gosto de viajar. Agora entendo o meu pai. Mas antes eu gostava
de viajar. Eu gosto de viajar, eu gosto de viajar, eu gosto de viajar. É o que
me repito agora.
15h56. Por incrível que pareça estou mais tranquilo depois
dessa série de repetições. Já fui tão corajoso, já viajei sozinho para o Rio
para ver o show do U2 e consegui chegar do aeroporto até a casa da minha
tia-avó e de lá para o autódromo de Jacarepaguá, local do show. Como pude me
tornar tão incapaz assim? Eu sou curatelado por ser incapaz, mas não posso ser
tão incapaz. É absurdo. De qualquer forma estou mais relaxado. Eu vou gostar da
viagem, eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem...
16h00. Não sei quanto o meu amigo vai conseguir filmar com
essa pouca luz que agora adentra o meu quarto nesse dia que se tornou nublado e
chuvoso. A temperatura está agradabilíssima, pelo menos.
16h02. Confundi o “G” com o 6 na hora de digitar o horário.
Ter a cabeça muito atarantada dá nisso. Os meus últimos dias no Brasil não me
são prazerosos. Espero regressar logo e trazer boas lembranças. Que consiga ao
menos interagir legal com o meu irmão e minha cunhada. Já inventei os nomes dos
bonecos que quero dar aos meninos, Super Ninja Girl, Alien Female Warrior e
Strange Ironman. Como acho que todos vão querer a caixa maior, do Strange
Ironman, farei um sorteio e meu sobrinho que sabe ler vai dizer quem ganhou o
quê. Uma pequena gamification do ato
de ganhar presente, que por si só já é gostoso. Olha aí, já estou pensando em
coisas divertidas de se fazer com os meus sobrinhos na viagem. Isso se meu
irmão e minha cunhada permitirem eu dar os bonecos a seus filhos. Sabe-se lá.
Vamos ver se eu tenho coragem também de fazer isso frente à presença dos tios
da minha cunhada. O que será, será.
16h23. O estresse de mamãe é crescente. E me contamina. Mas
estou mais de boa. Acho que meu amigo não vai filmar mais hoje. Já está tarde
para isso. Sabe-se lá. Mais uma vez, o que será, será. Pelo horário também não
vai ter encontro com uma de minhas amigas psicólogas, visto que a outra não
pode hoje.
16h43. Eu não sei o que dizer. Ah, o meu amigo cineasta
chegou e está tentando mais takes com o carrinho para a câmera. Pegamos ontem
uma tábua que sobrou da reforma da casa da minha tia-vizinha para servir de
base plana para a câmera. Ele a pôs no chão e está tentando fazer a tomada de
lá. Coloquei uma música mais apropriada para a escrita e para a filmagem, quem
advinha? Quem chutou “Utopia” de Björk acertou. Eu sei que ninguém chutou nada.
Mas o número de leitores aumenta. Agora percebo que o álbum da cantora
islandesa está conectado com a imagem da garota da noite pois é o disco desse
período da minha vida. Mesmo se levar um fora, vou me lembrar dela quando ouvir
“Utopia”. Curioso. Espero que não doa (muito). Quem sabe até se torne uma
memória feliz, se o quase impossível acontecer. Confio no meu taco. Confio no
meu taco. Confio no meu taco. Confio nada! Mas vou confiar um dia. Confio mais
do que confiava antes. E quase me acho capaz de ser sedutor. As frases realmente
se fixam na minha memória. Espero que fiquem impressas em quem eu sou. Gostaria
muito de ser sedutor, legal, confiável, feliz honestamente e por aí vai. Estou
sem ter o que dizer, mas está no meio de uma tomada, preciso parecer produzindo
um texto descompromissado e contínuo. Então me foco em narrar o que se dá. Os
passarinhos cantam. Estou pensando que depois de amanhã a essa hora já estarei
provavelmente na casa do meu irmão. Esgotado da viagem, mas já acomodado. Isso
vai ser muito bom. Aposto que terei que acordar por volta das 8h00 ou 9h00 da
manhã. Não quero pensar nisso, a ansiedade da viagem me domina se começo a
fazer projeções. É, ansiedade é chato. Sou acometido por ela toda vez que me
vejo forçado para fora da minha zona de conforto, do meu quarto-ilha. Eu não
sei o que escrever agora, empulhado com a câmera, ela está dentro do meu campo
de visão. Eu vou gostar da viagem, eu vou gostar da viagem eu vou gostar da
viagem. Eu vou deixar os CDs que comprei para as minhas amigas psicólogas com o
meu amigo cineasta, pois certamente ele vai conseguir encontrar com ela, coisa
que eu não consigo. Talvez os CDs as motivem a me ver. Sei lá. O que será,
será.
17h31. Agora estão meu amigo cineasta e o meu primo urbano
aqui no quarto, meu primo de contrarregra, segundando o “trilho”. Conversamos
sobre bonecos e agora conversam sobre o filme em que o meu amigo cineasta
trabalha, um tal de “Unicórnio”. Estamos conversando mais que filmando e isso
me diverte. Meu irmão, o que dizer? Sei lá, estou todo empulhado. A viagem. Meu
amigo cineasta colocou uma iluminação alternativa aqui para dar um clima
diferente. Eu posso trocar de camisa. Se isso for uma coisa que dê variedade à
narrativa. Eu estou pensando agora no Switch. Estou querendo muito jogar o
Mario.
18h15. Eles se foram, o cartão de memória da câmera acabou.
O terceiro. Acho que ele coletou um material rico nessa vinda. Principalmente
pela filmagem da festa de Natal. Foi muito bom ter os dois aqui, o astral, a
energia boa de suas companhias, o amor que temos uns pelos outros ainda
reverbera nas paredes do meu quarto-ilha. Foi muito bom esse finalzinho de
filmagem. Três é o número mágico para boas conversas. O papo sempre surge.
Somos amigos desde que somos meninos. Meu primo urbano, por mais estranho me
pareça, foi uma das pessoas que mais tentou me animar com a viagem. Ele é uma
pessoa muito diferente de 20 anos atrás, para melhor, muito melhor. Melhor
inclusive para si. Essa é a parte mais importante. Tenho orgulho de quem ele se
tornou. Um orgulho fraternal. Incrível como o tempo e as experiências de vida
mudam as pessoas. Incrível o que o tempo operou comigo. O rótulo de fracassado
me vem à mente, quando me comparo a eles. Não deveria. Mas é. Não posso cair de
novo na armadilha da autocrítica exacerbada. Eu gosto de mim, eu gosto de mim,
eu gosto de mim. Eu gosto de mim. Sim, eu gosto. Eu sou a pessoa que mais tem
que gostar de mim. Eu me gosto, eu me gosto, eu me gosto. Hoje mais do que
nunca. Mentira. Me gostava mais na festa de Natal paterna, houve uma série de
introversões que minaram um pouco a minha autoestima. Preciso reencontrá-la.
Reencontrar aquele bem-estar, aquele bem-ser comigo mesmo que experimentei. Não
posso deixá-lo escapar. Nunca mais. Depois de ter provado o doce sabor do amor
próprio, não quero deixar de experimentá-lo. Quero que se torne algo sólido,
permanente na visão que tenho de mim mesmo. A curatela me incomoda, acho que
ela e essa minha introversão são os aspectos que mais me incomodam. Não quero
mudar um, a curatela – quero aceitá-la e acolhê-la – e quero mudar
desesperadamente o outro, me tornar mais acessível e sociável. Pela conversa do
meu primo urbano com o meu amigo cineasta, vi que eles têm um grupo de amigos
em comum, que inclusive vão passar um tempo na mesma casa de praia, e que eu
sou excluído desse círculo. Queria muito pertencer a ele. Queria ir para a casa
de praia também, eu acho. No ano que vem, digo. Se bem que nunca poderei ir
para a casa de praia pois é na mesma época em que meus irmãos vêm geralmente
para cá. Isso inviabiliza a minha ida. Não abro nem abrirei mão de comungar da
presença dos meus irmãos por causa de algo saudável para a minha socialização.
Me sinto mais tranquilo. Acho que desabafei no meio dessas asneiras algo que
descomprimiu um pouco a pressão no meu peito. E volto a pensar no Nintendo
Switch. Uma das coisas que me incomoda é a dificuldade de fumar um cigarro de
verdade no frio congelante da casa do meu irmão. Mas isso é um detalhe mínimo.
Não posso amplificar tal detalhe a ponto de arruinar toda a experiência para
mim. Não é só isso, eu sei e sinto. Mas sei e sinto que todos os meus temores
podem se dissipar uma vez lá. Estou é com muita frescura. Isso tudo é medo de
deixar a zona de conforto. Ninguém vai me obrigar a nada lá, a não ser minha
mãe me obrigando a acordar cedo e ter as refeições com o resto da família. À
medida que as crianças crescem acho que vão começando a dormir mais tarde. E
daí? Não posso ter medo de crianças. Não vão me fazer mal. Mas o medo é o
inverso, é eu influenciar de forma negativa as suas formações. Mas acho que
para isso eu teria que ser de alguma forma algo que não sou. Sei lá, bruto,
brabo, autoritário, querer ensinar coisas que desafiem ou antagonizem o que é
ensinado pelos pais... sou apenas calado e distante. Frio, eu acho. É só
colocar um pouco de calor humano que fará uma grande diferença. Será que sou
capaz? Pelo menos de fazer a brincadeira dos bonecos, se meu irmão e minha
cunhada aceitarem a ideia? Quem sabe, talvez, eles deixem eu ligar o Switch
para os meninos jogarem o Mario. Não, acho que eu mesmo não quero isso, não
quero ser eu a viciar os pequenos em videogames. É justamente desafiar e
antagonizar a educação que lhes é dada pelos pais. Assunto encerrado. Não quero
nem que vejam o que há dentro da caixa, senão ficarão doidinhos para jogar,
creio eu. Não quero ir de encontro às regras da casa. Lembro que aqui eles
deixavam os meninos jogar muito pouco. E jogos bestas, de mecânica simples. Mas
acho que já estão maiores, conseguiriam encarar um Mario. Não sei e não vou
arriscar. Mudar de assunto.
19h05. E a garota da noite? Que será que pensa de mim? Será
que o conjunto que faz é positivo ou negativo? Não saberia precisar. Talvez
esteja entre um e outro. Seria bom que estivesse. Quanto mais distante do
negativo, melhor. Sei que comecei no negativo, pois me disse todo defeitos
escabrosos. Tentei reverter com um vídeo e uma poesia. Depois a desafiei
dizendo que iria conquistá-la e amá-la e prometendo que seríamos muito felizes.
Não sei que juízo faz de mim depois de tudo isso. Queria que pelo menos ficasse
intrigada com a minha pessoa, curiosa em me conhecer melhor. Não gostaria de
repúdio. O que pretendo mandar agora é algo fofo e íntimo. Se tiver coragem de
fazê-lo. Se achar pertinente fazê-lo. Acho que a foto eu conseguirei que tirem
e me enviem por e-mail. A fofura é garantida pelos personagens nela. Ouço a voz
da minha mãe e sinto um frio na espinha, não queria que ela me chamasse agora.
Agora estou muito fechado em mim, não quero estresse de viagem para cima de
mim. Sei que ele virá, ainda hoje, com as coordenadas finais dadas por meu
padrasto e por ela para mim. E a hora de fechar as malas. Espero muito que
minha prima esteja certa a respeito da quantidade de malas. Que ozzy. Amanhã, a
esta hora, estaremos eu e mamãe fazendo hora em Guarulhos para pegar o voo para
Chicago. Ainda estaremos a menos da metade da viagem que nos espera. Não vou
pensar nisso. O que será, será. Depois de amanhã, no mesmo horário, estarei na
casa do meu irmão. Serão cerca de 24 horas de viagem. É um tanto excessivo. E
pode começar mal com a recusa de levar uma das malas. Não vou cantar agouro. E
se não puder, o máximo que terei de fazer é transferir os itens de uma mala
para a outra. Atrasar um pouco a fila de embarque, passar um pequeno
constrangimento, mas está beleza. Depois disso iremos certinho até o final. E
pode não acontecer isso, podem ser que aceitem as duas malas.
19h33. Estou conversando com a figura do escravo que deu
alforria ao servo uma vez mais. Disse que ele era delicadinho demais para os eu
gosto. Hahahaha. Que onda. Mas não estou muito na vibe de conversar. A hora agora é de... nem sei. Que calor da
murrinha. Vou reiniciar o meu computador. Quero ouvir a música vinda do som.
19h58. Pronto. E meu padrasto me confirmou que podemos levar
duas malas cada. Estou muito mais aliviado agora. E o som está maior vindo das
caixas do meu mini system. Não vou entrar no Facebook agora. Me desdisse e
entrei. Achei que seria descortês da minha parte, dizer que voltaria e não
voltar, mas serei reticente agora. Não estou a fim de conversar. Uma coisa que
me deixou com uma pulga do tamanho de uma manga atrás da orelha foi que quando
fui usar o Skype, ele disse que minha câmera estava sendo usada por outro
aplicativo. Duas vezes em dois dias distintos. Isso me fez pensar que alguém,
em algum lugar do mundo está me vendo, o que me incomoda deveras. Não quero ser
hackeado. Que aplicativo seria esse que usa minha câmera, ignoro. Vou ver até
em configurações. Não consegui achar... cada vez me torno mais burro em relação
à tecnologia. Não que me incomode muito, mas nessas horas faz falta. Ainda bem
que meu irmão saca de informática, posso ver isso com ele. Se ele tiver tempo
para uma coisa pequena dessas. Nossa, vai ser bom ver o meu irmão. Essa é a
melhor parte da viagem. Não estou com paciência para conversar no Facebook.
Aliás, não gosto muito. Nem se fosse a garota da noite. E principalmente ela.
Mas tentarei fazer um texto de Natal para acompanhar a foto. Acho tão piegas e
cansei de fazer textos de Natal quando trabalhava. Embora tenha feito um para
entregar lá nos EUA. Lembrei-me de pegar sacos ziplock para botar os líquidos
do Vaporfi. Penso em colocar o chip do meu celular também. Não penso em levar o
celular. Se bem que seria o único passatempo que eu teria. Dúvida.
21h00. Estava falando no Messenger. Pedindo mais uma vez a
foto de Poeira e conversando com a ex-dona do escravo. Também organizei algumas
coisas da viagem. Depois desse negócio das malas, estou mais zen com a viagem.
Ainda bem. Com o traslado até. As coisas estão bem encaminhadas. Vou ligar o ar
aqui. Está muito calor. Daqui a pouco, ainda consigo resistir mais um pouco.
Não quero mudar nada agora, quero apreender a cidade e o meu quarto-ilha como
são uma última vez. A cidade murmura pela janela aberta. Não sei se meu amigo
conseguiu gravar os sons que queria e não me pareceu muito preocupado com isso.
Sabe que haverá outras oportunidades. Talvez mande consertar o curioso aparelho
que capta sons. Já pensei em comprar um para mim, mas achei muito caro. A
pergunta que me faço é, para que eu queria um negócio daquele? Eu não tenho a
mínima ideia. Hahahaha. Estou ficando realmente caduco. Uma pessoa do CAPS me
passou a ficha completa de uma usuária do serviço, do meu grupo, e não consegui
me lembrar de jeito maneira da pessoa. Isso me preocupa. Meu amigo cineasta
disse que Alzheimer, quanto mais cedo se manifesta, tão mais severo é. Espero
que não seja o meu caso. Agora que ensaio aprender a gostar de mim, me ver
acometido de doença tão maquiavélica seria um grande desperdício. Contra isso
nada posso fazer. O que será, será. A viagem se aproxima, inexorável, inevitável.
Em breve, terei que parar de escrever para guardar o computador.
21h36. Os ânimos estão ficando mais acirrados à medida que o
tempo começa a urgir. Estou isolado no meu quarto-ilha e Björk me protege do
estresse. Mesmo assim fico estressado. Que não venham trazer para cá para
dentro o estresse. Minha mãe não arrumou a mala toda ainda. E já está com sono.
Minha casa não é o lar mais tranquilo das Ubaias nesse momento. Não sei se o
meu padrasto vai poder nos levar para o aeroporto e não quero descobrir agora.
Rogo para que sim. Não acho que faria isso com mamãe, ainda mais guardando tão
pouca confiança em mim. Estou ansioso. Quem desacostumado e avesso a viagens
não estaria? Ouço as conversas, mas Björk as tornam ininteligíveis para mim.
Deduzo que pedirão que o motorista de vovó nos deixe. É isso que pude aferir.
Posso estar enganado. 21h44. Meio tarde para ligar para vovó. O que será, será.
Mas pegar um táxi seria ozzy. Viagens, ai, ai, viagens... focar no meu irmão e
no Nintendo Switch. Vi que o Super Mario Odyssey que só ia chegar dia 22 de
dezembro à Amazon, está em estoque. Talvez o Switch chegue mais cedo do que
esperado. We’ll see. Nem sei mais o
que dizer. Minha mãe fala ao telefone, me parece, tem a voz tranquila. Acho que
está resolvida a nossa ida. Não sei. Saberei em breve.
22h07. Meu padrasto vai nos levar. Me sinto bem mais seguro.
Tudo se encaminha bem. Só falta mamãe acabar de fazer a mala dela. Meu deus,
como é de deixar tudo para última hora. Já me deu moedas, que acho inúteis,
pois não tenho por hábito usar, porém nada disse para não estressá-la ainda
mais. Embora ela tenha me parecido bastante calma. Também não necessito moedas,
pois não pretendo comprar mais nada nos States, mas nunca se sabe. Talvez as
moedas se mostrem úteis em alguma ocasião. Não vou dissertar agora sobre
moedas, já tomaram espaço demais do meu texto. Eu estou bastante mais relaxado
agora, não saberia precisar por quê. Carregarei o meu iPod até as 23h00 – são 22h22
– e depois porei o Kindle de mamãe para carregar. Terei de deixar o meu
computador ligado durante a noite para poder carregar o aparelho. Da última vez
demorou bastante. Meu primo urbano adentrou o meu quarto depois de vários anos.
Talvez mais de década. Finalmente pôde ver o meu boneco do Demolidor e pareceu
bem menos repelente aos bonecos. Acho que tentou ser simpático. Hahahaha. Fico
grato pelo carinho. Hahahaha. O filme do qual meu amigo cineasta participa vai
concorrer na categoria “Generations” do festival de Berlim, um importante
festival do cinema, segundo me informou. Esqueci desses detalhes da nossa tarde.
Quero fumar um cigarro, mas só posso ou só me sinto confortável para fazê-lo
quando o meu padrasto se retirar. Com mamãe ainda arrumando a mala, quando eles
irão se retirar é uma incógnita.
22h33. O iPod já está carregado mas deixarei até as 23h00
por garantia. Não gosto de carregar dispositivos que não arrearam a bateria,
mas não tive alternativa. Não sabia a quantas andava a carga. Espero que tenha
Kentucky Fried Chicken no aeroporto de Chicago. Gostaria de comer um sanduíche
de lá. Chega me deu água na boca agora. Nem tudo na viagem precisa ser ruim,
não é? Nem tudo será ruim. Há, inclusive, a possibilidade de ser uma boa
viagem. Não sei porque estou mais positivo, acho que porque finalmente caiu a
ficha de que vou viajar e me entreguei a essa possibilidade. É a única razão
que consigo divisar. Não quero pensar nas 11 horas de voo que encararemos para
Chicago. Essa parte vai ser uma tortura. Ou pensar que talvez não haja lugar
para fumar durante todo o traslado. Isso me incomoda também. E as alfândegas,
em especial a americana e a da volta no Brasil. Temo ser parado. E temo não entrar
nos EUA. O que será, será. Não há muito o que fazer a respeito desses eventos,
independem de mim.
22h49. Mamãe não tem jeito. Está arrumando tudo menos a
mala. Já estou vendo, vai ficar com sono demais e vai dormir, acordando amanhã
cedo para terminar a mala. Acho que inconscientemente (ou não) já planeja isso.
Que coisa louca. Cada cabeça é um mundo mesmo. É como se ela quisesse se
estressar, sei lá. Minha teoria de que é viciada em estresse ainda ronda as
minhas ideias. Eu tenho que desligar o computador e guardar, mas agora com essa
coisa do Kindle, vou ter que esperar até amanhã para fazer isso. Mas acredito
que não me tomará mais de dez minutos.
23h02. Hora de desconectar o iPod e conectar o Kindle.
Conectado. Agora é com o tempo e ele. Tenho que revisar isso e postar antes de
ir dormir. Não quero pensar no que pensei agora. Tenho uma carteira de cigarros
cheia para levar para os EUA e dois cigarros da outra carteira para fumar aqui.
Um hoje e outro amanhã quando acordar. Vou dormir, no máximo, de 1h00. Assim
tenho oito horas de sono ou algo próximo a isso. São 23h10. Se der 0h30 e o
pessoal ainda estiver acordado, vou fumar o meu cigarro mesmo assim. De 0h00
paro de escrever. Vixe, vai demorar para carregar o Kindle. Bom, vai carregar
até eu acordar amanhã e vai com a bateria que estiver até lá. Não é possível
que não carregue tudo. Tenho que pensar onde vou botar o Switch aqui no quarto,
a única maneira que vejo de arrumar algum espaço para ele é colocando o Wii U
na posição na vertical, com os dois apoios que vieram com ele. Não sei se o
Switch vem com cabo HDMI. De qualquer forma, eu sempre posso usar o que está
conectado ao Wii U, que não é o que veio com ele, pois o que veio com ele é
muito curto. Para tudo se dá um jeito. Ou quase tudo. A garota da noite será
que tem jeito ainda? Não faço ideia. Pense num mistério para o qual não tenho a
mínima pista. Sei que agi equivocadamente sendo tão incisivo, de acordo com os
profissionais da paquera. Mas agora que fazer, já era. Tenho que focar no que
ainda não veio, no que virá. Confiar no meu taco e saber que o que será, será. Desamor
ou um grande amar. Não existe meio-termo. Em questões do coração nunca há.
23h27. Viajei na maionese agora, querendo escrever meio que
rimando, que patético. Hahahaha. Pelo menos me divirto. Escrever é mesmo o meu
grande barato, mesmo que não tenha talento nenhum. Essa é a minha voz. Para
mim, para você, para nós. Vou pegar café, água e tomar o meu remédio.
23h34. A vida segue mais calma, eu estou mais calmo. A coisa
ruim em relação à viagem, mesmo rememorando agora acho que passou. Estou como
com a garota da noite, no pagar para ver. Curioso para saber no que vai dar. Se
prefiro uma viagem péssima e um desfecho feliz com a garota da noite que o
inverso? Com uma forte ansiedade, prefiro. Ainda bem que uma coisa independe
totalmente da outra e possa ser que tenha uma ótima viagem as well. Não sei se estou digitando mais rápido ou mais horas, fato
é que meus posts tem ficado gigantescos. Não sei como ainda leem. É algo
miraculoso e inexplicável. Algo que me deixa profundamente feliz. Estou levando
os meus comandos na mala para praticar nos EUA. Eu preciso operar essa
transformação interna se desejo ter uma mínima possibilidade com a garota da
noite. O eu que era não teria a mínima chance. Ele não teria coragem de enfrentá-la.
Calma, Mário, você ainda é este eu. Ou não? Eu acredito que gosto de mim, ou
melhor, eu não desgosto mais de mim. Estamos no processo de fazer as pazes. Mas
há momentos em que gosto verdadeiramente de mim e isso nunca aconteceu antes.
Eu ainda estou muitíssimo antissocial. Tal parte desgosto profundamente, porém
20 dias enfurnados numa casa com um monte de gente pode me ajudar a reverter
isso. Ou pelo menos aliviar. Agora não dá para ver mais a quantas anda o
carregamento do Kindle, mas mamãe disse que a luz muda de amarela para verde
quando está carregado. Assim seja. Quero ver é se ela vai ler mesmo durante a
viagem. Eu cada vez mais levo menos coisas. Mas o computador me é essencial. Ainda
mais sem celular para digitar nada. Espero que a bateria esteja cheia. Acho que
vou levar a tomada na mochila. Ou não. O casaco de neve está na mochila e ocupa
um espaço mostro. Não quero mexer nisso. Qualquer coisa, compro uma revista que
me interesse. Sei lá. Dou meu jeito. Mas não passaremos tanto tempo em São
Paulo na ida, eu acho, deixe-me ver. É um tempo considerável, cerca de quatro
horas, minha bateria sobrevive exatamente esse tempo, mas tenho que contar que
o check-in vai nos tomar algum desse tempo. O que será, será. Não há como
escapar da realidade.
23h59. Vou revisar o texto para postar.
P.S.: relendo, percebi que não tirei a foto da camisa que
vestirei na viagem, nem liguei para a lojinha que a minha mãe descobriu. Agora
é tarde. Só na volta. Já tirei o chip do celular e a loja obviamente já fechou.
É a vida. Passei o dia inteiro filmando e estressado com a viagem, acabei
esquecendo. Foi mal.
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