domingo, 15 de janeiro de 2012

Recife Antigo – reminiscências de uma night

A festa ainda rola aí do lado e eu aqui no café e no cigarro, doido para oferecer uma esfera.

Bom, ontem fomos ao Recife Antigo o roqueiro bróder de fé, dois de seus amigos e eu. Depois de uma negociação até que pouco tortuosa com minha mãe, dinheiro na mão do bróder de fé e recomendações em seu juízo, partimos para a night.



O Recife Antigo continua o mesmo e está muito diferente ao mesmo tempo. Gosto de que ainda haja tribos, que cada uma tenha o seu território mais ou menos específico e que possamos transitar por todos eles tranqüilamente, apreciando as pessoas fantasiadas de suas cores mais exuberantes, revelando suas personalidades nas roupas e gestos, vestindo-se de suas “ideologias”. É diferente do povo de shopping center, embora, no Recife Antigo, esses existam e se concentrem em frente ao Downtown. Há espaço para todos.

Em geral, o público do Recife Antigo sente-se e quer se fazer sentir diferente, de ser alternativo aos padrões vigentes. Pode parecer ridículo e adolescente, mas eu me identifico e me sinto à vontade entre eles, como se voltasse ao meu habitat natural. A diferença é que eu não faço parte da geração que domina as ruas. Embora os meus ainda circulem por lá, nós deixamos de ser a maioria, lugar ocupado por gente cinco, dez, quinze anos mais nova. Outra diferença é que o Recife Antigo não tem mais a mesma exuberância e a efervescência de 15 anos atrás, quando foi redescoberto e revitalizado. É tudo menos e mais pouco, mais esparso e desanimado, mas a essência ainda está lá. A energia, embora diluída, ainda é a mesma, um lugar para gente colorida por sonhos selvagens e hedonistas de juventude. Gente unida pela música, talvez o único ideal que subsistiu após a morte de todas as ideologias. Um lugar para se esquecer do cotidiano, do mundo careta e chato que cheira à segunda-feira de manhã ou fede ao “fantástico” domingo à noite.



XXXXX

Uma das coisas que me peguei pensando ao observar uma das moças que por lá gorjeavam (e que não tive tempo de repartir na ocasião com bróder-rock [que por sinal é psicólogo]) foi que não gostaria de ter uma filha como aquela, vestida de preto, com meias-calças entre vulgares e góticas, debochada e fumando cigarros. Me dei conta de que, além de não querê-la como filha, não a queria como mulher tampouco, o que me fez deduzir que, na seleção cultural de nossos pares, fazemos inconscientemente uma projeção de como queremos que nossa prole seja e tentamos encontrar pessoas que se assemelhem a tais estereótipos. No meu caso, procuro pessoas o mais diferentes de mim possível (tipo Sandy e Natalie Portman), pois não gosto do que sou e não quero uma filha como eu; quero uma princesinha, disciplinada, estudiosa, linda e feliz.

XXXXX

2h23 e a festa ainda rola aí do lado. Vi o UFC e confesso que não estou com muita vontade de escrever o resto deste post, então serei sucinto.

Da metade para o final da noite encontramos com amigas do bróder roqueiro. Elas eram bastante desinibidas, atiradas até. Uma fez pole dancing no poste (a mais tímida). Ensaiei alguns passos de forró com outra e em geral parece que as agradei o que foi um afago bastante precisado ao meu ego, senti aquela auto-confiança doce que se sente quando está sendo querido. Achei bonitinho e poético quando, ao invés de abaixar o vestido, a terceira delas o subiu um pouco para revelar um pouco mais as coxas. Descrevendo parece um ato vulgar, mas não foi assim que meus olhos viram, a mim me pareceu como uma declaração de amor pelos próprios atributos, inclusive pelo jeitinho que ela fez, como quem arruma a franja ou coisa assim.
Além disso, encontrei um colega do albergue de drogados, que estava muito bem, tomando coca-cola e isso me deixou muito satisfeito. Por fim, tomado pela coragem que o álcool traz, escrevi vários papeizinhos com o endereço desse blog e a indicação do post de Algo (Algo 0003). Funcionou como não esperava que fosse e o post já é um dos dez mais vistos.

Em resumo, foi uma noite diferente e feliz, que me esquentou a alma por ver e interagir com outros da minha raça de forma alegre e festiva. Uma raridade, uma noite-pérola. (Parece que pérolas se cultivam. Será que consigo cultivar outras assim?)

Obrigado bróder-rock-de-fé. Pela noite, pela força, pela amizade, por não ter preconceito. Espero um dia retribuir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário