terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Aqui eu posso tudo

Eu botei um subtítulo no blog e nunca escrevi nada que o justificasse. Pois bem.



Aqui eu posso tudo. Posso não fracassar, posso até ser bem sucedido – aliás, posso ser o mais bem sucedido. Aqui eu posso ser e sou Deus. Posso criar agora uma nébula vítrea cheia de olhos de libélula-madrepérola, o que quer isto seja. Posso pegar Sandy pela bunda, puxá-la para perto do meu corpo e lamber seu rosto, seu nariz, seus olhos, sua orelha. Posso fazer com que isto seja o que Sandy mais deseja na vida. Posso inventar um universo onde não haja fome que não possa ser satisfeita ou paixão que não possa ser vivida, onde as drogas não matam nem maltratam, onde trabalho é sinônimo de prazer, nunca de obrigação. Onde não haja obrigações, só satisfações. Posso até não sofrer aqui. Infelizmente só aqui. Fora daqui eu quase não posso. Mas deixa isso para lá, pois estou aqui e aqui eu posso tudo. Eu possuo tudo. Possuo uma coleção de bonecas japonesas expostas num castelo invisível. Possuo o mais agradável dos aromas, com cheiro de bosque e amor à tarde, um copo de coca-cola que sempre está geladíssima e nunca seca, um jardim ensolarado onde estendo uma toalha e, com os amigos, brindo às belezas dessa vida. Aqui eu posso ter um orgasmo que dure exatas doze horas e vinte e sete minutos e cuja intensidade seja quase mortal. Aqui eu posso dar um lento e carinhoso beijo de língua sempre que eu quiser e sempre em uma pessoa amada. Aqui eu posso ser belo e anjo ou, se quiser, monstro e demoníaco (o que não quero). Aqui eu posso perdoar todos os pecados de todos os pecadores e fazer seus corações bons e sem culpa. Aqui eu posso fazer com que não haja culpa, pois posso fazer com que tudo o que todos queiram seja serem felizes honestamente. Eu posso criar infinitos infinitos que se multipliquem infinitamente em infinitos infinitos outros. Eu posso ver o nada. Aqui eu posso tudo. E ninguém pode me impedir.



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