sábado, 14 de janeiro de 2012

Preconceito



DESAFIO ESCRITO VII – PRECONCEITO
Participantes: Mateus Souto Maior e Boto de Gatas
Este tema foi sugerido por Mateus.

Nos olhos de quem vê.


Está rolando a maior festa aqui do lado. Aniversário do meu primo. Houve um tempo, quando não era estigmatizado como um cheira cola problemático que nutre uma paixão platônica pela irmã dele, em que seria convidado e recebido com sorrisos e alegria sincera nesta festa. Não hoje. Um hoje que vem desde a última Copa, se bem me lembro.

Preconceito. Não sei se é pior sofrê-lo por algo que não é culpa sua (nascer preto ou pobre) ou por algo que você mesmo construiu/destruiu (como é o caso). A diferença talvez seja que, no primeiro caso, a oportunidade de experimentar a vida sem esse preconceito nunca se deu e, no segundo, há a eterna comparação de como as coisas eram antes do preconceito se instaurar. O segundo é menos cotidiano, menos inevitável, menos natural (sei que a palavra natural não soa bem atrelada ao preconceito, mas a acho a mais adequada, pois preconceitos são naturais de todas as culturas, de todos os homens, postas a multiplicidade e divergência de opiniões existentes entre nós). 


Eu cultivei, por ignorância e egoísmo, o preconceito contra mim. Triste semeadura. Inconsciente semeadura. Cavava o buraco imaginando ser tudo perdoável e a paciência infinda. Ledo engano. Dolorosa descoberta. Vida nova e pior desenhada (embora me digam que é possível retraçar o esquema de coisas e reverter o preconceito a condições próximas às de antes; mas nunca iguais).

XXXXX

Acredito que uma das funções primordiais das leis é reprimir, domar o preconceito, afinal é da instituição e imposição deles que nasce a desigualdade. As leis são criadas para que, perante elas, todos os homens sejam iguais, independentemente de feios, brancos, pretos, índios (estes, nem tanto, há legislações específicas para índios sobre as quais não tenho um juízo de valor formado), pobres ou milionários. O problema é que os homens que aplicam as leis são suscetíveis, para o bem e para o mal, a seus próprios preconceitos e, geralmente para o mal, a poderes outros que não emanam das leis.

Preconceitos são imanentes à natureza humana como são as afinidades, embora eu me lembre de que, quando gostava mais da vida, era menos preconceituoso, desgostava menos das pessoas vis, tinha pena, em vez de raiva delas. Talvez os mais preconceituosos sejam os mais amargurados. Sinto que isto não está muito distante da verdade. Como se o infeliz quisesse, através do seu preconceito, impelir infelicidade aos outros. Falta de amor. Mal amado como estou, percebo isso.

Obs.: o texto de Mateus sobre o tema preconceito está aqui.


17/01/2012 - Adendo sobre o preconceito: o pior preconceito é o que temos de nós contra nós mesmos. Os que eu tenho contra mim mesmo. Estes me são nefastos, paralisantes, aterradores.

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