segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

DILEMA MORAL E FEZES


Eu não sei o que quero fazer, apenas o que tenho que fazer, por isso abri esta página em branco para ver se a minha alma assenta e se acalma. O que tenho que fazer? Complementar o post novo do Profeta e acabar de revisar o post do meu blog mais secreto. Tomei muito café e quando passei de volta para a Coca meu organismo e meu eu estranharam e ficaram em rebuliço. Fumei também. Uma difícil escolha moral apresentada pela existência ontem me deixou ainda mais perturbado porque a escolha que fiz foi a menos “cristã” possível. Essa moral judaico-cristã que permeia as sociedades ocidentais, sei não, viu? Acho válidas e tudo o mais, mas machucam às vezes. Fato é que fui comprar um remédio ontem de noite na farmácia a pedido de mamãe. Ela me outorgou o cartão de crédito e me disse que comprasse só e tão somente o remédio designado, nenhum centavo a mais. Quando estou prestes a entrar na farmácia uma miserável com uma miserável criança me pede uma lata de leite pequena para o infante. O pior que a forma que falei com ela lhe deu alguma esperança, pois o pedido me tocou e por um momento me decidi a ajudá-la. Porém ao cruzar a porta da farmácia e encerrar a triste figura do lado de fora do ambiente climatizado, limpo e brilhante onde vi que o leite era muito mais caro do que julgava, a obrigação de cumprir o combinado com a minha mãe se fez mais forte que a caridade e comprei somente a medicação. Pedi desculpas a miserável, expliquei-lhe toda a história e ela foi bastante compreensiva, disse que não havia problema. Nossa, tal desafio moral me doeu e dói profundamente e realmente não sei se fiz a escolha certa. Reconquistar a confiança da minha mãe é fundamental para a nossa relação e para futuros pleitos financeiros para com ela e sinceramente me sentiria mal quebrando o nosso pacto, faltando-lhe com o respeito, mas a criança sem leite não me sai da cabeça, me assombra desde ontem. Eu tinha os meios só que eles não me pertenciam e a decisão que tomei foi deixar outro ser humano com fome. Um pequeno ser humano vítima da sociedade que não educa. Pronto, desabafei. Vou voltar à revisão, quero postar no blog secreto hoje. E depois, se me restar disposição, complementar o post do Profeta, que mais parece um mosaico, com fragmentos de informação uns emendados nos outros. 21h58. Esqueci de botar a hora no início, atarantado que estava.

0h27. Revisei o imensamente redundante texto, desnecessariamente caudaloso, e o postei no blog secreto. Não vou fazer os acréscimos ao post de Blanka, acho insignificantes e depois de ter mergulhado no outro texto as memórias do que tinha a acrescentar se perderam nalgum recanto de mim que não tenho acesso. Talvez ao revisar o dito texto eu relembre, agora vou dar uma olhada no maravilhoso mundo dos bonecos.

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Estamos prestes a partir para Gravatá. O namorado da minha irmã PE irá conosco (minha mãe, meu padrasto e eu). É gostoso mergulhar no maravilhoso mundo dos bonecos mesmo que não tenha mais nenhuma peça a adquirir e não possa fazê-lo.






0h05. Foi bom, mas minha alma se encontra desassossegada, pode ser cansaço, pode ser um caroço mais profundo. Não encontro palavras e nem quero procurar, me abstrai mais o maravilhoso mundo dos bonecos, onde voltei a ser mais atuante. Sonho com a minha boneca chinesa, uma obra de arte de uma sensibilidade única na minha opinião. Impossível de ser concebida por um ocidental ou por alguém que não tenha crescido imerso no universo cultural e folclore chineses for that matter. Escrever me incomoda no momento.

0h22. Escrevi um pequeno adendo no meu projeto paralelo do blog secreto. Vou fumar e pegar Coca.

0h37. Algo me pede para deitar e dormir, a parte mais sensata de mim; no entanto, uma parte maior e predominante insiste em permanecer, talvez porque tenha passado tempo demais longe do meu porto seguro, do meu quarto-ilha, das palavras. Percebo, especialmente logo que acordo, que me falta fôlego para enunciar as sentenças, as últimas palavras saem com esforço e falta de ar tornando-se quase inaudíveis. Isso ficou claro para mim na conversa que travei com o namorado da minha irmã PE quando este chegou à nossa casa e eu havia acordado há pouco e fumado um bom bocado já, como sempre faço ao despertar. É um alívio pensar que dificilmente me faltará fôlego para digitar as tais das palavras. Conversamos sobre religião e sobre o incômodo que me causou a frase em sua camisa: “Be more”. Me pareceu uma cobrança de uma suposta insuficiência de quem a está vestindo, uma ordem para mudar quem se é. Ju acha que estou em um momento de transformação. Eu sinto que esse processo empacou, eu, mula, empaquei, não quero avançar nem retroceder. Sei que Ju vai respeitar o meu ritmo e isso me acalenta. Nada forçado funciona comigo. Nem com ninguém, faz-se mas não com a alma, pois a alma está tomada por rebeldia e repulsa por fazer o que não é a sua vontade íntima e verdadeira. Sei que a idade vem me roubando os meus medos e isso é gracioso. Isso não quer dizer que me ponha disposto e aventureiro no mundo, só mais tranquilo comigo mesmo. Tenho medo de ter um filho e de sentir o medo do que o mundo poderia fazer com ele. O mundo quase me engoliu, roubou a minha vida, devorou a minha alma, senti a escuridão fria e desesperada de seu estômago. Que alívio, que felicidade estar seguro no meu quarto-ilha com as minhas palavras, imprestáveis palavras, visto que não lidas. De que servem palavras que não são lidas? Palavras são escritas para serem lidas ou essa é a fantasia de quem escreve. O desejo maior meu, pelo menos. Empatado com um amor recíproco. Ou melhor, uma paixão recíproca, deixa o amor para mais tarde, ele vem quando as almas recolhem suas penas. E vale a pena. Desculpe o jogo de palavras esdrúxulo, mas significativo. Parece que me aclimatei e esquentei na escrita... pronto, foi só pensar isso e todas as palavras fugiram de mim. Fugirei delas e me refestelarei no maravilhoso dos bonecos.

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14h15. Três copos de Coca e duas xícaras de café depois, a dor de cabeça com a qual despertei começa a ceder. Mas não muito. Nada de interessante aconteceu na minha vida. A fantástica faxineira adentrou meu quarto para me avisar que intenta limpá-lo, mais cigarros e café para esperar.





15h14. Presenciei o que a fantástica faxineira considerou uma intervenção divina. Entendo o seu ponto de vista, embora não acredite. Fato é que parou de arrumar o meu quarto e foi atender a filha na sala por causa do som que estava rolando aqui. Nesse ínterim, vim pegar cigarros, pois os havia esquecido. Quando tentei abrir a porta do meu quarto, algo a bloqueava, não importava quanta força eu pusesse o que quer que estivesse impedindo a porta de abrir não cedia. A fantástica faxineira tentou também, sem sucesso, e decidiu ir pelo lado de fora do apartamento, através da jardineira, para entrar pela janela que havia deixado aberta. Infelizmente, como se vê na foto, há a máquina do meu Split bloqueando a passagem. Ela pensou e ensaiou contornar o obstáculo umas três vezes e acho que foi aí que rogou a Deus que a ajudasse. Voltou por onde veio e retornou à frente da porta que nós pensávamos estar sendo bloqueada pelo rodo tombado. Eis que Deus se manifestou e o que impedia a entrada no quarto-ilha se revelou ser a chave que havia caída bem ao alcance de suas mãos. Tal fato foi visto como uma bênção do Criador pela fantástica faxineira, eu fiquei aliviado, pois não sei se a tela de proteção suportaria o seu peso caso despencasse ao contornar o ar, mas não acreditei ser obra de nada a solução tão simples e segura para o problema da porta, se muito do acaso-destino. Ela, que viveu o milagre, deve estar contente com o bom e amoroso Pai. Deve ser reconfortante tal sentimento. Meu pai são cinzas no fundo da maré de Macau, um livro de Quimiometria e as lembranças e fotos que guardamos dele. O criador do universo, pois também acho que um universo tão organizado como o nosso tenha sido fruto de uma ação inteligente, ainda está por vir e será proveniente da evolução tecnológica ou de complexidade do universo. Preciso revisar o post anterior, talvez complementá-lo, mas me falta disposição. Prefiro escrever isso peidando por causa do café. O dia está particularmente e mais quente se me afigura por estar bebendo algo quente, liguei o ar e botei o volume do som no 25, coisa rara. Já me acostumei à altura. Vou fumar e pegar mais café. Não ainda. Marteladas querem concorrer com o som, posso aumentar o volume, são marteladas bastante sonoras. O café já frio da xícara acabou. É hora de repor a cafeína e a nicotina do meu incrivelmente resistente organismo. As marteladas estão mais ferozes e constantes.





15h59. Como é de praxe, o café me deu uma caganeira, a minha teoria é que ele age como um lubrificante/desinfetante do intestino, soltando e liquefazendo o que nele está contido, facilitando ou praticamente obrigando a expulsão do seu conteúdo. Foi a última xícara, tenho pouca Coca e acho que a despensa está trancada. Posso pedir à fantástica faxineira que faça mais café, porém meu estômago tem um limite de tolerância que uma vez ultrapassado, o que quase se dá no momento, torna tomar o líquido uma experiência desagradável e nauseante. Não quero vomitar, como uma vez já se deu. Outra teoria é que o café irrite o meu sistema digestivo e por isso os peidos, a caganeira e o enjoo. Sei lá e não faz diferença para os efeitos do café sobre mim tais hipóteses. Sei que antes de pedir mais uma carrada de café, tomarei uma Coca bem gelada com cigarro para “limpar” e ver se a porta da despensa está destrancada, o que me faria migrar definitivamente para a Coca por hoje. Água não me apraz, prefiro café com todos os seus colaterais. Preferiria, entretanto, ter Coca. Essa não me faz mal que eu perceba, afora o bucho bastante dilatado. Nunca estive tão gordo. E isso nunca me importou menos. Tenho um pequeno pedaço da vida de Blanka, sou um pequeno pedaço de sua existência e de seus pensamentos, não ouso dizer de seus sentimentos. Ela ocupa fatia maior do meu ser e isso é evidente. E sim, nutro sentimentos por ela, mas nada que configure ainda uma paixão. O pernoite no motel será um momento decisivo para ambos, eu creio. Em verdade, em relação a Blanka não sei em que crer. Nossa, preciso escrever um adendo no post anterior! Um que me deixa muito feliz! Em relação a Blanka! Momento.

16h26. Pronto. Acho que adicionarei mais coisa ao post anterior quando tomar coragem para revisá-lo. Este está quase acabando, tenho que ter um pouco de disciplina e cumprir o que me comprometi a fazer e que venho protelando por alguma razão que me escapa. É hora de enfrentar. Talvez decida que nada deva acrescentar. É a saída mais fácil, mas não é a desejada. Ou a ideal, na minha opinião. Vou fumar. Antes que comece Björk na lista 6.

16h40. “Nail in my head, from my Creator, You gave me life, now show me how to live”. Comentei com a fantástica faxineira que Deus a havia ajudado hoje. Ela respondeu, “Com certeza. Em tudo”. Tal resposta me deixou atarantado, fui tomado por uma preguiça de existir, uma vontade de tombar morto ali. Não sei se foi porque migrei para a Coca ou pela inesperada resposta. Nunca saberei. Acabou-se o post. Vou tirar uma foto da privada. E vou tomar mais Coca com cigarro. A despensa está aberta. Sem mais café por hoje, acho eu. Algo em mim pede mais, para alternar com a Coca. Acho que é o que vou fazer.

17h00. Foi o que fiz. Vou revisar e postar logo esse antes de partir para o que realmente deveria fazer.

sábado, 19 de janeiro de 2019

RESTAURADOR E BLANKA


6h09. Despertei antes da hora. É um momento agradável para se despertar, principalmente porque raro. O dia que se inicia é belo e ensolarado como só dias tropicais podem ser. Meu irmão retornou aos Estados Unidos. Meu primo historiador, que veio tomar conta de Maria ontem (não a delegam a mim com justa razão), elaborou 20 perguntas para eu responder no postanterior (LINK).

15h59. Hoje dormirei cheio de fios, farei um polissonografia do meu sono. Já não posso beber mais Coca ou café ou qualquer coisa estimulante. O restaurador ligou hoje, um tanto chateado pela nossa falta de contato. Eu só acordei agora, pois levantei às 5h e só voltei a dormir perto das 11h, com o telefonema dele, ou melhor, com a minha mãe que coincidentemente chegou ao quarto quando o meu celular estava tocando. Não sei se ele ligou mais vezes, eu estava apagado. Mas isso tudo é papo muito chato. Entretanto são variações da rotina, dão um contexto onde me insiro. Blanka nunca mais deu notícias.

16h17. Mandei um Instagram para Blanka, ela disse que fala comigo à noite. Meu coração esquenta e derrete. Ai, ai, sou bobo mesmo.

16h35. Pedi a mamãe um café, ela concordou e fez uma xícara de expresso. Delícia. Depois disso, só água, saco. Talvez o suco de morango que ela abriu. Vou acender a luz e botar um som. The Cure. Maria não fez a cirurgia para a retirada dos caroços hoje, mas ela e titia não estavam em casa para me dar mais informações. Várias esperas se acumularam desde que acordei: o restaurador, Blanka, Maria, fora o exame do sono que já me esperava desde antes de eu me deitar. Minha prima aparentemente não viu a mensagem que a mandei ainda ou viu e configurou o WhatsApp para não mostrar quando as mensagens são visualizadas. Acho que isso é possível de se configurar no aplicativo. De toda sorte, o não está embutido no post que compartilhei e, por conseguinte, na mensagem enviada. Incrível como os Barros têm muito mais desenvolvido o hábito da leitura que os Gonçalves. Inclusive entre os da minha geração. Já li, pero non mucho, hoje me apetece escrever e escrever somente, me falta paciência e interesse para textos alheios. Tentei ler O Mundo de Sofia, um carinhoso presente de uma pessoa querida, mas empaquei. Coloquei o som no volume 10, o padrão para mim e sinto que minha qualidade de vida aumentou com o volume. A familiaridade, por vezes tediosa, no mais das vezes, querida. Tive uma ideia para um jogo de implementação fácil e focado em VR que queria passar para o meu irmão. Chamar-se-ia Kaleidoscope 3D ou VR.  E seria exatamente isso: um caleidoscópio onde pedrinhas da mesma cor e tamanho teriam profundidades diferentes, algumas saltariam muito da tela outras menos e assim sucessivamente, quando o usuário mexesse a cabeça, as pedras se misturariam de acordo, formando novas figuras e seria possível tirar fotografias 3D das imagens formadas. Simples, belo e que faz bom uso dos recursos dos capacetes de realidade virtual. Ou assim quero crer. Pode ser que seja uma ideia idiota, sei lá. Vou postar esse trecho da conversa no WhatsApp do meu irmão e ligar para ele dizendo que o fiz. Quem sabe ele não enxergue potencial e desenvolva o jogo.  

17h30. Está feito, entregue às mãos do meu irmão, do acaso-destino. Cutuquei a existência, gosto quando faço isso, meus textos são cutucadas muito irrelevantes, inexpressivas, embora sejam a minha forma de expressão maior. Minha mãe deu uma ideia para o projeto, quando o reparti com ela, que achei muito pertinente, desenvolver conjuntos de “pedrinhas” diferentes, temáticas para o caleidoscópio, o exemplo que ela deu foram flores. Sugeri a meu irmão que adquirir os demais conjuntos ou versão “full” do jogo fosse uma experiência paga, para tornar a empreitada lucrativa para ele.

17h46. Sem inspiração. Vou ao cigarro.

18h46. Fui ver Maria e saber porque não arrancou os caroços hoje. Descobri, mas a razão é demasiado enfadonha para explicá-la aqui. Estava contente com o sapato que ganhou da minha tia-vizinha, embora tenha ficado com um preto, que não lhe cabia, na cabeça.

 “Não sei quanto a ideia do jogo... tenho que pensar a respeito”. Foi a resposta do meu irmão. Tenho uma sensação estranha de que está se distanciando de mim. Espero que seja ilusória. Mas sinto – e novamente podem ser só caraminholas da minha cabeça – um ranço, um repúdio dele em relação à minha pessoa. Isso me fere, essa impressão que talvez nada tenha de real. Talvez seja mais uma forma que meu sádico ego arrumou de me maltratar. Estou com sono e calor. Nada posso fazer em relação ao sono até os fios chegarem, o calor é facilmente solucionável basta apertar o botão azul do controle branco.

19h23. Vou me deitar. Tentar um último cigarro antes de ir.

19h33. Mamãe foi redondamente contra a ideia de eu me deitar. Tentarei não sucumbir ao sono. Vou para o maravilhoso mundo dos bonecos.

22h22. Acordei para ir no banheiro, comer e fumar. Não estou conseguindo dormir direito, menos pelo aparelho e mais pela hora em que me deitei, muito mais cedo que o habitual.

22h41. Volto a tentar dormir.

1h44. Acordei por biscoitos e porque o sono me fugiu de novo.

6h06. Acordei para comer e fumar

11h51. Acordei definitivamente.

13h07. Fiquei conversando com a empregada da minha tia-vizinha e Maria. São primas. Maria volta amanhã para Natal. Estou ainda pela metade, não despertei propriamente e meu despertar é pleno de desgosto por existir. Tomo café recém-feito e fumo.

“[15:18, 1/17/2019] Mário Barros: Não vai rolar tirar os caroços de Maria agora, pois, devido à idade, o procedimento tem que ser feito num hospital e, para isso, é necessária a permissão do plano. Ela voltará a Natal amanhã com titio, que vai a uma missa de sétimo dia lá.
[15:21, 1/17/2019] Mário Barros: Estou à espera do restaurador. Ele disse que chegaria por volta das 15h. As bonecas já estão todas dispostas na mesa da sala, nem o machado, nem as flechas, nem a espada foram danificados, pude averiguar agora. Mais uma vez obrigado, amado irmão.”





15h27. Passei um bom tempo conversando com Maria e a prima na casa da minha tia-vizinha. Voltei porque o restaurador está prestes a chegar. Preciso ficar atento ao interfone.

16h23. Nada do restaurador. Mamãe – e eu concordo – acha que a reparação tem que ser realizada aqui em casa.

16h26. Acabei de ligar para o restaurador que disse que está chegando. Blanka criou uma conta do Instagram para falar comigo. Disse que está ausente porque está cuidando de si, está enfrentando uma crise depressiva e a compreendo. Mamãe vai achar que é mentira, mas ela havia mencionado sobre a questão na grande conversa que foi o nosso último encontro.

18h34. O restaurador cobrou um preço super em conta para reparar as três peças danificadas, seriam muito mais caros tais serviços no exterior. Blanka me respondeu e disse que tinha o dia todo para falar comigo.

20h46. Fui comprar Coca na pizzaria e um bróder de lá me perguntou sobre Blanka. O que significava. Expliquei que era a minha paquera de 19 anos. Por sinal, vamos nos encontrar amanhã, ao que tudo indica, para assistir Glass no Plaza, comer pastel na Praça e tomar um sorvete para conversar sobre o filme. Queria tanto poder beijá-la, no entanto não sei se será possível, pois está com um furúnculo ou coisa que o valha estourado no rosto e está dolorido. Bem, veremos. Descobrirei.

21h37. Já estou com os ingressos para o filme comprados e impressos. O desejo que surgiu da conversa com a minha tia caçula está próximo da realidade. A realidade é que não sei como me aproximar de Blanka, como alcançar o seu afeto. Mamãe acredita que nunca conseguirei, eu sou um pouco mais otimista e persistente. Blanka foi jantar e arrumar a casa, quando for deitar volta a falar comigo.

22h08. Comi e isso geralmente me dá sono, não sei aguentarei esperar por Blanka.

3h56. Disse a Blanka que ia me deitar e acabei vagando pelo maravilhoso mundo dos bonecos até agora. Vou dormir, senão posso melar tudo amanhã.

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23h19. Eu tive um dia diferente e especial. Comecei acordando atrasado. Fui ao Manicômio pegar receitas para as minhas medicações, depois fui tosar os pelos da cabeça. Me aprontei e enfim o momento mais esperado, o encontro com Blanka. Apresentei-a ao pessoal da pizzaria, alimentamos os peixes e tartarugas da Praça de Casa Forte, andamos de mãos dadas até o shopping, um deleite há muito desejado por mim que adoro andar de mãos dadas com a razão dos meus afetos. Conversamos e surpreendentemente ela falou mais, outro deleite, adoro saber dela. Assistimos Vidro (recomendo vivamente a quem for assistir que veja antes Corpo Fechado e especialmente Fragmentado, que acho o melhor dos três e que perde muito do seu elã se Vidro for visto primeiro). Fiquei com pena de Blanka, que não havia visto os predecessores e ficou a ver navios na primeira meia-hora de filme. Saí do cinema me urinando e louco para fumar, vontades do corpo empatadas, mas como Blanka também queria ir ao banheiro, acabamos fazendo a escolha certa. Ainda comemos pastel na Praça e depois sentamos num banco do bucólico local para conversar, outro sonho meu, que sempre via os casais se curtindo lá e me indagava quando a minha vez chegaria. Bem, chegou, foi rápida, mas foi outro deleite. No final roubei um selinho de Blanka que, fechada como é estranhou o gesto e entrou no Uber. Voltei para casa contente de ter vivido a vida em grande amplitude de situações num dia para mim diferente do senta-fuma-bebe-algo-negro-escreve. Ela é uma pessoa que se diz de difícil socialização e de fato é, mas estamos seguindo sei lá para onde ou o quê. Queria muito poder levá-la para Gravatá nesse domingo, mas sei que não é o momento nem a ocasião, ademais está com um furúnculo nas partes íntimas, dificilmente poderia desfrutar da piscina aquecida, onde pretendo passar a maior parte do meu tempo. Em verdade, tenho monte de carinho represado para dedicar a ela, mas fico acanhado porque ela parece um bicho do mato em relação a isso. Espero que, aos poucos, se o tempo me for concedido e as oportunidades acontecerem, eu consiga habituá-la a receber os meus afagos. O tempo dirá. Eita, entrei na quarta página. Uma última frase. Blanka me faz bem, quero fazer o mesmo por ela. Somos muito parecidos no isolamento do mundo e nas relações cada vez mais pontuais e curtas com os demais e somos diferentes em tudo o que tange amar e num monte de outras coisas. Descobrimos mais diferenças que semelhanças a cada novo encontro, mas isso não me desestimula ou me faz descrente, tudo é possível. Escolhi a trilha mais difícil, para muitos, um espinhoso caminho, mas dizem que os caminhos mais difíceis levam aos lugares mais belos. Veremos.  

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

COMBALIDO E ENTREVISTADO PELO MEU PRIMO HISTORIADOR




19h03. Estou fisicamente combalido, o corpo reclama não sei bem do quê. Mandei o roteiro de “O Escudo Negro” para o meu amigo cineasta. Ele aparentemente achou o experimento fácil e quiçá divertido. A única coisa que sou capaz de fazer agora sem demonstrar para outras pessoas que não estou passando muito bem é escrever. Não vou na casa da minha tia-vizinha agora, pois isso não me sinto em condições, terei que ir comprar Coca e Dalmadorm, não consigo, prefiro passar sem Coca do que levantar dessa cadeira. Levantaria só para me deitar e não quero fazer isso agora. Mamãe se animou com o projeto com o meu amigo cineasta. Acha que vai ser algo que infelizmente não vai ser. A primeira versão do roteiro está no meu post mais recente, comuniquei isso a ela, para que, caso leia, saiba bem o que esperar. Coloquei Maria para falar com a minha avó. Acho que vou fumar outro cigarro com o resto da Coca e me deitar, meu corpo pede repouso, está exaurido e sem forças. Espero que Blanka não venha se comunicar comigo hoje. Hoje não estou para nada, ainda deito as palavras, mas com certa dificuldade as assento na página, não dormi durante a noite nem como nada desde o almoço de ontem. Só café, cigarro e Coca. Não é o mais saudável a se fazer, até parei com o café, não estava me descendo, a única coisa que entra é Coca com muito gelo. Comida não. Tenho medo de vomitar se comer. Não gosto de vomitar sólidos. A passagem pela garganta é particularmente desagradável.

19h22. Fui ver se o meu amigo cineasta havia mandado algum update, sou muito ansioso. Vou fumar e me deitar. Ou escrever mesmo. Está suportável escrever. A posição na cadeira também me agrada, com as pernas cruzadas como índio. Saudades do meu sobrinho. Deu e passou, ainda bem. Fui tomado por pensamentos outros, sexuais, porque o Badoo apitou mulheres para mim ainda agora. Estou me sentindo cansado. Acho que vou fumar e deitar.

22h39. Me deitei e dormi até agora há pouco, quando fui despertado por mamãe para comprar o Dalmadorm e Cocas, o que obviamente já fiz, visto que estou aqui de volta escrevendo, inclusive já tendo ingerido a minha dose noturna de remédios que inclui o supracitado e me permitirá dormir hoje à noite. O sono me fez bem, o novo projeto, se assim posso chamar, com o meu amigo cineasta me excita, parece uma produção mais concreta que esse texto. Embora me aparente ser mais uma inutilidade de uma mente que só produz inutilidades. A utilidade seria fazer com que o meu amigo cineasta saísse da inércia com uma produção de feitura simples, mas que pode servir como um primeiro passo de uma retomada, sei lá.

23h02. Recebi um trote. Há quanto tempo isso não ocorria. Uma novidade para fechar o dia. Fiquei de visitar Maria hoje à noite, mas, depois de voltar da drogaria ninguém atendeu a porta na casa da minha tia-vizinha. Preciso me desculpar com ela, mas me faltou a força para o esforço e esse se fez impossível. Realmente precisava dormir. Vou tentar resumir esse post a duas páginas. Não há nada de interessante para pensar ou fazer. É esse estado de coisas que chamo de tédio.

23h49. Não sei o que vou escrever, isso me parece um desafio instigante nesse momento. Mudança de paradigma. Wild Mood Swings, que toca agora no quarto-ilha. The Cure. Bloodflowers parece ser o predileto de muitos, ou que mais ouvem do Cure em suas listas virtuais. Disintegration está um passo além de tudo o que o Cure já fez, é sublime. “Am I seducing or being seduced?”. O sono e a fome, efeitos do Dalmadorm, pelo visto, se manifestam, acho que me entregarei aos prazeres do paladar e da saciedade estomacal agora. Antes um cigarro com Coca.

0h28. Nossa, o meu pijama é muito confortável, tão bom estar vestido com ele, finalmente troquei a roupa com a qual eu fui à pizzaria, parece que ele acarinha e acolhe o meu corpo. Vou ligar o ar. Um alô para Beatriz da pizzaria, que pediu que eu fizesse isso, como se isto fosse lhe emprestar uma celebridade que meu blog não alcança. Bem, pelo menos ficará eternizada enquanto o Blogger for provido gratuitamente à humanidade pela Google. Acho a instituição mais capaz de dominar o mundo. A Amazon é muito poderosa, provavelmente mais lucrativa, mas a Google tem a vocação e talvez o desejo, não de dominar o mundo do dinheiro, embora sinta essa fome, mas de governar a humanidade, de servir à Humanidade sem pedir nada em troca. De tornar a vida das pessoas melhores gratuitamente. “Don’t do evil”.

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Hoje sinto que meu corpo está fraco, como se cansado de se levar, sinto uma moleza que poderia chamar também de mal-estar. Não me sinto bem, justamente porque sinto como se a vida escapasse do meu corpo como um balão com um pequeno furo que vai murchando. Ou um balão com um nó maldado. Espero que não seja a morte ainda, sonho em ver o meu quarto pronto e não sonho muito além disso. Com Blanka estou quase desistindo de sonhar. O desprezo ou a inacessibilidade, não sei como nomear, só sei que fere. Sabia que iria doer, mas não é a dor dilacerante de perder um grande amor, é um arranhão, uma roncha na alma.

18h58. Estou reunindo o que há de mim para retornar à companhia do meu primo historiador e minha babá na casa da minha tia-vizinha. Me apeteceria deveras se o meu primo elaborasse uma entrevista para que eu respondesse aqui. Minha mãe me mostrou técnicas que Dan Brown usa para escrever... ficção. A que mais me chamou a atenção foi: crie o seu vilão primeiro, pois ele vai definir quem seu herói é. Meu vilão é também o meu grande amigo: o tempo. Às vezes estamos em consonância, mas quando discordamos é sempre um sofrimento para mim, quando se dilata para além da minha vontade ou quando se contrai à minha revelia, quando estica e encolhe enquanto eu permaneço o mesmo, isso me faz sofrer. Acho que uma prima quer que eu faça publicidade para ela. Com remuneração. Não há dinheiro no mundo ou laço de sangue que me obrigue a isso. Estou pensando em como dizer-lhe não. Acho que vou mandar um link desse post. Ela entenderá que tenho profundo repúdio por fazer tais tipos de serviços, eu nasci para ser servo de mim mesmo e meu contrato mudo e eterno é somente com estas palavras. Esse é o meu labor, meu ofício, minha ocupação, a lança e a cruz com que enfrento o vilão da minha vida, o supramencionado tempo, que agora descubro ter uma ajudante que ao mesmo tempo que me liberta me aprisiona: a solidão. Vou levar o computador para a casa da minha tia-vizinha e tentar persuadir meu primo historiador a elaborar algumas perguntas.  

Perguntas banais de um primo que realmente não é um historiador:

1) Qual a primeira memória de você como pessoa?
R.: Campinas. A filha de uma empregada deita e abre as pernas e pede para eu deitar em cima dela, Maria nos pega antes que eu o faça e impede aos gritos algo que me pareceu novo e excitante de uma forma que eu nunca tinha sentido. (Dou mais detalhes do episódio no segundo livro que escrevi e que nunca verá a luz do dia, "Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso".)

2) Você é uma pessoa que sonha quando dorme? Se sim teve algum sonho marcante?
R.: Dizem que todas as pessoas sonham, algumas têm a capacidade de lembrar de seus sonhos. Não sou uma delas, talvez por causa dos remédios. O que há em comum entre os poucos sonhos recentes que me recordo foi que em todos havia a reunião de amigos da minha juventude, das Ubaias e eu também era jovem, eram sonhos felizes, não pesadelos, em alguns havia uma garota desejada. Não sei precisar mais detalhes que esses, foram os que me ficaram.

3) Quando você era criança você tinha alguma ambição? Gostaria de ser um astronauta ou jogador de futebol?
R.: Recebi quando criança, na época em que morava na Cidade Universitária, um livro sobre algumas profissões com coelhinhos as exercendo nas ilustrações, a que me despertou mais vontade foi a profissão de astrônomo e o interesse pelo cosmos é presente até hoje, embora não tenha interesse em me aprofundar nisso, acho nébulas eventos cósmicos magnificamente belos, mas prefiro escrever sobre mim e minha percepção da existência a estudar astrofísica pelo Wikipedia ou quaisquer outros meios.

4) Na Escola, você era bom em alguma matéria escolar?
R.: Tinha especial facilidade com Biologia até citologia, quando entrou genética eu me compliquei. O maior elogio que recebi foi por conta de uma redação que fiz quando estudava no Global, em São Paulo. Aquilo me marcou, tanto que me lembro até hoje. A professora ficou sinceramente entusiasmada com o que escrevi para além da minha compreensão, mas meu ego agradeceu.

5) Já se machucou? Quebrou algum osso ou passou por alguma operação?
R.: De operação, nada muito sério, a retirada dos cornetos (acho que esse é o nome) e alguma outra coisa de dentro do nariz para respirar melhor. Já quebrei a mão umas duas ou três vezes dando murros na parede com raiva da existência e de mim. Não me recordo do meu histórico hospitalar para ser sincero, sei que quebrei a clavícula algumas vezes quando criança.

6) Bruce Lee ou Jackie Chan. Qual o seu favorito?
R.: Acho Jackie Chan um artista mais completo, mas fico com a lenda, o mito que é Bruce Lee. Lembra-me meu pai (um fã) e os poucos filmes do artista que vi com ele.

7) Prefere Hotel Fazenda ou Hotel Praia
R.: Prefiro a casa da família em Areias. Sempre.

8) Qual a refeição mais importante do dia para você? Pessoalmente não gosto do café da manhã.
R.: Eu só como uma vez por dia quando bate a fome dos remédios nas altas da noite. Como como um cavalo.

9) Se você pudesse aprender alguma língua instantaneamente, qual você aprenderia?
R.: Japonês, embora saiba que seja melhor escolha o mandarim. Ou C++.

10) Mario ou Luigi?
R.: Sempre Mario. Odeio o Luigi, ele escorrega.

11) Você tem algum professor marcante na sua vida?
R.: Vários, mas não me lembro os nomes deles e delas, todos foram importantes de alguma forma. Há alguns que são marcantes por outras razões: meu pai, minha mãe, o Imperador da Casqueira e meu avô materno.

12) Você se lembra do seu primeiro “Melhor amigo”? Ainda mantém contanto com ele?
R.: Lembro, foi na Cidade Universitária. Não, não mantenho com ele. Depois foi o meu primo urbano.

13) Como era a relação com seus irmãos durante a infância? Muitas brigas?
R.: Eu era distante deles, por alguma razão que me escapa. Hoje, mesmo com as distâncias geográficas, me sinto mais próximo deles do que jamais fui na infância. Sempre me interessou a companhia de pessoas mais velhas. Ou da minha idade. A diferença de quase três e quatro anos que tinha deles me parecia enorme na infância. Costumava arengar muito com a minha irmã, meu irmão sempre foi tranquilo.

14) The King of Fighters ou Street Fighter?
R.: Street Fighter 2. Consegui zerar com Honda no fliperama. Acho que foi o único jogo de fliperama que zerei. E só desta vez. Não sei nem para onde vai King Of Fighters, nunca joguei.

15) Qual seu filme que você considera perfeito, ou pelo menos o mais perto disso. Não necessariamente o seu favorito, mais o que você não mudaria nada.
R.: Cidadão Kane, 2001: Uma Odisseia no Espaço, Quero ser John Malkovich.

16) Se você ganhasse na Mega-Sena você tem algum projeto louco de milionário que planejava gastar?
R.: Algo com mendigos, talvez comprar a companhia de alguém. Comprar o apartamento das Ubaias. Não preciso desse dinheiro, em verdade, estou muito bem como estou. Acho muito dinheiro muita dor de cabeça.

17) Quantas namoradas na vida?
R.: Quatro apenas e incontáveis amores platônicos. Vivi o mais intensamente que fui capaz a relação com cada uma delas.

18) Gosta de filme dublado ou legendado?
R.: Com legendas em inglês, sempre que possível.

19) Qual seu diretor favorito?
R.: Stanley Kubrick, eu acho.

20) Coca-Cola ou Pepsi?
R.: Coca Zero. Ou Cherry Coke.

19h38. Meu primo historiador elaborou o questionário, responderei quando retornar ao quarto-ilha. Prometi divulgar o link no WhatsApp da família para que ele lesse e quem mais interessar.

21h06. Estou tão fora de forma que carregar o notebook no braço por alguns minutos o deixou completamente trêmulo. Ouvi meu tio-vizinho discorrer sobre Cuba e o nivelamento de todos pela quase miséria, em todos os âmbitos, inclusive cultural. Voltando à minha prima que provavelmente me demanda serviços publicitários, preciso acrescentar que o programa que eu uso está desatualizado, a Publicidade de hoje é devota da Adobe, eu uso Corel, e está migrando para a internet e nada entendo disso. Nem quero entender, nem quero servir a mais nenhum cliente, ainda mais da família, o que gera uma relação trabalhista ainda mais complexa e desgastante para mim. A Publicidade quase me levou à morte, somada às minhas tendências depressivas, pois disparava estas últimas. Em uma palavra o que eu sou hoje é um não-publicitário, não faço mais publicidade e não me interessa fazê-lo, nem me sinto capacitado para exercer o ofício, então peço desculpas e julgo mais sensato procurar auxílio de alguém que atue nessa área e esteja atualizado com as tendências e demandas da publicidade tal como se dá hoje, muito diferente da época em que a exerci. O que faço hoje em nada se assemelha em forma, método e conteúdo ao que procura. Tanto é que tenho minhas dúvidas que tenha chegado até esta altura do texto, pois é chato e pessoal, faço para mim e para a eternidade cibernética. É meu único comprometimento produtivo e quero que permaneça assim. Vou responder as questões do meu primo historiador para finalizar esse texto de hoje, que novamente ultrapassará o limite estipulado de três páginas.