14h53. Cá estou novamente. Conforme combinado comigo mesmo,
caminharei até o Açude às 16h00. A preguiça é quase maior que a motivação para
ir. Mas perder o bucho é uma meta muito desejada por mim, por isso vou. Não sei
o quanto essas caminhadas ajudarão. Mas sei que atrapalhar é que não vão. E
dizem que faz bem para a saúde. Fiz dez marinheiros agora. Acho que também não
atrapalha. Preciso condicionar meus braços de alguma forma. Fiz mais dez por
causa disso. Fiz mais quinze. Tá bom. Quinze me deixaram ofegante. Nossa, como
estou fora de forma. Mas também não é fácil erguer 95 quilos. Hahahaha.
15h30. A hora da partida se aproxima e a preguiça impera.
Qual será a reação da garota da noite ao ver meu vídeo cantando que nem um
babaca? Que vergonha. Foi mandar e me arrepender na mesma hora. Hahahaha. Agora
está lá no Facebook dela para ela ver quando quiser. Se quiser. Será que vai
comentar algo? Algo de positivo? Será que lê isso? Acho que não. Será que lerá
após ver aquela aberração? Meu deus, o que foi que eu fiz? Onde estava com a
cabeça, passar por um papel desses, me gravar no meio da noite cantando uma
música de amor para uma garota que eu mal conheço e que não dá a mínima para
mim? Cantando é modo de dizer, não sou cantor e nunca fui. 15h42. O horário da
partida se aproxima. Saco. Ouvindo “Utopia” ainda. Vai ter encontro com o meu
amigo da piscina hoje. Só não terá se porventura o meu amigo jurista me chamar
para uma sessão de Odyssey. Não, não é aquele videogame dos anos 80, mas a nova
aventura do Super Mario. Fiz mais cinco marinheiros. 15h48. Quanto tempo deve
dar daqui para lá para o Açude? Não sei, vou caminhar no meu ritmo. Não tem
para querer apressar o passo, se fizer isso, vai me dar um monte de dor nas
pernas e não chego nem lá. Eita, 15h52. Oito minutos até a partida. Não, só me
levanto daqui às 16h00. O Açude não vai sair do lugar. E me levantar daqui às
16h00 não faz muita diferença. Para mim ou para o universo. Não queria
encontrar com o meu amigo da piscina hoje, eis a verdade. Vou por obrigação.
Mas vai ser bom, eu vou poder dizer a ele que andei até o Açude hoje, ele que
fez tanta pressão para eu começar a caminhar. 16h00. Vou lá.
17h33. Devo ter voltado umas 17h15. Estava vendo com mamãe o
celular que vamos comprar para substituir o meu.
-x-x-x-x-
13h12. Ouvi ontem desabafos do meu amigo da piscina e do meu
amigo Marinheiro, mas por serem desabafos, vão para o Desabafos. Não me cabe
expor desabafos dos outros aqui. Eu tenho o direito de me expor, mas não de
expô-los. É o que me limito a dizer. A garota da noite ainda não viu ou não
quis ver o seu Facebook. Acho até melhor que não veja, mas duvido que algum
outro homem tenha tido a ousadia e coragem de se passar pelo que passei. Sem
beber! Hahahaha. Acho que precisariam beber muito para fazer uma palhaçada
daquelas. Ontem, estava tão arrependido que iria mandar uma mensagem para ela
pedindo que apagasse os últimos posts da memória. Hoje, eu liguei o “dane-se”.
Fiz com o coração, ficou ridículo e piegas eu sei, mas acho que tem o seu
encanto. Só não sei se tem mais encanto ou ridículo.
13h44. Hoje poderia ser dia de Mario Odyssey. Se bem que
estou tão antissocial que até esse programa me deixa empulhado. Estou gradativamente
me fechando em mim mesmo, não sei como isso vai acabar. Mas não me parece que
vá acabar bem. Um náufrago no meio da cidade, um ermitão urbanoide completo.
Que destino triste, que abismo de solidão cavo com os meus próprios pés. Espero
que a terapia ajude. Vai ser difícil encarar a terapia. Vou ter que quebrar um
iceberg antes de começar a me soltar. Mas vou encarar. Acho que preciso. Todo
ser humano precisa. Uns mais que outros. Eu mais que a maioria, por ter um modo
de vida tão peculiar, por passar tanto tempo sozinho, por ser tão autocrítico,
por carregar tantos complexos, pelo tão pouco que acho que sou e me torno, pelo
meu conjunto de crenças. Tudo corrobora para a necessidade de um acompanhamento
psicológico. Eu estou impressionado com a minha cara de pau em relação à garota
da noite. Não é do meu feitio. Ou é quando se trata de assuntos do coração.
Muito embora não possa me dizer apaixonado, afinal não a conheço de fato, se me
apego é a uma fantasia que faço dela. Isso é equivocado. Mas ela não me dá
chance para uma aproximação. Ou não houve oportunidade para isso. Sei lá. Tenho
convicção que ela não tem interesse nenhum por mim. Construir um afeto a partir
de uma repulsa é muito difícil. Talvez repulsa seja uma palavra muito forte. Ou
talvez seja a palavra precisa. Talvez as minhas investidas ao invés de minar
tal postura apenas a reforcem. Não sei. Ela foi bastante fria e distante na
última comunicação, embora bastante polida, honesta e não-antipática. Quase
simpática. Foi muito ponderada nas colocações, mas não me deu nenhuma brecha.
Pelo contrário, tentou me dar uma cortada. Aí chutei o pau da barraca com o
vídeo que ela ainda não viu. Estou deveras curioso com a sua reação e um tanto
temeroso também. Foi uma atitude imprudente e arrebatada minha. Agora já foi e
talvez ela nem veja mesmo. A sorte está lançada. E estou aqui a fazer
tempestades em copos d’água e negar o inegável, ela não tem e não terá nenhum
interesse por mim. Não vai ser um vídeo idiota que vai mudar isso. Eu já passei
a minha ficha negra, me queimando completamente, para ela. Então, o que esperar
mais senão o repúdio? É como jogar bosta no ventilador e depois querer perfumar
a sala, não adianta de nada. O que me resta é a solidão mesmo. Gostaria de
vê-la com as costas nuas acho lindo costas nuas de mulheres, desde que não
obesas. Nuas e brancas então, contra uma cor de tecido preta ou vermelha é de
uma beleza estupenda, o balé de ossos e músculos a cada mínimo movimento me
deixa hipnotizado. Vi uma garota que estava assim, com as costas nuas no show
de Lenine e todo o resto desapareceu para mim, amigos, música, só havia as
costas nuas a se mexer e eu pensando que poderia muito bem ser a garota da
noite, visto que o biótipo era muito semelhante. Ela deve ter costas lindas
também. Que pena, que pena que o destino não vá me sorrir dessa vez. Que eu
acho que será a última possibilidade real de relacionamento que terei. Real?
Hahahaha. Mas que mais se aproxima da realidade, tendo em vista minhas paixões
platônicas anteriores. Não considero a garota da noite uma paixão platônica, eu
não estou de fato apaixonado ainda, mas, como canta Björk no álbum “Utopia”, “I literally think I am five minutes away
from love”. Além do mais, com ela eu ainda travo algum contato mesmo que
virtual. Mesmo que praticamente unilateral. Ainda cruzo com ela na noite. É
diferente. É definitivamente mais real. Mais possível e palpável, mesmo que a
aparência seja de impossibilidade, há um dado de realidade aqui. Mas sei que
não dá em nada. Aposto que ela vai me dar uma cortada direta caso veja minhas
últimas mensagens. Vai me dar o famoso fora nu e cru. Não sei se terei como ou
se valerá a pena contornar isso, se isso de fato se der. Foi uma abordagem
inusitada, pelo menos isso ela há de admitir. Não é todo mundo que se presta a
um papel ridículo ou romântico desses. O único ficante dela que eu conheço
jamais ousaria fazer nada nem remotamente parecido. Duvido que algum deles.
Homens dos dias de hoje. Também, não precisam disso. Não são tortos como eu. Ou
talvez sejam tão ou mais tortos do que eu. Eu só tenho rótulos mais sonoros negativamente.
Mas todos podem ser rotulados negativamente, todos têm defeitos. Sim, vou
testar o Sansar de novo, para ver se aparece algo hoje. Ah, isso eu narrei no
Desabafos do Vate, não aqui. O simulador que meu irmão está desenvolvendo na
empresa em que trabalha, a mesma responsável por Second Life, está com Open
Beta disponível, ele me disse ontem. Instalei aqui, mas não apareceu nada.
Aliás apareceu tudo até a parte de carregar. Uma vez carregado, o jogo, se
posso chamar assim, este não apareceu. Vou tentar hoje para ver se funciona.
Acho que meu computador é muito peba para segurar a demanda gráfica do negócio.
15h39. Está carregando. Pelo menos dessa vez apareceu uma
imagem de background que antes não aparecia. Escolhi um cenário mais simples
para visitar. Quem sabe não carregue... a parte que meu irmão está trabalhando
também não carregou, que é a parte de editar o avatar que eu vou usar no jogo.
O computador agora começou a fazer um barulho como se estivesse trabalhando
bastante. É torcer. Se carregar, tento depois configurar o meu avatar.
15h44. Até agora nada. E o computador chiando aqui. Ah, se
eu tivesse comprado o outro que tinha uma placa de vídeo... tudo por causa de
uma configuração imbecil de teclado do Windows 10 e ignorância da minha parte.
15h47. Os ícones de interface apareceram, mas o cenário ou
meu avatar ainda não. Se é que eu vejo o meu avatar ou o jogo é em primeira
pessoa. O computador está penando aqui. Acho que a minha internet também é
muito lenta. Vou deixar o bicho rodando para ver se vai aparecer alguma coisa
até as 16h27.
15h54. Até agora, nada e acredito que de nada não passará. É
jogo para pessoas do primeiro mundo que têm computadores e conexões de internet
top.
16h04. Fui na parte que configura o avatar, a que meu irmão
fez e nada apareceu além dos menus. Acho que isso é porque o meu computador é
fraco mesmo, não acho que seja problema da internet. Vou deixar rodando até as
16h27 anyway. Mas acho que não vai
dar em nada, o que é uma pena.
16h14. Minha mãe chegou da drenagem linfática ou massagem
linfática, algo assim. Mostrei a ela o Sansar (ou o pouco que aparece dele). Ou
seja, a tela preta e os ícones. Até os ícones para mostrar o nome quando você
passa o mouse por cima ficam em câmera lenta. Imagine o gráfico mesmo. Acho que
vou me decepcionar quando vir a garota da noite de novo. Ela talvez não me
pareça tão bela quanto imagino/fantasio. Se bem que o que vejo em minha cabeça
são suas fotos do Facebook. 16h19. Nada ainda do Sansar. Eu me lembro que achei
ela muito mais bonita em movimento, existindo, do que por fotos. Nem sei quando
vou encontrá-la de novo. Se é que vou encontrá-la novamente. Mas como dizem,
Recife é um ovo, certamente hei de cruzar com ela numa dessas esquinas da vida.
Não sei se no próximo final de semana.
16h28. Vamos ver o Sansar... e nada... fechei. Hoje estou
tão reticente. Hahahaha. Acho que ela estava no show de Lenine, mas só
encontrei as amigas. Também acho que ela não vai ver a minha última mensagem.
Vai simplesmente desprezar a minha existência. Que posso eu fazer? Fiz o meu
melhor, o que estava ao meu alcance. Perdi. Ainda há a esperança de ela não ter
aberto por achar que é uma daqueles vídeos totalmente dispensáveis que as
pessoas mandam para todo mundo da sua lista. Não que meu vídeo não seja
dispensável, mas foi criado especialmente para ela. Me levou uma boa dose de
coragem e ousadia fazê-lo. Merecia mais que o desprezo. Mas se a vida se
apresenta assim, não há nada que possa fazer senão acatá-la. É o que podemos
fazer com a vida, abraçar suas maravilhas e revezes, nos apropriarmos deles, se
possível, guardar algum ensinamento ou memória boa e seguir em frente. Ela que
não sabe o que está perdendo, não sou eu. É tão raro hoje em dia o que ofereço,
mas se ela quer mais do mesmo, que seja. Pelo visto não sou eu quem vai mudar
isso. Aliás, cabe a ela. Se o que quer é sexo casual, que fique no casual. Isso
definitivamente não é o que ofereço. Mas o torto sou eu mesmo. Ninguém procura
mais relacionamentos com substância, é a vida. E ainda há os rótulos a me
prejudicar. É a vida, tenho que colher o que semeei... se eu soubesse das
consequências e que elas me acompanhariam como horrendos fantasmas a assombrar
os demais e as demais..., mas não sabia. Não sabia dos fantasmas e da minha
crescente solidão. Não imaginei que a curatela me proporcionaria isso. O
problema não é nem a solidão em si. Ela me agrada na imensa maioria do tempo. O
problema é a crescente inaptidão em viver em sociedade. Isso me incomoda muito.
Daqui a pouco vai me meter medo de estar com as pessoas. Como estou apreensivo,
para dizer o mínimo, com essa viagem para os EUA.
18h01. Meu amigo da piscina já se comunicou comigo. Quer
comer pizza. Eu disse que o acompanharia, mas não comeria porque não gosto de
pizza (e não quero engordar). Disse-lhe que desço por volta das 18h30. Daqui a
pouco tenho que desarmar o barraco aqui para levar.
0h26. Nossas conversas deram muito material para o meu blog
privativo. Não exporei aqui porque a maioria são de cunho pessoal dele. O
encontrei na pizzaria quando fui pegar copos lá para bebermos Coca, visto que
os que há aqui em casa são muito pequenos. Realmente comprou pizzas. Hoje é dia
de clone na pizzaria aqui da frente de casa. Estava bem mais movimentada que o
normal na terça. Acho que foi uma estratégia campeã. Pena eu não gostar muito
de pizza e não querer engordar. Se bem que o prato que eu botei de farofa
feijão e arroz foi caprichado. A farinha da farofa já está ficando velha. Pelo
menos matou a fome. Estou zonzo de sono, vou me deitar. Boa noite.
-x-x-x-x-
12h04. Já acordo entediado. Pelo menos o “Utopia” me levanta
o astral. A garota da noite ainda não viu as mensagens que mandei pelo
Facebook. Perdi a esperança de que verá. Hoje só saio de casa para o cinema ou
para uma sessão de Odyssey. Ah, tenho que sair para fazer uma caminhada até o
Açude. Perder o bucho. Que pena que esse disco de Björk venha marcar uma fase
não muito boa da minha vida. Queria voltar a dormir. Queria dormir muito,
muito. Quero Coca. Com muito gelo. Minha mãe me chamou para almoçar, mas não
tenho fome nenhuma quando acordo. E devo estar com cheiro de cigarro, o cigarro
que fumei logo que levantei. Hoje promete ser um dia para lá de tedioso caso
não haja intervenção do meu amigo jurista. Queria voltar a dormir. Ainda estou
com sono.
12h43. Limpando o meu inbox de ofertas da Black Friday e
Cyber Monday. Hoje é aniversário de dois colegas de faculdade, um deles fã de
literatura, dá a entender que é um voraz devorador de livros que às vezes posta
o seu realismo mágico, digamos, no Facebook. Não sei se escreve mais que isso.
Deve escrever. Não sei se nos mesmo moldes, nunca li. Tudo em mim, ou quase
tudo, me incomoda hoje. Do cabelo às profundezas da minha alma. Do meu cheiro às
minhas frustradas aspirações românticas. Do que eu escrevo ao meu cotidiano.
Tenho que mudar esse humor. Mais Coca ajudará.
13h10. Peguei mais um copo. Entrei no Facebook. Já-já saio. Vi
que meu amigo de faculdade literato já publicou seus contos em papel, o que me
deu um pingo de inveja. Sempre fui mal de networking e há muito não escrevo um
conto. Hoje minha vida não vale nada, se alguém a viesse roubar de forma
indolor, eu deixaria que levasse. Não lutaria contra. Acho que não faço mais
que roubar a paz da garota da noite. E isso não se faz. Se roubasse a paz como
ela me rouba para me dar um torvelinho de prazer, ainda faria sentido e foi o
que tentei, mas o resultado não é esse. Então vou parar de me intrometer em sua
vida para o bem dela, que é o que em última instância, quero. Em verdade, em última
instância queria o nosso bem, juntos, mas em sendo isso uma impossibilidade, a
deixarei em paz. Qualquer paz é boa, então sei que estarei fazendo o bem. E que
faço o mal insistindo. É uma pena. Pelo menos resta a sensação de que fiz o meu
melhor, fui além das minhas capacidades gravando o vídeo. Deixá-lo-ei online
para o caso de ela porventura ver em algum momento e lugar do espaço-tempo. Ou
guardo essa cantada? Mas guardar para quem? Não há mais ninguém. E isso me
incomoda. Mas antes dela não havia ninguém. Não quero voltar às paixões
platônicas. Acho que a minha sina é viver a segunda metade da minha vida
sozinho. Esperar a Singularidade se essa se der e for boa e dar no pé dessa
realidade limitada e abandonar a condição extraordinária de ser humano para uma
condição extraordinariamente extraordinária de ser uno com a Singularidade. Até
de me fundir com a Singularidade estou desmotivado para ser sincero. Estou meio
down hoje. Um dia ruim não é
problema. É só a dor do desprezo e da rejeição. Isso passa. E voltarei ao meu
vazio emocional. Que ozzy. Minha mãe parece que cancelou ou pediu ao meu
padrasto que cancelasse a compra do celular. Dos celulares. Havia encomendado
um igual para ela também. Não quero ir caminhar hoje. Minha motivação esvaiu-se
com a constatação de que nunca vou ter a garota da noite. Com ou sem bucho. Se
bem que sem bucho, a possibilidade de uma garota que me encante se interessar
por mim aumenta exponencialmente, eu creio. Estou tão gordo e isso me incomoda
tanto. Aí penso nessa viagem para os EUA e fico ainda mais incomodado com a
existência. Muito mais incomodado. E lá vou engordar tudo de novo. Duplamente
ozzy. Só engordo se quiser? Talvez. Vamos ver. Primeiro a Coca que meu irmão
comprará conterá açúcar. Posso alertá-lo para comprar Coca Zero. Mas não sinto
motivação para isso. Nossa, como queria não ir para essa viagem. E como estou
com medo de saber a cotação do frete do Hulk para o Brasil. Foi só eu falar que
o e-mail com a resposta chegou. Vou ver. Nossa, estou torando um aço. Ufa, foi
mais ou menos o mesmo preço do busto do Deadpool. Embora ela diga que esse valor
flutue. Mas não deve oscilar como um tsunami. Então, estou mais tranquilo, pelo
menos em relação a isso. Se eu for para os EUA não vou querer tomar Coca Zero,
vou querer tomar Cherry Coke. Se não tiver no delivery aí, sim, opto pela Zero.
Mamãe aparente recomprou os celulares. Mas não tem certeza disso. Eu, hein? E
ainda disse que recomprou mais caro porque a promoção da Cyber Monday havia
acabado. Por mim, eu ficaria com meu celular mesmo, os principais problemas
dele são a falta de memória e que a bateria está acabando muito rápido. 15h18.
Daqui a pouco chegará a hora que me estipulei para a caminhada. Não sei se
irei. Como disse, perdi a motivação. Deixa a hora se aproximar que decido. Uma
parte de mim ainda quer ir. Uma parte de mim quer deixar de ser buchuda. Uma
parte de mim quer morrer. Uma parte de mim quer amar. Uma parte de mim sabe que
decepções amorosas abundam no mundo. Uma parte de mim quer viver. A mesma que
quer perder o bucho. Uma parte de mim quer jogar fora todos os bonecos que
estão na casa do meu irmão. Menos a Red Sonja que ainda vai chegar e o Hulk,
que vem para o Brasil. Todos os de polystone que tenho lá poderiam voar. E boa
parte dos de PVC também. Hoje não estou cabendo bem em mim, estou
desconfortável sendo eu. É uma sensação chata. Vou dar essa caminhada para
desanuviar. Eu acho. 15h43.
15h46. Gostaria de poder ouvir o disco novo de Björk no iPod
enquanto ando. Mas, para isso, precisaria baixar a torrent do disco. Nem dá
tempo. 15h50. E não saberia o que apagar do iPod para liberar memória para o
disco. Não vou procurar torrent. Posso infectar a minha máquina. Quando e se
comprar o CD de Björk, salvo ele na minha máquina. Por algum motivo, esperança
talvez, não vou apagar o meu vídeo cantando do YouTube. Deixa. É uma parte da
minha vida da qual sinto orgulho e vergonha. Pela bravura e ousadia do meu ato,
tão distante do meu eu cotidiano, advindas de um eu motivado e que não mede
esforços para conquistar o objetivo de seus anseios. 16h00. Vou lá.
17h38. Por ela e apesar dela (calma ainda estou digerindo o
meu desencanto porque encanto ainda há) eu fui caminhar e voltei. Achei
interessante que achei outras distâncias como a da academia que eu frequentava
ao CAPS que frequentava, menores. A Fundação Gilberto Freyre daqui a pouco me
parecerá um local próximo. Meu fone de ouvido está com defeito, o lado esquerdo
praticamente não sai som. Ozzy isso. Fone da superconceituada Apple. Me custou absurdos
35 euros. Vergonhoso. Era para durar uns 10 anos, na minha cabeça, pelo menos.
Sendo da mais bem-conceituada marca do mundo. E esse defeito não é de hoje, há
mais de um ano existe, mas havia sumido. A priori era um problema de mal contato,
acho que agora o contato se partiu mesmo. Sei lá. Sei que lembrei do meu pai,
com uma saudade peculiarmente forte, ouvindo Belle & Sebastian. Foi a única
coisa musical que eu o apresentei que ele realmente, sinceramente gostou. Acho
até que não foi só isso. Acho que a semente que peguei no caminho e que me
remeteu direta e vividamente a Macau, pois foi o primeiro lugar em que a vi na
vida, ainda muito criança, havia um pé no quintal da casa dos meus avós, foi o
fio, a lembrança inicial que, com Belle & Sebastian, frutificou em memória
do meu pai. Lembrei das rodadas que fazíamos, cada um escolhendo uma música, na
casa dele tomando umas, eu, ele e minha madrasta. Bons tempos. Tempos que de
forma definitiva não voltam mais. Meu pai se foi de volta ao nada. Suas cinzas
ainda no meu armário, esperando para serem depositadas na maré em frente à casa
que tem o pé da semente vermelha, onde, segundo ele, queria ser jogado quando
morresse, pois dizia que ali na maré havia passado os melhores momentos de sua
vida a pescar e pensar. Pois é, meu pai, ainda estou lhe devendo isso. Talvez
seu outro filho consiga atender o seu pedido, visto que mamãe não confia em mim
a esse ponto. E nunca vai confiar. Só depois de muita terapia, coisa que ela
está evitando. Não sei bem por quê. Talvez ache que não precise. Talvez deseje
continuar neurótica comigo. Bastante neurótica. Perdemos eu e ela com isso. É a
vida, tenho que acatar e, assim que voltar dos EUA, começar a minha terapia. Se
ela quer continuar neurótica é com ela. Eu vou buscar o meu melhor, tratar das
minhas neuroses, a começar pelos efeitos colaterais da solidão como essa
moderada fobia social. Não chega a ser agorafobia, mas não vou esperar que se
torne para me tratar. E é tudo coisa da minha cabeça, eu sei. E é uma coisa
construída ao longo de anos. Esse estar isolado do mundo. O fato de eu escrever
e ver na escrita o meu refúgio mais seguro, só ajuda. Não pretendo deixar de
escrever, entretanto, mas sinceramente não entendo a minha fixação e o meu
afinco pela escrita. Mas é o que me mantém são. Acho que já teria surtado ou
recaído não fora pelas palavras. Elas têm o seu quinhão terapêutico. Acho que
grande. Penso em fazer meu próximo passeio a pé até o Marco Zero, mas talvez
esteja sendo muito ambicioso na meta, mal comecei a andar. Sinceramente não
sei. Acho que aguento. Ir, pelo menos. Voltar, eu voltaria de Uber. E levaria
uma grana para tomar umas Coca-Colas. Teria que dar um tempo lá até a hora do
rush passar. Bom, tenho até sexta para decidir. O massa seria encontrar a
galera lá e de lá começar a noite de sexta. Mas acho isso difícil de acontecer.
Do jeito que a turma é devagar e desencontrada. Toda vez que o telefone dá um
alerta, no idiota aqui brota uma fugaz esperança de que seja ela me mandando
uma mensagem. Um saco isso. Geralmente é e-mail.
19h48. Me perdi pelo Facebook. E fui à cozinha pegar Coca,
acabei comendo um monte de bife à milanesa. Não havia comido nada desde que
acordei. Minha mãe disse que a barriga dela é em sua maior parte líquido. Será
que com a minha ocorre o mesmo? Será que se diminuir meu consumo de líquidos,
leia-se Coca Zero, meu bucho pode diminuir? Vou fazer um teste amanhã. Tentar
não beber Coca. E ver o que acontece na sexta de manhã. Como estará o meu peso.
20h06. Vou finalizar esse post aqui.
Suponho que a semente saiu assim pela vibração do scanner. Curioso o efeito. Ela é bem pequena, escaneei com 1200 dpi para ficar desse tamanho. |
A prova de que estive no Açude! Hahaha. E eu pensando que tinha botado a câmera reta. Sou um péssimo fotógrafo. Sempre fui. |
Escoadouro do Açude, onde fumo o meu cigarro para voltar. Gosto do barulho da água. |