terça-feira, 17 de janeiro de 2017

ESTACIONADO NO TEMPO

Olhando o Facebook de colegas, sinto como se eles tivessem avançado e eu estagnado no tempo. Não procuro me atualizar, pois não sinto necessidade de tal, mas isso abre uma ravina entre eu e eles, que se alarga mais e mais à medida que me alieno do mundo onde estão inseridos. O fato de ser improdutivo e não estar inserido numa coletividade me isola dos fatos do presente, da realidade macro e, assim, minha ressocialização fica mais difícil. Entretanto não sinto ímpeto em me inteirar das coisas porque não ache que precise delas para me sentir inteiro. Porém, as lacunas muitas que há em meu ser me impedem de aprofundar conversas por falta de embasamento teórico/literário. Ofereço apenas as minhas percepções pessoais, advindas de um mundinho restrito de autorreflexões. O fato é que não me interesso pelos assuntos cotidianos, as tragédias, a corrupção, os massacres, as agressões ecológicas e por aí vai. Faço a minha parte assinando as petições que eu acho que têm relevância e me dou por satisfeito em dar minha contribuição social dessa forma. É o único movimento não alienante que me mantém um pouco ligado às mazelas e conquistas da sociedade. Se fosse para falar de videogame teria um monte de assunto para debater, mas infelizmente são meus amigos e colegas que são alienados desse universo. Fica então o rombo entre mim e eles. Me sinto muitas vezes diminuído quando conversas mais acerca dos Poderes Judiciário, Legislativo e Executivo tomam uma profundidade na qual não tomo pé, com citações de obras e pensamentos de autores os quais apenas conheço de nome e às vezes nem conheço e dos quais não li uma linha sequer. Me sinto burro e alienado. Mas não me sinto por causa disso imbuído de nenhuma vontade de lê-los, até porque com minha memória como está não me recordaria ou me recordaria brevemente do que foi escrito. Ou seja, me tornaria novamente alienado num piscar de olhos. Como é notório, eu prefiro escrever do que ler, mesmo que produza apenas um monte de baboseiras sobre o mundinho-ilha em que me encastelei. Por falar nele, são 17h04 e nada do meu Wii U, o que significa que não o receberei hoje. O interessante é que na página de rastreio mostra como se ele já estivesse em Recife. Bom, quem sabe não o recebo amanhã. Tem até sexta-feira para chegar, então não há para que tanta ansiedade. Mas voltando ao tema do post, não há como olhar o Facebook e não me sentir burro. Vejo pessoas engajadas em movimentos sociais, participando de grupos sobre os mais diversos assuntos, botando posts supercabeça e eu nada. Meu Facebook, tirando as petições que reparto para ver se angario mais assinaturas é um espaço desértico. Confesso que não sou muito de Facebook. Uso-o mais como meio de comunicação com os meus amigos, principalmente com meu primo-irmão. Há inclusive um convite a um grande amigo meu e a mim para uma visita à agência de um grande amigo nosso. Todos da época de faculdade, ou seja, amizade de mais de 20 anos. E estou indisposto a ir. Mas é um daqueles convites irrecusáveis, então é bom eu criar coragem e responder logo a ele. Tenho certeza de que vai ser divertido.    

Recife, terça-feira, 17 de janeiro de 2017.

1h42. Confirmei o convite, disse que precisava combinar com a minha mãe primeiro, mas esqueci. De todo modo, acho que não haverá problemas. A não ser que a nova sessão de quimioterapia – que, se tudo der certo, se dará hoje às 10h – traga muitos efeitos colaterais para ela. Aí, não deixarei minha mãe debilitada sozinha em casa.

Zerei mais do que me propus no FarCry3. Fiz todas as missões de caça a bandidos procurados e a animais específicos com armas específicas. Tive que matar dois ursos na base da peixeira, foi ozzy. Mas morri poucas vezes. Fiquei jogando desde a hora que parei de escrever aqui até agora. Tomara que meu Wii U chegue amanhã mesmo. Já estou fazendo os trials da tribo e ajudando membros da comunidade, visto que não há mais nenhuma missão de caça. Os trials são bem divertidos, por sinal, só eu que sou péssimo neles. Mas o que vale é participar. O que conta para o jogo, digamos assim. Não posso mais catar os baús de dinheiro porque estou com minha carteira cheia e não tenho mais onde gastar, só se jogasse pôquer para perder. Mas acho jogar pôquer muito chato. Ainda mais em um videogame. Fiz até entrega de mantimentos e participei de uma corrida. Realmente há muito pouco por fazer no jogo. E não quero começar Mirror’s Edge e meu Wii U chegar. Estou com um forte pressentimento que ele chega hoje (terça-feira). Prometi a mamãe que dormiria cedo, porém são 1h52 e não estou com o mínimo sono. Quando acabar a Coca, me deito. Falta pouco. E como bebo rápido, este momento não tardará. Preciso ligar para Maria de Buria. Espero me lembrar de fazê-lo quando acordar. Seria massa receber o Wii U e ligar para ela mostrando. Acho que só vou ligar quando isso acontecer. Também não sei se ela foi visitar o povo dela. Ela me disse aqui que planejava ir. Pode ser que esteja lá. Veremos quando o Wii U chegar. Preciso também lembrar de comunicar a mamãe da visita à agência do meu amigo. Estou ficando realmente dislexo, engoli palavras que tiraram todo o sentido da frase anterior. Meu irmão retornou dizendo que os games usados que comprei vieram todos em excelentes condições, o que é uma ótima notícia que significa que não têm arranhões, não vão travar e que posso dar o feedback positivo para os vendedores.

2h03. Já começa a bater a paranoia de mamãe vir fazer a ronda e toda a ladainha decorrente disso. Essa história de não digitar as palavras direito ou de engolir palavras de uma frase me preocupa. Meu cérebro já não é mais o mesmo. Há outros esquecimentos e trocas que acontecem em outros âmbitos da minha vida. É, é a idade chegando e as sequelas da minha insanidade mostrando suas garras muito mais cedo do que para a maioria das pessoas. Acredito que os remédios numerosos que tomo têm sua parcela de contribuição para a degeneração do meu juízo. Ainda bem que ainda consigo escrever. Consertando os erros que acho na revisão, obviamente. Obviamente também muitos me passam despercebidos. O atomizer do meu Vaporfi começou a fazer fumaça grande finalmente. Por isso também não os jogo fora quando não funcionam de primeira. Sei que depois de algum tempo o negócio engrena. Geralmente, pelo menos. No mais das vezes, diria.

Minhas tias estão combinando de ir a Macau depois que uma se recuperar de uma operação (besta, segundo a outra) e nem mencionaram a possibilidade de me darem uma carona para que eu cumpra a missão de jogar as cinzas de papai na maré. Isso me entristece, mas não me desanima. Perguntarei na cara de pau se elas me dão carona.

2h18. Perguntei, mas deixei em aberto para elas decidirem. De repente não se sentem confortáveis com a presença das cinzas no mesmo carro que elas, por algum tipo de crendice ou sei lá o quê. Só me restará então meu tio, pai do meu primo irmão para me levar. Ou se o meu primo de Natal vier deixar sua irmã aqui. É bom que vejo minha tia e Maria de Buria. Não sei se mamãe vai gostar do plano. Mas eu tenho que resolver isso. O mais rápido possível. De preferência antes de começar o CAPS. Vamos ver o que me respondem e aí converso com a minha mãe. Hoje será um dia de resoluções, estou sentindo. Pegar mais um copo de Coca Zero.


2h29. Estava no final mesmo, só deu para encher um copo e dar um gole da garrafa. E o copo está cheio de gelo, diga-se de passagem. Preciso lembrar de pedir a mamãe quando ela vier me dar o remédio da manhã que ela deixe o dinheiro ou o cartão para eu poder comprar Coca. Ficar o dia amanhã sem Coca seria o ó, pois eu sei que a quimioterapia vai levar a manhã e uma boa parte da tarde para terminar. Vou revisar logo isso para ir me deitar. Minha mãe não vai resistir e vai vir fazer uma ronda aqui já-já. 

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