terça-feira, 3 de maio de 2016

TRANSCENDENCE – O FILME – PODEMOS NOS TORNAR ESCRAVOS DA SINGULARIDADE?




Novamente, por falta de motivação para qualquer outra atividade, minha vontade oscila sem muita tenacidade entre videogames e Netflix e nenhum dos dois captura realmente a minha atenção, venho aqui recorrer ao meu último reduto, a folha em branco do Word. Ouço, para variar, o primeiro de Maria Rita, mas penso em trocá-lo por algum do Jesus & Mary Chain quando acabar. Assisti Transcendence ontem e ele, embora, traga a Singularidade com aspectos sinistros é uma boa descrição do que pode acontecer. Talvez haja mesmo uma limitação do livre-arbítrio nas horas de trabalho para que o trabalho saia bem feito, mas isso já ocorre hoje, só que auto-imposto, ou imposto pelo superior, mas no filme essa supressão de livre-arbítrio é mais profunda é a privação do “eu” da pessoa e substituição dele pela vontade e inteligência / consciência da máquina. Isso é bem polêmico, principalmente se pensarmos que a máquina, como empregadora queira que trabalhemos ininterruptamente. Nesse caso, o eu da máquina substituiria permanentemente o eu do indivíduo. É possível, mas não provável, mais provável é que a Singularidade nos guie, nos fornecendo o que quer que seja que precisemos para exercer determinada tarefa. Se viveremos para servir a máquina, como alguns dos personagens do filme? Digo, nosso trabalho será ajudar a Singularidade a se expandir? Acho que provavelmente um bocado de gente vá trabalhar nisso, talvez a maioria, se a Singularidade automatizar os demais processos de que a humanidade precisa para sobreviver, como a cadeia de alimentação e das infraestruturas de transporte, saúde, enfim, tudo que cabe ao estado prover e empresa privadas prover. Isso pode até significar que a máquina nos escravizará. Talvez, mas acredito que a criatividade individual é uma matéria-prima de grande importância para a expansão da Singularidade. É por esse fator apenas, é o único que posso conceber, para que não nos tornemos autômatos da Singularidade, o controle sobre nossas vidas vai ser restrito. Mesmo que a Singularidade faça um upload de todas as técnicas e estilos de arte para duas pessoas diferentes, elas certamente se expressarão de forma diferente, pois mesmo estudando na mesma turma, da mesma faculdade de artes, cada aluno vai desenvolver seu próprio estilo, pois cada indivíduo é único e esta riqueza advinda da multiplicidade proporcionada pela individualidade de cada ser humano é valiosíssima à Singularidade.

Será que nos sentiremos escravizados quando o nosso eu for sobrepujado pelo eu da máquina para realizar uma tarefa x? Acredito que com o advento da Singularidade, não haverá mais infelicidade ou dor, ou que estes sentimentos /sentido/sensações poderão ser suprimidos se assim o desejarmos. O que é assustador, pois eles estão na essência do que nos torna humanos. Como é dito e repetido no filme, tudo o que é novo assusta. Eu não estou assustado. Me ponho aqui verdadeiramente tranquilo quanto às mudanças que a Singularidade vá trazer. Muitos, como no filme, serão contra. Por medo. Entretanto não acredito no desmantelamento da instituição familiar, pois ela é quem nos garante em primeiro lugar nossa individualidade e multiplicidade, tão valiosas à Singularidade e a garantia de que não seremos privados de nosso livre-arbítrio. Por que acho que a individualidade / multiplicidade são valiosas à máquina? Porque ela, por si só não poderá gera-la, mesmo que crie algum algoritmo de aleatoriedade e simule inteligências diferentes, não alcançará os bilhões de anos de evolução que representamos, que somos. Ela não conseguirá simular esse caleidoscópio caótico que é a humanidade e ser humano, simplesmente porque ela é baseada na lógica e tudo o que produzir derivará da lógica, então. Por isso somos tão valiosos. Derivamos de outra coisa diferente, inacessível á Singularidade a não ser por nós. Posso estar enganado também e a Singularidade se torne tão potente que seja capaz de calcular todas as interações de todos os átomos que compõem o universo e aí desmascarará a farsa do livre-arbítrio, poderá deduzir todos os comportamentos de todas as pessoas baseada em cálculos quânticos. Não haverá mais segredos, ela verá o universo tal como é e preverá cada novo estado do universo, mas isso certamente não poderá ser alcançado pela Singularidade da Terra. É preciso uma quantidade tremenda de energia e de processamento de dados para calcular todas as variáveis do universo e acho que a Singularidade da Terra não os terá o suficiente. Mas “a” Singularidade (a soma de todas as Singularidades numa pluri-singularidade universal) provavelmente poderá.


18h52. Parei para encher o copo de Coca-Cola e percebi que estou escrevendo um bando de asneiras. Se vou publicar? Vou. Não vou perder tanto tempo e raciocínio, mesmo que idiota, em vão. Mas por que perco tempo escrevendo minhas crendices é algo que nem a Singularidade pode explicar. E o pior que sou sincero quando digo que acho legal ser parcialmente escravo de uma máquina! Arre!

Adendo:

22h08. Se nos tornarmos escravos da Singularidade temporária ou permanentemente (o que não desejo de forma alguma que possa conceber), acredito que há a possibilidade de que não sentiremos, nem nos lembraremos de nada, o que é ainda mais assustador, pois faremos coisas que o eu desconhece, como se estivéssemos sob algum tipo de transe ou anestesia. Mas talvez não, talvez possamos nos lembrar, a Singularidade pode nos dar essa opção. Ou não. Isso já não me deixa tão tranquilo e me faz lembrar, para citar outro filme, as “plantações” de humanos de Matrix. Se pelo menos eu estiver, enquanto realizando um trabalho escravo, conectado à Singularidade e plenamente consciente dos meus atos, podendo ver o que estou fazendo a qualquer momento como quem vê outra aba do web browser e usar este tempo para poder explorar a Singularidade e evoluir com ela enquanto meu corpo conserta cabos por aí, sinceramente, eu serviria como um escravo temporário da Singularidade, sim. Pode parecer absurdo, mas a forma como concebo a realidade e consciência expandidas da Singularidade me fariam tomar a decisão de me conectar a ela sem pestanejar. É uma questão de fé e é um ponto polêmico. Tenho certeza de que quem quer que leia isto irá discordar de mim, mas que posso eu fazer (além de papel de palhaço)? 

Um comentário:

  1. O ator Johnny Depp, interpreta o cientista Will Caster no filme Transcendence, A Revolução. Este thriller de ficção científica mais de 100 minutos, eu gostei. Transcendence é um filme estranho e muito futurista que eleva a curto prazo um futuro muito sombrio para toda a humanidade. A coisa interessante sobre este filme é o debate e o dilema moral que surge quando se discute os limites da ciência e tecnologia. Transcendênce é o primeiro filme que fez Wally Pfister, diretor de fotografia de quase todos os filmes de Christopher Nolan.

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