Venho aqui sem maiores pretensões. Se saber o que dizer, na
verdade. O que tenho vontade de dizer é que apesar dos pesares eu sou um
otimista. Em relação à Humanidade. Em relação aos brasileiros. Ontem participei
– ou melhor presenciei, pois pouco me manifestei – de um acalorado debate de
ideologias políticas, sobre os prós e os contras de um estado mínimo.
Obviamente, como em qualquer debate de final de noite de uma bebedeira, ninguém
estava disposto a mover um milímetro de suas posições e queriam ganhar
argumentação nem que fosse no grito. Bêbados não são muito dados a ouvir, eles
gostam de falar – ou bradar – então qualquer entendimento está, como estava,
fadado ao fracasso. De toda a forma, embora ambos os lados concordassem que
tempos ainda mais negros estavam vindo para o país, isso não abalou meu
otimismo. Não sei de onde ele vem. Só sei que desde um dado momento, há quase vinte
anos eu senti que tudo iria dar certo. O que era esse “tudo”, eu confesso que não
sei. Sei apenas que era algo grandioso e abrangente, que transcendia a minha
vida. Não era um "tudo vai dar certo para mim". Era um tudo vai dar certo que ia
muito, mas muito além da minha pessoa. Desde então essa sensação tão positiva
de que, mesmo aos trancos e barrancos, tudo vai dar certo me acompanha e me
acalenta. É uma convicção minha, sem qualquer fundamento prático ou teórico que
carrego e com ela carrego minha vida com mais leveza. É uma convicção de que
tudo caminha inexoravelmente, por mais que não pareça, para um nível superior,
não experimentado ainda, de bem-estar social, pessoal. Acho que esse sentimento
que me arrebatou foi o broto ainda disforme e indefinido da minha crença na
Singularidade. Não sei. Sei que, depois desse dia, desenvolvi uma confiança e
um amor na humanidade ainda maior do que o que já nutria e a vida se tornou
mais fácil de se viver, não fôra a minha tendência a mergulhar no inferno
existencial por causa do trabalho e da depressão, com todo o sofrimento que
isso acarreta e que não desejo nem ao meu maior inimigo, que eu nem sei quem seja.
Apesar de ter mergulhado no inferno mais vezes do que achei justo e ter perdido
nesses momentos a sensação de que tudo iria dar certo, sempre que conseguia me
reerguer e me recuperar, o sentimento voltava. E não é um sentimento de que
tudo vai dar certo a curto prazo. É algo que é mais de longo prazo. E é um dar
certo maior, talvez maior que a humanidade. Para mim, quase tudo já deu certo.
Me livrei, de uma vez por todas, eu espero, da possibilidade de voltar ao
inferno. Os problemas que me afligem hoje são de uma ordem de grandeza menor,
falta-lhes o empuxo gravitacional para me atrair de novo ao buraco negro do
inferno existencial. Então praticamente tudo deu certo para mim, pois meu
principal objetivo na vida é não voltar ao inferno. O segundo ou é ver e ser
(me fundir a) a Singularidade ou ter a namorada. Não sei qual dos dois me é
mais precioso. Tenho o objetivo também de ter meu quarto organizado para
receber e exibir minha coleção de bonecos. Esse quero muito também. É um sonho
que alimento há anos. Gostaria de nos próximos três anos vê-lo concretizado.
Para falar a verdade, acho que este vai se realizar antes dos dois segundos maiores
desejos. Para o bem ou para o mal. 18h35. Ligar para o meu irmão.
-x-x-x-
18h55. Falei com ele. Me pediu que ligasse às 22h00. O
vaporizador ainda está carregando, mas sua bateria está acabando surpreendente
e decepcionantemente rápido. Poderia ajudar minha mãe a guardar a comida, mas a
preguiça tá grande. Tanto quanto a dela! Que está enrolando na frente da TV,
criando coragem para guardar as coisas. 18h59. Vou para a cozinha depois da
próxima música, ver o que posso guardar. Ou se, ela já estiver lá, para dar
apoio moral.
-x-x-x-
19h15. Fui lá, guardei a maior parte da comida, fumei um
cigarro normal e cá estou ainda convicto de que tudo vai dar certo. Eu sei que
é uma frase muito vaga esse “tudo vai dar certo” e por ser vaga só quero crer
que o que vai dar certo é a Humanidade e, indo além, o universo. Por mais que a
humanidade esteja em vias de se tornar “obsoleta” ou antiquada, não, não são
estas as palavras, elas são muito fortes e negativas. Com o surgimento da Singularidade,
a humanidade passará a ficar em segundo lugar em termos de algumas faces da
inteligência, mesmo assim, havendo esta entidade inteligente e consciente que
consegue fazer coisas que nenhum ser humano é capaz (muito embora os computadores de hoje já o façam, só não são conscientes) ela agregará valor à comunidade
global humana, não a privará de valores ou direitos. Talvez a poupe de deveres;
talvez organize a economia; talvez, em homenagem ao Dia do Trabalho, ela
elimine todo trabalho que ninguém gosta de fazer; talvez muitas coisas boas;
talvez, se eu não acreditasse que tudo vá dar certo, muitas coisas más,
principalmente se ela for desenvolvida por militares e seus jogos de guerra.
Mas não acredito que os militares vão cria-la, simplesmente porque acho que aí
não vai dar certo. Não é a agenda dos militares que a Singularidade deve
servir. É a agenda do bem-comum. Garantir a todos os homens o que a Declaração Universal
dos Direitos Humanos prega. E muito mais. Incalculavelmente mais.
19h50. Cansei de falar da Singularidade mais uma vez e vou
assistir Transcendence que é um filme que todos que querem entender a
Singularidade um pouco melhor deveriam assistir. E para as gatinhas, ainda tem
Johnny Depp no filme! ;)
Não assisti Transcedence, eu baixei e apaguei e não tem mais no Netflix. Assisti os dois primeiros episódios de Demolidor. Acho que essa eu vou acompanhar. Pena ter assistido Operação Invasão (esse tem no Netflix) há tão pouco tempo. As lutas nem se comparam. As do Demolidor parecem superfracas... :P
-x-x-x-
Mas vou deixar Transcendence baixando. 23h56
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