quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

UNTITLED DO THE CURE




21h15. Hoje o meu dia não prestou e foi completamente arruinado por uma dose maciça de realidade. Eu não me adequo e às vezes ser tão estranho tem fortes revezes. Nossa, ainda bem que tenho as palavras. Quero ficar só com elas, só no meu quarto-ilha onde posso ser como eu quiser. E não quero muito, Coca, cigarros, palavras, internet, música e paz de espírito. Não quero nem isso, quero comer e dormir, mas não sei se tem comida.

21h49. Comi escondidinho de charque, não é um dos meus pratos de predileção, mas estava delicioso. Acabar o copo de Coca para me deitar, já vivi demais por hoje, preciso me desligar de mim, pelo menos em nível consciente.

-x-x-x-x-

15h07. A fantástica faxineira pediu que eu relatasse que está indo para Petrolina daqui a pouco ver a família toda, um grande desejo seu, e que vai se encher de contas que só Deus sabe como vai pagar. Eu começaria a narrar o meu dia de outra forma, falando sobre o experimento literário que eu fiz, dedicado especialmente ao meu padrasto, da completa incompatibilidade com a pessoa e provavelmente com quem lesse. Vai para o Vate, o que tem um lado bom, aliás dois, não ferirá sentimentalidades e não precisarei revisar. É uma peça em três partes. E é uma pena, mas não é isso que vai estragar o meu dia, como arruinou minha noite ontem, quando reparti uma fração do projeto no Profeta e minha mãe leu e se magoou a ponto da fúria. Era uma peça de ficção misturada com realidade, tão rara e cara a mim que não tenho inclinação para a ficção, exceto em circunstâncias muito específicas. Não sei se o restaurador vem hoje, creio que pelo adiantado da hora não virá. Mas não quero falar sobre isso. Não posso colocar o som alto como intentava pois o meu padrasto dorme ou está deitado no quarto. A mágoa da minha mãe me magoou ontem, por ter a sua parcela de razão. Estava a projetar coisas para além da sua vida, o que não quer dizer que deseje a sua morte, mas tentando enxergar pontos positivos em tão enormemente dolorosa e inaceitável perda. Como já disse no post CARTA À MÃE, não sei mais viver a vida sem a sua presença, desaprendi. Sem seus cuidados, por vezes excessivos, e seus mimos, sempre bem-vindos. Estou aprendendo a dar carinho sincero a ela e estou sendo muito bem-sucedido nisso. Se se demora para além do esperado, sinto saudade, acho que nosso elo nunca esteve tão forte, o que é uma faca de dois legumes. Meu rouba a minha independência como indivíduo e alimenta o meu lado infantil, que sempre está faminto. Por falar em lado infantil, me conformei e introjetei que acabei a minha coleção de bonecas. Isso é bom, fechar esse capítulo me faz sentir bem. E ainda me deleitará por muitos anos, pois é o tempo que levará para que todas migrem do porão da casa do meu irmão nos Estados Unidos para o meu amado quarto-ilha no Brasil. Ontem, ao receber como um murro a reação da minha mãe, uma nova projeção de futuro, mais triste, mas mesmo assim desejada, me veio à mente. Passar o resto dos meus dias em Areias, na mais profunda e completa solidão. Acho que é o único lugar onde minha pensão daria para eu viver. E o mais desejado, visto que provavelmente Blanka não vá vingar e não terei ninguém na vida.

15h46. Se mamãe vender “essa merda” na qual habito e amo, e não tiver mais ninguém na vida, espero que aceitem a minha opção de vida, de viver o restinho dela, não no quarto-ilha, mas na casa-ilha. Tenho para mim, entretanto, que meu fim será no porão do meu irmão. E terei que abrir mão de todas as minhas bonecas. Nossa, não queria abrir mão do Hulk e de mais quatro ou cinco, que, se deixar a minha imaginação solta, se transformam rapidamente em dez, em todas. O negócio é entrar em contato com a arquiteta para pelo menos ter o meu quarto-ilha transformado no meu pequeno fantástico mundo o mais rápido possível para aproveitar o máximo de tempo possível. A vida é realmente um sopro. Daqui a pouco, a conta de meus excessos vai me ser cobrada. Ainda bem que o câncer, se câncer for, dificilmente me impedirá de escrever. Talvez narrar as percepções de alguém com câncer terminal atraia leitores de curiosidade mais mórbida. Se bem que, pelo bucho que ostento, um infarto não possa ser descartado. Ou um AVC. Bem, a conta será alta, só sei disso, é o que a comunidade médica e todos os que me cercam dizem. É difícil para eles entenderem que vivi a vida que sonhei, que vivo a vida tal qual desejo e que isso vale a conta na noite dos meus dias. Dor, espero muita dor, sufocamento também, só não estou preparado para ficar longe da palavra digitada. Acho a probabilidade disso pequena. Acho que precisarei usar fraldas geriátricas e isso me parece humilhante, um tanto libertador, mas desagradável como um todo. Não sei bem da minha morte, mas penso que se mereço pagar em vida por todos os erros cometidos, será dessa forma, com o corpo, com uma punição física agravada pela velhice. A velhice, tal como a vejo se manifestar na minha mãe, é, por si só, uma fonte contínua de sofrimento acompanhada de um declínio cognitivo que me assusta e que já me alcança. Já percebo as lacunas na memória, a memória que nunca cultivei com o carinho necessário, não treinei o meu cérebro para essa capacidade e ela me é cada vez mais fugidia. O curioso é que eu me adapto e convivo com as crescentes limitações dessa decrepitude em paz, quando pensei que iria desesperar ao perceber a cognição me abandonando, não se deu. Vejo como uma nova etapa da vida e que é possível gozar dela com o que me resta. E sem uma queda de qualidade que me incomode, ou com a qual vou me acostumando, pois sua marcha, embora incessante, é lenta e oferece o justo tempo à alma para se adequar e aprender a viver com o que não pode mais ter. Vou fumar com café. A Coca acabou.

16h22. Sobre fraldas geriátricas ainda, quando elas se fizeram necessárias, a julgar pelos exemplos do meu avô paterno e da minha avó materna, não restarão mais pudores em relação ao assunto, em verdade, restará muito pouco de mim, de eu, no corpo que fenece. Sobre o isolamento em Areias, o leitor poderia perguntar “e os amigos? E a família?” e eu perguntaria, onde estão eles agora, que não me procuram e para os quais sou irrelevante frente a vida que erigiram para si? Às vezes me dói a falta de desejo de suas partes em me ter por perto. Sei que é uma via de mão dupla e por isso postei no grupo dos meus amigos mais amados:

[16:32, 1/24/2019] Mário Barros: Só porque vocês existem e isso é importante para mim. Saber que há vocês no mesmo mundo que habito.

16h35. Em suma, se já não os tenho agora, se não posso gozar de suas companhias quando moramos na mesma cidade e em bairros próximos, passo os dias sozinho aqui e tenho mais contato com a evasiva Blanka do que com eles, amigos de décadas, que diferença faz estar aqui ou em Areias no que tange às amizades? Meu padrasto, disse que o som o atrapalha e propôs um acordo joia, vai cortar o cabelo e, enquanto isso se dá, posso ouvir o som no talo. Quando ele chegar, eu boto baixinho de novo. Coloquei no volume 27 e estou ouvindo a nada menos que perfeita Pagan Poetry. Meu deu vontade de ouvir Aurora. Vou colocar. Vou não, está rolando um remix massa agora e com a altura posso perceber os mínimos detalhes da música desconstruída. Não é o melhor remix de Bastards, mas é bom mesmo assim. Estou numa fase muito Björk essa semana. E pensar que embalado por essas músicas teci um texto completamente inapropriado aos olhos da minha mãe e meu padrasto, especialmente. Minha irmã PE disse que já teve os mesmos lapsos de maternidade em relação aos sobrinhos, semelhante ao lapso de paternidade que me tomou a alma por alguns instantes quando olhava para a pequena maravilha da existência que é o meu sobrinho primogênito. Eu o amo. Posso dizer com sinceridade, pois me fez entender o poder da paternidade, poder avassalador, amor tão grande de doer na alma, de rasgar a alma, um medo extremo advindo de um desejo de proteção sem comparação daquela criatura.

17h10. Liguei o ar precisamente às 17h, deixando a tarde que cai do lado de fora do meu quarto. Meu padrasto chegou, depois do banho dele a minha farra sonora acaba. Mandei a mensagem e fiquei com saudade e receio dos meus amigos. Não entendo o conflito em relação à companhia deles, acredito ser fruto do meu isolamento prolongado da sociedade.

17h17. Pensei no impacto fortíssimo e hediondo que a minha obra teria sobre o grupo – minha amiga diretora, minha amiga psicóloga e o meu amigo cineasta –, em verdade sobre todos os que me conhecem. Pensei sobre a promessa do meu tio, que para mim é carregada de uma vacuidade que é quase sinônimo de mentira. Irmã gêmea. Que seja. Se o meu destino for mesmo Areias, tanto haverá transcorrido e as memórias contidas no livro estarão tão distantes de mim e eu tão distante de todos, que não me incomodaria em me publicar, caso houvesse dinheiro, fazer um lançamento e depois voltar para a minha casa-ilha, onde a condenação não saberia como me alcançar. A solidão absoluta só me é suportável na casa-ilha, onde é o mais absoluta que pode ser. Tão absoluta que atraente. Somente eu e a natureza. E internet. E o Hulk. E as palavras. Talvez uma ou outra lembrança do que eu fui enquanto ser social pleno. Ninguém nunca deixa de ser um ser social, preciso de toda a cadeia produtiva para sobreviver, preciso do que a sociedade oferece e para obter preciso me fazer ser social, publicar o blog é ser social, independentemente do número de leitores. Já sinto a solidão dessa projeção, que nada mais é que mera ficção, um desejo que o acaso-destino não vai me conceder realizar. E espero que minha mãe permaneça por muito tempo ainda. Sinto saudade dela nesse momento.

17h36. Nossa queria aumentar o volume agora. Preciso é acender a luz, não consigo mais divisar as letras do teclado e não as tenho por instinto, nunca as terei, senão já teria, depois de tantos milhares de palavras, as memorizado.

17h49. Pensar sobre o mundo sem minha mãe e repleto tão somente de solidão, me pôs melancólico. Não quero ver a velhice dos meus amigos, prefiro a solidão da casa-ilha. A solidão, a solidão... já não tenho mais medo, tenho quase que simpatia por ela o que significa uma quase simpatia por mim. Não sei por que o prospecto da vida sem a minha mãe me assola essa semana. Acho que é medo de não saber lidar com o mundo sem ela, só se for um mundo muito simples como a casa-ilha. Me verei absurdamente sozinho no mundo quando minha mãe se for. Ela é o meu farol e o meu ninho, ela cuida de mim e é a única que me ama verdadeiramente. É a pessoa que mais me ama no mundo. Ela chegou e trouxe um sorriso no rosto para mim.

[17:18, 1/24/2019] Amiga diretora: Sinto o mesmo, amigo.
[17:35, 1/24/2019] Mário Barros: Embora o conforto da existência não se sobrepõe ao prazer da convivência. Ana, o urso ainda está à espera de Isa.
[17:35, 1/24/2019] Mário Barros: *sobreponha, goi mal.
[17:35, 1/24/2019] Mário Barros: *foi
[17:59, 1/24/2019] Amiga diretora: Verdade. Às vezes acho que somos engolidos pela vida.

Acabou-se a terceira página. Vou revisar, postar, pagar à dentista-vizinha e comprar Coca. Depois, voltar, sentar e escrever. Que me resta fazer? Juro que não sei. Nem sinto inclinação para outra coisa. Sina.




terça-feira, 22 de janeiro de 2019

UMA TARDE NO MEIO DA EXISTÊNCIA (CENSURADO)





15h38. Preciso ligar para o restaurador e a bateria do meu celular arreou. Assim que puder ligá-lo, entrarei em contato com o meu salvador.

15h54. O celular dele está desligado ou fora da área de cobertura. Landlady, do U2. Liberdade. Nossa, que calor. Tomando café ainda. Ainda bem que não estou preso ao calor, tenho ar, um luxo pequeno-burguês que faz toda a diferença em momentos como esse. Sou um abençoado, ao contrário do menino com fome na frente da farmácia. Ele foi amaldiçoado pela ignorância e pela miséria decorrente dessa. Acredito que o restaurador não virá mais hoje.

16h19. Ele não virá hoje, disse que amanhã vem, cola tudo e vê se alguma vai necessitar de pintura. Preciso comunicar isso a mamãe e pedir dinheiro para as Cocas e os adesivos das letrinhas, estou me perdendo no teclado porque quase todas as letras estão apagadas. Eu estou muito curioso a respeito do texto que produzi ontem em condições sui generis. Não acho que terei coragem de repartir com o meu padrasto. Nem sei se cairia bem a minha mãe ler. Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiooouuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuurrrrrrrrrrrrrrr.mmmmmmmmmmmmmmmm

16h37. Colei as letras repetidas acima, já facilitam bastante. Descolarão com o tempo, mas é a melhor solução que tenho à disposição no momento. Comuniquei que o restaurador só poderá vir aqui amanhã, colará as peças e verá se é necessária alguma pintura o que acho não ser o caso. Esse post está chato, eu estou chato hoje, visto que o texto é um espelho de mim. Blanka viajou, não sei quando volta. Só sei que apenas se comunicará comigo quando isso acontecer. Vou tentar comprar Coca agora.

17h08. Acabo de voltar da pizzaria, onde sou sempre muito bem recebido e atualmente me perguntam acerca do meu blog, o que dá um sentido superior à minha existência e ao ofício ao qual desejei me dedicar. Se eles soubessem a importância que isso tem para mim. Mas não quero que leiam por obrigação, para agradar um impessoal cliente. Deixa ser como será. Acho que vou revisar o post anterior. Não, não sinto disposição para isso. A preguiça me domina quase à imobilidade. Não quero me deitar, dormi bem, muito bem por sinal, sem episódios de sonambulismo. Achei que os bifes à rolê que comi ontem tinham gosto de Norcola. Não sei o que se deu com o meu paladar. O molho estava divino, mas não aguentei comer os bifes todos por causa do nauseante sabor da minha droga de preferência. Comi por fome e por tê-los colocado, três, no meu prato. O quarto e último foi para a geladeira. Sinto minha cabeça meio oca hoje. Sem substrato para colocar nessa página. Vou pegar mais Coca gelada para colocar no meu copo. Está tão gelada que o gelo não derrete como de praxe. É a melhor forma de tomar Coca, gelada e cheia de gelo.

17h32. Estou com um desassossego na alma uma vez mais, estou com dificuldade de escrever e nada mais me interessa. É como se estivesse elétrico demais, mas uma eletricidade estática, de quem só quer ficar parado a cismar. Se posso escrever as cismas aqui por que não fazê-lo? Pensei no casal da Vila Edna e no que pensarão de mim se enfrentarem as mais de 200 páginas do Diário do Manicômio. Será que isso transformará a nossa relação? Mostro o que há de pior e mais distorcido em mim no texto. O que de mim foge aos ditames sociais, os ferindo muitas vezes. Penso no meu tio e na inação dele em relação à publicação da obra. Talvez seja o acaso-destino decidindo por mim o meu futuro. Estou agoniado, mas não sei com o quê. É um sentimento chato e sem sentido. Acho que vou trocar U2 por Caetano.

17h41. Livro rolando. Me transporta para Lisboa, especialmente para o Novotel e a Portuguesinha. Vou ao banheiro.

17h52. Migrei para o café. Está ótimo. E parece que a minha existência toda se encaixou com a mudança de bebida.

17h58. Estava conversando com o meu primo-irmão sobre mulheres e futuro, longo prazo mesmo. De ele assumir a minha curatela e vir morar comigo nas Ubaias. Com Blanka e Dande e quiçá o meu padrasto, conforme ficção ou realidade alternativa à qual me dediquei ontem com um sorriso nos lábios. É muito divertido projetar um futuro ideal e ir encaixando as peças à medida que os desejos brotam. Não sei se publique o post anterior, pode ser chocante demais para a minha mãe. Século XXI demais. Acho que ela condenaria ou condenará todo o conteúdo. Não importa, me divertiu o exercício.

18h06. Meu primo-irmão me respondeu:

[17:55, 1/22/2019] Mário Barros: Se você ainda estiver solteiro quando minha mãe se for, te convido para repartir as Ubaias comigo. Pensei muito sobre isso ontem.
[17:57, 1/22/2019] Mário Barros: E eu realmente não sei o que ocorre afetivamente com você. É um mistério para mim.
[18:03, 1/22/2019] Primo-Irmão: Poderia ser uma boa. Mas não pense na morte dela não
[18:05, 1/22/2019] Mário Barros: Não, foi um exercício que fiz ontem. Não quero que ela morra. Será a perda mais irreparável da minha vida.
[18:07, 1/22/2019] Primo-Irmão: Isso. Pense nela vivendo até mais de 100 anos 😊

18h08. Vou responder.

[18:08, 1/22/2019] Mário Barros: É um prospecto que me agrada. :)
[18:09, 1/22/2019] Mário Barros: Tomara que a medicina evolua a esse ponto.

18h09. Vou pegar café e fumar.

18h19. O que eu mais quero da vida nesse momento? Estar exatamente aqui fazendo isso. Acho que não há prova maior de sucesso. Quantas vezes os demais experimentam essa sensação? Por quanto tempo? Essa sensação me toma na maior parte dos meus dias, na maioria das horas do meu dia. Eu me considero quase que plenamente realizado. Há ainda realizações que me faltam. Mas tenho paciência para esperar o tempo certo. Se o tempo for rebelde e não me trouxer o que espero, não me frustrará em demasia, desde que me seja garantido o direito de permanecer aqui fazendo isso. Com coca, café e cigarro.

[18:24, 1/22/2019] Primo-Irmão: Daqui pra lá e evolui
[18:24, 1/22/2019] Primo-Irmão: Se não for ela a passar dos 100, vai ser a gente
[18:25, 1/22/2019] Mário Barros: Acredito piamente nisso e muito mais, como você sabe. Minha religião...

18h27. Quando mamãe despertar, pegarei o contato da arquiteta para tentar botar as engrenagens da existência para girar em direção à realização do meu maior sonho material, a reforma do banheiro e do quarto. Sonho com isso há muito tempo.

[18:30, 1/22/2019] Primo-Irmão: A ciência, né?
[18:33, 1/22/2019] Mário Barros: É. A evolução das tecnologias nas diversas áreas. Evolução exponencial, como vem se dando.  Até o surgimento da Inteligência artificial capaz de se auto-evoluir, ou melhor, o surgimento da supraconsciência terrestre. Questão de fé, como a vinda do messias.

[18:35, 1/22/2019] Primo-Irmão: Entendi. É o caminho da ciência então
[18:36, 1/22/2019] Mário Barros: É, é a ciência como religião e redentora do ser humano. Uma fé, infundada como qualquer outra. :P
[18:37, 1/22/2019] Mário Barros: Ou fundamentada como qualquer outra.

18h38. Não estou com paciência para internet e o maravilhoso mundo dos bonecos hoje, só encontro disposição para a escrita. Esse papo com o meu primo-irmão, que começou com o cansaço de três gozadas, está deveras interessante, pois, como o meu amigo da piscina e até por causa dele, peguei gosto por pregar a minha fé. Vou fumar. Preciso de uma pausa para sentir falta de estar aqui.

18h57. Tirei uma foto das garrafas de água sanitária, pois acho um produto interessante, visto que provavelmente letal se ingerido. Meu irmão me mandou uma mensagem. Respondi algo que o deixará chateado correlato com a mensagem que ele enviou. É interessante ter a suposta morte tão acessível dentro de casa. Mas seria uma morte tão dolorosamente excruciante que nem me atrai. Ademais, não quero morrer. Minha vida nunca esteve melhor. Há até a distante possibilidade de Blanka. Há a possibilidade de sexo com Blanka, por mais que me sinta intimidado a esse respeito. É algo chato em mim, esse medo de meter. Espero que Blanka me ajude a superar isso quando do meu presente de Natal. Desejo muito a sua nudez e me enroscar na sua nudez. Apreciar com todos os sentidos possíveis a sua nudez, me embriagar nela. Me esfregar na sua nudez, lambê-la, apalpá-la, alisá-la, cheirá-la, beijá-la. Ah, como o desejo da sua nudez me é promissor. Tudo depende de nós, mais de mim, nos entregarmos corporalmente. Uma vergonha, um receio me toma agora em relação a isso, não sei porque essa frescura em relação a isso que é das melhores coisas de ser bicho homem. Acho que vem dessa minha postura de ser só racional, desumanamente racional e tocar só as teclas desse teclado USB.




19h15. Tirei foto do teclado. Vou beber mais um café com cigarro. Talvez Coca e cigarro. Amo a minha mãe. Estou com saudade dela agora. Se estiver acordada quando passar declararei meu sentimento por ela e lhe darei um beijo cheio de carinho. Carinho infinito, de alma toda. Esse Gmail do celular é uma merda, não envia as fotos, é de lua. Às vezes o faz superrápido, noutras, simplesmente não o faz. Nossa, me lembrei! Tirar a bateria do notebook. Putz, deixei por dias, desde Areias, conectada ao computador, que vacilo. Vou satisfazer as minhas necessidades orais.

19h36. Tudo em mim pedia por Coca, mas a parte desobediente de mim me serviu café, o resto da garrafa. Tomei, fumei e agora tenho Coca com muito gelo ao meu lado. Enquanto a irmã da fantástica faxineira, que trabalha também aqui em casa, sonha em viajar, eu sonho em permanecer aqui e começar um novo post sob um estado alterado de percepção, uma ótica diferente sobre a existência. Sempre me apraz sobremaneira. E este post acabou, poderia fazer isso imediatamente, já me permito e sinto confiante para tanto, mas antes, vou pegar as fotos com o cabo USB do celular, visto que os e-mails não chegaram, revisar e postar isso. Só não sei se divulgue, é um post tão inútil.

20h06. Acabei de revisar e redimensionar as imagens. A ironia é que quando acabei de redimensionar a segunda, ambas puxadas pelo cabo USB, os e-mails chegaram. Que celular escroto. Recebi um comentário no post anterior, relativo a foto da privada, foto deveras íntima. Foi engraçado.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

LIXO DEDICADO A BLANKA


“[22:04, 1/18/2019] Mário Barros: Tia Caçula, assisti Vidro hoje e recomendo fortemente que você assista Fragmentado antes.

[23:48, 1/18/2019] Tia Caçula: Massa
[23:48, 1/18/2019] Tia Caçula: Fui ver a esposa:)

[00:28, 1/19/2019] Mário Barros: Ufa!:)”

E outro ainda, que me levou a refletir. Escrevo sobre as reflexões a posteriori.

“Beijo, vou escrever. Pensa direitinho se tem condições de trabalhar amanhã. Para não machucar mais. Tenho certeza que a sua sogra vai compreender se você explicar a situação. Mas a perereca é sua, não me meto nisso... Ainda! Hahaha”

Já fui ao motel duas vezes com Blanka e não penetrei nela. Não me senti confortável para fazê-lo. Não gosto de motel, é feito para o sexo, sexo parece ser uma prática obrigatória, compulsória no motel. No caso dos homens, o sexo parece ser representado pela penetração, o meu sexo foi chupá-la e lambê-la e beijá-la menos do que eu queria, mas o suficiente para achar que foi uma boa dose de sexo para mim, me fez querer mais, mas não penetrei, não cumpri o meu papel de homem num motel, noutra vez, a segunda e última, ficamos conversando, jogando videogame e conversando e eu beijei o seu rosto todo com o máximo de carinho que eu tenho. Nem a boca beijei. Não toquei os seus deliciosos e desejados lábios. Acho Blanka linda. E acho esse texto feminista, ou melhor, um exemplo único de humanidade, uma humanidade que não segue padrões e que não entende a mulher como um buraco morno e úmido para enfiar o pau, até liberar o esperma como um macaco, mas como uma companhia, um ser humano como eu, com todas as suas complexidades. Eu só pedi que entre nós houvesse respeito, honestidade e sinceridade. Mas da próxima vez a pedirei nua, provavelmente num antro de sexo, quando poderia estar no meu quarto com ela. Ela disse que havia algo atrás da TV um botão redondo como um joystick de videogame onde se pode ligar e navegar a smart TV. Não vou procurar agora, até porque não acho que exista, o que é um demérito com a informação da minha parceira. Só por isso vou procurar o danado do botão.

00h56. Nada de botão e nada de luzinha que pisca quando aperto o controle. Passando Loser de Beck. Será que ela inventou ou ouviu falar nisso? Pode ser que haja TVs assim. Não é o caso da minha. Que simplesmente não liga através do controle, acho que não está chegando energia elétrica nela. Passando Virus de Björk. Vou fumar. Ver onde isso me leva.

1h08. Nossa me levou a um pensamento em Blanka que foi seguido de uma megalomania. Pensei em dar a Blanka o password de acesso para os meus blogs secretos e dizer, isso é sua herança, só os seus olhos e os meus poderão ver, e, se eu que só faço escrever em algum momento for reconhecido e meu nome gerar dinheiro, se meu texto gerar dinheiro, você pode ganhar uma grana vendendo o conteúdo desses blogs, lhe dou total direito sobre eles. Quando eu morrer, será quando o meu nome estará mais valorizado, então será a hora de tentar fechar o negócio. Não pensei tudo isso, assumo, parte me veio agora motivada pelo ataque de megalomania que me atingiu antes: meu tio consegue fazer o livro ser publicado, o Diário do Manicômio e ele faz algum sucesso, o suficiente para publicar o meu segundo livro Eu Sou Assim e Ninguém Tem Nada Com Isso, sempre escrevendo o blog, que é a minha obra máxima, gratuitamente oferecida aos leitores. Não mais publicaria livro algum, me dedicaria aqui ao meu blog e quem quiser que lesse. Acho que o número de leitores aumentaria por um curto período, não sei se teria long tail. Quem me dera arrebanhasse alguns fiéis. Me sentiria com o meu dever na Terra mais que cumprido. Interessante é se a publicidade do meu site começasse a dar lucro, eu não me lembro para que usar o lucro. Certamente para ajudar causas humanitárias que eu apoio, mas era para outra coisa que tinha a ver com o meu próprio site. Eu poderia começar a receber perguntas e comentários e me comunicar diretamente com o público. Seria bastante curioso, mas nada disso vai acontecer. Por falar nisso, preciso escrever a nova parte do meu projeto secreto. Mas não hoje, não agora. Estou com uma dor no couro cabeludo, como uma inflamação, mas marca não se vê. Pensei em que cabelo gostaria de ter uma vez na vida: o cabelo longo e vermelho como poderia ter ficado quando descolori e pintei com o auxílio do Imperador da Casqueira, que aportou sua nobreza no Recife (antes era mais dado a viagens, talvez viesse por meu irmão). Nunca saberei, sei que era o seu principal parceiro, ou assim quero crer, conversávamos sobre tudo, inclusive minhas dúvidas em relação ao homossexualismo. Ele me levou até a o gueto gay da cidade, no Mustang e arredores. Até à Doktor Froid, há muito extinta. Bom, ele me ajudou no processo capilar, mas eu encasquetei que a tinta que a minha tia vizinha trouxe da Inglaterra especialmente para isso não daria para todo o cabelo, cortei o cabelo de um jeito ozzy e fiquei com um visual muito ozzy, ainda bem que eu próprio não me via, nem barba eu usava, nossa, estar sem barba, com a cara lisa é um pesadelo para mim, acho que nasci para usar barba, ou é como me apresento sentindo menos feiura no mundo. Tentei um bigode uma única vez e o abandonei prontamente, achei horrível. Deixei a barba engoli-lo. E não mais tirei, embora tenha passado máquina dois que é como se saísse de sunga por aí, mal comparando. Vou repor a Coca, fumar e comer um biscoito Bono de chocolate. Eita New World de Björk, linda e grande, belíssima, orquestrada, como uma flor que desabrocha e revela sua esplendorosa cor sonora. Não direi qual é a cor sonora que me evoca, é bom para quem nunca viu o filme ou a cor do CD imaginar sua própria cor. A capas me influenciam muito sobre a percepção do disco. O objeto disco é uma obra visual tanto quando é sonora e Björk entende isso e até nisso é de vanguarda, mesmo que as capas sejam todas retratos seus. Ela manda criar fontes para cada disco, é primoroso.

1h54. Fui fumar ainda pensando em Björk, descobri que acabaram-se os gelos de fácil remoção da caçamba, agora, só molhando. Estou com frio, vou desligar o ar. O interesse do pessoal da pizzaria pelo meu blog me enche de orgulho. Um viu meu texto como mera descrição do que acontece ao meu redor, não viu a parte em que narro o que decorre dentro de mim. Talvez nesse veja, se ler. Se ler, saiba que fiz o que a menina daí me pediu e fui ao site da pizzaria fazer um elogio sobre o excelente atendimento da filial de Casa Forte e mandei o link dos dois posts em que os havia mencionado até a ocasião. Os vejo quase diariamente, um vínculo se cria pela repetição, talvez por carisma deles, talvez por carisma meu, ou pela soma dos carismas disponíveis. Sei lá.

2h02. Pensei que não falei de Björk duas coisas que me passaram pela cabeça e olhei para as coquinhas e que elas vão todas para o frasco de memórias, mas pretendo guardar alguma Cocas, em especial a da garrafa que ficou deformada e representa quão deformada a minha alma pode ficar. A achei na mochila vermelha que usei em uma das minhas recaídas de cola, sofrida recaída, como são a maioria, senão todas, quando eu levo mochila, minha mãe tem meio que repúdio pela mochila, eu a vejo como uma lembrança de guerra, da batalha que travei primeiramente comigo mesmo de adequação à vida, até achar o meu lugar no mundo, que é exatamente este em que estou, a Coca é outro troféu de agora, representa me aceitar e estar em muito mais harmonia com a vida, sendo eu mesmo a maior parte do tempo, senão todo ele; não, todo ele, não. Mas uma parte maior que a maioria, eles são conformados, ou seja se adequam as fôrmas, eu sou livre, conformado com as minhas próprias leis e vontades. Que se resumem a escrever e agora a Blanka. Blanka é um mundo novo, um novo território, um novo continente onde aportei por causa do acaso-destino, meu gosto e o Tinder. Saí para fumar e voltei. 22h29. Um dos pensamentos que me passou pela cabeça é que se Björk me chamasse para ser seu companheiro, a acompanhando aonde fosse, eu largava tudo – inclusive Blanka – e me mandaria atrás dela, para tentar aprender a viver tão plenamente como ela. Acho nós dois seres peculiares que se dariam bem. Mas não interferiria no seu trabalho, a não ser sugerindo que fizesse um disco em dupla com os Strokes. É o disco mais sonhado da minha vida. E não passará disso, o que podia fazer para realiza-lo, eu fiz, postei mensagem nos fóruns dos sites de ambos fazendo a sugestão. Vou comer mais, preciso.

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16h22. Comi todos os pacotes de biscoito que mamãe comprou, nas diversas vezes que acordei durante a noite. Acordei agora a pouco e sou um ser completamente outro do que foi dormir e o pouco que me lembro do que escrevi faz sentido para mim nesse momento. Deixei a liberdade de pensamentos solta e deu no que deu. Me diverti elaborando e isso para mim já torna o texto válido. Hoje é aniversário da minha irmã e postei um textinho muito mal escrito, relacionado às mudanças que encarará com a família nessa nova etapa da vida. A vontade de voltar a dormir que me consumia e me controlava minutos atrás está passando e aos poucos vou me parecendo mais comigo, com o eu que tenho mais afinidade de ser. Precisaria de café. Talvez bote um para fazer, agora vou de Coca com cigarro.

16h45. O café está pronto – santa cafeteira que a minha tia caçula me deu – seu cheiro é sedutor, mas enchi outro copo de Coca para aproveitar o gelo e por ser um ato quase mecânico, automático, voltar do cigarro e completar a Coca. Quando acabar, parto para o café. Pensamentos de Blanka, Vidro e da pizzaria me cruzam a cabeça, nada muito consistente que mereça ser narrado, só que tenho o desejo de ter uma foto alegre de mim e Blanka, tirada bem de perto, isso é essencial, para ornar a sessão de fotos do meu quarto. Não haverá muitas, mas quero todas e cada uma delas em um porta-retratos diferente. O que será que se deu com a minha TV? Por mais que não a use, me sinto meio órfão das possibilidades nela contidas, de as ter acessíveis se o desejo surgir. A tarde cai vertiginosamente, quase não enxergo as teclas, em breve, quando for pegar o café, acenderei a luz do teto. Lembrei-me agora, numa derivação do pensamento contido na mensagem que enviei à minha irmã, que o chamado da cidade, de Munique, pode me ser irresistível. Numa derivação ainda mais distante, pensei que seria um prazer tomar uma cerveja com a Portuguesinha, moçoila encantadora em todos os âmbitos, a garota perfeita no continente errado e já muito bem acompanhada. Não sei o que me atrai nas pessoas já comprometidas, não que o saiba à primeira vista, mas não desisto quando descubro tal fato. Acho que foi um padrão que foi bem-sucedido uma vez e, por isso, por esse sucesso único, penso que vale insistir nas demais. Tolo eu. Que seja, só estou tentando ser feliz da forma que sei. E não creio de fato no padrão, prefiro crer em coincidências, as melhores garotas já foram tomadas, penso que essa é a melhor explicação. Vou mudar para o café, cairá muito bem com um cigarro.

17h20. Nossa, que prazer a primeira xícara de café com um bom cigarro, me sinto revigorado e grato a existência pelo momento. Acendi a luz como combinado. Ainda rola um tempo até ter a certeza que Blanka é a pessoa certa para receber a herança que mencionei. Ela terá o poder de apagar tudo após a minha morte, tornar os blogs públicos ou publicar se houver demanda para essa última opção. Os direitos iriam todos para ela, pois deixo aqui documentada tal vontade. Quando acabar esse post, vou escrever no meu projeto paralelo e secreto. A terceira página acabou de acabar, o tempo às vezes é de uma precisão surpreendente. Vou revisar e postar o anterior. Talvez revise e poste este em seguida, não sei. A inclinação da minha alma ao final do processo de publicação do outro me guiará. O café me deu calor, liguei o ar. Hoje amo muito o universo e a minha condição nele, a forma como meus atos se manifestam ilusoriamente sob o meu comando, eu, essa entidade imaterial que me parece tão real a ponto de me dedicar a ela. Grande mistério. Vou lá para o anterior. E, desde já, percebo que duas páginas não são suficientes para caber um dia inteiro de ruminações.

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16h22. Nossa, querida Blanka, você estava certa! Há um botão como um joystick, exatamente como você descreveu, na minha televisão, acabei de descobri-lo dando uma segunda chance à sua teoria! Saí alisando as extremidades da TV e bem no meio, embaixo, achei o tal pitoco! Não sabe como isso faz diferença para mim. Desculpe a descrença, me sinto profundamente envergonhada por ela no momento. A TV não liga, entretanto. Não sei o que se deu. Talvez venha a acrescentar mais coisa aqui quando da revisão. Queimei minha língua e agora pago com vergonha pela minha ignorância. Mais uma vez peço desculpas.