quinta-feira, 2 de junho de 2016

VIAGEM REGRESSO

Estamos a bordo do primeiro avião da nossa jornada. Minhas unhas, que não cortei desde que deixei Recife, fazem estranha diferença no ato de digitar no celular, além de aspecto de uma pessoa pouco asseada. Mamãe pediu para lembrá-la de pedir a computação das milhas no check-in do nosso vôo. Se chegarmos a tempo, pois teremos menos de três horas para nos deslocamos de um aeroporto a outro, em pleno rush nova-iorquino. Nos cercamos para isso da melhor forma que encontramos. Aliás, que minha irmã encontrou. Alugamos uma SUV com chofer que nos receberá na saída do vôo com plaqueta com o nome da minha mãe e nos ajudará a colocar a bagagem na SUV. Espere; estamos decolando! O vento do ar condicionado parece seguir a potência do motor. É estranho, fica  variando, parece uma ventania em alguns momentos. Vamos ver o que acontece quando estivermos voando normalmente.

Aparentemente há um congestionamento de aeronaves decolando e pousando. E a nossa entrou em uma fila de espera. Atraso este que torna nossa estadia em Nova Iorque ainda mais emocionante., 17:13. Decolamos. Novamente me intriga a ilusão de que as ondulações do mar estão paradas. Deve ser porque vejo de tão longe que o deslocamento parece insignificante. Também me espanta novamente a impressão que tenho de que os Estados Unidos é muito mais habitado, muito mais ocupado territorialmente que europeus. Talvez isso se dê porque estejamos viajando pela parte mais plana do país e perto do litoral,enquanto que na Europa passamos até pelos Alpes.
Mas a sensação de aproveitamento da área aqui é bem mais intensa que na Europa e,  que dirá, no Brasil. Não passo sequer um minuto de vôo sem ver intervenção humana na geografia. E acredito que será assim até Nova Iorque, como seria assim também, eu suponho, se descêssemos até a Flórida. Não suponho que assim seja nas regiões de relevo menos favorecido ou clima mais desfavorável.

17:56. Estamos em Nova Iorque. E não, não deu pra ver a estátua. Infelizmente...

18:59. Agora está para começar a parte mais interessante de nossa aventura turística. Nosso passeio de SUV pela Big Apple, rumo ao aeroporto JFK. Só não vai ser pior que a alfândega do Brasil.

Yellow cab? Check. X-Men ad? Check. Yeah, we're on NY.


18:49. Estou  numa black SUV no meio da Rush hour, com um motorista marroquino. Só falta o cara abrir uma sacola cheia de armas! Hahahaha. Mas estamos falando sobre política brasileira instead.

21:02. Depois de um grande desencontro, que fez mamãe "desistir de viajar comigo enquanto eu fumar", estamos dentro do avião. Então, após um exercício da arte do desespero, teremos agora um longo exercício sobre a arte da espera, pois, para mim, viajar longe da janela significa esperar - sentado ao menos - a chegada a algum lugar.

Lugar este a milhares de quilômetros e a quase dez horas de... Espera...

A vinda para mim foi excruciante. Dez horas sentado, entre duas pessoas que dormiam, com o meu monitor quebrado e apenas essas palavras para me acalentar, mesmo assim a custa de microvotoveladas no passageiro do lado direito a cada tecla digitada. Não havia como evitar. Não conseguiria esperar sem digitar ou dormir, então, como não consegui o segundo, liguei o foda-se e fiquei escrevendo a madrugada inteira.

Mas tudo isso já é sabido do primeiro post sobre a viagem. Esperem. Tenho que desfrutar da descolagem, pois depois, pouco muda. A não ser o gradativo envergamento da paciência. Mas acredito que hoje, desprovido da excitação da novidade e ao acúmulo de noites não dormidas, perdido em frente a um computador, sucumbirei a Morfeu mais cedo.

21:47 e ainda não decolamos, well, maybe this is NY. Deve ser rush hour na pista de decolagem também. Saco.  Cada minuto a mais, mais longa torna-se a espera.

22:56. Foi só eu comentar, que o danado começou a fazer as manobras de decolagem. Agora tomamos os ares e somos grão de céu. E agora, grão de céu, prisioneiro da cabine do avião, única coisa que me coloca e me impede de cair neste abismo enorme entre eu e o chão. E, nesta situação bastante peculiar, só me resta esperar até que piloto e máquina decidam reduzir este abismo de novo a zero. E qual a melhor maneira de esperar? A alienação total do sono, eu diria, e digo e é o que vou tentar fazer. Inté. 23:13 (horário do Brasil de volta).

Mas, como sou desobediente de mim, insisto e cá estou eu ainda com as palavras; minhas doces e preciosas palavras. Amigas nas horas de espera das alturas, nas partes leves como nuvens e duras como o chão.

23:26. Opa, vão servir alguma coisa. Epa, seviram água. Que ozzy. Tô com fome e sede de Coca Cola. A espera é inesperada e perniciosa, pode destruir até as mais reles expectativas, como...  Comida de avião. :P

23:37. As luzes continuam acesas e assim também permanece a esperança de um lanchinho.

21:42. Lanchinho até agora, necas. Mas descobri que o topo das poltronas do avião, a parte onde as cabeças se apóiam são extremamente configuráveis, dispensando inclusive aquelas coleirinhas de almofada que a galera compra para dormir. 23:49. Parece que enfim teremos lanche! Eba! O lanche é um dos maiores quebradores do marasmo da espera. Os outros são filmes e escrever. O sono é o Santo Graal.

0:35. O lanchinho foi legal. Salada de camarão (uma coisa estranha dentro de mim me fez escolher isto entre frango e pasta, não me pergunte que eu não sei o que foi), frutas (aí já é demais, passei pra mamãe), biscoito salgado para comer com um queijo meio cheddar, meio polenguinho, um mini ciabatta para comer com manteiga ou assim fiz minha combinação de queijo, manteiga, pão e biscoitos. E pra fechar com chave de ouro, um brownie genuinamente americano. Eu achei show. Para a expectativa que estava, veio mais que a calhar. No som do avião, coloquei Dire Straits para tocar. Queria mesmo ouvir "Why Worry" e não é que a danada tocou duas vezes, é só tocaram três músicas?! Será que vai dar tudo certo na alfândega? Será que a sorte chega até aí? Será que meu Silver Surfer vai chegar inteiro com essa invenção de mamãe de tirar o bicho da caixa e enrolar em roupas? Será que vão abrir a caixa e roubar o que tem dentro? Putz, pense que aí eu ficaria arrasado. Nem pensar nisso para não atrair. Aliás, "why worry", o que tiver de ser será. E não há como mudar o que fora do nosso controle está. Fiz assim só pra rimar e ficou uma rima de amargar. Mas com sinceridade pra vender e dar. Se roubarem meus bonecos mais preciosos e o outro ainda vier quebrado, que poderei eu fazer, além de me sentir profundamente frustrado? Talvez tentar não me frustrar tanto assim. É o melhor que posso fazer se o pior dos piores acontecer. E ainda tem a alfândega engolir as notas do bazar. Tem tanta coisa para dar errado que nem sei se valeu o escopo da empreitada. Se fosse voltar para um país civilizado, primeiramente não poderia fazer a mandinga das notas, mas a caixa teria altíssima probabilidade de chegar intacta. Já no Brasil, com esse clima de "se todos roubam..." fico bem mais cabreiro.

1:20. É assim, eu voltando parece que os problemas  começam a ficar maiores. Tudo paranóia. Novamente, o que será, será; why worry now?

Às vezes dá uma turbulenciazinha no avião aí lembro que não tem chão abaixo das ferragens sob meus pés. Com sorte, meus bonecos ainda estão lá. Embaixo dos meus pés. Intactos, apesar do frio intenso. E em cima da minha cabeça, também intacto, o Silver Surfer. Só estou escrevendo bobagens, vou tentar dormir. Ou ver um filme. Mas assistir o filme seria só para agradar mamãe. Não quero assistir filme agora. Não há filme que me interesse e eu tenho péssimas experiências com vídeos em aviões. Por sinal quem inventou o nome avião para esta máquina que me carrega a altíssima velocidade a uma altura absurda foi extremamente simplório e criativo. Não consigo conceber nome mais adequado, bem-humorado e fácil de concatenar com a coisa em si. Obviamente, derivado de ave, um avião. Genial. Perfeito. =D

Como eu disse que sou do contra de mim mesmo, vou ver se assisto um filme, chama-se 10 Cloverfield Lane. Ou vou dormir. Minha mãe me deu os remédios agora. Sei lá o que faça. Acho que vou tentar o Santo Graal. Cloverfield fica para quando eu acordar.

3:02. Não deu nem para o filme - sem som - nem dormir. Mamãe acaba de passar mal e vomitar, então, tenho que ficar resguardando ela.

7:24. Em algum momento no meio dessa, para mim, interminável, porção de espera eu dormi e dormi profundamente, como se o tempo em que eu passei desacordado não tivesse existido.

O mais curioso desse tempo é que não tossi uma só vez (que me recorde), porém, ao acordar fui acometido por inexplicável crise de tosse, que durou do momento em que fui acordado até alguns segundos atrás. Estamos descendo e rápido  sinto os sinais da compressão forte nos ouvidos. No monitor, anexado à poltrona em frente à minha, 13 minutos nos separam da alfândega. A paranóia bateu com força agora. O vídeo que passou da alfândega me deixou noiadão. Bom, seja o que Deus quiser. 3 minutos para pouso. Não há muito o que fazer agora.

Aparentemente, chegamos cerca de meia-hora antes do horário previsto e tem um avião ainda em nosso "gate". Até que ele saia, para que possamos nos acoplar à estrutura física do aeroporto é uma crescente hitchcockiana de tensão frente a um inevitável noves fora. Vou ouvir música que é o melhor que faço. 8:05.

A modorrenta e caótica burocracia dos embarques brasileiros vai me roubar a oportunidade de fumar. Já estou vendo... 9:37...

-x-x-x-

22h42. Já estou em casa há bastante tempo, com todas as malas, sem problema algum com alfândega. Ou seja, estou mega feliz. Como é bom usar o teclado já conhecido do meu agora antigo computador. Não sinto a mínima vontade de ligar o novo, não sei por quê. Acho que é porque não estou acostumado com as teclas, não tem nenhum programa, não me é ainda extensão de mim como este, que me acompanha a bons cinco anos. Cinco anos desde de que meu pai cessou de viver. Mas falando de coisas boas. O Silver Surfer chegou inteiro e criei coragem e montei o Demolidor da Sideshow que eu trouxe. Fazia mais de ano que queria ver essa peça montada. Ver um Sideshow meu ao vivo, poder tocá-lo e a sensação é fantástica. O único problema é que não sei colocar na caixa de novo aí fiz um vira e mexe aqui no quarto para cabê-lo enquanto não tenho espaço apropriado para exibi-lo. Está ao lado do meu meu PS3 vermelho e da minha coleção da coca-cola, então eu passei a chamar esse canto do meu quarto de red corner. Não consigo parar de olhar e me abestalhar com a perfeição da figura. Valeu este um ano de espera. Agora vou postar isto aqui e ir assistir finalmente ao anime Evangelion, do qual comprei a edição completa com todos os espisódios em DVD. Parece que não lançaram, desde 2005 a versão em Blu-Ray. Não importa, agora vou descobrir se minha fixação por bonecas do Evangelion - Rei e Asuka - realmente tem fundamento. Espero por esse momento de assistir o desenho há quase uma década. E se o anime triscar só de leve na imensa expectativa que tenho em relação a ele, já me darei mais do que satisfeito. Não faço a mínima idéia da estória, não faço a mínima idéia de nada, a não ser que Rei e Asuka estão no desenho. Espero, pelo menos que elas sejam protagonistas. A edição que comprei está bastante conservada, parece nova até, para algo de 11 anos atrás. Espero que não tenha nenhum DVD arranhado. Aí iria ser o ó do borogodó. Bom, vou lá tirar a prova. 22h55.

Ah, publico amanhã, ou depois de ver um pouco de Evangelion. As fotos que mando do meu celular para o meu e-mail demoram uma cara para chegar. Arre!

Foi só eu resmungar que as fotos chegaram. Assim vou virar resmungão. ;)


Não parece, mas este boneco é grande. E maravilhoso! =D

Randy Bowen at his best. 

O grande mistério será revelado em instantes.

2 comentários:

  1. caramba tua mae vomitou? Pq? Foi tranquilo o pos-vomito? Ela ta bem? Beijos
    cunhado e ja estamos com saudade!

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    1. Vomitou e foi dormir. Tranquilérrimo. Ainda bem! E Bella, a estátua do Demolidor (Daredevil) é ainda mais linda que a do surfista. A do Capitão América só abri, mas não tirei da caixa, é muito difícil colocar de volta, tanto que a do Demolidor está montada aqui, no último espaço disponível no meu quarto porque não sabia mais desmontá-lo e colocá-lo na caixa. Vou ter que passa ordens estritas à faxineira para ela não tocar nem no Demolidor, nem no Surfista Prateado. Se algum deles aparecer com algo quebrado aí tu vai me ver enfurecido. No mais, tudo em paz, parece que mamãe não achou uns cremes que comprou, mas fora isso, tudo ok. Amanhã já vou para o CAPS. Se conseguir acordar! Beijos em todos aí. Vontade de comer um cookie ou pão de milho antes de dormir... ;)

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