terça-feira, 19 de abril de 2016

39





Agradeço a todos que me felicitaram no Facebook. Completei 39 anos. Já dei 39 voltas ao redor do Sol. Será que ele está cansado de mim? Se estiver, vai ter que me aguentar um pouco mais, pois não tenho o mínimo interesse de partir agora e principalmente agora que o inferno não existe mais. Inferno tão negro que nem o Sol para iluminar luz no final do túnel.

Já vi incontáveis luas cheias. Já vi, inclusive, uma lua vermelha. Já vi uma chuva de meteoros. Não vi o cometa Harley, embora já viesse dando voltas em torno do eixo da Terra quando ele passou. Já vivi mais de 20 milhões de minutos. Já fui dormir e acordei mais de 14 mil vezes. É, já vivi um bocado. Já me apaixonei algumas dezenas de vezes. Fui retribuído cinco vezes. Espero ser retribuído mais uma, pelo menos. (A esperança não se perde aos 39.) Estou às portas dos famosos “enta” e estou bem convicto que dos “enta” não passarei. Seria muita presunção da parte de um ser autodestrutivo como eu. Minha tia, que ligou para me felicitar com minha babá, disse que estou entrando na idade do lobo, o que quer que isso signifique. Sei que gostei do nome. Do bicho.

Estou numa fase boa, mas me sinto um lobo sem alcatéia. Um lobo da estepe. Solitário. De resto, tudo anda bem. Se tenho sonhos aos 39? Alguns. Ter uma paixão recíproca, ter um quarto organizado para expor minhas bonecas, ver um show de Björk, encontrar mais com os amigos... eita, não consigo pensar em mais nada que eu deseje ou aspire. Não tenho alma de viajante, não me interessa de fato conhecer o mundo, pelo menos não por ora. Até porque acho que o mundo está ficando cada vez mais igual por causa da internet. Ela está homogeneizando/fundindo culturas e acho esse um processo irreversível, porém nunca completo; particularidades hão de haver em cada cultura do planeta. Ah, sim, por falar nisso, gostaria de estar vivo para ver o que a Singularidade fará com a humanidade e com todo o resto. Gostaria de ter uma morte sem sofrimento grande também, mas acho que não serei agraciado com isso justamente pelo que fiz e ainda faço com a cada vez mais velha máquina na qual estou encarcerado. Das coisas que têm me perturbado, a memória, ou, melhor dizendo, as falhas dela são o que mais me assusta. Espero ser fruto das medicações, mas temo não ser esse o caso. Talvez sejam sequelas do somatório de substâncias – e aí incluo os remédios também – às quais submeti meus neurônios ao longo dessa jornada pela vida. Seja como for, comprovo que o homem, assim como a maioria dos animais, é um ser adaptável e já encaro com menor perplexidade as faltas que a memória me prega.

Lembrei de outra coisa que gostaria: zerar pelo menos dois terços dos jogos de PS3 que tenho. Ando meio desanimado com videogames. Sem paciência. Se o desafio fica muito difícil, eu desisto. E filo na internet quando empaco, sem o menor pudor. Já fui um “samurai” dos videogames, me sacrificando até conseguir superar um obstáculo. Hoje, eu o vejo não como uma forma de provar minha honra e valor perante outros gamemaníacos, mas como uma forma de passatempo. E, como tal, deve ser divertido, não frustrante. Comecei um game recentemente, muito aclamado, Bioshock, mas não fui com a cara do jogo. Se bem que joguei menos de duas horas, mas não gostei. Vou investir mais um pouco porque o samurai ainda não desapareceu por completo em mim, mas tenho minhas dúvidas de que vou entrar no clima do jogo.
Vou deixar videogames de lado, senão vou começar a falar da fase de God of War que está me deixando puto e por aí vai. Acho que vou jogar Flower esta semana, ponto. Ah, e quem puder, jogue FEZ! Agora aviso: é impossível zerar sem filar na internet. Mesmo assim é 10. Entre os melhores que já joguei. Sim, mas falei que ia parar de falar em videogames. Também não vou entrar na seara das bonecas porque aí vai ser outra lenda sem fim.

Quanto aos amigos, os vejo mais virtualmente do que presencialmente e, nesse aspecto, sou mais afim aos costumes mais antigos. Índios reunidos à noite em volta da fogueira da taba, olhos no olhos, dança, canto, risos, comunhão.

Quanto às paixões, um amigo meu apostou com outro amigo que desencalho esse ano. Já estamos quase na metade do ano e se eu pudesse apostar, certamente não seria a favor do otimismo. Mas, comigo, pelo menos, as paixões surgiram dos lugares e momentos mais inesperados, logo, tudo é possível. Ou quase.

Quanto ao futuro, não olho muito adiante, sigo de dia em dia, sorvendo o que há de bom em cada um deles, sofrendo o que há de ruim quando algo ruim acontece, sendo surpreendido ainda, mesmo tendo 39 anos. Com boas e más surpresas, de menor ou maior relevância. Ando ansioso com coisas mais esdrúxulas do que costumava ficar, pois acredito que minha nova rotina me impila a isso. Coisas antes menores tornaram-se mais primordiais e por isso merecem maior atenção que antes. Não é algo ruim, é uma consequência das escolhas que a vida me obrigou a fazer. Mas tentarei me educar para minimizar esta ansiedade. Ainda está entranhada em mim a mania do estresse da nossa civilização atual. E preciso me desatar disso. Principalmente agora que minha vida o permite. Aparentemente a idade – os 39 – está me deixando mais ansioso e ranzinza e mesquinho. Ou seriam o ócio e a falta de sociabilização? E o fato de não ter o meu dinheiro no bolso, sempre só sair com as quantias certas para o que vou fazer? Não sei. Acho que um somatório de tudo isso seria a melhor explicação. Mas, certamente a idade entra na jogada. Ou então, como convivo basicamente com dois ansiosos estressados de plantão eu esteja pegando por osmose. Sei lá. Sei que tenho que relaxar mais e parar de me preocupar com coisas bestas. Uma das metas para os 39. Para antes dos “enta”. Afinal, nunca fui um cara muito estressado, não será agora, a esta altura do campeonato que me tornarei um. Espero. Agora, pensando bem e fazendo um retrospecto, acho que sempre fui um cara ansioso. Para tudo o que quero ou desejo pelo menos. Sempre fui um cara ansioso, ponto. Ansiedade não leva a nada. Embora, para mim haja ansiedade boa e ansiedade ruim. Ansiedade boa é quando a expectativa é de algo bom acontecer. Ansiedade ruim é quando se espera o pior. É dessa última que quero me livrar. A primeira até que é gostosa de sentir. Por isso deixo o melhor bombom para o final. Hahahahahahaha.

Tenho ouvido muito o primeiro disco de Maria Rita. E quando falo muito, isso significa todas as infindas horas que passo no meu quarto. Peguei sem muita pretensão da pilha de CDs, lembrei de um feriadão que passamos a turma na praia, na época que o disco estava bombando e era super “in” e botei para tocar. Não lembrava de todas as músicas, aliás só lembrava das duas de Marcelo Camelo, mas ao ouvir o CD de cabo a rabo achei delicioso, do começo ao fim um deleite de ouvir. E tenho ouvido desde então. Tentei alternar pelo “Songs of the Universe” do Depeche Mode e o “Honey’s Dead” do Jesus & Mary Chain, mas acabei voltando para ele. E nele fiquei. E nele achei uma coisa curiosa: três das músicas falam da cor clara dos olhos da menina. Não sei se foi mera coincidência, mas é um fato que me intrigou. Eu que tenho essa fixação por padrões. Ou acho que tenho. Acho que é para contrabalancear: um ser caótico com fixação por padrões. Uma ironia do destino. Se bem que, afinal, não somos todos os humanos, seres caóticos com fixação por padrões? O reconhecimento de padrões não está no cerne da cognição? Ou estou enganado? Sei lá. Devo ter falado mais uma asneira. Mas o que é isso diante da quantidade incontável de asneiras que já disse? :)


Bom, mas acho bom ficar por aqui. E fico com uma música do Legião que me traz a nostálgica lembrança de quando eu achava que quando chegasse na idade da música em questão tudo se resolveria para mim também. Não se resolveu. Mas, chegando aos 39 confesso que estou mais perto do que longe, há muito mais coisas resolvidas que por resolver, embora estas sempre surjam ou então a vida perderia a graça. Tenho a mania de resolver as coisas do meu jeito, mas há algumas muitas vezes em que isto não é possível. Que posso eu então fazer? Dar de ombros e seguir a caminhada, agora rumo aos “enta”. Talvez quando chegar lá, eu deixe de ser tão “talvez” ou "e se" e passe a ser, quem sabe, um “então”. ;) 


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