Estou devendo isso faz tempo, umas três semanas, no mínimo.
Houve e está havendo uma série de acontecimentos que me impediram de escrever,
além de uma falta de ânimo por sentir que fazê-lo afigurava-se para mim como
uma obrigação, um trabalho que havia prometido ao bróder que vende cervas
fazer. Agora não, por qualquer carga d’água que não me alcança compreender.
Apenas me sinto disponível para isso agora. É isso. Vamos lá.
-X-X-X-
Três semanas (acho) para o meu cérebro de Dory são muito
tempo, então a maioria dos pormenores se perdeu em algum recôncavo inalcançável
da minha memória. Sei que no dia, concorria com o Forró na Caixa o lançamento
de um novo bloco carnavalesco “Amantes de Chico” dedicado ao Buarque, cuja
festa seria ali perto no Capibar. A união das palavras “novo”, “carnaval” e “Chico
Buarque” acrescidas do elã do Capibar sabia que serviriam como ímã irresistível
para o mesmo público que frequenta o Forró (confesso que até eu fiquei tentado,
ainda mais porque uma de minhas Clementines havia confirmado presença; mas
minha fidelidade ao evento é superior a qualquer outro atrativo). Gordo, quinze
quilos a mais depois de estada em casa de minha irmã e Munique onde fui com tudo
na comida, arrumei-me, pus meu melhor perfume e com o iPod atrelado à camisa e
a inseparável caneca de plástico, me mandei na minha gostosa caminhada ao som
da minha trilha sonora para a Casa Astral. A novidade que trazia era o cigarro
eletrônico, nova bugiganga comprada com o objetivo de reduzir danos, muito
embora nada ainda esteja comprovado sobre este ser mais ou menos prejudicial
que o cigarro normal. Ao menos não deixa cheiro, não faz fumaça, nem deixa
hálito. Perfeito para as gatinhas antitabagistas que, antes, estavam fora do
meu escopo.
Havia promessa de desconto na entrada, mas, como eu não
tinha meu nome na “Lista Amiga”, paguei os justos R$ 15,00 de entrada e
entristeci-me que a Coca tivesse aumentado um real, de três para quatro. Mas
talvez tenha havido aumento nos refrigerantes no tempo em que fora do Brasil
estive. Ainda assim, um preço menor que em qualquer outro lugar que eu conheça.
Fui logo como se pode ver pegar minha Coca Zero na caneca-cheia-de-gelo-até-a-boca.
Como esperava, mesmo após um longo hiato, a festa não
atraíra tanta gente quanto sua última edição, tampouco atraíra pouca gente como
sua primeira vez. O clima como sempre estava alto astral, cheio de pessoas
felizes. As mais felizes eram, sem sobra de dúvida as que, volta e meia, saiam
suadas de tanta dança do salão para pegar fôlego ou uma cerveja.
Ao vê-las, eu de dentro do meu mundo iPodiano de onde ficava
sentado, tomando coca, vaporizando e observando a celebração alheia, me
questionava por que não era eu a sair ali de dentro suado de felicidade de
dançar com uma moça. Tal incapacidade, muito mais do ego do que de falta de
aptidão para a dança (embora esta exista, mas forró é uma dança simples que
acredito, dominaria em alguns minutos) me desapontava comigo mesmo, mas não a
ponto de me incomodar (muito), como sempre acontece. Encontrei um amigo do meu
primo que posso já considerar um conhecido meu, tantas vezes já nos cruzamos
nas baladas da vida. Ele disse que havia vindo do “Amantes de Chico” e que esse
se encontrava lotado, sem lugar para mais ninguém. Como segunda alternativa
veio ao Forró na Caixa. Conversamos um pouco e ele foi sociabilizar-se, coisa
que raramente faço. Nesse ínterim, meu primo-irmão, Mateus, me ligou dizendo
que estava vindo para a festa o que deveras me animou. De fato ele chegou e
isso foi bom. Não lembro direito, mas minha impressão foi a de não termos
interagido muito tempo e de ele ao encontrar o nosso companheiro em comum foi
dançar e rodar pela festa. Não tenho certeza dessa recordação. Ela é muito mais
uma impressão que um fato do qual posso atestar veracidade.
Sei que em dado momento – e esse foi o momento crucial da
noite para mim – vi ele e o meu conhecido conversando com a minha Clementine da
Casa Astral, sua antiga moradora. Para meu grande espanto, que nem deveria ser
tanto, posto a imensa capacidade de sociabilização do conhecido de Mateus e
meu, ele a conhecia e ambos conversavam tranquilamente com ela e ela com eles.
Fiquei sabendo depois por meu primo que ele, ao mostra-me a ela e apresentar-me
de longe como seu primo, ela redarguiu que me conhecia, pois havia mandado
várias cartas para ela, deu a entender, pelo menos ao meu primo, que em sua
imaginação (dela) eu a mandava uma carta toda vez que ia à casa. Sim, eu
escrevi para ela, mas se isso se deu, foi no máximo duas vezes, embora ache que
tenha sido só uma, mas minha memória de Dory pode estar a pregar-me outra peça.
Certamente não escrevi mais que duas vezes. Achei interessante que isso tenha
se multiplicado na cabeça dela o que faz supor que ela talvez tenha se sentido
deveras assediada por mim, o que é péssimo e uma pena, já que espatifa qualquer
ilusão que pudesse nutrir em relação a ela. Em verdade não espatifa, mas encerra
definitivamente no campo das ilusões. Disse ao meu primo que se outra ocasião
de conversa entre eles se desse, dissesse que tudo o que eu queria dizer para
ela com as cartas é que para mim “ela é uma das coisas mais interessantes que
há”. Sim tal é o encanto e o mistério que evocam esta Clementine, sempre
fugidia, desconfiada e arisca como um gato. Ou gata.
No mais, a banda, pelo pouco que ouvi, tocou divinamente,
como sempre, o repertório que não varia muito. Vi o ápice da apresentação nas
covers e no Cavalo Marinho. Novamente se repetiu a sina de muitas mulheres
querendo dançar para pouco homem disposto a isso (onde infeliz e covardemente
me incluo). Se bem que, em vista de tempos anteriores, achei que havia uma proporção
maior de homens no salão, um bom sinal, principalmente para as mulheres.
Festa acabada, Mateus e meu conhecido decidiram ir ao
Barchef e eu, por imposição familiar e por ter sido este o combinado, voltaria
para casa. Em casa, a resignação de não estar lá no Barchef não veio, e
consegui persuadir minha mãe a desprender mais dez ou quinze reais e a
liberação para ir. Feliz, contatei meu primo, confirmei minha ida e pus-me na
caminhada banhada pela trilha sonora iPodiana.
Lá interagi bem mais com o
meu primo, conversamos bastante e tivemos um bom tempo um na companhia
do outro, pois o nosso colega esvaiu-se no ar, desapareceu para não voltar.
No último quarto da noite, Mateus trouxe à mesa duas amigas
e irmãs. Já havia ficado com uma delas, porém, uma negra, quem mais me
interessou, o que é para mim uma novidade, o tipo negro geralmente não me atrai
(e não há aí nenhum juízo de valor ou discriminação, é apenas como se manifesta
minha libido), mas ela, além do lindo decote que sugeria lindos seios, era de
uma personalidade forte mas interessantíssima, cativante. Foi a primeira vez
que me lembre que fiquei atraído por uma negra e isso foi bom.