quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

É QUINTA-FEIRA OU HULK ESMAGA O MEU JUÍZO

Olha quem passa o dia me vendo trabalhar nesses textos.


É quinta-feira e já são 14h14 da tarde, o que significa que esse post não vai ser longo, eu espero. Invadiram minha conta Steam, que, ainda bem, não tem nenhum carão vinculado. Foi um acesso da Alemanha. A coincidência na história é que o meu Hulk está vindo pela DHL, o correio alemão. Mas não acho que uma coisa tenha realmente a ver com a outra. Acho que vou ligar para a DHL para ver que informações ela precisa de mim. Um minuto, ou vários, não sei o tempo de espera da DHL.

15h04. Meu irmão, a DHL não poderia ter me dado notícia mais chocante que o valor das taxas do Hulk. Estou aqui com um frio na espinha só de pensar. Minha mãe vai pirar. É, sem dúvida, o último boneco que envio para o Brasil. Basta dizer que o valor é de 100 a 120% o valor do produto mais o frete. Ou seja, o dobro do que eu pensei que seria. Não sei nem se o meu cartão tem esse limite de crédito. Esse Hulk tem que ser realmente a peça mais incrível da minha coleção. Não sei nem como dizer isso à minha mãe. Fiquei sem chão agora.

15h27. Ia ligar para saber o teto do meu cartão de crédito mas meu celular descarregou justo na hora. Estou supernoiado agora. É esperar chegar para pagar. Não tem mais o que fazer. Putz grilo, bem que achei que estava tudo transcorrendo fácil demais. Que golpe da existência esse, pagar mais de imposto que o próprio valor do produto (mais o frete do produto) é surreal. Inimaginável para mim até alguns minutos atrás. Seja o que deus quiser. Mas estou agora com um frio no estômago ou um gelo na espinha, ou os dois juntos. Choque de adrenalina do caramba. Quando ouvi o valor, fiquei sem fala. E a moça, Letícia, até que me preparou. Só falta o Hulk chegar com defeito. Acho que a existência não vai ser tão cruel comigo. Não faço nada de mal a ninguém. Não é possível. Bom, eis a realidade e o que posso fazer é acolher e aceitar que a tributação brasileira para importados é ridiculamente atroz.

15h43. Estava redimensionando as fotos que tirei da Rei e do Homem-Aranha Simbionte. Queria que na do Homem-Aranha desse para ver que, em vez de preto, ele é de um azul-marinho meio metálico. Não sei se deu para captar isso. Vê aí.




15h46. Puxa, nem sei o que pensar do Hulk. Foi a coisa mais cara que comprei na vida. Minha mãe vai ficar muito enlouquecida. Meu deus do céu. Não sei nem o que dizer mais sobre o fato, pois é um fato, é uma coisa que não tem volta. E é uma vez na vida que faço uma besteirada dessas. Não faço mais. A Red Sonja vai para casa do meu irmão. Não mando mais nada para o Brasil. Mais de 100% de imposto é de lascar. Que pedrada da existência. Estou aqui doidinho. Vou tentar relaxar. Pensar em outra coisa. Mas em quê? Pelo menos esse evento me joga para bem longe do tédio, mas para um lugar igualmente ruim. Só que de outra maneira. Fato é que não tenho coragem de contar a mamãe desse valor. É tão absurdo que não consigo imaginar a sua reação. Me pelo de medo só de pensar. É um preço absurdo a se pagar por uma estátua somando tudo. Absurdo. Se eu soubesse de antemão, teria cancelado. Agora não tem volta e é a peça que mais desejei na vida. Espero que seja tudo o que espero. Esse assunto está fora do meu controle. Não há nada que eu possa fazer para mudar o fato que o Hulk vai aparecer aqui embaixo com uma conta altíssima a ser paga. E por altíssima, eu realmente quero dizer altíssima. Além das minhas posses. Não sei o que fazer pois não há nada a ser feito. Não deveria ter ligado. Por que eu fui ligar? Era melhor eu ter recebido a pedrada quando o Hulk eventualmente chegasse aqui. Me sinto mal de saber o valor e não repartir com mamãe. Não sei, não sei, não sei. Rei Ayanami me fita impassível. O Coisa apresenta um semblante melancólico que se adequa mais a situação. Hahaha. Melhor rir que me desesperar. Mas estou desesperado e a merda está feita. Não tem volta. A volta me custaria o mesmo valor e não teria boneco nenhum. Teria pago tudo por nada. É inacreditável o valor. Ainda estou de cara. E com a adrenalina pulsando a mil. Ai, ai, ai... vou ter que ligar para o banco para ver o teto do meu cartão de crédito e de repente pedir para aumentá-lo, sei lá. Acho que vou fazer isso quando o celular carregar. Estou muito ferrado com a minha mãe. Mas não sabia dessa tributação insana. Não foi algo intencional. Foi inocência. É um preço muito alto a se pagar pela inocência. Literalmente. Mais sobre isso nos próximos posts, tenho certeza. Nossa, que golpe da existência. Que lições eu posso tirar disso? Obviamente nunca mandar mais nenhum boneco para o Brasil. Eu que estava até me animando e pensando em fazer com a Red Sonja o mesmo que fiz com o Hulk. Não mais. De forma alguma. Não há mais lições a tirar. Agora é esperar a retaliação de mamãe. Ela vai querer descontar em mim de alguma forma. Não sei como. Mas vai. Eu sinto. Ainda mais quando souber que eu já sabia do valor. Não sei se publique esse texto. É me autoincriminar. Parece algo premeditado. Não sei o que fazer.

16h42. Vou tentar pôr esse assunto de lado. Meu primo urbano me enviou uma música que compôs chamada “Duelo”. Ele já havia me mostrado na casa dele e o que percebi é que ela funciona muito mais ouvida alta que baixinho. Ouvi baixo da primeira vez e não funciona. Ele sugeriu que poderia ser ouvida também com fones de ouvido. Realmente, faz tanto tempo que não ouço nada com fone de ouvido que me escapou essa possibilidade. Não adianta, o valor dos impostos Hulk fica como uma enorme sirene vermelha na minha cabeça. Tenho que relaxar, entregar na mão do poder superior, como se dizia na Clínica de Drogados que rezava pela cartilha dos 12 Passos. O poder superior foi crudelíssimo agora. O celular está em 93%. O que eu queria era nunca ter ligado para a DHL. Só saber no dia e me chocar na hora. Esse sofrimento antecipado me corrói as entranhas. Como é que pode? Letícia enumerou os impostos e confesso que nem prestei atenção direito, tão chocado estava. Pelo menos isso daqui serve para eu desabafar todo o meu terror. O pior que o processo é irreversível. A ignorância seria uma bênção para mim nesse momento. O que não tem solução, solucionado está, já dizia o meu velho e ido pai. Papai seria mais compreensivo que mamãe sobre isso. Mas acredito que até ele ficaria chocado com o valor. Projetando, acho que ele também ficaria fulo da vida. Não sei. Talvez dissesse, é o seu dinheiro, se quer gastar nessas porcarias, o problema é seu. Mas o que estou fazendo agora, fantasiando com o meu finado pai? Não tem nada a ver. O problema é a minha muito viva, graças a deus, mãe. É, não há o que fazer. Posso tentar contar para ela, mas acho que isso só vai piorar a situação. Ela vai sofrer com raiva, acredito que raiva seja um tipo de sofrimento existencial, afinal não dá prazer nenhum e rouba a paz da alma, colocando no lugar uma agressividade que não leva, mais das vezes, a canto nenhum. Acredito que algumas vezes leve a uma revolução, mas nesse caso em particular, não vejo nenhuma benesse para mim ou para ela. Estou me sentindo perdido em relação a esse assunto. Se minha mãe fosse uma pessoa mais fácil, eu cogitaria contar para ela. Nossa, não podia nunca imaginar. Ainda estou chocado com o valor. Não sei se vou publicar isso. Se ela ler, vai achar que eu estou tentando lhe passar a perna ou enganar de alguma forma não revelando esse dado de dura realidade que me atingiu como um soco do Hulk. Ele chega em teoria no dia 27, ao que parece, dia da missa de um ano da morte vovô. Não tenho certeza. Não lembro quando vovô faleceu. Sou péssimo com datas. E ainda tem o aniversário do meu sobrinho para ir no sábado ou domingo em João Pessoa. Meu celular carregou.

17h22. Liguei para o banco para aumentar o limite do meu cartão e só que pode fazer isso é mamãe. Estou muito ferrado. Que sentimento ruim. Dread é a única palavra que me vem à mente. Mamãe vai colocar a culpa toda em mim, pois adora encontrar culpados para as coisas. O único pensamento que me alivia é saber que isso um dia vai ser passado. Nossa, fazia tempo que não me sentia tão mal com uma coisa. E o pior que não tenho controle nenhum sobre a cadeia de eventos que se darão. O que posso fazer é repartir ou não essa informação que possuo com a minha mãe. O mais honesto a se fazer é abrir o jogo com ela. E o mais justo? Para ambas as partes? Há uma diferença aí. Me sinto mal não repartindo a informação, mas o medo da reação é muito grande. Não sei o que fazer. Deixa ser como será. Mas eu determino em parte como será, pois estou de posse da informação. Saco. Acho que não vou publicar isso. Ou o mais justo talvez seja publicar isso e deixar o acaso decidir se mamãe vai ler ou não. Acho que isso é o mais justo, é ao mesmo tempo contar e não contar. Deixo nas mãos dela decidir se lê ou não. Está decidido. Publicarei isso e seja o que deus quiser. A minha consciência não pesa tanto dessa forma. Não me sinto escondendo, enganando ou manipulando de alguma forma a minha mãe. Estará dito aqui. Se ela ler, o que costuma fazer, saberá. E saberá de todo o sofrimento que estou passando por causa disso. Estou me sentindo muito mal, embora não me considere culpado. Não imaginaria nunca uma extorsão tributária dessas. Caraca... ...17h44 já. Em breve mamãe chega em casa, com que cara eu vou olhar para ela? Bom, um dia isso será passado. E talvez tenha para sempre o prazer de ter o Hulk aqui comigo. Sei lá se terei. Esperei tanto tempo por esse momento, só não esperava desfecho tão... sem palavras para descrever no momento este momento que atravesso. Maldita ligação! Por que inventei de ser proativo? Agora estou com um Hulk inteiro de preocupação na minha cabeça. Puxa vida, vida, você às vezes, hein? Sem comentários...

18h00. Continuo na mesma, me sentindo mal para caramba.

18h06. Meu primo urbano veio perguntar sobre o assunto (precisava desabafar com alguém) o que me deixa ainda pior. Dread... total. Saco isso. Não sei o que fazer para desopilar. Só se for jogar um Mario. Mas não estou com cabeça. Pelo menos hoje eu tenho uma razão bastante sólida para estar mal. Fato é que terei o Hulk aqui, não tem mais volta.

18h56. Minha mãe chegou. Notou minha cara de abatimento. Não lhe disse nada. Ela falou que vai ler o blog para saber. A sorte estará lançada. Se ela souber por aqui ou no dia da entrega, o desfecho vai ser o mesmo. Eu não sei o que fazer ou o que dizer sobre o assunto. Ah, nesse ínterim peguei a feira no carro e tomei um bom e refrescante banho. Vou mudar o rumo da conversa, não adianta ficar me maltratando mentalmente. Acho que ter me desvencilhado um pouco do assunto com outros afazeres foi uma coisa boa. Já sofri demais e mais sofrerei quando mamãe descobrir. É a vida e não deixa de ser bonita, bonita, bonita.

19h03. Vi fotos de um toró em Macau, terra natal da minha família paterna. Senti saudades de lá e de Areias. O que posso dizer, meu saco?

19h13. Estava olhando o site da Sideshow, a fabricante do Hulk e lançaram uma Harley Quinn muito bem-feitinha, com uma expressão muito boa, mas ainda fico com a Red Sonja.

19h31. Minha mãe me chamou para jantar. Fritou uns bifes acebolados muito gostosos para mim, o que me fez ficar com a consciência ainda mais pesada. Tenho que me conscientizar que eu não poderia prever essa tributação. Para! Chega, não vou falar mais sobre isso.

19h33. A vida segue e eu sigo com ela. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a garota da noite. Imagino-a de bruços na minha cama conversando comigo. Não, nada de sexual. Curtiria mesmo a intimidade e companhia, pode ser que evoluísse para uma transa, mas não seria o começo da interação. Não no pensamento que tive. Pensei em meu tio que fez aniversário dia 20, mesmo dia do meu cunhado, que se disse saudoso de mim. Fiquei muito feliz com o reconhecimento. Certamente não o esperava quando o felicitei. É uma pessoa muito legal, pelo menos foi assim que ficou gravado em minha memória. Lembro que um dia, num dos muitos almoços organizados por papai em seu apartamento em Boa Viagem, meu tio disse que a melhor música do Legião Urbana era “Perfeição”. Disse que gostava muito da letra. Por falar em música, a conexão entre o computador e o som deu pau mais uma vez. Teria que reiniciá-lo, mas estou sem paciência para esperar no momento. Mas vou querer ouvir o som mais tarde. Terei que fazer isso num momento outro. 19h45. De 20h20, eu faço. Posso passar sem som por enquanto. Ficou curiosa a construção da frase anterior, o acaso, ah, o acaso, me pôs uma construção curiosa de frase na cabeça que tem uma certa musicalidade, “posso passar sem som”. Hahaha. Estou rindo, mas detrás da minha cabeça o alarme está a gritar. É como se eu tivesse feito uma grande trela, só que eu não fiz nada. Mas a culpa é a mesma. O medo da punição é o mesmo. Que saco. Será que vou ficar nesse perrengue até o busto chegar? Será que mamãe vai ler isso? Sei lá, sei lá, sei lá. Sei que não estou nada bem com a situação. E ela fica buzinando no meu juízo. Acho que não vou divulgar esse post também, não tem nada a ver as pessoas lerem esse meu desabafo. Só publicarei por causa do que mencionei acima. Não quero esconder de mamãe, quero menos ainda revelar. O meio-termo entre uma coisa e outra é esse blog, que fica ao critério dela ler ou não. Ela indicou que leria. Olhei para o Nintendo Wii U agora e me deu uma repulsa de games. Nem o Switch, nem o PS3 me causam isso. Mas jogarei algum dia todos os jogos do Wii U, nem que seja só para ver como são. Não sei se tenho essa disposição com o PS3, pois tenho realmente muitos jogos de PS3. Não acho que jogarei todos. Mas tudo é possível. Certamente não jogarei todos os da PSN, nem posso, pois o meu PSPlus está esgotado. Não entendeu nada? Não faz muita diferença para você, não. Melhor deixar isso para lá. Fato é que tenho um monte de jogos lacrados para jogar e nem o Mario Odyssey, o meu queridinho de todos os tempos, me desperta atração hoje. Ouço som de TV na sala. Acho que consumo mais Coca quando ela vem nessas garrafas de um litro que mamãe comprou. Não sei qual é o desvio do meu cérebro que me faz beber mais. O celular de mamãe toca o alarme. Botei o CD do som para tocar, “Homogenic” de, adivinha..., é, dela mesmo, Björk. Ainda vou ouvir a música do meu primo uma vez mais ou duas para ver se entro no clima dela. Acho que é uma ótima música para ouvir escrevendo. É um brinquedo muito invocado o quarto de som do meu primo urbano. Talvez se soubesse mexer e tivesse um equipamento daquele à disposição, encontrasse nele um novo hobby para rivalizar com a escrita. Ou não. Talvez me empolgasse por um ou dois meses, depois perdesse o tesão e teria um equipamento caro, ocupando um espaço grande para absolutamente nada. Se tivesse só o programinha de som acho que poderia brincar. Sei lá, não tenho nem um nem outro e o programinha de som é já é supercomplexo de mexer. Minha mãe veio aqui e disse que queria ver um filme comigo amanhã na sala. Eu disse a ela que não estava muito a fim e a culpa latejou forte em mim. Que ozzy. Mamãe parece que pressente as horas mais inadequadas para me fazer um convite dessa natureza. Tudo o que quero até esse Hulk chegar é manter distância dela, pois omitir nesse caso é muito parecido com mentir. Me dói. Me machuca. Me esmaga o juízo.

20h17. Acho que minha mãe vai acordar no meio da noite para me pastorar, indo dormir a essa hora. Disse para eu tomar o remédio às 22h00. O farei, certamente. Há pão e mortadela para a fome madrigal. Embora tenha comido os bifes acebolados, tenho convicção que a fome se manifestará. Mãe, me desculpe por não ter tido coragem de contar presencialmente a você sobre os impostos do Hulk. Fiquei com medo da sua reação. Estou com medo da sua reação. Isso está deixando minha alma em torvelinho. Perdoe a covardia, mas foi chocante para mim, imagino para você. Ainda não acredito que vamos ter que pagar de uma só vez o valor que passei meses pagando, por causa da tributação daqui. Meu deus, você já vai chiar com o valor do frete, nem imagino a sua reação em relação ao valor dos impostos. É muito dinheiro, eu sei, mas não sabia até ligar para DHL hoje. Nunca sequer me passou pela cabeça isso. Não sei como vou lhe repor esse valor, mas espero que a minha pensão compense de alguma forma. Nossa, você não sabe como estou me sentindo com tudo isso. É uma coisa grande e que foge do meu controle, estou de mãos atadas, nada posso fazer. Só posso pedir que me perdoe pela minha ignorância. E por não ter tido coragem de jogar aberto com você. Não consigo entender até agora como o tributo possa ser de igual ou maior valor que o produto mais o frete. Estou muito mal com isso e por não estar falando tudo isso para você com a minha boca, olhando nos seus olhos. Não sou capaz. Há algo na sua ira, na reação que projeto que terá que me faz recuar. Estou sofrendo deveras no momento. Tudo o que mais quero é que essa situação se resolva logo e vire logo passado. Do jeito que está, está muito ruim para mim. Quero muito o Hulk, mas o medo da sua reação me domina no momento. Um dia isso vai ser apenas uma história a ser lembrada, mas enquanto é um futuro que se aproxima galopante e enquanto eu tenho que omitir isso pareço estar vivendo um pesadelo, uma piada de mal gosto da existência. Estou todo tomado de um medo, uma coisa ruim, um peso na consciência enorme. Preferia ter descoberto no dia da entrega, mas resolvi me antecipar e deu nessa chocante constatação de valor. Não sei o que fazer, fiquei sem chão. Você vai ter que me ajudar nessa. Como me ajudou em todas as burradas que eu cometi. Não sei mais o que dizer. Só peço que tenha pena de mim. Eu já sofri muito hoje e sofrerei mais até que você descubra. Infelizmente não tenho coragem de enfrentar a fera que você vai virar. Só peço que entenda que eu não sabia que o valor seria tão alto. Não fui eu quem pediu por isso, não era assim que eu estava me planejando, me pegou de surpresa, como julgo que a pegará também. Isso é uma humilhação pública, mas peço clemência. Por isso estou abatido e evitando você. Porque não encontrei outra forma de abordar o problema que não essa do blog. Estou muito mal. Você não pode imaginar. Não sei mais o que dizer, se achava que esse blog não tinha serventia, agora acho que tem, pelo menos para lhe comunicar o que não consigo dizer pessoalmente.

20h50. Esse descarrego que eu fiz agora me deixou muito abatido. Estou com a alma muito pesada, com a mesma culpa de uma recaída, eu acho. Mas não vou pensar em algo ainda pior. Não mereço dois infernos ao mesmo tempo. Xô, pensamento invasivo, não me pega dessa vez, enfrentarei minha mãe de cara limpa. Enfrentar, você chama isso de enfrentar, Mário? Mandando notinhas pela internet? Pare, superego. Vá se lascar. Você só fez me martirizar até agora, é o melhor que eu posso dar. Simplesmente não tenho coragem de contar à minha mãe. É demais para mim. Não foi o que havia decidido, o limbo da internet ao silêncio puro e simples? Pois bem, está tudo aqui às claras. Para quem quiser ler. Pronto, não consigo mais que isso. Se isso é muito pouco ou é menos do que o esperado, é também o máximo que posso oferecer. Estou muito mal, mas não tenho coragem de falar para mamãe, isso já não ficou claro? Ela é minha mãe, eu a amo, mas não consigo dizer. Prefiro esse sofrimento do que a outra alternativa. Não sei se estou fazendo uma tempestade num copo d’água, mas sei que não estou, é um valor substancial de que estamos falando. Seriam meses da minha pensão para eu conseguir repor toda essa grana a ela, é uma grande e inesperada despesa. E o pior, não posso fazer nada. Seria mais digno contar a mamãe? Seria, é o que estou tentando fazer através desse post, caso você não tenha percebido, superego. Já disse que não tenho coragem de contar ao vivo. Nossa, não sei que maneiras minha mãe vai inventar de me punir ou me privar, de descontar sua ira em cima de mim. Vai ser muito ozzy. Ela vai ficar possessa. Ou será que não, será que um milagre se dará, ela pensará que isso só se dará essa vez e compreenderá a situação. Tá certo, até parece. Eu sei que meu receio é firmado no real. Eu sei que ela vai ficar transtornada. Eu sei de tudo o que eu vou passar. E por achar que é pior do que o que já estou passando, eu prefiro comunicar por aqui. Mas não fiz nada de errado. Isso deveria contar alguns pontos a meu favor. Não comprei uma figura sem autorização, não usei nenhuma droga, não fiz nada. Apenas liguei para a DHL e Letícia me disse o valor estimado. E pronto, desde este fatídico telefonema estou me corroendo por dentro. Que coisa ruim, que coisa desnecessária, existência. Não precisava desta na minha vida. Foi bom para aprender que há situações muito piores que o tédio. Grande lição. Caríssima lição.

21h20. Vou pegar Coca. Estou pensando em publicar isso e pedir para a minha mãe ler. Não sei se consigo. Para vocês verem o tipo de covarde que se esconde por detrás dessas palavras. É preciso encarar a situação. Quanto antes ela souber... o que? Em que vai ser melhor? Minha consciência vai ficar aliviada? O sermão que eu vou ouvir ou sei lá definir a reação da minha mãe vai me fazer sentir triplamente culpado. Eu sei lá. Talvez eu diga para ela ler o blog. Preciso ponderar. Tenho a noite toda para pensar. Queria me ver livre desse dilema de uma vez. Chutar o pau da barraca. Vou publicar esse post e mandar um WhatsApp para ela. Mas não agora, quero pelo menos ter uma noite de sono tranquila antes do resto que falta do mundo desabar sobre a minha cabeça. Pois é, mãe, se você queria saber porque eu estava tão sorumbático hoje, agora já sabe que assim estava por uma boa razão. Ou uma terrivelmente péssima razão. Agora que está tudo às claras, pode descer a lenha em mim. Ou ser misericordiosa. Faça o que bem entender. Não fui eu quem criou o sistema de tributação nem fui eu quem definiu o preço. É fato que o Hulk vai chegar aqui na porta de casa em menos de uma semana e precisaremos pagar o valor na sua totalidade em uma única parcela. A Letícia disse que não há parcelamento. E se não fosse só isso, o meu cartão de crédito, o que você fez para mim, não tem limite suficiente para pagar esse custo. Eu não sei como isso pode ficar pior aos seus olhos, ou aos meus, se for por isso, mas é essa a situação. É uma bronca pesadíssima. Por isso estou tão intranquilo e preocupado. Você vai me ajudar?

21h40. Não sei mais o que dizer, até clemência já pedi a minha mãe. Já falei e repeti a mesma coisa um sem número de vezes. Eu não queria estar na minha pele agora, mas é a pele em que habito. Não há outra nem haverá. Como não há outro Hulk e nunca haverá. O raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. Ainda bem. É rezar para a minha mãe ser compreensiva e amiga, um teste para ela. Mas acho que não vai ter compreensão nem amizade que segure a cólera dela. Posso estar julgando mal, nossa, como espero estar julgando mal, tudo o que mais queria era que minhas projeções estivessem erradas e que ela visse que eu não tenho culpa ou controle dessa variável e que fosse descontando da minha pensão o valor dos impostos. Sei lá, milagres acontecem. Espero que um milagre aconteça depois dessa tragédia. Mas, sinceramente, não espero muito por isso. Não sei ainda se mande um WhatsApp pedindo para ela ler. Acho que seria o mais honesto que poderia ser, em se eliminando a possibilidade de contar pessoalmente, que está fora do meu rol de capacidades. Como, mas como eu queria estar fazendo uma tempestade num copo d’água, mas eu conheço. Sei como é. Quando o assunto é dinheiro principalmente. Não vou denegrir minha mãe, novamente, pode ser que sua reação seja surpreendente e ela seja compreensiva e amiga. Bom, deixa para lá. Eu não sei o que fazer, nem há nada o que eu possa fazer, é ela quem controla o meu dinheiro, é ela quem dá as ordens. Eu só posso obedecer. Quero que se reconheça apenas que eu não fiz nada de errado, por mais que se quiserem apontar um culpado, não restará ninguém que não eu. Ou o cara que regula a tributação de importados. Mas esse é uma figura sem rosto e culpados precisam ter cara para que se possa cuspir todo o veneno e ódio. Esse cara sou eu. E vou ter que dar a minha cara a tapa. Quando acabar de escrever, vou mandar um WhatsApp para ela. Como diz o ditado de baixo calão, o que é um peido para quem está cagado? E eu estou aqui na merda. Me sentindo mal, enganando por não repartir com ela a informação, pensando mil e uma coisas ruins. Eu estou me sentindo péssimo hoje. Tenho lá os meus motivos. Ou motivo. Como pode uma coisa tão sonhada de uma hora para outra se tornar um pesadelo? Que ironia do destino. Tomara que tudo se resolva da melhor forma. Só duvido que isso aconteça.

22h03. Já falei demais. Não aguento pensar sobre esse assunto, eu jogo a toalha. E bem na hora de tomar o remédio. Coincidência. Vou revisar o retrato da minha miséria e postar. Não. Ainda não. Não tenho coragem. Mas eu tenho que encarar a realidade. Ela é inescapável. Não há nada que eu possa fazer. O mais decente é comunicar mamãe desse fato. Vou revisar.  

Espero que nos encontremos.


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