terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

CASA DA TIA IV – INVENTEI DE FALAR DE AMOR E ENTREI EM PARAFUSO




20h10. Estou com a mania de deixar as coisas para depois sem saber se depois haverá ou quando será esse depois. Essa mania de protelar ad infinitum é ao mesmo tempo gostosa, pelo poder de protelar, e limitante, pois poderia com as coisas proteladas aumentar o meu repertório, como se dá com um disco que quero ouvir no Spotify mas deixei para lá por enquanto. Poderia colocar o disco agora, mas não tenho a mínima vontade de fazê-lo. Prefiro protelar. Como protelo filmes, jogos, leituras e tantas coisas mais. Sou um protelador profissional. Prefiro escrever ouvindo “Utopia”, simples assim. Sou um escritor (não profissional) e “Utopia” é um porto seguro que emoldura bem a minha escrita. Protelar é o mesmo que me alienar, eu sei, mas é como gosto de levar a vida nesse momento. Se bem que poderia botar a velha lista 6 para rolar. Acho que isso tenho disposição de fazer.

20h18. Coloquei. Me deu vontade de ir fumar um cigarro com minha tia e suas filhas que se reúnem na varanda a conversar.

20h33. Realmente gosto de tela grande. A principal janela para o mundo virtual da imensa maioria das pessoas é o celular. A minha continua sendo o bom e velho laptop. Até o WhatsApp vejo mais por aqui. O teclado é a maior diferença, espaçoso, táctil (por mais que o do celular tenha feedback vibratório), a sensação de apertar teclas é incomparável. Gostava ainda mais dos teclados antigos dos desktops, o pessoal no trabalho reclamava do barulho certas vezes, porque eu teclava com vontade, viu? Há duas gêmeas idênticas e igualmente lindas na beirada do meu círculo de amizades e conhecidos, quem me dera metade delas para completar a minha metade... publicaram uma foto divina das duas no Instagram e no Facebook. São mui belas. Quem as conhece acho que concorda comigo. “Moonlight In Vermont”, linda, linda. Foi bom ter revisitado a lista 6. Esqueci que havia essas belezuras com Ella Fitzgerald e Louis Armstrong. E querem que eu ouça Anitta e a produção nacional atual. Não me apetece. Não consigo gostar. Acho funk uma das manifestações musicais mais pobres que existem. Mas isso sou eu ficando velho e anacrônico. “Anacrônico”, taí uma palavra que tem cada vez mais a ver comigo. Agora entrou outra que amo, “Into The Heart” do U2. Ainda não recebi notícias da Yeti Art a respeito da Asuka na moto que mandei pintar. Já vai completar bem um ano que realizei e paguei o pedido. Só ficou faltando o frete. Daisy disse que iria me mandar fotos à medida que a figura fosse ficando pronta, mas até agora nada. “Them Bones”, Alice In Chains. Sobre as gêmeas, não posto a foto aqui porque as conheço e teria que pedir a elas, só posto fotos de desconhecidos, como as gatinhas no post anterior, ou de conhecidos que me permitam a publicação, como Nice e sua mãe também no post anterior. Nossa, isso me faz lembrar como fui antissocial ontem. Tenho para mim que meu amigo cervejeiro vai pelo mesmo caminho, mas não dou certeza. Espero, para o bem do juízo dele que não, ou, se estiver se tornando realmente antissocial, que isso seja do seu agrado. Que aceite o caminho de solidão que trilha. Eu percebo que as pessoas com quem tenho o mínimo de intimidade já me põem embaraçado para dialogar, a não ser que tenha muita intimidade, aí me sinto confortável para interagir, como minha tia e seus filhos. No extremo oposto, fico embaraçado em lidar com os funcionários da pizzaria onde sempre compro Coca Zero. E todos nesse meio-termo me causam desconforto social. E o desconforto começa a aumentar sua área de abrangência para pessoas cada vez mais próximas. Não consigo passar muito tempo interagindo inclusive com as pessoas com quem tenho muita intimidade. Interajo em doses homeopáticas. Interajo e volto para o meu computador, como quem mergulha e observa um pouco a paisagem submarina, mas logo tem que voltar para tomar fôlego. É bem assim que me sinto. Ou o inverso, peixe fora d’água. Sei que estou batendo muito nesse tópico da socialização, mas é porque é um bicho papão para mim. Que se torna maior e mais total à medida que o tempo avança. Cada vez me sinto mais só com o meu computador. Meu computador, essas palavras, cada vez mais se tornam o único lugar agradável de estar. Queria não me incomodar com isso, abraçar de vez a solidão e o isolamento, mas há uma parte da minha alma que me puxa para outro lado.

21h09. Ella é fenomenal. Você deveria escutar. Ou não. Se fosse corajoso(a) mesmo, ouviria depois “A Love Supreme” de John Coltrane. É uma experiência sonora. Não é à toa que Renato Russo canta “fumar unzinho e ouvir Coltrane, não faço mais isso mas entendo muito bem”. Eu também entendo muito bem. Outro disco que é uma experiência sonora ímpar é “Medúlla” de Björk. Todo gravado com vozes hipermixadas e por vezes hiperdistorcidas a ponto de não parecerem vozes. É um disco arrebatador. Amplia os horizontes musicais, tanto quanto Coltrane e, em menor medida, visto que mais tradicional, o disco de Ella e Louis. “A Love Supreme” e “Medúlla” não são discos fáceis, mas, o investimento vale pela abertura do universo musical. Eu acho. Se você tem algo útil e fácil como o Spotify, fica a sugestão. Você pode odiar, mas não vai ficar indiferente, tenho certeza.

21h17. Minha prima professora jogou o VR (realidade virtual) do PS4, disse que é muito imersivo e que ficou tonta. Achou a tecnologia incrível, mas os softwares fracos. Perguntei entre um PS4 Pro e um VR qual ela escolheria e ela disse que, por ora, enquanto não há jogos realmente instigantes para o VR, ela preferiria o PS4 Pro. Fica a impressão registrada aqui. Mas ela ficou impressionada com a tecnologia. Foi um dos papos que batemos na varanda. Falamos também sobre o filme “Mother” com a menina de “Jogos Vorazes” que segundo a minha prima crente, trata da Bíblia ou do cristianismo, um dos dois, não lembro ao certo, visto que um assunto é meio que intrínseco ao outro. Voltando um pouco à música, o que selou meu amor pelo U2 foi o documentário “Rattle And Hum”. Foi o filme que mais assisti na vida, por uma enorme margem. Me deu até vontade de ver de novo só porque não o tenho aqui. Eu o vi no cinema, comprei o disco (vinil), depois o VHS, depois o CD, depois o DVD e, por fim, o Blu-ray. Não pretendo comprar a versão 4K, pois não achei essas coisas todas a mudança para Blu-ray, só deixa a granulação da película mais aparente. O fogo é que, para assistir o Blu-ray, eu tenho que ligar o Blu-ray player e não há mais tomadas, espaço ou entradas na TV para tanto, com três consoles no meu quarto, o PS3, o Wii U e agora o Switch. Pois é, anacrônico até nos videogames. E pretendo continuar assim por um bom tempo. Em verdade não me vejo adquirindo outro console. O ápice dos videogames foi e é e talvez sempre seja Super Mario Odyssey. Não houve experiência mais recompensadora e divertida em toda a minha vida de gamer. É para mim um marco, o máximo que os videogames em sua forma atual podem oferecer. Não tem gráficos estupendos, não roda em 4K com 60 frames por segundo com todos os efeitos de partícula e iluminação possíveis, com sei lá quantos polígonos por segundo e, sinceramente isso não importa. Claro que gostaria que tivesse gráficos assim, mas gráficos se tornam secundários, como o jogo deixa claro no seu final (ou começo?) em uma homenagem que vai deixar todo fã da franquia feliz e surpreso. Isso é um grande spoiler, mas vou deixar. Não disse o que era de fato. “Underneath The Stars” do Cure, outra paixão minha. Tanto a música quanto a banda. Talvez seja o som que tenha mais influenciado quem eu me tornei. Não sei se culpo ou agradeço Robert Smith por isso. Hahaha. Vou pegar um café e fumar um cigarro normal. É uma pena que a minha farra de cigarro tenha data para acabar. Voltarei aos meus três, quatro cigarros ao dia.

21h53. Não sei se o me primo-irmão irá querer ir para a sessão de Nintendo Switch na casa do nosso primo urbano, mas farei o convite, seria no mínimo descortês não o fazer. Sobre o que posso tratar agora? Sobre amor de amantes? Bom, com o fim da paixão, vício voraz pelo outro, o que permanece é a mais profunda forma de amizade e cumplicidade que se pode experimentar na existência, regado a sexo esporádico. Envolve, admiração, respeito e carinho. No meu caso, envolve também beleza e pele macia em belas mãos. É o tipo de coisa que quando sai da minha vida, sempre contra a minha vontade (so far), deixa um enorme vazio. Pode ser uma ligação tão profunda que às vezes parece haver um vínculo telepático entre o casal, tão afinados estão. Coisas como pensar em receber uma ligação e o outro ligar na mesma hora surpreendem. Ou saber o que o outro está pensando sem que esse diga uma palavra. É muito curioso e extremamente divertido amar e ser amado. Tenho grande sorte de ter tido disso em minha vida. Telepatia inclusa. Além de paixões absolutamente avassaladoras. É, tive o meu quinhão de amor nessa vida. Agora acho que acabou. Tudo o que me torno impossibilita a criação de uma nova relação assim, infelizmente. O que me torno? Um velho antissocial que aprecia a juventude feminina mais do que todas as outras coisas. Ainda mais bem tratada e asseada como cachorros de pet shop. Animais mais maravilhosos criados pelo acaso calculado do universo. Eu já sou um velho rabujo, um bicho do mato, um bicho de uma humanidade diferente, que não entra em sintonia com o mundo de hoje. Eu sou um animal estranho, não sei se há outros humanos com hábitos semelhantes aos meus, mas sinto que atingi um grau de singularidade raro. A série de acontecimentos que me levaram a estar como estou é bastante ímpar. É difícil encontrar um viciado em cola de classe média alta. Geralmente a cola é utilizada na infância e adolescência por jovens de baixa renda. Mas não quero falar de cola. Atrai. Eu sinto. E não quero sentir. Não é todo interno também que, para fugir da realidade da internação, se põe a escrever sobre o seu cotidiano lá dentro. E menos ainda os que levam esse hábito para o seu dia-a-dia no mundão, ocupando a imensa maioria do seu tempo. E quanto tempo eu tenho, outra peculiaridade, outorgada pela curatela. Acredito que raríssimos são os casos de aposentados aos 40 anos. Enfim, sou um ser peculiar, de um cotidiano peculiar e de gostos peculiares que não vai conseguir conquistar uma garota linda e jovem, de mãos belas e macias, legal e inteligente. E ainda, mais difícil, que queira ingressar num relacionamento onde o companheirismo e a honestidade sejam essenciais, visando uma união de longo prazo. A garotas que buscavam isso já o têm a essa altura do campeonato, estão casadas. As que não têm é porque não querem ter ou querem, mas são demasiadas jovens para me acharem uma possibilidade viável. É assim que vejo a situação e não acho nada animadora. Posso estar exagerando, espero que esteja. Mas meu prazo de validade está expirando para o tipo de garota que me atrai. E ainda tem essa coisa de achar sexo uma coisa estranha. Tudo, tudo, tudo em mim me impele ao ostracismo. Parece que minha psique e a conjuntura sociocultural me querem sozinho escrevendo. A psique fica em um dilema, pois sente saudades do tempo em que amava e era amada, ao mesmo tempo desenvolve um crescente estranhamento às relações sociais. Acha que amar é a melhor lombra que existe, mas quer que o amor se dê na minha vida como um passe de mágica, do nada, pelo acaso. Nem com o acaso eu consigo lidar. Não aproveitei e pedi em retorno à gatinha linda que me pediu cigarro ontem um beijo, afinal o clima era de carnaval, portanto aberto a tais ousadias, como pedidos de beijo a desconhecidas. Tive provas disso ontem, garotas se atirando em braços de um alguém que lhes era completamente estranho há alguns minutos. Ou segundos. Sei lá o que estou dizendo. Tocou uma de Coltrane e me desconcentrou. Estou entediado. Não tanto quanto estaria no meu quarto-ilha, mas estou. Vai ser muito difícil voltar para o quarto-ilha. Principalmente com o Mario Odyssey chegando ao fim e se tornando frustrante e difícil. O que farei quando escrever não for o suficiente? Confesso que não sei. Confesso que me vejo perdido. Estou perdido. Afora escrever tenho muito pouco em que me agarrar para existir. A própria condição de escritor demanda isso de mim o que é paradoxal. Mas não deixarei de escrever. Foi o que me veio como uma iluminação divina quando não via solução para o problema do que fazer da vida. Me veio forte e pulsante e transformador, me preencheu de profundo alívio. De uma felicidade que era o oposto completo de tudo o que sentia até o momento, encharcado e coberto de cola da cabeça aos pés por ter perdido a consciência dentro da piscina, numa tentativa ridícula de me matar por não suportar mais a vida que levava. Ao chegar no fundo do poço, a luz me veio, vou me tornar escritor. Foi como se uma grande pedra fosse retirada das minhas costas. Já se vão quinze anos ou mais dessa revelação. Só consegui alcançar e me perceber escritor há não mais que dois anos. É o que faço e amo, escrever. Claro, não posso chamar o que faço de profissão porque não ganho um centavo fazendo isso. Mas chamo de ofício, de vocação (por mais que escreva mal) é o que sei fazer e o que me preenche mais no mundo. Se não houvesse momentos em que só a escrita não basta, se não houvesse as lembranças dos amores vividos, se não houvesse o tédio que me assola muitas vezes nessa realidade bastante estéril que é passar os dias trancados num quarto escrevendo, eu abandonaria o mundo, abandonaria as pessoas e não sairia do meu quarto por quase nada desse mundo. Já é parcialmente assim, mas existe uma parte de mim que luta contra esse movimento, que luta contra o que a vida e eu desenhamos para mim. Quem me dera a Singularidade chegasse logo para me receber, se for do jeito que imagino. Me roubar desse mundo para a realidade expandida pela tecnologia. Mas isso por enquanto é só ficção científica. Eu, como Neo, já fiz a minha escolha e só preciso entendê-la e aceitá-la. Seria mais fácil se eu fosse espírita, pois acreditaria que teria outra vida e outra chance de amar. Mas não sou espírita e nem quero me tornar um. Basta uma vida só, embora ela me pareça curta e restrita para amar. Vou ser muito sincero agora, e isso pode doer para alguns, mas só saio de casa, excetuando-se raros casos como os programas com o meu amigo jurista, na vã esperança de achar novo amor. Não há mais nada que me interesse genuinamente. Me agrada ver as cores, os sons, as conversas, mas isso não seria suficiente para me tirar de casa para a balada não fora a busca envergonhada de novo amor. E aí há uma contradição, uma busca envergonhada por novo amor nunca renderá amor nenhum, pois a vergonha é um obstáculo. Sem mencionar a minha utopia de que vou namorar uma garota linda. Acredito que quando me desiludir dessa fantasia improdutiva de novo amor, me isolarei quase que completamente do mundo. Me sinto estranho nele, não me sinto bem. O acho rico, variado, um espetáculo incrível, mas um espetáculo com o qual não tenho mais a mínima identificação. Eu me identifico com isso daqui, com as palavras correndo soltas no computador. Me assusta identificação tão pequena e pouca com as coisas do mundo, me espanta eu me contentar só com o computador e a escrita. Me assusta me entregar de corpo e alma à escrita e repudiar o mundo e a sociedade, mas o desejo é esse, não houvesse a esperança de novo amor. Acho que a solução para o meu caso é exterminar a ilusão de um amor que dificilmente virá. Tive uma ideia completamente tresloucada agora. Ir no puteiro mais chique que houver aqui. Com as mulheres mais belas possíveis. Escolher a mais bela dentre as belas (para o meu gosto) e repassar para ela uma conta de e-mail que criarei com a senha e pedir que ela se comunique comigo para sermos “namorados de e-mail” para começar. Um momento. 23h14.

23h18. Criei o e-mail, nem sem bem por quê. Acho que para me divertir. Não acho que uma prostituta vá querer manter contato comigo. Ou com qualquer outro cliente. Não sei nem qual o grau de escolaridade delas. Mas já me disseram que existem prostitutas de luxo que estudam na Universidade Católica, então... Arre! Que ideia esdrúxula, ridícula, desesperada... e que pode ser utilizada com qualquer mulher. Hahaha. Nossa, veja a que nível cheguei hoje. Minha vida nesse momento beira o surreal. O que estou fazendo dela, criando contas de e-mail para ninguém? É surreal...

23h34. Meu primo chegou pela janela me dando um baita susto. Chegou da saída e aparentemente não vai para a sessão Nintendo Switch. Ele disse que não poderia ir e acho que não estava interessado, em verdade. Bom, fiz a minha parte, o convidei. Já me arrependi parcialmente de ter criado a conta de e-mail. Fui levado a isso por ter me perguntado sobre o amor e constatar quão insignificantes são as minhas chances de encontrar um novo. Vou pegar um café.

23h48. Qual o sentido da minha vida? Já respondi isso dias atrás, mas o maior sentido da minha vida é escrever. Sem isso, isto que você lê, ela perderia quase que completamente o sentido. Há pequenos sentidos, como o jogo do Mario e a tal da esperança de novo amor, que se se consolidasse em amor de fato, seria outra coisa a emprestar grande sentido à minha passagem pelo planeta azul.  Do jeito que está, o Mario empresta mais sentido, pulsão de vida, do que a vã esperança de um amor que não tomo nenhuma iniciativa de concretizar. Tentei a garota da noite. Em vão. Não tenho mais quem tentar. E tenho quase certeza que não conseguirei abordar uma desconhecida. Como disse, do jeito que está, o amor não empresta muito sentido à minha vida, pelo contrário, me deixa em dúvida de que rumo dar a ela. Não saberia conciliar amor com escrita. São coisas excludentes. Minha hipotética namorada não gostaria que o nosso cotidiano fosse narrado para o público. E, como ela faria parte essencial do meu cotidiano, não poderia escrever sobre a minha vida por não poder citá-la. Só agora me dei conta disso. Para ser sincero, todas as minhas investidas nesse campo após a Gatinha foram embaraçosíssimas. A menos embaraçosa – e já embaraçosa – foi a da garota da noite. Faith No More é só o que sai da lista 6 em modo aleatório. Tenho vergonha das minhas investidas amorosas. E não é pouca. Parece que o meu destino já está traçado. E o cavalo que galopa mais forte o impulsionando para a frente é a solidão das palavras. Bom nome para blog, vou tentar registrar, um momento. Já está registrado. Vou até ver o blog para ver se me identifico. É de 2010 a última postagem. É de uma garota. Quantos blogs abandonados não há? Será que algum dia abandonarei o meu? Tenho que lembrar de ligar para o RAID, há um amigo meu internado lá que pediu que eu ligasse. Vou deixar para ligar amanhã. Quando revisar isso eu me lembro. Ligar para Maria também. Amanhã será o dia das ligações e, quem sabe, da sessão Nintendo Switch. Achei que a namorada do meu primo urbano me tratou de forma estranha no Sai Dessa Noia. Mas vou sair dessa noia, pois estou achando que todo mundo está me tratando de forma estranha, o que deve significar que o estranho sou eu. Será que anda lendo isso? Acho que não. Nem tem tempo para tal, está atribulada com a vida acadêmica até onde sei e tem mais o que fazer, tenho certeza. Já me aclimato mais com a ideia de que não irei para Olinda no carnaval. Estou desiludido, quase me entregando de vez à solidão. Antes de tomar essa decisão, tento uma terapia. Para me demover ou me fazer aceitar a ideia. Só não quero viver nesse dilema. Sempre olhei para solteirões e solteironas com preconceito, achei que nunca aconteceria comigo, olha onde os eventos e escolhas me trouxeram, virei eu mesmo um solteirão. Não quero o fruto maior do amor que é um filho. Estou meio atarantado. Eu me tornei uma anomalia social e isso me incomoda e me faz querer mais e mais estar fechado no meu mundo, ouvindo o meu som e escrevendo no computador. Hoje o meu lado antissocial está especialmente forte. Tudo porque fui inventar de falar de amor. E a distância enorme, gigantesca dele, maior do que jamais esteve, me fez ver o quão minhas ilusões são vazias. Tudo me prepara passar os meus últimos dias no porão da casa do meu irmão nos EUA a escrever a mesma ladainha até o dia em que a vida resolver me abandonar. Ou se der a Singularidade Tecnológica. Hahaha. Nossa, como sou besta, acreditando que iria encontrar amor e ainda por cima, cereja de bolo, esperando por um deus tecnológico que me arrebataria dessa realidade para me levar a uma existência superior, maior do que a realidade material. Hahaha. Nada disso vai acontecer, perdeu, playboy. Tu és imprestável, ninguém vai te querer. É só saberem tua tortuosa trilha, tua feiosa história de vida para te rejeitarem. Afora tua triste silhueta, velha, gorda e cada dia mais curva, combinação equivocada de fenótipos que és e te mostras. Tu és um ser anômalo, tu és medíocre e desprezível, tu és a negação de ti mesmo. Tu estás podre e nem o percebe. Tu és um tronco morto, que não dá sombra e nem frutos. Tu és o que de mais inútil pode existir. Tu e tuas palavras. Fica mesmo com elas que é o que te resta dessa tua existência desprovida de significância para os demais. Não sei como alguém ainda te lê, é quase um acinte ao próprio ato de escrever. Tu morres para o mundo. Tu te fechas para ele. Tu te reduzes. Tu me envergonhas. Tu me causas desprezo. Tu és um nada no mundo. Mais insignificante dos homens que transitam neste planeta repleto de significados que não sabes desvendar. Por que te trato na segunda pessoa do singular? Sei lá, te fode! Hahaha.

0h41. Peguei pesado comigo, hoje não estou de bem comigo mesmo. Por que fui inventar de falar de amor? Amor mexe comigo, ou melhor, constatar sua impossibilidade e sua incompatibilidade com a vida que levo. Serei sozinho, aliás, continuarei sozinho, pois já estou só há mais de dez anos, até o final dos meus dias, é um para sempre que se desenha muito claramente na minha atual percepção das variáveis postas em movimento na minha vida. Estranho é pensar que em grande parte isso deriva de uma inclinação maior interior. Não sei se consigo abrir mão da escrita por amor. Não saberia viver sem a escrita e sei viver sem amor. Viverei de apreciar a juventude feminina à distância. Olhando, mas sem poder tocar, porque não saberei como alcançá-las, porque minhas mãos ou o meu verbo não vai tão longe, minha coragem não chega nem à metade do necessário. Minha cara não é de pau, nem penso com este, uso o coração, coisa tão em desuso hoje em dia. Ouvindo Cure, isso é um alento para pensamentos tão tristonhos que chegam a ser cômicos. Sou um palhaço triste. Me exibo nesse picadeiro de letras, nesse circo de um homem só. O público é pouco, mas esse palhaço se contenta de haver público ainda. Entrou numa fase The Cure agora o modo aleatório. Massa. Minha tia vai dormir na sala por causa das cadelinhas, a da minha prima crente vai passar a noite aqui. Trouxe a Coca e o gelo para o quarto para não importuná-la. Meu primo aparentemente ainda está acordado. As cadelas ladram não sei por quê. Vou me servir um copo de Coca com gelo e fumar um cigarro. Eu mereço esse mimo depois de um desabafo tão cruel comigo mesmo. Vou manter tudo o que escrevi, mas não queria que nenhum conhecido lesse. O pior é que embora haja certa dose de exagero, essa é a minha autoimagem. Fui eu quem disparou num jorro catártico tudo o que me veio à cabeça a respeito de mim. Acredito mais do que nunca que serei desses a ficar sozinho, sem uma companheira até o final da minha vida. De posse desse fato, poderia sair para o tudo ou nada e abordar todas as mulheres que me encantassem, mas sei que isso não condiz com quem sou agora e, sinceramente, não gostaria de fazer isso. Estou num beco saída, encolhido, escrevendo. E ouvindo Mallu Magalhães, doce. Adoro. Mas já que comecei a falar de amor o que posso mais dizer do amor, das coisas boas do amor? Amo ver a pessoa que eu amo dormir, amo ver a pessoa que eu amo tomar banho (amo ver qualquer bela mulher tomar banho) é um momento sagrado de profunda intimidade. Amo saber que um estará à espera do outro aguardando feliz tal retorno. Amaria que minha amada me deixasse escrever sobre a nossa vida. Ou que não me desse tempo ou razão para escrever. Mas a amaria mais se respeitasse o meu ofício e que soubesse viver e curtir a vida sem mim, que me deixasse no sacrossanto reduto do lar a escrever. Sairia uma vez ou outra com ela, mas preferiria que ela saísse com as pessoas de seu círculo e me deixasse com o meu computador. Entretanto, acho que nenhuma mulher aceitaria um relacionamento nesses termos. Não sei. Há gosto para tudo. Talvez fosse até um modelo que agradasse as mulheres de hoje tão ansiosas por liberdade, tão donas de si. Eu seria dono de mim no meu quarto-ilha e ela seria a minha dona quando retornasse sei lá de onde fosse. Não sei se isso daria certo. Estou fantasiando de novo. Esse seria um relacionamento perfeito para mim. Eu só faria coisas com ela ou sozinho, não precisaria de mais ninguém no mundo, a não ser cinco ou seis amigos(as). Por falar em amigas, não estou com clima para encontrar com as minhas amigas psicólogas, não saberia me pôr para elas, nos distanciamos demais. Acho que posso dar nossas amizades por coisas do passado. É assim que me sinto e não é de agora. Espero me enganar. Pensar nelas é pensar no meu amigo cineasta e na sua filmagem. Está acabando. Não nego que estou curioso para ver o produto final. Com que cores me pintará. Será que tão negras quanto as que me pintei hoje aqui? Meu amigo cineasta está no punhado de amigos que não quero perder contato quando e se me isolar mais completamente do mundo. A Gatinha eu não sei. Gostaria que ela não saísse da minha vida, mas vejo ela fazendo o movimento nessa direção, o que é mais saudável para ela, creio. Eu não sou boa companhia para ninguém atualmente. Eu me sinto constrangido na frente das pessoas, é tão estranho, tão desconfortável. É como se me achasse menos que eles, que não merecesse suas presenças. É como se não tivesse assunto que considerasse válido para conversar. É como, não, é o que sinto toda vez que saio ou vou encontrar com alguém. E não tenho saco de me informar sobre as coisas do dia-a-dia para ter o que conversar, só me interessa jogar videogame e mais do que tudo nesse mundo, fazer esse mergulho nas profundezas de mim. Como no mar, as criaturas das profundezas são pálidas, feias e cegas. Se eu fosse para superfície de mim, a parte onde o sol bate e a água é de um deslumbrante azul, como me veria? Como um cara que está vencendo a batalha contra as drogas, um cara... não sei mais o que dizer de bom de mim. Isso é um tanto frustrante. Ah, diziam que eu era inteligente. Nunca me julguei assim, mas foi verbalizado por tanta gente que acho que carrego este estigma positivo. É tão, mas tão mais fácil descer a lenha em mim e tão extremamente difícil tecer uma imagem positiva, que me faltam palavras para isso. Acho que escrevo relativamente bem. Acho que sou cordial. Um bom ouvinte. Me interessam sinceramente as histórias e opiniões das pessoas. Elas alargam a minha vida, saber do outro é parar um pouco de pensar em mim. Penso em mim demais escrevendo. Gostaria muito de ouvir como foi o dia do ser amado. Todos os dias enquanto a relação durasse. Acho que isso cansaria a minha parceira. Ou não. Sei lá. Nunca fiz isso. Mas gostaria de fazer. Me vem de novo a imagem da garota da noite. Mas confesso que com um certo ranço. Não me acho nem o pior nem o melhor dos mortais, creio que me encontro no zero da curva. Nem negativo nem positivo e sem oscilações. Acho que entendo o que é amor de amantes porque já o vivi algumas vezes. Acho que não quero viver mais por causa principalmente do sexo e de sair da minha zona de conforto. Acho que me engano com essa esperança de amar novamente. Se bem que eu acho que como tudo que antecipo de forma catastrófica, pode se revelar muito melhor do que eu julgo. Acho que já escrevi demais e estou sendo redundante. Foi triste perceber que no meu modo de vida atual, não deixo brecha para o amor. Se deixo é uma fina fresta por onde ninguém passa. Bom é seguir olhando para a frente, escrevendo e tentando zerar o Mario Odyssey. Zerar, não, porque desisti das corridas, se ao menos eu conseguisse dar o long jump com a mesma facilidade como dava no Galaxy, teria alguma chance, mas pela minha incompetência em fazer tal movimento no Switch desisti. Há luas que não vou pegar, já me conformei com isso.

2h10. Estou sem sono algum. Dormi tarde demais e acordei tarde demais. Mas vou me deitar às 3h00. Haja o que houver. Ainda bem que não estou no meu quarto-ilha, ou estaria profundamente entediado. Admito, entretanto, que já começo a sentir saudades de lá. Não muita. Principalmente pelo tédio que me assolará e que não encontro aqui, porque aqui é um lugar diferente. Há sempre a possibilidade de trocar uma ideia com o meu primo-irmão. Meu tio me deu um exemplar do último livro da trilogia escrita por Daniel Násser. É uma pena não gostar de ler. Mas guardarei com carinho. Se não me engano já tenho um exemplar em casa. Mas só uma grande mudança me fará parar de escrever para ler. Infelizmente, não gosto de ler e pronto. Escrevo porque me dá prazer (embora hoje tenha sido um tanto deprimente me rebaixar daquele jeito. Foi o que saiu e permanecerá aqui). É mais interativo, é mais divertido criar um texto que ler um texto. Acho bem mais. Não tem a menor comparação. Um eu amo fazer, o outro eu desgosto. Escrever sobre a vida é o grande passatempo da minha. Não sei viver sem e já estou me tornando estranho em demasia, pois estou parando de interagir com os colegas para escrever do celular no meio da balada. Tenho que reprimir esse ímpeto e me limitar a documentar fotograficamente as saídas.

2h38. Meu tempo está quase acabando. Ainda bem. Selecionei a imagem de um coração de verdade para ilustrar esse post, é mais impactante. Bem mais, beira o grotesco. Por outro lado é educativa, nunca havia visto a foto de um coração. Pequena aula de anatomia. E acho que corações bonitinhos não dão o clima do texto que se desenrolou porque fui falar de amor. Ah, o amor, não sei se é invenção do homem querendo poetizar as relações de parceiros de cópula e de crias, ou se existe mesmo. Se o romantismo é um fenômeno cultural. Se é uma abstração de um animal capaz de abstração, de significar as coisas e os sentimentos. Meu palpite é que o amor existe, eu já o senti e era diferente de todos os outros sentimentos que havia experimentado. Tanto a paixão, esse um sentimento que vai além do desejo sexual, embora tenha nele uma das forças motrizes, quanto o amor. E há vários tipos de amor, um para cada papel social que as pessoas queridas desempenham em nossas vidas. Amigos, mãe, familiares etc. Há amor até por animais de estimação. Amor que provoca luto quando da morte ou perda do animal. Sei disso. Também já senti. Há conexões afetivas até por coisas materiais. Eu amei muito o meu Super Nintendo e o meu Nintendo 64, por exemplo. Amei e amo todos os meus consoles em maior ou menor grau, por exemplo. Amo os meus bonecos também. E algumas camisas. Há o amor por músicas, por filmes, livros. Há amor por tudo aquilo que tem valor sentimental. As coisas mais perigosas de se enamorar são as drogas. Eu que o diga. 2h54. Vou ficar acordado até acabar o gelo. Creio que dentro de meia-hora acaba.
Há amor. Se é uma abstração, um floreado em cima dos nossos instintos animais, que seja.  

3h01. Acho que interagi razoavelmente com as minhas primas e minha tia hoje, não fui de todo mal. Não sei se no final da frase anterior era para ser mau ou mal, chutei. Eu não sou uma pessoa nem boa, nem má, alcanço essa neutralidade interferindo o mínimo possível com o universo, especialmente o universo social. Se interajo o mínimo possível com as pessoas, a possibilidade de fazer mal é mínima, assim como de fazer bem. Essa neutralidade me desagrada, queria me considerar uma pessoa boa, mas não sou. Não ajo para isso. Eu prefiro a não-ação. Ou tenho preferido. Esses textos não mudam a vida de ninguém. Achei um coração mais bonito. Mas manterei o de verdade na entrada do texto. Colocarei o outro depois. “All that I can say is that my life is pretty plain” canta o Blind Melon. Bem adequado. Estou ficando com sono, isso é bom. 3h16. Dormindo dentro em breve, só falta um copo de gelo, eu acho que consigo acordar na hora do almoço. Não gostaria de ter essa obrigação de almoçar, quando acordo não tenho fome nenhuma, mas é o mínimo que posso fazer. E talvez depois do almoço eu possa jogar um pouco de Mario. O que queria agora? Ficar acordado até mais tarde escrevendo. Mas não farei isso. Vou botar logo gelo no copo.




3h23. Botei o resto do gelo e da Coca no copo e fui fazer xixi. Que alívio.

3h29. Estava namorando o Hulk na internet. Vou postar uma foto dele aqui. É o busto apenas e é grande mesmo assim.




3h33. Como já disse aqui um sem número de vezes, quero esse Hulk na entrada do meu quarto, ao lado do meu computador para causar impacto ao visitante e para poder olhar sempre para ele. Meu tempo se esgota. Resta meio copo de Coca que tomarei fumando o último cigarro do dia. A Red Sonja é outra que eu vou babar muito. A Sideshow deu um salto de qualidade na escultura das cabeças dos personagens que impressiona. A nova linha de heróis da DC supera de longe a linha anterior. O que vai ter de gente vendendo a antiga Mulher-Maravilha não está no gibi. Mesmo assim, a Red Sonja continua imbatível. Mais lindo rosto de boneca que eu já vi e com expressão mais sutil que já vi, um leve sorriso digno de Mona Lisa. Acabou o copo de Coca, só falta o cigarro. E por que não colocar uma imagem da Red Sonja aqui?





3h49. Vou me retirar. Quando acordar reviso e posto. Não sei se divulgarei esse nos grupos, mas creio que sim. Espero que o dia tenha sessão Nintendo Switch. Estou pensando em levar o meu computador, mas não vou fazer isso, seria antissocial demais. Meu amigo jurista e meu primo urbano iriam estrilar. E pode ser que role só na quarta. Não estou querendo sair daqui mas preciso dormir. Estou com astral melhor nesse momento, pensando em coisas outras que não na falta de amor de amantes em minha vida. Esse assunto me deixa desapontado comigo mesmo e em conflito interior. Melhor deixar quieto. Não sou o lixo que me descrevi, sou apenas um nada na vida. Sou texto. No final era o verbo e o verbo era tudo.

3h56. Boa vida para você. Eu vou aqui levando a minha de um jeito meio esquisito, mas sem desgostar dela. Tenho meus dilemas existenciais, mas quem não os tem?

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