domingo, 4 de fevereiro de 2018

CASA DA TIA III – PRIMEIRO (E ÚLTIMO?) DIA DE CARNAVAL

Sai Dessa Noia 2018. Estive lá. Pelo menos isso.


20h57. Estou detonado da noite que virei. Fui dormir por volta da nove, dez horas. Da manhã. Acordei de meio-dia e meia para almoçar e voltei a dormir até umas cinco da tarde. Não dormi bem. Meu primo-irmão se arruma para ir para o Antigo. Eu não tenho coragem para tanto, ainda mais tendo o Sai Dessa Noia amanhã cedo. Vou ficar por aqui e dormir dentro em breve. Estou sem disposição para ir amanhã, mas a presença do meu amigo jurista certamente me anima. Nossa, chega a dar um frio no estômago pensar na interação com as pessoas do bloco. Estou novamente criando tempestades num copo d’água. Joguei um pouquinho de Mario Odyssey hoje, mas não me concentrei o suficiente, ainda estava acordando, e não produzi legal. Entretanto fiquei feliz por ter deixado acho que apenas três luas para pegar no segundo mundo. Uma que não sei se consigo pegar de jeito nenhum é a da corrida, não sou capaz de superar o primeiro corredor e, portanto, desisti. Acho que deva haver um atalho na fase para ganhar dele, mas o caminho alternativo que divisei é mais demorado que o normal, eu acho. Não dou certeza porque, nas vezes que tentei, caí lá de cima.

21h14. Meu primo-irmão já saiu, nem para falar comigo se dispôs. Não mudaria nada mesmo, só me sentiria um pouco mais querido por ele, mas acho que deixei claro que não iria, embora isso não estivesse totalmente claro para mim. Aliás, estava. Sem disposição nenhuma para encarar Recife Antigo em clima de carnaval, embora fosse rolar show de Eddie, o que aumenta a possibilidade da presença da garota da noite. Tenho que desencanar disso. Ela está de rolo com o nosso amigo bonitão, eu creio. Ou seja, não rola para mim. E não saberia abordá-la de forma sedutora e legal. Não teria coragem, repertório ou motivação real. A minha vergonha quase patológica me impediria. Morro de medo de um encontro com ela, a verdade é essa. Tentarei dormir de meia-noite hoje. Espero que consiga.

21h31. Mais e mais pessoas da turma vão para o Recife Antigo hoje. Isso me dá um ponta de arrependimento, mas estou exausto.

21h43. Queria jogar Mario Odyssey. De repente quando titia acabar de assistir TV eu me meta a encarar um pouco. Isso se não dormir antes. A senhora que leu meu blog não respondeu o meu comentário. Odeio rejeição. É suficiente eu me rejeitar. Não estou no espírito para me confraternizar com os meus amigos e conhecidos amanhã. Espero que depois de uma boa noite de sono o ânimo melhore. Não creio muito nisso, mas encararei da mesma forma. Já está solidificado na minha cabeça. Meu amigo jurista ainda não disse que horas vai. Se ele não for...

22h18. Publiquei e divulguei em canais dedicados o conto que escrevi sobre um suposto vazamento de informação sobre o novo jogo do Mario. Já teve 14 leitores. Hahaha. Mandei até para a Nintendo Of America. Hahaha. Me divirto e deixo a lição, nem tudo o que você lê na internet é necessariamente verdade, fake news existem e abundam. Eu criei a minha primeira obra dessa natureza e me diverti fazendo isso. Talvez venham mais. Ou não.

22h34. Houve um leitor, também mais velho que eu, que “amou” o post que escrevi ontem. Uma moça curtiu também. Que coisa boa, esse tipo de reconhecimento faz uma diferença enorme para mim, me faz ver minha produção como algo mais válido, não apenas de mim para mim, mas para outros também. Fico muito grato e extremamente lisonjeado com tais manifestações. Meu sono está passando e isso não é legal. Preciso dormir cedo para estar inteiro amanhã. Acho que vou pegar mais um copo de Coca.

22h50. Não peguei porque titia disse que iria tirar gelo para mim. Se ela for dormir cedo, talvez me aventure pelo Super Mario Odyssey. Eu deveria ir dormir, mas me sinto mais e mais desperto. Aumentarei em uma hora o horário de ir para cama e o plano agora é dormir de uma da manhã. Vou ver se titia ainda está vendo TV. Se não estiver, vou jogar um pouco do Mario Galaxy. O chato em me ver jogando é porque eu gasto muito tempo para fazer algo, pois fico fuçando cada cantinho do mundo.  

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13h26. Estou pronto para ir para o bloco, mas sem a mínima disposição de ir. Por mim ficava em casa jogando o Mario. Mas vou, nem sei bem por quê. Minha tia me estimulou a ir, disse que eu preciso ver gente. O problema é que eu vou ver muita gente conhecida. Vou ter que ser simpático e cordial com todo mundo. Estou quase desistindo de ir...

13h30. Eu vou. Seja o que deus quiser.

13h36. Estou ficando mais animado com a ideia. Queria poder ir e ficar calado, não falar com ninguém, mas isso vai ser virtualmente impossível.

13h41. Vou lá. Na volta conto, eu espero.

13h46. Chamei o Uber. Está vindo.

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(E-mails escritos durante a saída de hoje)

Assunto: Sai Dessa Noia
14:55. Estou no bloco e falei apenas com duas pessoas. O bloco tem muito, mas muito mais gente que no ano passado. Isso é bom, não preciso me socializar e já encontrei um lugar para sentar num local mais tranquilo e perto de onde vende Coca-Cola. Só falo com quem vier falar comigo. Assim é mais fácil para mim. Enquanto isso, escrevo. Mas estou com medo de me tomarem o celular, embora seja um bloco bastante elitizado. Vejo uma pessoa que teria obrigação de cumprimentar, mas continuarei escrevendo, se ele me vir e achar que o dever de falar é o mesmo, ele virá. Não entendo direito essa história de Carnaval. Qual é o prazer em ficar num amontoado de pessoas, no calor, ouvindo as mesmas músicas ano após ano? Talvez seja uma tradição, talvez o comportamento de manada. Há muitas pessoas bonitas, homens e mulheres. A maioria na faixa dos 25 anos, eu creio. A bateria do celular está em 89%. Sem som ouve-se o impressionante burburinho da turba. Vou pegar uma Coca-Cola.

15:24. Comprei cinco fichas de Coca-Cola, quando acabar de consumir, acho que volto para casa da minha tia. Vi duas garotas realmente aproveitando o Carnaval, dançavam animadas as músicas tomando cerveja, assim a coisa faz mais sentido para mim. Perdi o lugar onde estava sentado quando fui pegar o refrigerante, óbvio. Já mudaram as pessoas do local onde estava, preciso aproveitar esses revezamentos para pegar o meu lugar de volta.

15:58. Está ficando mais cheio... e chato. Minha vontade é voltar para a casa. Às 17:00 eu parto. Encontrei um...

Assunto: II

Pernas cruzadas = sentado = bom.



Fiz besteira, tive que abrir outro e-mail. Arrumei um lugar para sentar, bem atrás, numa pequena praça com curiosas esculturas. Tem uma menina, jovem, que me atrai desde o ano passado. Mas acho que tem namorado. Ou tinha. Sei lá e não sei como chegar nela. Deixa para lá. Acho que vou voltar dentro em breve. Encontrei um amigo que me considera. Legal. Os ânimos estão ficando mais excitados devido ao álcool. Tem alguém atrás de mim. Saiu. A garota apetitosa está mais encorpada que no ano passado. Preferia a versão slim, mas ainda é bastante apreciável. Tem uma magrinha bem interessante também no grupo da apetitosa. O vestido de costas nuas ajuda. Ela não é bonita de rosto, mas seu rosto me lembra uma figura emblemática de Macau. Dorotéia, acho que é o nome da macauense. Se foram para a folia os meus colírios. O meu amigo jurista me mandou uma mensagem, está na varanda superior da casa à minha frente. Que coincidência. Disse que depois vem aqui. 16:38. Não sei se esperarei por meu amigo jurista. Acho que vou dar o ninja. Às 17:00 volto independentemente de qualquer coisa. Um bróder falou comigo. Nem esperava que ele se dignasse a isso, visto que interagimos tão pouco na vida. Fiquei feliz. Não vou voltar à muvuca para trocar a última ficha por Coca-Cola. Vou guardar como recordação do evento, que não teve nada de memorável para mim. Pelo menos cumpri o que tinha me proposto, vim. Aqui estou. Se estou me divertindo? Se estou escrevendo, estou me divertindo, ainda mais num lugar bucólico e cheio de pessoas bonitas e coloridas. Espero que tenha uma outra rua para sair daqui, não quero enfrentar o povaréu. Meu amigo jurista sumiu da varanda, vou aproveitar para partir. Vou ter que andar até minha casa pegar o Uber e fazer xixi no banheiro da piscina.

Magrinha. Adorei o jeito e o corpo dela.



18:14. Vim para as Ubaias para pegar menos trânsito, mas encontrei isso pelo caminho.

Os blocos abundam em casa Forte no sábado pré-carnavalesco

Resolvi dar um tempo na piscina até a situação do tráfego melhorar. Encontrei com o meu amigo jurista e essa foi sem dúvida a melhor parte do dia. Conversamos sobre muitas coisas, como o plano que tem de ter mais um filho nas circunstâncias adequadas dessa vez, planejado, digo, mas o centro da nossa conversa foram os videogames. Acho que nem eu nem ele temos com quem conversar sobre o tema, então aproveitamos para pôr esse papo em dia. Foi ótimo, mas não quis empatar o Carnaval dele e, também saturado de estar ali sem muita vontade ou razão de estar, me despedi quando ele foi entrar na casa de amigos que eu desconheço. Foi bom ter ido para me certificar que Olinda não é mesmo a minha praia. Não vou nem a pau.





18:26. Muito bom estar na piscina, outro local bucólico mas sem ninguém. Essa paz me agrada. Quando der 19:00. Chamo o Uber. O universo, em especial o nosso planeta, é um lugar deveras curioso, os seres humanos são bichos muito peculiares. Gosto de habitar aqui e ser humano. É uma condição bastante privilegiada. A minha condição sendo a meu ver mais privilegiada que a da média das pessoas com idade semelhante à minha. A única coisa negativa da minha vida é essa verve antissocial que me assola e cresce, tomando proporções ridículas. Me peguei desviando o olhar e encerrando a interação alguns instantes antes de sua devida finalização. Me sinto um paspalho por causa disso. Sou um ser que não sabe mais estar confortável em comunidade. Mas seguirei tentando. Tentarei até me readaptar a isso ou desistir de vez. Ainda bem que não me vejo desistindo. Quando vislumbrar claramente essa possibilidade será a hora mais do que necessária de pedir ajuda, ir a uma terapia. Certamente já preciso de uma, mas não me sinto disponível para tal. Vou ver o que me mandaram pelo WhatsApp. Momento.

A galera está se movimentando para vir para aqui pertinho. Tenho ainda vinte reais, posso dar essa esticada antes de voltar para a casa da minha tia.

19:02. Só queria voltar para casa de titia agora se fosse para jogar Mario, o que acho que só vai rolar muito mais tarde. Creio que minha tia está assistindo TV e assim ficará até dormir. Disse no grupo da turma que ficarei aqui até 19:30, se ninguém se manifestar até lá volto para casa. Tirei umas fotos da apetitosa de longe, torcendo para a resolução do meu celular permitir aproximar a imagem. Se ficar razoável, posto aqui embaixo.


Apetitosa de meias rosas e sua companheira magrinha e gostosinha.



19:12. Não sei se a rua já está menos congestionada. Acho que sim. Tem alguém tocando violino no casarão, coisa mais agradável. Vai haver uma festa aqui e, pelo visto tocarão músicas de Carnaval com o instrumento. Será que haverá outros ou só o violino? Não ficarei aqui para descobrir. Vou dar uma olhada no WhatsApp.

19:18. Nenhuma resposta. Não sei se espere comunicado ou volte no horário que estipulei. Acho que vou esperar algum sinal de vida do grupo antes de chamar o Uber. Incrível como escrever drena a bateria do meu celular. 67%. O violino foi o presente da minha noite. É um som muito belo. E como a festa não começou, o músico toca o que lhe vai na alma ou treina, pois está só tocando frevos.

19:26. Nada ainda da turma. Nem marcada como visualizada a mensagem foi. Acho que vou voltar para casa da minha tia mesmo. Se bem que quero encontrar com a galera. O violino cessou, vou testar o Spotify pelo celular.

19:33. Respondeu minha amiga jornalista se dizendo no Barchef. Perguntei se podia ir. Não quero ser um peso social para quem estiver lá. Às vezes, cada vez mais frequentes, sinto que não agrado tais pessoas. Espero estar equivocado. Vou esperar dez minutos pela resposta, senão vou assim mesmo. Vou passar pouco tempo, tenho pouca grana.

19:39. Vou acabar a Coca-Cola de dois litros que comprei e depois decido o que fazer da vida. Achei engraçado que uma senhora leu a minha camisa – "Quem eu serei?" – e falou para mim, "Só Deus sabe" e riu.

19:45. Estou ouvindo Utopia no celular, é massa ter essa capacidade.

19:49. Mandei uma mensagem diretamente para o meu primo-irmão perguntando do seu paradeiro. Espero que pelo menos ele me responda. O Spotify está sugando muita bateria. Quando e se meu primo responder, eu desligo. Ou quando a bateria chegar em 40%. Meu primo respondeu que está no Poço da Panela, perto do Barchef. Eu disse que pretendia ir para esse último. Vamos ver o que ele me diz. Se é que vai responder. Estou quase desistindo de folia e voltando...

20:00. Pela resposta do meu primo-irmão, com as palavras "longe" e "cansados", ele não vai. Acho que vou na cara dura. Esperar acabar a Coca-Cola para me decidir.

20:04. Afora o copo que acabei de colocar, resta mais um e meio na garrafa. Falta pouco para eu dar um rumo à minha vida.

Acabei um copo. Vamos para o penúltimo. É extremamente raro ouvir um violino ao vivo aqui em Recife (rabeca não conta), tive muita sorte. Adorei. Adoro quando o destino me sorri com graças como essa. Utopia definitivamente me lembra Mario Odyssey. Estou com um pouco de sono, mas a caminhada até o Barchef vai me despertar. Meu primo não deu mais notícia. Ah, coloquei a possibilidade de ele me acompanhar para a jogatina na casa do meu primo urbano. Meu amigo jurista concordou, falta o anfitrião.

20:18. Coloquei o último copo de Coca-Cola. Já-já parto. Espero que não me roubem o celular. Minha mãe me botou essa paranoia na cabeça. O violinista voltou a tocar. Boa deixa para deixar o Spotify de lado.

20:23. Precisarei fazer xixi antes de ir. Acho que vinte reais dão para apenas três latas de Coca-Cola no Barchef, se muito derem. Mas depois de dois litros estou de boa.

20:26. Acabei o copo, vou lá.

(fim dos e-mails)

-x-x-

21h54. Cheguei enfim em casa. As ruas de Casa Forte estavam tomadas por foliões, em sua maioria mais jovens e malhados do que eu. O trânsito estava caótico na 17 de Agosto e imediações. Encontrei com o meu amigo cervejeiro no Barchef. Vi a minha amiga filósofa, mas não falei, fui logo comprar refrigerante, não consegui, não havia troco para os meus vinte reais, parece que o Barchef é feito para quem tem cartão de crédito, o que não é o meu caso. Quando voltei, a filósofa havia sumido. Foi então que encontrei com o meu amigo cervejeiro e ficamos os dois numa busca infrutífera atrás das meninas e do meu primo-irmão e meu amigo professor, até que esses sinalizaram que haviam pego um Uber para o Recife Antigo. Meu amigo cervejeiro resolveu segui-los, pedi que me deixasse em casa e foi isso o que decorreu de lá para cá. O meu amigo cervejeiro recomendou fortemente a cerveja artesanal Navegantes, só não me lembro o tipo, são nomes estrangeiros complicados as categorias de cerveja artesanal. Surpreendente foi um amigo do meu amigo cervejeiro, que encontramos e que depois sumiu, que, com um gole, adivinhou o tipo de lúpulo usado na bebida. Pra mim cerveja sempre foi tudo igual, só distinguia quente de gelada. A que estivesse mais gelada era a melhor, não importava a marca. Como disse, sou um cara old school, ultrapassado, de outro tempo. Outra coisa que também me surpreendeu foi que à guisa de ter sido molhado de cerveja acidentalmente por uma garota, meu amigo cervejeiro conseguiu beijá-la demoradamente. Nunca teria tanta astúcia. E uma menina linda veio me pedir um cigarro, puxou até papo e não soube como converter isso numa conquista. Se é que era possível. Meu radar para essas coisas é péssimo. Queria muito ter a beijado. Estou com a imagem dela ainda impressa na minha cabeça. Bom, passou e meu carnaval findou-se por esse ano. Acho que nem vou para o Sai Dessa Noia do ano que vem. Primeiro porque superpopuloso e segundo porque estou antissocial e me foi custoso interagir com os conhecidos com os quais cruzei. A exceção do meu amigo jurista, com quem tive o imenso prazer de dialogar. Foi um dia especial, diferente, mas realmente não tenho mais o espírito para essas aglomerações. Quando a garota perguntou “posso te pedir um cigarro?”, deveria ter tido mais ousadia e respondido, “ posso te pedir um beijo?”, mas só respondi “claro” e perguntei “quem mais um?”. Ainda tive que dar um ao amigo. Se arrependimento matasse... tenho que ser mais incisivo quando oportunidades dessas, raríssimas, se anunciarem. Não perco nada sendo um pouco mais saliente. E posso até ganhar, quem sabe.

22h15. Perdi o fio da meada, vendo o que estava apitando aqui. Era o WhatsApp do computador. Nada mais tenho para ver no carnaval...

22h28. Minha santa tia fez dois sanduíches quentes de queijo que comi tomando um copo de leite com Toddy, me sinto outro estando alimentado. Olhando para um programa de debate sobre as políticas de segurança do Brasil, me peguei abismado com a loquacidade dos entrevistados, achando que seria impossível hoje para mim me expressar tão bem de forma oral. Isso já está passando dos limites. Sempre fui bom de conversar. Meu deus, o que está acontecendo comigo? Me sentir incapaz de falar? Assim não dá. Estou pensando seriamente na terapia. Pelo menos lá, toda semana terei um tempo para jogar conversa fora. Não, não estou disposto. Mas vou considerar com carinho. Vamos ver como me saio na sessão Nintendo Switch na semana que vem. Não é possível que reunido com o meu primo urbano e meu amigo jurista não converse. Espero conseguir. Lembrar de levar uma Coca Zero. Sobre o que mais discorrer? Estou cansado, mas pretendo jogar um pouco de Mario Odyssey antes de dormir. O Vaporfi desce rasgando, me dando crises de tosse. Hoje, como é meu carnaval, vou fumar só cigarro. Eu mereço. Encontrei Nice na barraca de seu finado pai na ida e na volta do bloco, o que resultou nessa foto.

Dona Helena, Nice e esse que vos escreve.

Acabei de me enviar as fotos que tirei do dia. Vamos ver se chegam. Estou sem ter o que dizer, narrei o meu dia todo e agora me encontro no meu computador tendo como cenário uma parede, como de praxe. Nesse sentido foi bom ter saído. Vi muitas mulheres lindas. Mais de dez, umas vinte talvez. A menina que veio me pedir o cigarro entre elas. Pena que nunca saberá. Quase me escapou pela boca um você é muito linda, mas, que droga, a frase calou-se na minha garganta. Tenho que me lembrar disso para dá próxima vez e expor minha impressão positiva. Que próxima vez? Quando? Na Olinda que não vou? Depois desse encontro raro, até que fiquei com vontade de ir para Olinda. Há um grande talvez aí, pendendo fortemente para um não, mas não vou fechar essa porta definitivamente depois da experiência com a gatinha do cigarro. Em Olinda, as garotas em geral estão mais soltas, ou assim me parece. Se eu me soltar um pouquinho também, é possível, ou melhor, não é impossível, eu beijar alguém. Vi um pai fumando maconha com o filho. Achei a cena pitoresca. Ambos eram maiores de idade, vale ressaltar. Não vejo nada contra a maconha quando o álcool é fartamente liberado e consumido. Acho esse muito mais nocivo que aquela. Ninguém nunca morreu de overdose de maconha, meu pai morreu por conta do álcool, pelo menos essa é a minha interpretação dos fatos. Botei “Utopia” para ouvir. Quero ver que recorte da minha vida o disco refletirá daqui a alguns anos. Sei que está correlacionado de forma bastante forte com o Mario Odyssey. O jogo foi um dos tópicos debatidos com o meu amigo jurista, mas discorremos mais sobre o Zelda: Breath Of The Wild. Ele me deu boas dicas, mas não me lembro delas todas. Estou sem saco de escrever. Mas não queria estar no Recife Antigo com bêbados tampouco. Por mais que amigos. Já é carnaval na cidade, então o Recife Antigo deve estar repleto. Não estou com energia para isso. Quem me dera voltar no tempo. Melhor não. Não sei em que cadeia de eventos me meteria, poderia findar numa realidade bem pior do que essa. Qualquer mínimo desvio me levaria sei lá para onde. Se me arrependo da cola? Me dói a dor que causei, mas não trocaria a minhas experiências por uma consciência mais leve. Posso dizer que a cola salvou a minha vida, nas vezes em que estava com ideário suicida forte e a cola foi a única coisa a me dar prazer, a me poupar do sofrimento existencial agudo e me aliviar o sofrimento que era existir, uma razão para não morrer. É uma pena que tenha fugido completamente ao meu controle. Na relação com a cola, ela é que me domina e não o contrário, por isso cortei relações. A fissura é um sentimento terrível que me transfigura comportamentalmente, me transformando num marginal maquiavélico, num psicopata frio e calculista. Não quero sentir nunca mais tal sentimento. É asqueroso. Integralmente doentio. Todo o lado ruim do meu caráter vem à tona, facetas que nem imaginava ter em mim despertam e me envergonho de todas elas, pois são más e do mais profundo egoísmo. Devo admitir que hoje sou profundamente egoísta, mas de uma forma inofensiva para os outros. Um tanto nociva para mim, por causa do déficit crescente em relação às socializações. Mas sou do partido que todos nós somos egoístas, tudo o que fazemos, até uma caridade, faz-se por uma necessidade do ego. Ninguém está livre disso. É fato, entretanto, que há egos muito mais nobres que o meu. Eu sou apenas um cara medíocre com uma inteligência que dizem ser acima da média (certamente não a emocional). Meu desempenho na vida é pífio, nada mais faço dela do que me transformar nessas palavras. Ou muito pouco além disso (e das necessidades básicas, fumar entre elas). Jogo Mario Odyssey. E fico a admirar meus bonecos. É uma existência medíocre que privaria o mundo de muito pouco com a minha morte. Mas não anseio a morte. Não mais. Não por enquanto. O que anseio agora além de jogar Mario Odyssey e escrever? Dar um beijo em uma menina tão linda quanto a que me pediu um cigarro. Ah, ilusões. Vivo a criar ilusões em relação a garotas. Não movo uma palha para concretizá-las. A que movi mais palhas nesse intuito foi sem dúvida a garota da noite. Que pena, não está a fim de mim ou de nada sério é o que chega aos meus ouvidos. Ou como interpreto o que chega a eles. Meu amigo jurista já está há dez anos com sua esposa. Não imaginava. É muito tempo. Como passa rápido. Meu dia de carnaval. Será mesmo o último desse carnaval? Ou será irei para Olinda e virarei um agarrador de mulheres? Hahaha. Românticos como eu não estão com nada hoje em dia. É um movimento cultural morto, senão morto, moribundo, comatoso, na UTI. Vivo numa época muito diferente de mim, me sinto anacrônico. 23h44. Vou pegar um café e beber uma água.

23h48. Ainda estou fantasiando com a menina do cigarro. Um total desperdício de sinapses. Pensei em outra frase para dizer a ela, “você é uma ótima razão para eu ter começado a fumar”. Ou “você aparecer do nada na minha vida é uma ótima razão para eu ter começado a fumar”. Nunca conseguiria formular isso na hora. Mas a do beijo eu conseguiria. Vou tentar guardar ambas na cachola. Nossa, como minha socialização foi fraca hoje. Pífia. É a vida e ela segue. A menina do cigarro não passará de novo por mim. Passou. É passado. O que tenho à frente a esse respeito? Talvez Olinda. É o lugar mais fácil de agarrar uma mulher, segundo me consta. Pelo menos o assédio masculino ostensivo, violento, mudou da minha época para hoje. Uma coisa que melhorou no mundo, além da banda de internet e dos gráficos dos games. E nisso volto a pensar de novo no Odyssey. Só vi as minhas amigas da Vila Edna em cima do palco, local inacessível para mim e minha ojeriza a concentrações apertadas de gente. Como encararei Olinda, então, né? Boa pergunta. Acho que isso é outra ilusão que trago na cabeça. Vou tirar a roupa que usei na rua, não é tão confortável quanto a que tenho aqui para usar em casa. Hoje não durmo sem duas coisas. A principal sendo jogar Mario. A outra pode nem acontecer, me faltar disposição. Eu sei lá. Nem sei se terei paciência para o Mario. Vou montar esse post. E lembrar que tenho que ligar para Maria. Na semana que vem. Que, por sinal, acabou de começar. São 0h06 do domingo. Tenho que compor esse post com os e-mails que escrevi e organizar as fotos com seus devidos locais na narrativa. Podia jurar que ouvi meu primo me chamar. Deve ter sido engano. O servente do meu prédio perguntou por mim de uma forma estranha, como se achasse que eu havia sido internado. A sensação que tive foi essa. Voltar a escrever na piscina. É uma coisa que eu posso fazer para alterar a minha rotina um pouco quando voltar ao meu quarto-ilha. Considerarei, se me lembrar. Tem sido bom esses dias longe da minha mãe. Acho que está sendo bom para ambos. Espero que ela volte com mais confiança em mim. Que me deixe seguir minha vida como me apetece. Sei que não chegará a tanto, mas é bom ter esperanças. O ruim é a frustração depois. Hahaha.

0h15. Estou com preguiça de montar esse e-mail, tratar as fotos etc. Acho que vou deixar para quando acordar. A outra coisa que quero fazer além de jogar Mario? Escrever no Desabafos do Vate. Mas não sei o faça. A liberdade total é algo demandante. Não sei se quero encará-la agora.

0h44. Meu primo-irmão realmente havia chegado, conversei com ele e fiquei sabendo que o amigo cervejeiro, com quem peguei carona no táxi para vir para cá, como havia dito, não deu as caras no Recife Antigo. Meu primo-irmão ficou chateado com razão porque o nosso amigo cervejeiro não comunicou nada a ele. Simplesmente não compareceu. Curioso, ele parecia bastante motivado a encontrar a turma. Vai entender. Vai dar uma da manhã e nada de brecha para o Mario Odyssey até agora. Mas vai rolar. Tenho café para segurar o meu sono. Mas o que queria mesmo era um copo de Coca com gelo. Hoje foi bom demais nesse sentido, tomei muita Coca. Uma coisa meio sinistra aconteceu. O cara que pegava os refrigerantes, havia cortado o dedo, vi o sangue escorrendo de sua mão e, quando me deu um dos refrigerantes veio com a água turvada de vermelho. Limpei com a minha camisa e espero muito que o cara não tenha HIV. Ele e eu (principalmente) fomos irresponsáveis.

0h58. Acho que vou preparar as fotos. Não, não estou com saco agora. Deixa isso para quando acordar. Já sei que vou acordar um caco se me levantar na hora do almoço. Hoje quero dormir na hora que me aprouver. E hoje me apraz dormir bem tarde, depois que o dia clarear. Veremos se estou com esse pique carnavalesco mesmo.

1h21. Preparei as fotos. Agora é achar lugar para colocá-las, mas só farei isso durante a revisão.

1h23. Já tenho cigarro para a noite toda. Great. Vou fazer xixi.

1h27. Tomei os meus remédios. Titia já vai se recolher e eu vou encarar um Mariozinho. Eu acho. Mas vou. Estou cansado, mas quero que essa noite seja minha. Já é uma hora avançada, mas posso jogar uma hora, hora e meia e depois, se aguentar, vir para o Desabafos do Vate. Com os textos dos e-mails, esse post pulou para 8 páginas de Word. Está de bom tamanho. Por um lado, eu fui um rapaz exemplar hoje, mas isso deixo para o Desabafos. Basta dizer que me sinto vitorioso. Eu merecia fazer isso por mim. Não sei que forças me ajudaram, mas consegui.

1h35. Acabando de fumar o cigarro para levar minhas coisas para a sala e começar a jogatina. Para terminar em grande estilo e na vibe que estou, posto de novo o papel de parede do Mario Odyssey para quem quiser baixar.

Clique para ver imagem ampliada e salvar.

2h53. Peguei só duas luas no Mario. Está ficando difícil e escasso. Vou para o Vate.

3h39. Não estava rendendo no Vate, decidi voltar para cá. Minha amiga jornalista criou uma palavra nova, “Quiébquiénissi”, que não consegui descobrir o significado. Caso possua. Bem, ela postou no WhatsApp do grupo após meu primo-irmão ter dito que estava em casa e que havia dado “game over”. Sei lá.

3h44. Estou revezando entre um cigarro mentolado e um normal, muito bom. Fumar cigarro de verdade é muito bom. O mentolado é uma delícia. Que prazer sinto agora. Prazer mortal. Dá até nome de filme. Hahaha. Se já não houver! Vou procurar no Google agora.

3h48. Tem “Prazeres Mortais”, que por sinal eu já assisti, mas só conhecia o nome em inglês. “The Loft”. Tradução quase literal. Hahaha. Caramba, o finalzinho, a baga do mentolado fica mentolado pra dedéu. Ouvindo adivinha o quê? Exato, o de sempre nos últimos tempos, coloquei em modo de repetição infinito quando cheguei aqui.

3h55. Estava aqui lembrando de “The Loft”, me recordo que não achei ruim, valeu as duas horas de permanência na existência. Saí duas horas mais velho, mas satisfeito. Não é inesquecível mas tem os seus plot twists. Estava pensando também nas apetitosas que vi no bloco, a magrinha com cara de Dorotéia e a galega. Se fosse ter que optar por uma das duas, acho que ficaria com a magrinha. Gostei mais dos trajes e do corte de cabelo dela. Acho que teríamos personalidades e gostos mais parecidos. Embora houvesse talvez um abismo grande de idade entre nós, ela com uma mentalidade de 20 anos e eu com mentalidade de 8. Hahana. Estou todo engraçadinho hoje, né? Colocando “hahaha” a torto e a direito. Sou... nós. Belo poema concreto que ilustra a capa do primeiro de Marcelo Camelo. Lembrei da garota da noite por mais que não queira ter uma relação simbiótica. Levando ao extremo, o sou nós poderia significa que sou parte de nós, da humanidade, ou além, faço parte do ecossistema global ou mais além ainda pode ser eu sou parte do universo, eu sou parte de tudo. Levando para um outro lado o sou de um lado e o nós do outro, significa que, mesmo dentro de uma relação, o sujeito mantém a sua individualidade.

Ouça pelo menos a primeira música, é uma perfeição.

4h27. Bati um prato de feijoada com arroz. Só ficou faltando a farinha, que não localizei, para ficar perfeito. Estou com sono, mas não quero largar o osso. A magrinha, amiga da apetitosa, deve ser uma lindeza nua. No nível da apetitosa nos tempos áureos. E o jeito bem feminino e delicado da magrinha me encantou mais. Quem será que herdará o DQF, onde mamãe e meu padrasto trabalham? Todos os fundadores estão ficando velhos, alguns já partiram. Outros partirão e quem irá substituí-los, que tomará o lugar de uma turma muito boa, excelentes acadêmicos e pesquisadores brilhantes apaixonados pela Química. Vai ser difícil manter o nível. Muito difícil.

4h40. Vou dar um rolé pela internet.

4h43. Li sobre outra lua que nunca conseguiria pegar. É bom que vou aprendendo os truques. O que vai além do óbvio, além da minha imaginação. Já são duas que a internet me ensina. Duas que havia desistido de buscar. Ficará faltando só as da corrida para eu fechar a fase. Dá vontade de entrar no jogo agora só para pegar a lua.

5h03. Nem fui. Fiquei passeando pela internet, namorei bastante o Hulk. Está chegando a hora de eu ir dormir. E está chegando a hora da lapada do Hulk. Das lapadas. Em outras palavras, está chegando a hora de o Hulk chegar. É uma pena que não tenha onde exibi-lo.

5h08. Tem cinco minutos guardados dentro de cada cigarro. Não tenho mais nada a dizer por hoje. Só que acho que não vou a Olinda, mas isso pode ser porque estou cansado e com sono.  

Um comentário:

  1. Primo! Só pra dizer que não acho chato te ver jogando Mário, pelo contrário. Bjos, Natália

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