Chamei de "Liberdade da Plenitude", concluíram que eu era desequilibrado depois que interpretei o desenho... |
Num dos grupos do CAPS quarta-feira, num debate sobre a
figura acima, que elaborei durante a atividade, o mediador do grupo pediu que
eu pensasse sobre a palavra equilíbrio. Disse a ele, então que escreveria sobre
ela aqui neste espaço. Passaram-se dois dias e eu não consegui achar motivação
para escrever sobre o tema. Mencionei o fato para ele hoje e ele me disse para
tentar equilibrar coisas, fisicamente falando mesmo, para ver se isso me dava
uma luz sobre o texto. E não foi que deu? Tentei equilibrar meu isqueiro em pé
na minha mão e descobri que alcançar o equilíbrio é a parte mais fácil;
mantê-lo é que é extremamente difícil e, no caso do isqueiro, para mim,
impossível.
Eu sou uma pessoa de extremos ou pelo menos assim me julgam.
É fato que nem sempre consigo manter o controle sobre certos aspectos da minha
vida. Me considero inexperiente emocionalmente em relação a garotas e ando um
tanto quanto introvertido. Por outro lado, pego uma psicóloga do CAPS e falo
abertamente da minha vida, como faço aqui. Da mesma forma, muitas vezes
repetitiva, como aqui. É fato que tenho baixa autoestima no que diz respeito à
minha aparência e minha cultura, por outro lado o meu blog de bonecos bota meu
ego lá para cima quando recebo um elogio. Enquanto fisicamente me sinto um
fracasso e isso me põe para baixo, assim como os meus defeitos de caráter que não
consigo ainda controlar (e há também alguns que não quero controlar), de resto
vou muito bem comigo mesmo. Acordo gostando de viver. Tenho coisas para
preencher todos os meus dias e todas as minhas horas. Coisas que gosto de
fazer. Então não tenho do que reclamar. Não me vejo como um desequilibrado
emocional. Sou desequilibrado corporalmente falando e acho que isso se deva em
parte aos remédios que eu tomo ou assim quero crer. A droga é que não consigo
me lembrar os extremos que o terapeuta mencionou no grupo para transcorrer
melhor sobre o assunto. É óbvio que não consigo manter o equilíbrio o tempo
todo e cometo excessos. Mas, em comparação com dois anos atrás, eu estou muito
mais comedido. Como consegui isso? A custa de muito esforço e de muita cabeçada
na parede. Ainda ando dando com os cornos no muro, mas muito mais de leve
agora, adquiri um autocontrole que não me imaginava capaz de ter, que ainda me
é penoso controlar, mas a sensação de não ter feito uma besteira que vem depois
e é recompensadora. Uma coisa que me incomoda, mas não o suficiente para que eu
tome uma atitude é que me sinto em débito com uma série de pessoas, mas, por
outro lado, gosto tanto de usar meu tempo da forma que me apraz que esse prazer
empalidece qualquer vontade mudar a minha rotina. É algo que preciso trabalhar.
Há certas responsabilidades de cunho emocional mesmo que preciso assumir. Não
são tarefas domésticas. São cultivos de relações afetivas que estou deixando ao
deus dará. É uma das mudanças que vejo como mais prementes na minha vida. Isso
vai requerer esforço e privações aos quais certamente não estou disposto a me
submeter, mas por um bem maior que eu, se fazem necessários. Falo
principalmente da minha mãe e, num segundo plano, dos meus avós; e num plano
intermediário das garotas. Por sinal a Mariana que encontrei na Bodega do
Eduardo não me saiu da cabeça ainda e ainda estou batalhando por seu Facebook,
muito embora eu tenha grandes suspeitas de ela ser lésbica, por mais que não
aparentasse no agir, como também não aparentavam suas amigas, mas nas gírias
relacionadas a mulheres. Espero estar redondamente enganado e espero conseguir
o Facebook dela. Mas estou fugindo do meu assunto que é o equilíbrio. A
pergunta que me vem é: se estou me sentindo majoritariamente bem – e bote
majoritário nisso – deveria eu me forçar a mudar o andamento das coisas?
Obviamente gostaria de emagrecer, mas exercícios estão cortados do meu rol de
possibilidades, só me resta fechar a boca, por mais que este remédio da noite
me dê uma fome do cão. Vou ter que voltar a pedir para trancarem a cozinha.
Agora mesmo, 23h36. Estou com uma larica enorme. Doido para colocar algum
alimento para dentro. O meio pacote de biscoitos que comi para enganar já não
enganam nada. Por isso é bom trancar a cozinha. Para que eu não vá lá “estraçaiá”
tudo o que encontrar pela frente. Funcionou antes. Pode funcionar agora.
Reduzir a quantidade de Coca-Cola Zero também está fora de cogitação. Se minha
barriga for por causa de contenção de líquidos por causa dos remédios, um
abraço, xau pro louro, que as Cocas eu não abandono. Poderia tomar menos Coca,
seria a decisão equilibrada, mas eu prefiro do jeito que está. Afinal a decisão
tem que ser a mais equilibrada para quem? Este é o meu equilíbrio. Pelo menos
por ora. Todos procuram o seu próprio bem-estar, se eu encontrei e construí meu bem-estar por que deveria
alterá-lo? Por que um adulto precisa de mais responsabilidades, mais repressão
e mais sofrimento para amadurecer? Ah, só quem já passou pelo que eu passei
sabe das responsabilidades, da repressão e do sofrimento inerentes à minha
condição. Para mim tá bom disso. Serei para sempre infantilizado? Talvez, quem
sabe? Tentarei dar mais atenção à minha mãe. É a única meta que me coloco no
momento. E isso significa visitar meus avós domingo sim, domingo não. Vamos ver
se consigo, pois estou sem a menor disposição para isso.
No que mais estaria desequilibrado? Nos gastos? Esta é a
parte em que tenho exercido mais o meu autocontrole. Eu não tenho culpa se o
estabilizador queimou. Mas tenho culpa de ter encomendado duas camisetas para
mim. Infelizmente, não me sinto culpado pelas camisetas. Acho que, de vez em
quando, eu posso escolher as roupas que quero vestir, não ser sempre uma
escolha da minha mãe. Fato é que estou muito feliz do jeito que estou, tirando
essa caspa que me deu na barba, meu bucho e a falta de uma flor na minha vida.
Eu não sei, posso estar completamente equivocado, mas me sinto equilibrado. Em
vista do que já fui. Em vista dos demais que me cercam. Estou em paz comigo e
com o mundo. Nunca 100% em paz nem com um, nem com o outro, mas quem está? Não
sou Buda, nem tenho pretensões budistas. Falta-me mais auto-aceitação e mais
autoestima, mas um passo de cada vez, já percorri um caminho enorme e tenho
sempre que ter cuidado para não tropeçar no meio dele, porque buraco preu cair
é o que não falta. Já está de bom tamanho para mim, não preciso de responsabilidades
outras, sofrimentos outros, repressões outras. Quero a vida o mais livre, leve
e solta possível. Eis aí meu ponto de equilíbrio. Poder fazer minhas próprias escolhas
dentro dos limites da curatela. A curatela é um fator bastante limitante, mas
mesmo assim, existem graus de liberdade a se apreciar. E eu os aprecio. E como.
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