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Casa dos três velhos |
Ouvindo, Blackstar
de David Bowie. Venho ouvindo com frequência agora que me acostumei com o
disco. Também tenho escutado bastante New
Adventures in Hi Fi do REM, aquele disco que meu primo me deu anos atrás e
ao qual não havia ainda dado uma chance. Maria Rita agora me faz lembrar a
época em que estava jogando FEZ (jogo nota 10 que aconselho a qualquer gamer
jogar, desde que com acesso à internet, pois certas coisas só com a ajudinha de
um bom walkthrough). E Mallu. Ah, Mallu é para quando eu quero deixar a vida
mais leve e doce. É um disco tão inofensivo que chega a ser indefeso. É tão
carinhoso, posto que devotamente apaixonado, e um tanto hesitante, inseguro,
como uma garota de 18, 19 anos que ama profundamente um cara barbudo de trinta
e tantos anos.
Faz tempo que não venho aqui ao território das palavras
livres, leves e soltas, das palavras jogadas ao balanço do mar de pensamentos
que as carrega de mim para o papel digital. Ainda estou me sentindo desapontado
comigo mesmo por ter perdido a oportunidade de conversar coma menina solitária
do Forró da Casa Astral. Quando me decidi ir ter com ela, ela não estava mais
lá. E foi uma garota que sinceramente me agradou e que me pareceu simpática. Por
mais que parecesse chateada com algo. Não é como a minha outra musinha do
forró, que sempre está com cara de poucos amigos ou de estar acima da
humanidade. Não sei porque, nem como se consegue, alguém se dar tanta importância
e se achar tão especial. Gostaria de saber, mas não de praticar. Quem sabe,
sabendo isso, eu não saberia agir normalmente e não como um sub-humano? Meu
psicólogo disse que minha casa havia se tornado uma casa de velhos e que eu
deveria dar mais atenção à minha mãe. O chato foi que ele me incluiu dentre os
velhos da casa. E não me sinto velho por dentro. Embora a idade já pese um
pouco por fora. Talvez por dentro também. Não aguentei a farra dos meninos na
sexta ou no sábado, nem lembro. Fui embora bem mais cedo que eles. Por volta das
duas da manhã. Eles ficaram até umas quatro. Num lugar barulhento, tocando
música que não gosto, com gelo pago, onde não conseguia ouvir as conversas
direito. Ou seja um lugar inóspito para a minha velha alma. Muito melhor seria
a máquina de chope ter funcionado e termos ficado na casa dos meninos,
sentados, jogando conversa fora. Mas o destino e o tanque de gás não quiseram
assim. É a vida. A vida. Que coisa mais estranha é a vida. Nos apresenta
impossíveis. Nos faz desejar impossíveis. Como não morrer ou não envelhecer. Eu
acho que minha vida está perfeita do jeito que está agora. Pena apenas não
haver gatinha para me aconchegar e aninhar. Mas também não sei se estaria
disposto a transformar minha rotina para fazê-la caber na minha vida.
Dependendo de quem fosse, faria sim. Daria o meu mundo e minhas bonecas. Mas a
vida não está querendo assim. Nem vai querer. É bom que continuo com as minhas
bonecas. E todo o resto da minha vida que está estruturado de um jeito muito
cômodo para mim. Se pudesse, ainda desistiria do CAPS e talvez até do
psicólogo. Mas sei que não posso. Senão viro um vampiro. Troco a noite pelo dia
e não me sociabilizo mais com ninguém durante a semana. E não acho que consigo
achar tanto conteúdo para o meu outro blog para preencher minha vida só disso.
Se bem que consegui um novo estabilizador e meu videogame está operacional mais
uma vez. Então, estivesse eu com disposição para jogar, que não estou com a
mínima no momento, eu teria centenas e centenas de horas de jogo para me
distrair, ou seja, me tornaria praticamente um eremita urbano. O que
praticamente já sou, não fora o CAPS e as saídas de final de semana. O
psicólogo não deixa de ser uma forma de sociabilização. Mas não gostei da idéia
da “casa de velhos”, por mais que ela se me afigure de certa forma verdadeira.
O nome “casa de velhos”, me soa mal aos ouvidos, me lembra asilo para idosos
debilitados. Será que tão em breve serei isso? Eu que nem quarenta fiz ainda
(embora não falte muito). Acho um tanto forçada essa nomenclatura para o meu
lar ainda mais estando eu incluso neste lar, mas sinto uma certa validade nesta
afirmação daqui a dez anos. Não por mim, ainda, mas por mamãe e meu padrasto. “Casa
de velhos”, vocês gostariam que dessem essa nomenclatura ao lar de vocês? Mas o
meu lar é deveras sui generis, assim como a minha situação pessoal, assim como
a minha própria pessoa. Mas me recuso a ser considerado ou me sentir, aos 39
anos, um velho. Tudo bem que tenho a alma empoeirada de solidão. Tudo bem que
carrego nela amores que mais se parecem fantasmas de tão etéreos, mas não sou
velho. Sou apenas alienado. Da maioria das coisas do cotidiano de uma pessoa
dita normal. Não sou alienado sobre bonecos ou games (até que de games estou um
pouco alienado, pois decidi ficar na geração passada, por ter tantos jogos para
zerar), mas não me alieno da vida, a vivo com a intensidade que me é particular
e peculiar, como qualquer outro ser humano. Com a grande benesse de ter uma
pensão que me garante quase que certamente que não descerei ao inferno da
depressão profunda, da angústia sem tamanho e do pânico imensurável nunca mais.
Vivo um paraíso em terra, frente ao tanto que já sofri. Então casa de velhos ou
não casa de velhos, me sinto melhor agora do que não me sentia há anos. Não fôra
a falta da costela para me esquentar ou para eu esquentá-la, tudo estaria
perfeito. Tirando que não contei a mamãe que resolvi me dar três camisas de
presente: uma da Majora’s Mask (quem é gamer sabe o que é) e duas dos Strokes.
As dos Strokes estavam com 25% de desconto, não consegui resistir. Há mais de
ano quero uma camisa dos Strokes, cheguei a encomendar uma, a camisa dos
Strokes dos meus sonhos, que nunca chegou, deu back-ordered, que eu nem sei o
que é. Só sei que nunca me cobraram nada e nunca chegou nada. Então comprei
essas duas agora. Como é roupa, mamãe vai chiar menos... eu espero. Não é
boneco, nem game, então tá “quase” limpeza.
Não sei mais o que escrever por ora, está no lusco-fusco do
final do dia, já não consigo ver as letras direito. Vou acender a luz. São
17h37. O disco de Bowie, que também é curto, há muito já acabou. Vou encher
também meu copo de coca que já secou faz tempo. E vou voltar ao mundo dos
bonecos. Se der na telha, volto a despejar palavras aqui. “Palavra minha,
criatura, palavra, que me conduz...”
-x-x-x-
23h16. Acabei de brincar de boneco por, por enquanto. Foi
divertido. É uma coisa que me absorve porque gosto muito. Estou com uma
vontadezinha de jogar Diablo 3, porém não posso dormir muitíssimo tarde porque
amanhã vou ao manicômio participar de uma dinâmica com os pacientes da casa e o
meu psicólogo, que agora faz grupos terapêuticos por lá. Nem sei o que me
espera, só sei que me espera acordar cedo que odeio. É uma das coisas que mais
odeio na vida. Mas torço para que um dia isso mude, sabia? Gostaria de gostar
de acordar cedo. Mas é incompatível com o meu amor pela solidão da noite.
Quando me sinto meio que dono do mundo adormecido. Sempre fui notívago desde
que me entendo por gente. Sempre tive extrema dificuldade em acordar cedo para
ir para o colégio. Sempre fui coruja. Não sei mais o que dizer. Estou ouvindo
Mallu agora. Já é a terceira ou quarta vez que boto o disco para tocar. Logo,
logo vai ser a quinta, pois a última música, que está tocando agora não vai
durar até eu terminar essa frase. Dito e feito. Hora de recolocar minha
pilulazinha musical de candura para ouvir novamente. Por falar nisso, não
gostei nem um pouco do clipe de “Velha e Louca”, preferia nunca tê-lo visto,
aliás, nem suportei assistir todo. Muito mais interessante foi vê-la executando
algumas das canções do disco e respondendo perguntas no programa de China na
MTV. Adorei. Mas será que é de Mallu que quero falar ou da expectativa de
entrar no manicômio sabendo que não vou ficar internado lá? O que será que vou
sentir? Como serei recebido? Dúvidas, dúvidas. Mas dúvidas que não me acanham
ou amedrontam, já que eu sei que não vou ficar lá com eles. Eles que devem ser
vários que já cruzei pelas internações da vida. É uma pena que a menina que eu
mais queria encontrar teve alta. Uma convergência de fatores impediu o
encontro. Talvez o destino não queira que nos reencontremos. A mãe dela
certamente não quer. Tanto que me ameaçou caso voltasse a contactar a filha
dela pelo Facebook. Coisas da vida. É uma família bem mais adoecida que a
minha. Tenho pena da garota, que pelo menos via em mim um confidente e ombro
amigo. Alguém que compreendia sua condição e as vicissitudes decorrentes dela,
sem a repreender ou com moralismos. É triste, sinto saudade dos nossos papos. É
a vida que muitas vezes corre por regatos que a gente não deseja. A vida é
assim, para a gente valorizar o que tem quando perde. Se bem que eu valorizava
desde antes da ameaçadora mensagem que surgiu no meu Facebook vetando nossas
relações cibernéticas. E pior que não é a primeira vez que acontece. Acho que
atraio essas coisas. Fui banido dos dois maiores blogs de bonecos e foi uma
luta para ser aceito de novo. E estou preparando mais uma bomba que talvez me
leve ao banimento novamente. Acho que não ao banimento, embora a hipótese não
esteja descartada, mas ao veto das minhas polêmicas publicações. Polêmicas para
quem é muito inocente nos grupos, pois eu mesmo não precisei de muito tempo
para perceber que rola um mercado negro de figuras muito bem estruturado e
lucrativo. E vou abordar diretamente esse tema. Que é velado, embora a
divulgação dos produtos se dê nos próprios grupos apenas as negociações sejam
feitas via mensagem privada no Facebook. É um negócio relativamente sigiloso, ma non tropo. Eu apenas exporei o que a
maioria já sabe. Talvez eu surpreenda um ou outro e revele um mundo novo para
alguns colecionadores, mas acho que a imensa maioria já sabe do movimento. De
qualquer forma o meu blog de bonecos de nada interessa aqui. E em nenhum lugar
senão nos grupos especializados do Facebook. O disco de Mallu já vai acabar de
novo. Queria que meu padrasto já tivesse ido dormir para eu poder fumar o meu
cigarro de verdade antes de dormir. Se fumar agora, certamente ele vai sentir o
cheiro no corredor, devido à geografia da minha casa. Que saco. Já-já dou uma
bizoiada para ver se ele já se retirou ao recinto conjugal. E aproveito para
encher meu copo de coca-cola. O disco de Mallu acabou. Acho que vou dar essa
bizoiada agora.
0h02. Ele já foi dormir. Vou aproveitar que a minha janela
ainda está aberta e não liguei o ar para fumar e torcer para o cheirão sair.
Porque minha mãe pega quando eu fumo. É muito ozzy. O cara reduz para um
cigarro por dia e ainda ouve esporro. Tenha dó. Tem dias que não fumo nenhum.
Até porque não tenho. Bom. Vou lá fumar. Quando voltar, sai Mallu e entra REM de
novo.
0h13. Já fumei, já coloquei REM e já estou aqui de volta.
Estou puto por que tecla de Shift do meu computador já não está respondendo bem.
É uma das teclas principais de qualquer computador (maiúsculas, anyone?) e já
está dando pau. Devo confessar que não sou dos mais delicados com as teclas,
gosto de teclar com certa violência, acho que resquícios do uso de teclados de
desktop antigos com suas teclas altas e resistentes. Estou pensando, mas este
pensamento se tornou mais distante agora, em ligar meu computador à TV para
usá-la de monitor. O cabo HDMI eu já tenho, faltam o teclado e mouse wireless e
principalmente um apoio para tudo isso. Talvez essa migração tecnológica se dê
quando minha mãe resolver fazer a reforma do meu quarto, quando poderei enfim
exibir minhas bonecas e bonecos para poder contemplá-los em todo o seu
esplendor. Ter meu sonho finalmente contemplado. Mas acho que isso ainda demora
alguns anos. Espero que menos de cinco. Mais do que isso fica meio chato. Meio
intranquilo e desfavorável. Uma espera muito longa. Espero que a suposta
arquiteta(o) que desenhará o meu quarto arrume lugar para todos os meus
bonecos. Amealhei muitos ao longo dos últimos 10-15 anos. Muitos me desfiz para
comprar novos e me arrependi. Outros, não. Espero que não me arrependa do
custom que comprei com a venda de bonecos, ele me alisou completamente. E nem
sei se vai ficar pronto mesmo. Espero que sim, que galera não dê calote. Pois
nessa área de customs há muitos caloteiros e este boneco que comprei é 100%
made in Brasil, o que foi decisivo na hora de definir a compra. Já paguei o
boneco, só falta o frete, que vai ser caro porque, segundo os caras o boneco
vai ser sólido e deve pesar uns 10-12 quilos. Sólido que eu digo é que não vai ter
partes ocas, vai ser maciço. O que é uma coisa que nunca vi ninguém fazer e que
pode muito bem ser uma enrolada. Só sei que só vou pagar o frete depois que me
mostrarem uma cópia da nota do frete com o meu tracking number. Se eu fui o
único cliente fiz um voto de confiança e já paguei o boneco inteiro, sem nem o
protótipo ficar pronto, eles vão ter que fazer um voto de confiança em mim e
confiar que eu vou pagar o frete depois do envio. Minha grana tá reservada para
isso. E para os outros pre-orders que vão chegar lá na casa do meu irmão nos
EUA. Tive que vender bonecos valiosos para conseguir estes. Este é o lado bom
de colecionar bonecos, eles se valorizam muito. Mas estes que comprei não vou
querer vender de jeito nenhum. Assim espero.
-x-x-x-
Recife, 2 de agosto de 2016.
Só mais um pouquinho sobre bonecos. Ontem eu intermediei uma
possível parceria entre dois caras que, se der certo, vai causar o maior
frisson no mundo dos bonecos. Eu nem acredito que participei desse momento que
pode ser histórico. Intermediei = passei o e-mail de um para o outro que me
pediu. Mas já me senti “o phoda”. Hahahahaha. Só porque repassei um e-mail. Mas
a vida é feita dessas pequenas conquistas. A minha pelo menos é. O resto da
minha semana está repleta de compromissos chatos de ordem médica e psicológica.
Que saco. E eu ainda estou com um sono arretado aqui e percebendo que estou me
tornando disléxico, pelo menos em relação à digitação. Talvez seja o sono. Vou
tentar dormir um pouco. 16h33. Vou publicar logo isso que já está com quatro
páginas de Word. E eu nem em apercebi.