Você tem fome de quê? Você tem sede de quê? |
Vontade. De palavras, de escrever, dessa coisa que não
existe que é liberdade. Vontade. Vontade? Tudo o que fazemos fazemos por
vontade, mesmo que não pareça, mesmo que pareça o oposto, contrário a ela, mas
o fato é que a vontade de agir “contra a vontade” em determinadas ocasiões - geralmente
por pressões externas - acontece porque toca em algum ponto das nossas
motivações e crenças internas (senão não lhes daríamos atenção/relevância). Há
aqueles, como Freud, eu creio, que não acreditam nessa coisa de vontade
própria, livre-arbítrio. De certa forma ele está certo, porque acredito que haja
o tal do inconsciente, que com sua mão invisível, guia, orienta sorrateiramente
nossa parte consciente. Além disso, há o conjunto de regras e normas que
introjetamos ao longo de nossas vidas e que, voltando novamente a Freud, o
superego nos impele implacavelmente. Mas há também a dúvida, que escapa ao
determinismo de Freud. Como pode o cérebro já ter tudo decidido, mesmo que em
nível subliminar, oscilar entre duas (ou mais) opções? Talvez seja porque o
cérebro esteja encontrando uma situação ou paradigma nunca antes
visto/experimentado e, portanto, sobre o qual não tenha tido oportunidade de
formar/sedimentar um juízo de valor. Ou talvez sejam escolhas cuja variação é
tão pequena (a cor de um vestido, por exemplo) que o mesmo grupo de julgamentos
e preconceitos, desejos e instintos se aplique a todas as opções. Ou quem sabe
seja uma escolha tão gigantesca, tão desestabilizadora do status quo ao qual o indivíduo está acostumado (uma separação, por
exemplo) que o medo de romper com o antigo e abraçar a nova condição implique
num dilema. Não sou psicólogo, tampouco filósofo ou qualquer coisa do gênero.
Sou apenas mais um babaca com Word que decidiu escrever sobre vontade porque
deu vontade. Nada do que mencionei é relevante ou tem o mínimo de embasamento
teórico/acadêmico. Acho apenas que sempre agimos de acordo com as nossas
vontades, ou seja, remetendo a antiquada nomenclatura de Freud uma vez mais, buscando a
melhor relação custo/benefício entre id e superego, entre instinto/desejo e
regras/normas, entre o querer e o poder (e o dever).
Por sinal, acho que as pessoas mais felizes são aquelas que
conseguem uma relação equilibrada entre o que querem e o que podem. Desejam o
que podem. E, se desejarem algo mais alto, sabem que terão de se esforçar um
pouco mais, trabalhar/se doar um pouco mais para/ao mundo para realizar tal
desejo. Eu sou uma pessoa que geralmente, modéstia à parte, vem conseguindo
manter um equilíbrio satisfatório entre o que eu quero e o que eu posso (embora
nos últimos quinzes dias tenha extrapolado e realizado dois desejos além das
minhas possibilidades, tanto psicológicas, quanto materiais [que afora as
necessidades básicas são psicológicas – para satisfação do ego – também] e, por
isso, estou passando o Carnaval em casa escrevendo essas besteiras. Também por
isso não entro mais no eBay, nem na Amazon, nem em nenhum site de compras). Mas
contive estes descontroles e já tenho um plano, arriscado, mas, para o mundo
todo, sadio e virtuoso para repor a parte material que devo a meu irmão.
Estranho que me arrependo do descontrole material, mas não me arrependo de ter
feito a compra, afinal era um objeto que eu desejava muito e que comprei cerca
de 50 dólares mais barato do que o próprio fabricante oferecia. Tenho para mim
que fiz um ótimo negócio que não podia fazer (por não ter dinheiro). Fiz às
custas do dos outros e isso me faz sentir muito mal. Vou tirar um cochilo que
me deu vontade. :) (16h10)
20h29. Voltei. Por pouco tempo. Minha atração agora é pelo
PS3, meu filho, meu companheirão, meu bem mais precioso. Ele é algo além de um
objeto, ele me transporta e me transforma em pessoas e lugares fantásticos,
mágicos, bizarros e até doentios, mas sempre divertidos e emocionantes. É mais
que um objeto, não apenas pelo software (embora sem os softwares o PS3 não seja
nada), mas pela afeição que desenvolvi por ele, é quase um objeto de
culto/devoção para mim. Acho as horas que passo jogando superiores, sublimes,
acima do normal em contentamento/preenchimento da alma, talvez da mesma forma
que alguém que acredita do fundo do coração em Deus se sente quando entra “em
contato” com “Ele”. Só me sinto mais preenchido que jogando PS3 quando amo uma
paixão-pessoa-garota-linda-e-legal, mas faz tanto tempo que não tenho uma
paixão recíproca que nem me lembro direito do sentimento. Mentira! Lembro sim!
Cada detalhe, cada nuance, as cores fortes, o desejo intenso, a adrenalina a
mil, a saudade boa, pois se pode matá-la com beijos e abraços e tudo o mais, a
maravilha que é admirar a pessoa existindo, como se desfilasse pela vida. Tudo
na pessoa é belo aos olhos de um apaixonado. Eu sei, eu me lembro e quase sinto enquanto escrevo. Mas
isso que sinto agora é mera emulação da coisa em si. E me falta a coisa em si.
Falta desesperadamente a coisa em si. Faminto por paixão estou como a criança
somali por um prato de comida. Pobre criança, já nasceu conhecendo a fome e a
tendo como companheira diária. Tomara que por ser assim tão natural e
persistente, seja um pouco menos fome ou que sua fome seja um pouco menos
faminta, uma fome conformada e mais tranquila frente à impossibilidade de ser
saciada. Seria melhor, eu creio, embora de um niilismo absurdo desejar isso,
mas é o que eu queria que a mim acontecesse, fosse eu uma criança somali
faminta, que a fome doesse menos pelo costume e hábito de carregá-la.
Como do PS3 fui chegar à Somália é bastante curioso, essa
coisa de sair emendando uma coisa com a outra, sem olhar para trás é bem
divertida, eu nunca sei onde vai dar. Quando fumava unzinho então... mas deixa
isso para lá, que é papo de ativa e ativa agora só a minha vontade pelo PS3.
Vou postar e me entregar ao meu pequenino e rubro Deus.
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