quinta-feira, 6 de março de 2014

Vontade/Necessidade/Vontade

Você tem fome de quê? Você tem sede de quê?



Vontade. De palavras, de escrever, dessa coisa que não existe que é liberdade. Vontade. Vontade? Tudo o que fazemos fazemos por vontade, mesmo que não pareça, mesmo que pareça o oposto, contrário a ela, mas o fato é que a vontade de agir “contra a vontade” em determinadas ocasiões - geralmente por pressões externas - acontece porque toca em algum ponto das nossas motivações e crenças internas (senão não lhes daríamos atenção/relevância). Há aqueles, como Freud, eu creio, que não acreditam nessa coisa de vontade própria, livre-arbítrio. De certa forma ele está certo, porque acredito que haja o tal do inconsciente, que com sua mão invisível, guia, orienta sorrateiramente nossa parte consciente. Além disso, há o conjunto de regras e normas que introjetamos ao longo de nossas vidas e que, voltando novamente a Freud, o superego nos impele implacavelmente. Mas há também a dúvida, que escapa ao determinismo de Freud. Como pode o cérebro já ter tudo decidido, mesmo que em nível subliminar, oscilar entre duas (ou mais) opções? Talvez seja porque o cérebro esteja encontrando uma situação ou paradigma nunca antes visto/experimentado e, portanto, sobre o qual não tenha tido oportunidade de formar/sedimentar um juízo de valor. Ou talvez sejam escolhas cuja variação é tão pequena (a cor de um vestido, por exemplo) que o mesmo grupo de julgamentos e preconceitos, desejos e instintos se aplique a todas as opções. Ou quem sabe seja uma escolha tão gigantesca, tão desestabilizadora do status quo ao qual o indivíduo está acostumado (uma separação, por exemplo) que o medo de romper com o antigo e abraçar a nova condição implique num dilema. Não sou psicólogo, tampouco filósofo ou qualquer coisa do gênero. Sou apenas mais um babaca com Word que decidiu escrever sobre vontade porque deu vontade. Nada do que mencionei é relevante ou tem o mínimo de embasamento teórico/acadêmico. Acho apenas que sempre agimos de acordo com as nossas vontades, ou seja, remetendo a antiquada nomenclatura de Freud uma vez mais, buscando a melhor relação custo/benefício entre id e superego, entre instinto/desejo e regras/normas, entre o querer e o poder (e o dever).

Por sinal, acho que as pessoas mais felizes são aquelas que conseguem uma relação equilibrada entre o que querem e o que podem. Desejam o que podem. E, se desejarem algo mais alto, sabem que terão de se esforçar um pouco mais, trabalhar/se doar um pouco mais para/ao mundo para realizar tal desejo. Eu sou uma pessoa que geralmente, modéstia à parte, vem conseguindo manter um equilíbrio satisfatório entre o que eu quero e o que eu posso (embora nos últimos quinzes dias tenha extrapolado e realizado dois desejos além das minhas possibilidades, tanto psicológicas, quanto materiais [que afora as necessidades básicas são psicológicas – para satisfação do ego – também] e, por isso, estou passando o Carnaval em casa escrevendo essas besteiras. Também por isso não entro mais no eBay, nem na Amazon, nem em nenhum site de compras). Mas contive estes descontroles e já tenho um plano, arriscado, mas, para o mundo todo, sadio e virtuoso para repor a parte material que devo a meu irmão. Estranho que me arrependo do descontrole material, mas não me arrependo de ter feito a compra, afinal era um objeto que eu desejava muito e que comprei cerca de 50 dólares mais barato do que o próprio fabricante oferecia. Tenho para mim que fiz um ótimo negócio que não podia fazer (por não ter dinheiro). Fiz às custas do dos outros e isso me faz sentir muito mal. Vou tirar um cochilo que me deu vontade. :) (16h10)

20h29. Voltei. Por pouco tempo. Minha atração agora é pelo PS3, meu filho, meu companheirão, meu bem mais precioso. Ele é algo além de um objeto, ele me transporta e me transforma em pessoas e lugares fantásticos, mágicos, bizarros e até doentios, mas sempre divertidos e emocionantes. É mais que um objeto, não apenas pelo software (embora sem os softwares o PS3 não seja nada), mas pela afeição que desenvolvi por ele, é quase um objeto de culto/devoção para mim. Acho as horas que passo jogando superiores, sublimes, acima do normal em contentamento/preenchimento da alma, talvez da mesma forma que alguém que acredita do fundo do coração em Deus se sente quando entra “em contato” com “Ele”. Só me sinto mais preenchido que jogando PS3 quando amo uma paixão-pessoa-garota-linda-e-legal, mas faz tanto tempo que não tenho uma paixão recíproca que nem me lembro direito do sentimento. Mentira! Lembro sim! Cada detalhe, cada nuance, as cores fortes, o desejo intenso, a adrenalina a mil, a saudade boa, pois se pode matá-la com beijos e abraços e tudo o mais, a maravilha que é admirar a pessoa existindo, como se desfilasse pela vida. Tudo na pessoa é belo aos olhos de um apaixonado. Eu sei, eu  me lembro e quase sinto enquanto escrevo. Mas isso que sinto agora é mera emulação da coisa em si. E me falta a coisa em si. Falta desesperadamente a coisa em si. Faminto por paixão estou como a criança somali por um prato de comida. Pobre criança, já nasceu conhecendo a fome e a tendo como companheira diária. Tomara que por ser assim tão natural e persistente, seja um pouco menos fome ou que sua fome seja um pouco menos faminta, uma fome conformada e mais tranquila frente à impossibilidade de ser saciada. Seria melhor, eu creio, embora de um niilismo absurdo desejar isso, mas é o que eu queria que a mim acontecesse, fosse eu uma criança somali faminta, que a fome doesse menos pelo costume e hábito de carregá-la.

Como do PS3 fui chegar à Somália é bastante curioso, essa coisa de sair emendando uma coisa com a outra, sem olhar para trás é bem divertida, eu nunca sei onde vai dar. Quando fumava unzinho então... mas deixa isso para lá, que é papo de ativa e ativa agora só a minha vontade pelo PS3. Vou postar e me entregar ao meu pequenino e rubro Deus.

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