terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sim, te levo para sempre, Clementine...


Oficina de “Não-sei-o-quê” Visual
 
 
 

Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014.

Novamente, outra oficina do CAPS que teve repercussão na minha vida, embora não saiba e talvez nunca venha a saber (espero que, no mínimo nenhuma, pelo menos nenhuma negativa e, no máximo, que o maior sonho da minha vida, junto com a curatela, se realize!).

Gosto muito da Oficina de Arte Terapia com Moa e fiquei em dúvida até o último instante entre participar dela ou da nova Oficina Visual que começava no mesmo horário. Chguei a jogar cara e coroa com a minha sandália havaiana para decidir (sugestão do outro Mário do CAPS) e o resultado do sorteio foi ir para a Oficina de Moa mesmo. Cheguei a entrar e me sentar, mas uma intuição, ou uma vontade mais verdadeira se alevantou (ou uma vontade que eu já sentia e fingi ignorar), me levou a ir experimentar a nova oficina (tão nova que ainda não decorei o nome).

Bom, chegando lá havia um círculo que almofadas e, à frente destas, uma série de imagens recortadas, no centro, uma vela dentro de uma frasco, este também com imagens recortadas e coladas sobre sua superfície. Escolhi aleatoriamente um almofada e, ao sentar, dei de cara com uma imagem em preto e branco que me parecia uma cena de tortura, ou uma mulher mexendo num cadáver mutilado com vários pinos grossos de ferro enfiados nele. A imagem se destacou tanto que, mesmo sem saber qual seria a proposta do grupo, decidi que ela seria a minha imagem de trabalho. Ao pegar e examinar mais de perto a imagem, percebi que não se tratava de um cadáver ou de tortura, mas sim, de uma mulher esculpindo uma figura de outra mulher e que os pinos não era instrumentos de tortura mas serviam de sustentação (esqueleto) para a obra, pois sua postura era inclinada com o tronco pendendo para a direita, o que lhe roubava totalmente o centro de equilíbrio. Fosse o que fosse, a escolha da imagem já havia sido feita e era definitiva.

- Primeira parte da oficina: passou-se um slide show com várias imagens, todas belas, em sua maioria edificantes, com uma música bem zen (o que é uma constante nas oficinas do Rizoma).

- Segunda parte da oficina: nos colocamos o mais confortáveis possível, fechamos os olhos e a psicóloga pediu que ouvíssemos atentamente ao texto que ela iria ler e tentasse imaginar o que era pedido. O texto tratava de pessoas e lugares, de perguntas sobre pessoas e lugares, por exemplo: “quais a cinco pessoas que você mais ama?”, “qual o seu lugar preferido?”, “quem é o avô ou avó que você mais gosta/se identifica? Que conselhos ele lhe daria se fosse o seu guia?”, “para quem você gostaria de ligar para conversar?”, “Que duas pessoas famosas você admira e gostaria de conversar e aprender mais com elas?” e por aí foi.

- Terceira parte da oficina: foi pedido que escolhêssemos uma das pessoas ou lugares que havíamos imaginado, escolhêssemos de uma a três imagens que você achasse que remetiam àquela pessoa ou lugar, fizesse um cartão com a(s) imagem(ns) e, no verso, escrevesse uma carta para ela.

A pessoa que apareceu mais nas minhas respostas mentais às questões foi Clementine (três vezes), por isso a escolhi com destinatária do cartão. Como já havia escolhido a imagem e me determinado a utilizá-la independentemente de qual fosse a proposta do grupo, me vi meio encurralado em como relacioná-la com Clementine de uma forma que ainda fosse sincera e verdadeira. Escolhi ainda a imagem de um relógio para colocar atrás do cartão (um relógio, pois o tempo é um fator especial, no que tange à pessoa escolhida). Enfim, consegui um resultado que foi sincero e libertador. Dei voz ao meu sentimento (platônico) por Clementine e as dores e prazeres de trazer por tanto tempo aquele sentimento comigo. Finalizei com a frase que sempre quis dizer com meus próprios lábios e minha própria voz para ela: “Te amo.”

Parte final da oficina: quem se sentisse à vontade poderia ler a carta para o grupo e nos foi facultado entregar ou não aquela criação ao seu destinatário. Acabada esta parte (alguns calaram suas criações para si e não repartiram no grupo, o que é muito natural e até esperado, posto que é uma constante), fizemos o “ritual” de finalização do grupo e saí de lá com uma enorme interrogação na cabeça: entregar ou não entregar aquele cartão e aquelas palavras a Clementine? Racionalmente eu tinha certeza de que não deveria fazê-lo, que aquilo só ia remexer em sentimentos desagradáveis nela e talvez aumentar a repulsa e evitação que ela tem por mim, que nos últimos meses, desde que saí da internação e me mantive abstêmio, estava pouco a pouco, milimetricamente, diminuindo. Essa pequena construção, que não sei nem como se eregiu, seria definitivamente posta abaixo com a entrega do cartão e voltaria à estaca zero (ou menos cem) na relação de amizade sadia que ameaçava despontar. O lado emocional, entretanto, gritava a plenos pulmões para entregar, para dizer o que estava guardado, mesmo que escrito às pressas e sem o esmero necessário (principalmente pela falta de tempo e sem o auxílio luxuoso do Word), com minha letra feia e verde (algo que só percebi quando reli o cartão à luz do dia, pois a sala da oficina estava na penumbra, tanto que nem mesmo eu consegui entender direito o que tinha escrito quando li a carta para o grupo).

Fiquei no dilema. Busquei o conselho de dois amigos (uma amiga e um amigo) do CAPS sobre o que fazer. Eles alimentaram meu lado emocional dizendo que, se ela tivesse um mínimo de sensibilidade, iria gostar de receber o cartão. Mas aquilo não me convenceu (até porque eles não sabem de todos os episódios pregressos e ridículos pelos quais este amor me fez passar e, por conseguinte ela também). Fiz adendos à caneta, reforcei uma ou outra palavra mais ilegível e permaneci com a dúvida. Como era dia de psicólogo, levei o cartão para a terapia em busca de uma opinião. Ele me deixou com a dúvida, o que julgo ter sido o mais acertado, e que eu decidisse por mim mesmo qual lado eu deveria deixar prevalecer: o racional ou o emocional.

Enfim, voltei para casa, cheguei em casa e a dúvida permaneceu até o momento em que mamãe me “pediu-obrigou” a ir dormir. Fui fumar meu último cigarro da noite no hall do elevador de serviço e, por coincidência, Clementine calhou de sair de casa (para alguma balada, eu acho), naquele mesmo instante. Meio de sobressalto, meio achando que era um sinal, meio um bando de sentimentos e pensamentos que passam tão rápido que não dá tempo de apreender, expliquei a ela sobre a oficina e o meu dilema. Ela me pediu, alegre, o cartão. Entreguei e pedi por tudo que ela não ficasse com raiva de mim. O que passou com ela, se é que o cartão teve alguma relevância para ela, não sei e, como disse no início do post, provavelmente nunca saberei. E é isso. Mas foi muito, muito bom, no final das contas, saber que ela leu o “Te amo”, mesmo que isso vá dá sempre em no mesmo: nada ou algo pior.

Isso me lembra uma canção do Cure em que Robert diz: “You couldn’t ever love me more”. Simplesmente porque incapaz de nutrir esse sentimento por mim. Até porque para ela pesam as palavras de Bono em One: “One Love, one blood, you gotta do what you should”. Por mais que quando revelei pela primeira vez meu sentimento a (ex?) mulher do francês há muito tempo atrás, mais de década, ela disse que isso não era problema, que havia vários casos semelhantes no clã. Talvez ela tivesse bebido vinho branco doce demais, não sei.

Xapralá. Aliás, que tem que “xapralá” sou eu. Eu bem que tento. Há tempos. Mas esse sentimento é maior que eu. Pelo menos do tamanho da minha alma.

Mas não pensem vocês que esse amor me impedirá de continuar colocando minhas asinhas de fora em relação a outras garotas. Minha ex sabia que eu a amava, mas que também amava Clementine e isso não interferiu em nada a nossa relação. Até porque construímos uma bela e forte relação que se bastava em si. Mas havia uma foto de Clementine em nossa casa e ela, minha ex, nem tchunz para isso, pois sabia do impossível da situação. Até ela sabia o que eu insisto em não saber. O que eu insisto em não negar. Porque acho puro, lindo e virtuoso. Porque me sinto meritório do sim. Porque amo. É isso. Por mais que vá sair hoje com meu primo-irmão para um bloco e tentarei paquerar por lá. Eu amo Clementine e acho que isso é para sempre. Para o bem ou para o mal. Para os dois, dependo das condições climáticas e emocionais.

-X-X-X-

Adendo 18 de fevereiro de 2014.

Contei do ocorrido para o meu primo-irmão durante nossa ida ao bloco e ele disse que, no máximo, ela, no máximo, se sentiria lisonjeada e que, provavelmente, iria me evitar de novo, por medo de alimentar qualquer expectativa ou por repulsa ao sentimento, por achá-lo errado ou coisa do gênero.

Aparentemente, pelo menos em relação à parte final, ele está certo, posto que estive em casa de Clementine recentemente e ela nem sequer olhou para mim, que dirá me dar um “oi”.

Infelizmente, nada posso fazer, o que não tem solução, solucionado está. Por alguma razão que me foge à compreensão, Clementine foi – e, pelo visto, sempre será – a “escolhida”. Por mais que já tenha cruzado com garotas que julgasse mais lindas que ela, Clementine faz parte de mim como os meus ossos e músculos, como os meus olhos e lábios, como minha pele.

Se acredito que isso um dia possa mudar, que eu a consiga extirpar de mim como quem tira um tumor ou sinal benigno ou maligno? Sinceramente não sei. Nem se maligno ou benigno. Nem se extirpável.

Só queria que ela não ficasse com raiva de mim (como lhe pedi reiteradamente ao dar o bendito cartão). Mas acho que ela não foi capaz, como não é capaz de me amar. Acho que para ela eu sou apenas um cara velho, viciado e fracassado. O que, venhamos e convenhamos, não é nada atraente ou encantador. Um velho, viciado e fracassado cada vez mais ousado (já coleciono, em apenas um mês, cerca de 8 foras. Estatisticamente falando, a cada novo não, me aproximo devagarinho da possibilidade de um sim! Hahahahahahahahaha!).

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