Oficina de
“Não-sei-o-quê” Visual
Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014.
Novamente, outra oficina do CAPS que teve repercussão na
minha vida, embora não saiba e talvez nunca venha a saber (espero que, no
mínimo nenhuma, pelo menos nenhuma negativa e, no máximo, que o maior sonho da
minha vida, junto com a curatela, se realize!).
Gosto muito da Oficina de Arte Terapia com Moa e fiquei em
dúvida até o último instante entre participar dela ou da nova Oficina Visual
que começava no mesmo horário. Chguei a jogar cara e coroa com a minha sandália
havaiana para decidir (sugestão do outro Mário do CAPS) e o resultado do
sorteio foi ir para a Oficina de Moa mesmo. Cheguei a entrar e me sentar, mas
uma intuição, ou uma vontade mais verdadeira se alevantou (ou uma vontade que
eu já sentia e fingi ignorar), me levou a ir experimentar a nova oficina (tão
nova que ainda não decorei o nome).
Bom, chegando lá havia um círculo que almofadas e, à frente
destas, uma série de imagens recortadas, no centro, uma vela dentro de uma
frasco, este também com imagens recortadas e coladas sobre sua superfície.
Escolhi aleatoriamente um almofada e, ao sentar, dei de cara com uma imagem em
preto e branco que me parecia uma cena de tortura, ou uma mulher mexendo num
cadáver mutilado com vários pinos grossos de ferro enfiados nele. A imagem se
destacou tanto que, mesmo sem saber qual seria a proposta do grupo, decidi que
ela seria a minha imagem de trabalho. Ao pegar e examinar mais de perto a
imagem, percebi que não se tratava de um cadáver ou de tortura, mas sim, de uma
mulher esculpindo uma figura de outra mulher e que os pinos não era
instrumentos de tortura mas serviam de sustentação (esqueleto) para a obra,
pois sua postura era inclinada com o tronco pendendo para a direita, o que lhe
roubava totalmente o centro de equilíbrio. Fosse o que fosse, a escolha da
imagem já havia sido feita e era definitiva.
- Primeira parte da
oficina: passou-se um slide show com várias imagens, todas belas, em sua
maioria edificantes, com uma música bem zen (o que é uma constante nas oficinas
do Rizoma).
- Segunda parte da
oficina: nos colocamos o mais confortáveis possível, fechamos os olhos e a
psicóloga pediu que ouvíssemos atentamente ao texto que ela iria ler e tentasse
imaginar o que era pedido. O texto tratava de pessoas e lugares, de perguntas
sobre pessoas e lugares, por exemplo: “quais a cinco pessoas que você mais
ama?”, “qual o seu lugar preferido?”, “quem é o avô ou avó que você mais
gosta/se identifica? Que conselhos ele lhe daria se fosse o seu guia?”, “para
quem você gostaria de ligar para conversar?”, “Que duas pessoas famosas você
admira e gostaria de conversar e aprender mais com elas?” e por aí foi.
- Terceira parte da
oficina: foi pedido que escolhêssemos uma das pessoas ou lugares que
havíamos imaginado, escolhêssemos de uma a três imagens que você achasse que
remetiam àquela pessoa ou lugar, fizesse um cartão com a(s) imagem(ns) e, no
verso, escrevesse uma carta para ela.
A pessoa que apareceu mais nas minhas respostas mentais às
questões foi Clementine (três vezes), por isso a escolhi com destinatária do
cartão. Como já havia escolhido a imagem e me determinado a utilizá-la
independentemente de qual fosse a proposta do grupo, me vi meio encurralado em
como relacioná-la com Clementine de uma forma que ainda fosse sincera e
verdadeira. Escolhi ainda a imagem de um relógio para colocar atrás do cartão
(um relógio, pois o tempo é um fator especial, no que tange à pessoa
escolhida). Enfim, consegui um resultado que foi sincero e libertador. Dei voz
ao meu sentimento (platônico) por Clementine e as dores e prazeres de trazer
por tanto tempo aquele sentimento comigo. Finalizei com a frase que sempre quis
dizer com meus próprios lábios e minha própria voz para ela: “Te amo.”
Parte final da
oficina: quem se sentisse à vontade poderia ler a carta para o grupo e nos
foi facultado entregar ou não aquela criação ao seu destinatário. Acabada esta
parte (alguns calaram suas criações para si e não repartiram no grupo, o que é
muito natural e até esperado, posto que é uma constante), fizemos o “ritual” de
finalização do grupo e saí de lá com uma enorme interrogação na cabeça:
entregar ou não entregar aquele cartão e aquelas palavras a Clementine?
Racionalmente eu tinha certeza de que não deveria fazê-lo, que aquilo só ia
remexer em sentimentos desagradáveis nela e talvez aumentar a repulsa e
evitação que ela tem por mim, que nos últimos meses, desde que saí da
internação e me mantive abstêmio, estava pouco a pouco, milimetricamente,
diminuindo. Essa pequena construção, que não sei nem como se eregiu, seria
definitivamente posta abaixo com a entrega do cartão e voltaria à estaca zero
(ou menos cem) na relação de amizade sadia que ameaçava despontar. O lado
emocional, entretanto, gritava a plenos pulmões para entregar, para dizer o que
estava guardado, mesmo que escrito às pressas e sem o esmero necessário
(principalmente pela falta de tempo e sem o auxílio luxuoso do Word), com minha
letra feia e verde (algo que só percebi quando reli o cartão à luz do dia, pois
a sala da oficina estava na penumbra, tanto que nem mesmo eu consegui entender
direito o que tinha escrito quando li a carta para o grupo).
Fiquei no dilema. Busquei o conselho de dois amigos (uma
amiga e um amigo) do CAPS sobre o que fazer. Eles alimentaram meu lado
emocional dizendo que, se ela tivesse um mínimo de sensibilidade, iria gostar
de receber o cartão. Mas aquilo não me convenceu (até porque eles não sabem de
todos os episódios pregressos e ridículos pelos quais este amor me fez passar
e, por conseguinte ela também). Fiz adendos à caneta, reforcei uma ou outra
palavra mais ilegível e permaneci com a dúvida. Como era dia de psicólogo,
levei o cartão para a terapia em busca de uma opinião. Ele me deixou com a
dúvida, o que julgo ter sido o mais acertado, e que eu decidisse por mim mesmo
qual lado eu deveria deixar prevalecer: o racional ou o emocional.
Enfim, voltei para casa, cheguei em casa e a dúvida
permaneceu até o momento em que mamãe me “pediu-obrigou” a ir dormir. Fui fumar
meu último cigarro da noite no hall do elevador de serviço e, por coincidência,
Clementine calhou de sair de casa (para alguma balada, eu acho), naquele mesmo
instante. Meio de sobressalto, meio achando que era um sinal, meio um bando de
sentimentos e pensamentos que passam tão rápido que não dá tempo de apreender,
expliquei a ela sobre a oficina e o meu dilema. Ela me pediu, alegre, o cartão.
Entreguei e pedi por tudo que ela não ficasse com raiva de mim. O que passou
com ela, se é que o cartão teve alguma relevância para ela, não sei e, como
disse no início do post, provavelmente nunca saberei. E é isso. Mas foi muito,
muito bom, no final das contas, saber que ela leu o “Te amo”, mesmo que isso vá
dá sempre em no mesmo: nada ou algo pior.
Isso me lembra uma canção do Cure em que Robert diz: “You
couldn’t ever love me more”. Simplesmente porque incapaz de nutrir esse
sentimento por mim. Até porque para ela pesam as palavras de Bono em One: “One Love, one blood, you gotta do
what you should”. Por mais que quando revelei pela primeira vez meu sentimento
a (ex?) mulher do francês há muito tempo atrás, mais de década, ela disse que
isso não era problema, que havia vários casos semelhantes no clã. Talvez ela
tivesse bebido vinho branco doce demais, não sei.
Xapralá. Aliás, que tem que “xapralá” sou eu. Eu bem que
tento. Há tempos. Mas esse sentimento é maior que eu. Pelo menos do tamanho da
minha alma.
Mas não pensem vocês que esse amor me impedirá de continuar
colocando minhas asinhas de fora em relação a outras garotas. Minha ex sabia
que eu a amava, mas que também amava Clementine e isso não interferiu em nada a
nossa relação. Até porque construímos uma bela e forte relação que se bastava
em si. Mas havia uma foto de Clementine em nossa casa e ela, minha ex, nem
tchunz para isso, pois sabia do impossível da situação. Até ela sabia o que eu
insisto em não saber. O que eu insisto em não negar. Porque acho puro, lindo e
virtuoso. Porque me sinto meritório do sim. Porque amo. É isso. Por mais que vá
sair hoje com meu primo-irmão para um bloco e tentarei paquerar por lá. Eu amo
Clementine e acho que isso é para sempre. Para o bem ou para o mal. Para os
dois, dependo das condições climáticas e emocionais.
-X-X-X-
Adendo 18 de fevereiro de 2014.
Contei do ocorrido para o meu primo-irmão durante nossa ida
ao bloco e ele disse que, no máximo, ela, no máximo, se sentiria lisonjeada e
que, provavelmente, iria me evitar de novo, por medo de alimentar qualquer
expectativa ou por repulsa ao sentimento, por achá-lo errado ou coisa do
gênero.
Aparentemente, pelo menos em relação à parte final, ele está
certo, posto que estive em casa de Clementine recentemente e ela nem sequer
olhou para mim, que dirá me dar um “oi”.
Infelizmente, nada posso fazer, o que não tem solução,
solucionado está. Por alguma razão que me foge à compreensão, Clementine foi –
e, pelo visto, sempre será – a “escolhida”. Por mais que já tenha cruzado com
garotas que julgasse mais lindas que ela, Clementine faz parte de mim como os
meus ossos e músculos, como os meus olhos e lábios, como minha pele.
Se acredito que isso um dia possa mudar, que eu a consiga
extirpar de mim como quem tira um tumor ou sinal benigno ou maligno?
Sinceramente não sei. Nem se maligno ou benigno. Nem se extirpável.
Só queria que ela não ficasse com raiva de mim (como lhe
pedi reiteradamente ao dar o bendito cartão). Mas acho que ela não foi capaz,
como não é capaz de me amar. Acho que para ela eu sou apenas um cara velho,
viciado e fracassado. O que, venhamos e convenhamos, não é nada atraente ou
encantador. Um velho, viciado e fracassado cada vez mais ousado (já coleciono,
em apenas um mês, cerca de 8 foras. Estatisticamente falando, a cada novo não,
me aproximo devagarinho da possibilidade de um sim! Hahahahahahahahaha!).
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