quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

A beleza está nos olhos de quem vê... (além do que se vê)

 
 
Gabi,
Você é uma das manifestações da natureza mais belas e encantadoras que já vi. Tanto quanto o Rio de Janeiro. Tanto quando as noites enluaradas e cristalinas com incontáveis estrelas da praia de Barreiras, que perdia horas observando na infância. Tanto quanto o nascer do sol à beira-mar. Tanto quanto Brooke Shields em “Lagoa Azul” (este é velho, hein?) ou Natalie Portman em “Closer”. Tanto quanto a poesia de Fernando Pessoa e Chico Buarque. Tanto quanto “Dom Casmurro” de Machado de Assis e sua perfeita descrição de um amor que nasce. Tanto quanto um tigre albino, o animal mais lindo que vi a olhos nus. Tanto quanto uma borboleta com asas idênticas a folhas secas que um dia encontrei pousada na janela do sítio de uma amiga (obviamente não era a mais bela e colorida das borboletas, mas seu encanto estava na mágica com que a natureza havia a presenteado para sobreviver, a perfeição dos detalhes, até o recorte das asas parecia imitar uma parte corroída da “folha” e outra parte era igual ao talo que prendia a “folha” ao galho da árvore). Enfim, você é de uma beleza quase sobrenatural, sublime, etérea, encantada. Eu precisava repartir isso com você e tinha de fazê-lo através da palavra escrita, pois sou muito tímido e embaralhado com a palavra falada, ainda mais para alguém que me desperta tanto a alma.
Sei que garotas tão bonitas quanto você têm geralmente a cabeça oca e acham que vivem em cima de um pedestal dourado (embora haja exceções, como há para todo o resto). Se você for uma dessas exceções, o que acredito ser possível, pois você tem um semblante bastante inteligente e talvez o desejo de não ser apenas mais um rosto bonito (embora isso baste para a maioria das belas, infelizmente), podemos bater um papo para nos conhecermos melhor. De mim, posso dizer que não bebo nem uso nenhum outro tipo de droga, só, infelizmente, o cigarro. E Coca-Cola (mas a nutricionista, na dieta que está elaborando para eu perder a barriga, vai eliminar qualquer refrigerante, seja zero ou não. [Estou aproveitando enquanto é tempo])! Bom, não sou nem quero ser um cara pegador/garanhão, só “fiquei” uma vez na vida, quando reencontrei uma amiga de infância aos 18 anos e a gente não resistiu e “ficou” por cerca de uma semana, dez dias, até ela voltar a Campinas (SP), nossa terra natal. No mais tive apenas quatro namoradas, às quais amei profunda e completamente, até o momento em que a chama se apagou para um de nós ou a incompatibilidade se fez mais forte que a intimidade. Não desejo “ficar” com você. Desejo lhe conhecer melhor, descobrir afinidades, sonhos, mostrar o que há dentro de mim e ter a oportunidade de desvendar o que há dentro de você, quem você realmente é, quer e espera ser. Se houver pontos em comum o suficiente, cabe ao destino revelá-los e, quem sabe, a partir daí, possamos nos dar a oportunidade de cultivar a intimidade e o bem querer um do outro. Pode me chamar de bobo romântico, que tais sentimentos estão fora de moda, que relacionamentos estão fora de moda. Tudo isso é verdade e nada disso me tira o orgulho de ser como eu sou e de amar da forma que amo. Gostaria muito de aprender a amar você e que a recíproca fosse verdadeira. Deixo, entretanto, que você dê o próximo passo. Afinal, você pode ser de fato uma cabeça oca que não quer descer do pedestal por causa de mim e de minhas palavras vãs, embora sinceras. Caso este seja o caso, restar-me-á, se reencontrá-la, olhar de longe e admirar sua exuberante beleza exterior como quem observa um lindo crepúsculo.
É isso. O mais sincera e honestamente possível,
Mário Barros.
P.S.: não tenho celular (por opção!) o telefone da minha casa é 3442-5544, moro pertinho da Praça de Casa Forte. O meu e-mail é botodegatas@gmail.com (trocadilho infame com Gato de Botas – que já estava registrado :P). 
Um beijo e um ótimo carnaval (ou quem sabe um ótimo começo de um relacionamento que nem eu nem você sabemos onde vai dar... depende agora de você, pois sou meio totalmente tímido).


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sim, te levo para sempre, Clementine...


Oficina de “Não-sei-o-quê” Visual
 
 
 

Quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014.

Novamente, outra oficina do CAPS que teve repercussão na minha vida, embora não saiba e talvez nunca venha a saber (espero que, no mínimo nenhuma, pelo menos nenhuma negativa e, no máximo, que o maior sonho da minha vida, junto com a curatela, se realize!).

Gosto muito da Oficina de Arte Terapia com Moa e fiquei em dúvida até o último instante entre participar dela ou da nova Oficina Visual que começava no mesmo horário. Chguei a jogar cara e coroa com a minha sandália havaiana para decidir (sugestão do outro Mário do CAPS) e o resultado do sorteio foi ir para a Oficina de Moa mesmo. Cheguei a entrar e me sentar, mas uma intuição, ou uma vontade mais verdadeira se alevantou (ou uma vontade que eu já sentia e fingi ignorar), me levou a ir experimentar a nova oficina (tão nova que ainda não decorei o nome).

Bom, chegando lá havia um círculo que almofadas e, à frente destas, uma série de imagens recortadas, no centro, uma vela dentro de uma frasco, este também com imagens recortadas e coladas sobre sua superfície. Escolhi aleatoriamente um almofada e, ao sentar, dei de cara com uma imagem em preto e branco que me parecia uma cena de tortura, ou uma mulher mexendo num cadáver mutilado com vários pinos grossos de ferro enfiados nele. A imagem se destacou tanto que, mesmo sem saber qual seria a proposta do grupo, decidi que ela seria a minha imagem de trabalho. Ao pegar e examinar mais de perto a imagem, percebi que não se tratava de um cadáver ou de tortura, mas sim, de uma mulher esculpindo uma figura de outra mulher e que os pinos não era instrumentos de tortura mas serviam de sustentação (esqueleto) para a obra, pois sua postura era inclinada com o tronco pendendo para a direita, o que lhe roubava totalmente o centro de equilíbrio. Fosse o que fosse, a escolha da imagem já havia sido feita e era definitiva.

- Primeira parte da oficina: passou-se um slide show com várias imagens, todas belas, em sua maioria edificantes, com uma música bem zen (o que é uma constante nas oficinas do Rizoma).

- Segunda parte da oficina: nos colocamos o mais confortáveis possível, fechamos os olhos e a psicóloga pediu que ouvíssemos atentamente ao texto que ela iria ler e tentasse imaginar o que era pedido. O texto tratava de pessoas e lugares, de perguntas sobre pessoas e lugares, por exemplo: “quais a cinco pessoas que você mais ama?”, “qual o seu lugar preferido?”, “quem é o avô ou avó que você mais gosta/se identifica? Que conselhos ele lhe daria se fosse o seu guia?”, “para quem você gostaria de ligar para conversar?”, “Que duas pessoas famosas você admira e gostaria de conversar e aprender mais com elas?” e por aí foi.

- Terceira parte da oficina: foi pedido que escolhêssemos uma das pessoas ou lugares que havíamos imaginado, escolhêssemos de uma a três imagens que você achasse que remetiam àquela pessoa ou lugar, fizesse um cartão com a(s) imagem(ns) e, no verso, escrevesse uma carta para ela.

A pessoa que apareceu mais nas minhas respostas mentais às questões foi Clementine (três vezes), por isso a escolhi com destinatária do cartão. Como já havia escolhido a imagem e me determinado a utilizá-la independentemente de qual fosse a proposta do grupo, me vi meio encurralado em como relacioná-la com Clementine de uma forma que ainda fosse sincera e verdadeira. Escolhi ainda a imagem de um relógio para colocar atrás do cartão (um relógio, pois o tempo é um fator especial, no que tange à pessoa escolhida). Enfim, consegui um resultado que foi sincero e libertador. Dei voz ao meu sentimento (platônico) por Clementine e as dores e prazeres de trazer por tanto tempo aquele sentimento comigo. Finalizei com a frase que sempre quis dizer com meus próprios lábios e minha própria voz para ela: “Te amo.”

Parte final da oficina: quem se sentisse à vontade poderia ler a carta para o grupo e nos foi facultado entregar ou não aquela criação ao seu destinatário. Acabada esta parte (alguns calaram suas criações para si e não repartiram no grupo, o que é muito natural e até esperado, posto que é uma constante), fizemos o “ritual” de finalização do grupo e saí de lá com uma enorme interrogação na cabeça: entregar ou não entregar aquele cartão e aquelas palavras a Clementine? Racionalmente eu tinha certeza de que não deveria fazê-lo, que aquilo só ia remexer em sentimentos desagradáveis nela e talvez aumentar a repulsa e evitação que ela tem por mim, que nos últimos meses, desde que saí da internação e me mantive abstêmio, estava pouco a pouco, milimetricamente, diminuindo. Essa pequena construção, que não sei nem como se eregiu, seria definitivamente posta abaixo com a entrega do cartão e voltaria à estaca zero (ou menos cem) na relação de amizade sadia que ameaçava despontar. O lado emocional, entretanto, gritava a plenos pulmões para entregar, para dizer o que estava guardado, mesmo que escrito às pressas e sem o esmero necessário (principalmente pela falta de tempo e sem o auxílio luxuoso do Word), com minha letra feia e verde (algo que só percebi quando reli o cartão à luz do dia, pois a sala da oficina estava na penumbra, tanto que nem mesmo eu consegui entender direito o que tinha escrito quando li a carta para o grupo).

Fiquei no dilema. Busquei o conselho de dois amigos (uma amiga e um amigo) do CAPS sobre o que fazer. Eles alimentaram meu lado emocional dizendo que, se ela tivesse um mínimo de sensibilidade, iria gostar de receber o cartão. Mas aquilo não me convenceu (até porque eles não sabem de todos os episódios pregressos e ridículos pelos quais este amor me fez passar e, por conseguinte ela também). Fiz adendos à caneta, reforcei uma ou outra palavra mais ilegível e permaneci com a dúvida. Como era dia de psicólogo, levei o cartão para a terapia em busca de uma opinião. Ele me deixou com a dúvida, o que julgo ter sido o mais acertado, e que eu decidisse por mim mesmo qual lado eu deveria deixar prevalecer: o racional ou o emocional.

Enfim, voltei para casa, cheguei em casa e a dúvida permaneceu até o momento em que mamãe me “pediu-obrigou” a ir dormir. Fui fumar meu último cigarro da noite no hall do elevador de serviço e, por coincidência, Clementine calhou de sair de casa (para alguma balada, eu acho), naquele mesmo instante. Meio de sobressalto, meio achando que era um sinal, meio um bando de sentimentos e pensamentos que passam tão rápido que não dá tempo de apreender, expliquei a ela sobre a oficina e o meu dilema. Ela me pediu, alegre, o cartão. Entreguei e pedi por tudo que ela não ficasse com raiva de mim. O que passou com ela, se é que o cartão teve alguma relevância para ela, não sei e, como disse no início do post, provavelmente nunca saberei. E é isso. Mas foi muito, muito bom, no final das contas, saber que ela leu o “Te amo”, mesmo que isso vá dá sempre em no mesmo: nada ou algo pior.

Isso me lembra uma canção do Cure em que Robert diz: “You couldn’t ever love me more”. Simplesmente porque incapaz de nutrir esse sentimento por mim. Até porque para ela pesam as palavras de Bono em One: “One Love, one blood, you gotta do what you should”. Por mais que quando revelei pela primeira vez meu sentimento a (ex?) mulher do francês há muito tempo atrás, mais de década, ela disse que isso não era problema, que havia vários casos semelhantes no clã. Talvez ela tivesse bebido vinho branco doce demais, não sei.

Xapralá. Aliás, que tem que “xapralá” sou eu. Eu bem que tento. Há tempos. Mas esse sentimento é maior que eu. Pelo menos do tamanho da minha alma.

Mas não pensem vocês que esse amor me impedirá de continuar colocando minhas asinhas de fora em relação a outras garotas. Minha ex sabia que eu a amava, mas que também amava Clementine e isso não interferiu em nada a nossa relação. Até porque construímos uma bela e forte relação que se bastava em si. Mas havia uma foto de Clementine em nossa casa e ela, minha ex, nem tchunz para isso, pois sabia do impossível da situação. Até ela sabia o que eu insisto em não saber. O que eu insisto em não negar. Porque acho puro, lindo e virtuoso. Porque me sinto meritório do sim. Porque amo. É isso. Por mais que vá sair hoje com meu primo-irmão para um bloco e tentarei paquerar por lá. Eu amo Clementine e acho que isso é para sempre. Para o bem ou para o mal. Para os dois, dependo das condições climáticas e emocionais.

-X-X-X-

Adendo 18 de fevereiro de 2014.

Contei do ocorrido para o meu primo-irmão durante nossa ida ao bloco e ele disse que, no máximo, ela, no máximo, se sentiria lisonjeada e que, provavelmente, iria me evitar de novo, por medo de alimentar qualquer expectativa ou por repulsa ao sentimento, por achá-lo errado ou coisa do gênero.

Aparentemente, pelo menos em relação à parte final, ele está certo, posto que estive em casa de Clementine recentemente e ela nem sequer olhou para mim, que dirá me dar um “oi”.

Infelizmente, nada posso fazer, o que não tem solução, solucionado está. Por alguma razão que me foge à compreensão, Clementine foi – e, pelo visto, sempre será – a “escolhida”. Por mais que já tenha cruzado com garotas que julgasse mais lindas que ela, Clementine faz parte de mim como os meus ossos e músculos, como os meus olhos e lábios, como minha pele.

Se acredito que isso um dia possa mudar, que eu a consiga extirpar de mim como quem tira um tumor ou sinal benigno ou maligno? Sinceramente não sei. Nem se maligno ou benigno. Nem se extirpável.

Só queria que ela não ficasse com raiva de mim (como lhe pedi reiteradamente ao dar o bendito cartão). Mas acho que ela não foi capaz, como não é capaz de me amar. Acho que para ela eu sou apenas um cara velho, viciado e fracassado. O que, venhamos e convenhamos, não é nada atraente ou encantador. Um velho, viciado e fracassado cada vez mais ousado (já coleciono, em apenas um mês, cerca de 8 foras. Estatisticamente falando, a cada novo não, me aproximo devagarinho da possibilidade de um sim! Hahahahahahahahaha!).

Oficina de Sonhos – Um pesadelo




Sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014.
Para os leitores mais desavisados, tive alta da clínica de drogados no começo de dezembro (época em que meus irmãos, seus consortes e prole vieram passar o final de ano e comecinho deste ano aqui em Pasárgada). Após a partida deles comecei no dia seguinte a freqüentar o CAPS de Casa Forte (a.k.a. Espaço Rizoma), de segunda a sexta das 9 às 15h30h. Lá há varias oficinas diariamente, desde dança, ioga, bioenergética, até grupos de arte terapia, de dependentes (no caso dos que são, de fato, dependentes de alguma droga) e, inclusive, este de sonhos, o último da sexta-feira. Pois bem, relatarei o que ocorreu nesta oficina, pois achei que deveria repartir com meu melhor amigo, que foi um dos personagens principais do sonho/pesadelo que tive, o conteúdo deste e o resultado final da oficina.
- Começo da oficina: momento de relaxamento e tentativa de relembrar um sonho com o maior número de detalhes possível. Cada um que conseguiu neste exercício lembrar algum sonho é então convidado a reparti-lo com o resto do grupo.
- Meu sonho: estou numa sala de estar, que sinto como sendo a daqui onde moro, mas com móveis diferentes, várias poltronas e sofás de couro escuro (aparentemente muito caras), chão branco e dois níveis da sala com dois grandes degraus (na largura) que vão de um canto a outro da parede. Lá, estou eu e uma garota e, embora estejamos distantes dentro do espaço da sala (ela na parte superior, eu na parte inferior), nós estamos tendo uma conversa cheia de insinuações, um jogo de sedução, no qual os dois eu e ela, eu sinto no sonho, estamos bastante envolvidos, motivados, interessados, entregues. O sonho corta para um close lateral do rosto da cabeça da garota, quando me aproximo para cochichar algo bem saliente e provocativo para ela. Quando me dou conta, ela é a mulher do meu melhor amigo e o está beijando ao mesmo tempo em que vou tentar falar isso ao seu ouvido. Percebo, então que, desde de o começo, ela era a garota com quem travara todo o jogo de insinuações. Sou tomado por um sentimento de culpa, arrependimento, repulsa, asco e vergonha e me acordo perturbado, sem entender o porquê daquele sonho, posto que  a esposa do meu amigo não faz meu tipo e que nunca suportaria conviver/namorar com ela, pois ela fala demais é muito demandante/mandona e acomodada para o meu gosto.
- Segunda parte da Oficina: assumir o papel de outro personagem do sonho e escrever o que se imagina que ele/ela falaria ou como agiria diante do ocorrido no sonho. Escolhi assumir o papel do meu amigo. Aqui transcrevo o que me veio nesta parte da oficina:
“Esta tentativa de sedução de Mário sobre minha própria mulher foi a gota d’água, o gatilho, o estopim; desencadeia em mim toda a raiva, todo o rancor, toda a mágoa de ter sido explorado e usado por ele a vida toda, da forma mais egoísta e mesquinha possível, de ter que aguentar toda a sua desorganização no quarto em que dormíamos, de ele sempre fazer um monte de merda e mesmo assim continuar ser sempre o centro das atenções, enquanto eu, por mais que me esforçasse e esforce para ser bom e virtuoso, sempre fico em segundo plano. Não aguento, perco o controle e começo a espancá-lo com toda a minha força e fúria. O filho da puta ainda diz para mim; ‘obrigado, irmão, eu sempre precisei e mereci que você fizesse isso comigo. Muito obrigado. Desconte tudo, tudo que tem guardado aí em você.’
Aquilo me deixa perplexo e, mesmo assim, mais puto, pois ele sempre teve consciência do mal que me fez, de toda a exploração, todo o desrespeito e incoveniência. Bato e chuto até só restar um cadáver todo quebrado e desfigurado.”
- Fechamento da Oficina: a psicóloga pergunta como foi assumir esse outro papel e eu respondo que foi algo cartático, aliviante e que senti em mim toda a raiva dele. Ela falou qualquer coisa como cada personagem do sonho ser uma faceta do ego, mas confesso que não prestei muita atenção tão mexido estava com o sonho e com o desdobramento que este tomou quando assumi o papel do meu melhor amigo.
É isso. É muito pessoal, mas eu senti uma necessidade enorme de repartir isso com meu amigo. Ainda não decidi se publico ou mando por e-mail, diretamente para ele. Mas algo sussurra em mim que o blog é o lugar para este texto. Não sei bem o quê, nem o porquê. Como estou sem internet no meu computador, terei tempo para ponderar sobre o assunto, anyway.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Uma folha de Word em branco (+ Luíza)


 
Uma folha de Word em branco, que coisa libertadora! Não sei por que relutei tanto (tive tanta preguiça) de me entregar a esse prazer sublime, cartático. A sensação é de começar a vida agora, de poder tudo, de não haver nada atrás que me impeça que reprima, nenhuma neurose, é tudo aqui, neste instante. O poder de ter uma vida completamente nova ou, mais precisamente, de reinventar a vida a partir deste momento. Sei racionalmente que isto não é possível, aliás, não é completamente possível, mas a sensação é esta. A surpresa, a incerteza, a descoberta de qual será a próxima palavra, o próximo sentimento a eclodir ou, talvez, quem sabe, uma nova ideia. Não faço ideia e não fazer ideia é a parte mais divertida de abrir o Word para escrever o que der na telha. Ideia acho difícil sair, pois há tempos me sinto seco delas, meu trauma com a publicidade me bloqueou para este tipo de atividade cognitiva no mais das vezes. A maconha era uma boa estimuladora de ideias, por cruzar pensamentos das formas mais inusitadas, juntar alhos com bugalhos em algo aparentemente original e criativo como um nova ideia (embora eu ache difícil que realmente haja ainda muitos espaços para originalidade depois de tantas pessoas em milhares ou milhões de gerações terem pensado tanto sobre tudo. Vide que não descarto a possibilidade do novo, só digo que o novo é um objetivo dificílimo de ser alcançado – e, por isso, extremamente nobre e imprescindível para a humanidade [não só de quem o descobre/formula, mas para a de todos os demais que têm acesso a esse novo]. Mas eu posso, de repente, numa frase ou parágrafo, esbarrar num “novo” para mim. E isso já me bastaria. Fora do Word estou esbarrando em vários novos, em várias primeiras vezes em minha vida ultimamente (ou sempre esbarrei mas nunca tive consciência disso como agora; talvez por que os novos de agora sejam de alguma forma mais profundos e transformadores que os anteriores). Não que não tenham havido novos reveladores na minha vida, houve de todas as formas e cores, novos que me levaram a caminhos diferentes e inusitados, não previstos ou sequer imaginados. Mas hoje, agora, estou mais consciente deste processo e estou sendo mais ativo do que jamais fui nesse processo de mudança, de estimular e experimentar o novo em mim. Isso não vem do nada, entretanto. Há várias pessoas contribuindo e me estimulando também. Me questionando e me levando a me questionar, em especial o CAPS e Bruno, meu terapeuta. O livro que li sobre a abordagem usada por ele também me abriu uma série de possibilidades e mostrou-me que há muita coisa que eu havia escondido ou que não queria ver e que agora eu estou tentando arrumar e fazendo o máximo para descartar o que não me serve mais, o que não me cabe mais ou no que não quero mais caber. É excitante e assustador ao mesmo tempo, não sei se conseguiria fazer essa faxina da alma por mim mesmo. Tenho certeza que não. Embora fica cada vez mais claro que quem segura a vassoura e é dono do lixeiro sou eu e que sou eu, em verdade, o único capaz de decidir o que varrer e o que jogar fora. Ninguém mais. Tudo o que os outros podem fazer é me dar pistas, indicações, iluminar um ou outro (ou vários) recônditos escuros da minha alma, para que eu escolha o que fazer com o que encontro neles. É verdade que no CAPS não tenho me entregado de corpo, só de alma. E é fato que preciso mudar isso. Mas é o tipo de coisa que vejo, mas não desejo mexer agora. Esse negócio de me mexer: ioga, dança, bioenergética... Estou sedentário há tanto tempo que só corro mesmo dentro do PS3 (outra grande mudança, nunca pensei que abandonaria a Nintendo por qualquer outra competidora, mas o Wii U não me convenceu e o PS3 tem uma gigantesca quantidade de jogos de altíssima qualidade já lançados que eu sempre sonhei secretamente jogar). Foi uma das mudanças mais acertadas que tomei. As alegrias que o PS3 tem me proporcionado são equivalentes, eu acho, às do SNES. Não sei se chega a tanto, mas chega perto. E isso porque só joguei, de fato, fora as demos e timed trials e Home, dois jogos: Boderlands 2 e Batman Arkham Asylum (aliás, ainda os estou jogando, pois quero troféus de platina nos dois). Esse negócio de troféus do PS3 é a coisa mais maravilhosa do mundo para jogadores como eu que só se satisfazem quando descobrem todos os segredos do jogo, quando extrai tudo que o jogo tem a oferecer (mas nunca me arrisco em modos Hard ou coisa que valha, porque já acho masoquismo, para mim, o modo Normal é o modo para o qual o jogo foi concebido para ser igualmente divertido e desafiador, frustrante, mas não desmotivante. Por isso tenho tantas dúvidas se um dia terei o Dark Souls II, um jogo cruel ao extremo com os nervos do jogador, por sua dificuldade extrema mesmo no modo normal (acho que ele só tem um modo, inclusive), com mortes constantes e muitas vezes inesperadas ou inescapáveis. Não isso não me parece o tipo de desafio que procuro. Não jogo para me sentir mais macho, só para me sentir um pouquinho o bonzão dos games (eu preciso me sentir bom em alguma coisa, né?). Bom, como deu para perceber eu gosto muito, muito, muito de videogames. Mas não vou cansar quem quer que esteja lendo isso mais com esse assunto. Vou falar de outra coisa que é um objetivo meu há muito tempo no videogame da vida: uma namorada. Ela ainda não há, mas estou dando os primeiros passos na direção que haja. Se eu pudesse escolher eu sei exatamente quem seria (fora Clementine, claro, pois ela me ojeriza e acho que pensa que é algo errado). Gosto do nome dela – Luíza –, gosto muito da beleza dela (na minha opinião, ela lembra Clementine, então não preciso dizer mais nada em relação a quanto a aparência dela me agrada!), só não sei nada do que há por dentro dela, da pessoa que ela é. Às vezes me parece que ela é um pouco arrogante, prepotente e mimada, mas isso pode ser uma percepção criada inconscientemente por ter levado um fora dela. Não sei, só sei que queria muito conhecê-la por dentro (em todos os sentidos!) e que eu vou passar todos os meus contatos para ela, posto que ela vai deixar o CAPS esta semana, ao que me consta (parece que seu estágio lá chegou ao fim) e rezar (isso significa torcer) para que pelo menos ela me adicione no Facebook e, caso essa improbabilidade ocorra, ela se disponha a bater um papo comigo se calhar de nós dois estarmos online simultaneamente. Mamãe, que foi a uma reunião no CAPS, a achou mais bonita que Clementine! Seria um sonho muito bom de ser vivido tê-la como companheira (desde que minha impressão de arrogância, prepotência e mimo sejam mesmo distorções, senão não dá pra mim, não [são características que eu abomino, por mais mimado que eu seja!!!]).

Também, se não for ela, será alguém com quem cruzarei numa dessas saídas e entradas da vida. Pois não é que estou botando as asinhas de fora? Já abordei duas desconhecidas, uma em cada saída que dei com meu amado primo Mateus e nosso amigo Beto (que por sinal está apaixonado, pense num coisa que me deixou feliz. A expressão de felicidade no rosto dele era contagiante, aquela enxurrada de hormônios cerebrais que a paixão desperta parece que transbordava dele para o mundo; tomara que tenha dado tudo certo [ele iria se encontrar com a sua Julieta {Clementine?} hoje à tarde para ver um filme na casa dele e, pelo que tudo indicava, dar início a um novo relacionamento amoroso e apaixonado neste planeta azul onde nunca é demais haver novos relacionamentos amorosos e apaixonados]). Tá faltando o meu (e o de Mateus). Mas estou mais perto que longe. Posso sentir. Também não aguento mais 6 anos de solidão. E também ninguém aguenta mais tanta baboseira. E minha mãe está chegando com compras e quer que eu desça para ajudá-la a carregar. Fico por aqui. Foi bom dar de cara com uma página de Word em branco mais uma vez. Vou ver se repito a dose com mais frequência, por mais que pensar nisso agora me dê preguiça. Xau!

 
-X-X-X-

Voltei e resolvi escrever mais, escrever algo para Luíza, pois, de falar nela, sua pessoa ficou embebida na minha memória e pensamentos e a necessidade de dar vazão a isso se fez.




Luíza

Será que um dia você se revelará para mim?
 Será que um dia, um dia desses qualquer,
você desperdiçará um pensamento comigo?
 Um pensamento qualquer, perdido, achado, vindo sabe-se lá e onde e para quê?
 Será que a impossibilidade de hoje pode um dia – qualquer dia desses –
 se transformar, por algum motivo, numa vaga e fugidia possibilidade?
 Será que com isso nascerá em você
o desejo de transformá-la numa possibilidade de fato?
 A mim não custa sonhar, ainda mais com você
 Se bem que eu nem sei quem você é realmente
 Não sei que claros e escuros habitam sua mente
 Gostaria de ir calmamente explorando, te descobrindo, te decifrando
 E me entregaria da mesma forma
 Muito embora do meu escuro você já saiba o bastante
 Não há muito mais (ou menos)
 Luíza, como eu gostaria de dar a você os seis anos de carinhos guardados
 Que a solidão e as circunstâncias do que sou ou fui me obrigaram a acumular
 Como gostaria que aos poucos e com cuidado, fôssemos tateando um ao outro
 Em busca de intimidade, esse bem tão precioso quanto raro
 (E tão mais raro quanto maior for)
 Como gostaria de seguirmos juntos até o “eu te amo”
 E ir alem, chegar ao “eu também”
 Sonhar não custa nada Luíza, por mais que não creia que “quem acredita sempre alcança” ou “que nenhum sonho é em vão”
 Até porque é necessário que você queira crer e sonhar também
 É necessário que o que há dentro de você combine com o que trago dentro de mim
 Se eu acredito no impossível?
 Sim, já senti seu gosto doce-amargo inúmeras vezes
 Confesso que não é coisa da minha predileção
 Prefiro um sim, em vez do eterno não
 Mas não custa sonhar, não custa tentar
 Ao menos dizer
 Dizer é aproximar um pouquinho o impossível do plano real
 Mesmo que não até a distância ideal
 Até porque a outra metade do caminho quem tem que desejar percorrer é você

E algo me diz que isto está fora do seu plano do real, do viável
(que dirá do desejável)
Mas novamente, Luíza, não custa nada sonhar, principalmente com você
A mim me é um deleite, por mais que não seja capaz de lhe cativar
A tentativa é sempre válida, se é um esforço para levar a vida
por um caminho mais feliz e mais completo
Por um caminho ladrilhado por afeto
Afeto ainda muito etéreo, pois é feito de afeto só do olhar
Não do falar, do ouvir ou do tocar
Mas afeto mesmo assim
E afeto nunca é uma coisa ruim
Espero que esteja equivocado sobre as impressões do outro texto
Provavelmente nunca saberei
Nunca saberei seu filme predileto
A canção que lhe toca
O livro que lhe marcou a alma
Provavelmente este texto cairá em você como palavras vazias
Como um balão que, com sua agulha, não perderá tempo em estourar
Você o sentirá como uma perda de tempo
Daquele tipo de tempo que se perde tempo em fila de banco
Enfadonho e desinteressante
Assim como você me vê agora, sem nem querer ousar saber um pouco mais
Pois não há desejo ou ensejo
Que assim seja
Não me arrependo de uma linha sequer
Me arrependeria, sim,
de tê-lo guardado só para mim

Bom, esta foi minha tentativa de te alcançar de alguma forma (por mais que, como uma criança que pula tentando alcançar o teto, você me esteja/seja inalcançável).


De qualquer forma, se algo sair diferente das minhas expectativas, meu Facebook é Mário Barros (o e-mail de login, que está bloqueado por excesso de tentativas de divulgar Algo, é mariogb77@hotmail.com [dizem que ajuda a achar mais fácil a pessoa. Nunca tentei.). Se quiser me adicionar quando deixar de ser estagiária do Rizoma (o que entendi, acontecerá no fim dessa semana) ficarei sem palavras (mas tentarei me comunicar se calharmos de estar online ao mesmo tempo)...

 

Um beijo, mesmo que fictício, feito de letras e não de lábios,
Mário.