sexta-feira, 10 de novembro de 2017

LIXO


Acordei sob o estresse de mamãe por causa do cartão de crédito e que depois partiu para abranger um mundo de outras coisas, desde a minha psicóloga até a hora em que vou dormir. Queria que eu me tratasse com uma ou um desconhecido do Cassi. Quer que eu arrume dinheiro de alguma forma. Só que não vou voltar a vender estátuas de umbanda. Nem vou vender os livros de papai, a sugestão dela. Meu irmão acho que sonha em ter os livros consigo. Quem vai mexer nesses livros é ele. Eu já mexi a parte que me cabia. Dou por visto. Aliás, não quero mais ver. Me lembra um período muito ruim da minha vida. Vamos ter que nos virar com a pensão mesmo. Agora o valor do cartão não deu o que deu só por causa do que comprei. Tem mais coisa aí que não foi contabilizada. Sabe o que me parece? Sabe o que eu sinto das interações com a minha mãe? Que eu sou alguém que só traz desgosto para ela. Só causo problemas, um estorvo. Não é realmente a melhor das relações. Eu me sinto um lixo. E de repente o meu mundinho tão agradável se transforma em algo inaceitável. Meu modo de viver se torna quase não-válido. Sabe o que me passa pela cabeça? Que se mamãe pudesse me trocar por algum de seus alunos, o faria sem titubear. Certamente ela preferiria um garoto (ou garota) esforçado no que ela julga que seja um esforço válido e que obedeça sem pestanejar todas as suas ordens com o bônus especial de fazer Química justamente na área em que ela atua. Eis aí o filho(a) que sempre sonhou. Mas a realidade é traiçoeira. E nos pôs como mãe e filho. Um filho disfuncional, desobediente, transgressor e preguiçoso, para dizer o mínimo da imagem que tem da minha pessoa. Isso obviamente não ajuda na minha autoestima. Então, lixeiro da família eu me torno uma vez mais. Estava tão bem. Bom deixa para lá. Sei que estou de baixo-astral. Me sentindo culpado por ser quem eu sou da forma que sou. Aí fica difícil eu me aceitar e gostar de mim. Sinto como se fosse eu contra o mundo. E isso me motiva a me isolar mais em mim mesmo, que é onde encontro paz. Paz. Mamãe raramente parece estar em paz. É tudo um constante estresse. Coitada. Mas quem sabe goste de levar a vida assim. É verdade que o Hulk foi um golpe inesperado até para mim, que não sabia das restrições de tamanho de bagagem. Por isso queria fazer a contabilidade. Para ir somando o que sobrava do meu dinheiro para pagar o frete e a tributação do Hulk. Agora ela quer que eu faça o controle. E a contabilidade dos meses que eu não gastei nada? Viraram poeira? Interessante isso. E fica mencionando as passagens como se eu tivesse demonstrado de alguma forma, em algum momento, interesse por viajar. Arre! Vou parar de escrever por enquanto. Esperar meu ânimo esfriar um pouco. Ou melhorar. À noite escrevo, pois tem o aniversário de vovó hoje às 17h00. São 15h02.

15h56. “Você não ajeitou o cabelo nem a barba. Você não tem jeito mesmo...” é, aparentemente eu não tenho jeito mesmo. Porque não posso ser desse jeito sem jeito mesmo? Lixo para alguns, talvez para todos, talvez até para mim. Sei lá. Só sei que com estresse de dinheiro, tendo que ir para o aniversário de vovó, não achei as condições favoráveis para pedir grana para cortar o cabelo e fazer a barba. Achei que se fosse pedir isso, eu iria ouvir ainda mais. Considerei e descartei a ideia. Espero fazer amanhã sem falta. Ou não espero. Estou me sentindo contrariado hoje. Sou atulhado de críticas e tenho que ficar no astral. Afinal, é o aniversário de vovó.

16h15. Mamãe toma banho. Em seguida vou eu. Estou obeso. Vamos ver. Comecei a me controlar ontem. Comi muito menos do que pretendia.

21h11. Voltei da festa de vovó. Foi alegre e a acho que interagi a contento. Minha mãe voltou com um astral todo outro, muito mais pacífica e amorosa para o meu lado. Parece até que tudo o que disse de manhã se dissipou como pó. Isso me deixou com a alma mais leve. Até a próxima fatura, imagino. Não que eu tenha comprado nada de novo. Deus que me livre.

0h11. Estava no Facebook, aquilo é uma sanguessuga de tempo.

1h15. Já não sei se peça conselho à Gatinha, mas acho que é a pessoa mais indicada. Vou dormir quando acabar o copo de Coca. Acho que preciso desse conselho. E só a Gatinha para compreender. Acho que minha psicóloga também. Mas agora vou de Gatinha. Amanhã escrevo mais. Acabo a noite me sentindo menos lixo, mas lixo mesmo assim.

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16h13. Está passando o Sideshow Live e não estou com o mínimo interesse de assistir. Estava pensando sobre a minhas outras primas solteiras, uma do lado paterno, outra do lado materno. Será que não serei só eu a ficar solteiro nessa geração? Isso sem falar, acabo de me lembrar, de três primos que também não têm namoradas até onde sei. Mas todos são bem mais jovens que eu. Ainda há muitas possibilidades para eles, embora uma esteja difícil de desencantar como eu. Talvez porque realmente não queira. Também não sei da vida afetiva deles e delas com detalhes. Talvez sejam de ficar. E por que estou falando nisso mesmo? Acho que para não me sentir tão solitário na minha solidão. Depois de Guns n’ Roses, Rufus Wainwright parece seda. Não estou me sentindo tão lixo hoje. Isso a mim me prova que as críticas de mamãe calam fundo em mim e me botam para baixo. Hoje como não recebi nenhuma estou bem comigo mesmo. Estou com 50 reais aqui, eu poderia usar esse dinheiro para cortar o cabelo e aparar a barba, mas não sei se mamãe aprovaria. Não estou com disposição de ligar para ela e perguntar. Não quero ouvir nada que me tire do meu humor. Se ela chegar mais cedo, a tempo de ir ao cabeleireiro, eu vou. Não acredito que estou com fobia social de ir ao cabeleireiro. Isso não é legal. Mas acho que encararia. Mesmo receoso. Afinal, não há nada o que recear em verdade. Vou lá há anos. Fato é que quero continuar aqui no meu quarto-ilha. Meu padrasto esqueceu o ar ligado. Desta vez resolvi não desligar para que a informação de que ele tem essa prática chegue ao próprio por intermédio de minha mãe ou de sua própria constatação. Já havia me decidido isso desde a vez anterior, a terceira, em que peguei o ar ligado e o desliguei. Acho que vou jogar MGS4. 16h50.

16h56. O PS3 travou da última vez em que acessei a Playstation Store. Está fazendo uma reboot e averiguando o sistema. Tenho que esperar, ou seja, me sinto traído de volta para cá. Será que mamãe vai à terapeuta essa semana? Acho difícil. Minha tia insistiu tanto. Só falta ela condicionar a sua ida à minha.

18h15. Joguei muito pouco, mamãe ligou pedindo que eu fosse encontrá-la no supermercado para ajudar com as compras, foi o que fiz até agora. Pelo menos cheguei a um novo checkpoint. É bom demais jogar no easy, sou metralhado adoidado e não morro. Hahaha.

18h25. Mamãe foi ao Vigilantes do Peso, pelo que entendi.

18h58. Me perdi no grupo de assexuais. Tentando me aproximar de uma garota aparentemente bonita. Não sei ao certo pois a foto está com um desenho de coelho sobreposto no nariz. E o nariz pode destruir um rosto. Vide o meu. Hahahaha.

19h00. Lembrando do meu avô paterno. Foi um que viveu a vida plenamente. Foi completamente dono da sua vida. Foi um ser humano livre e movido pelos impulsos de sua alma. Eu sou de certa forma assim, mas no outro lado do espectro.

19h25. Tentando manter o interesse da mineirinha por mim. Acho que não está funcionando. Também de nada adiantaria, ela mora no interior do Rio. Mas pelo visto, gosta de viajar. Mas não vou alimentar mais esperanças vãs. E ela pode ter um nariz horrível. Hahahaha.

19h40. Acho que vou dar mais uma chance a MGS4. No easy dá para levar.

20h58. Joguei até agora. Sem saco nenhum de continuar, pelo menos por enquanto. Estou achando o jogo bastante chato, datado talvez. Tenho muito mais curiosidade no V, que é um open world e no qual você tem muito mais liberdade para fazer o que quiser, abordar da forma que quiser. Mas, mais do que o MGSV, eu tenho vontade de jogar Breath of the Wild. São os três jogos que pretendo trazer de lá, o Zelda Breath of the Wild, o Metal Gear Solid V Phantom Pain e o Persona 5. Depois desses, não há nenhum que queira dessa geração. Já tenho todos que me interessam. E, tirando o Zelda, que é presente do meu irmão presumidamente, os outros dois devem estar baratos. Especialmente o Phantom Pain (MGSV). Trazer o Switch só por causa do Mario Odyssey acho besteira. Se não tivesse o Wii U e não fosse ganhar o Breath of the Wild para esse sistema, eu compraria com certeza. Se tivesse a verba, obviamente. Com essa história de celular complica. Mas me contento com os três jogos tranquilamente. Nem tenho jogado muito. Aliás, tenho jogado muito pouco. Já era para eu estar hooked no MGS4 a essa altura. E não estou. Aliás, nem sei porque jogo. Acho que porque comecei. Gostei muito mais de Half-Life 2. É até um para revisitar. Bom, acho que assustei a mineirinha. Ela não me respondeu mais. A vida segue. E não sei mais o que dizer. O que quero dizer não cabe aqui. Talvez acabe indo para algum dos meus outros redutos. Estou com fome. Tem bife à milanesa que traçarei nesta noite. Com o mínimo de carboidratos possível. Quero emagrecer. Mas não sei se resisto ao restinho da paçoca com feijão novo. E sal. Enfim trocaram o sal do saleiro, tiraram o temperado, que não suportava mais, e puseram sal puro e simples, ô, glória. Ontem já me utilizei dele. Preciso me conectar com Maria. Mas depois de fazer a barba e aparar as madeixas para ela gostar mais de me ver. E porque tenho que estar mais apresentável no final de semana, caso saia. A Gatinha disse que passaria aqui entre ontem e amanhã. Vamos ver. Acho que não passa. Bem que amanhã poderia rolar uma sessão de Mario na casa do meu amigo jurista. Caso a Gatinha não venha, é claro. Mas acho que também não vai rolar. Senão já saberia, eu suponho.

21h57. Minha mãe disse que eu estou bem da cabeça! Não acredito! Fiquei de cara agora. Em contrapartida, acha que eu tenho que cuidar do corpo. Foi ao Vigilantes do Peso e acho que foi convertida e quer converter. Hahahaha. Vamos ver onde isso vai dar. Ela não quer comprar mais biscoitos para mim, por exemplo. Acho que sobrevivo sem. Mas tem que haver algo que eu goste de comer para a fome dos remédios.

23h43. Perdi muito tempo no Facebook. Incrível. Vou me desconectar dele.

23h44. Persianas fechadas desde ontem, não vejo a cidade. O quarto, embora o ache espaçoso, se torna um pouco mais opressivo, com um ar um tanto mais viciado. Não vou abrir as persianas. E ainda vou ligar o ar. E conectar o som e ouvir “Amor Meu Grande Amor”. Cazuza e Cássia Eller, eu acho, beberam da fonte de Ângela Rô Rô. Pôrra, tem uma de roedeira. “Tola Foi Você”. Tem rock. Mas vou para o velho e conhecido, mas já foi uma boa nadada para a parte funda piscina. Voltemos ao raso. Ao conhecido e seguro, à lista 6.

0h04. Adicionando músicas do U2 à lista 6. Depois vai ser Cure. Bom, dei de cara com um remix de Even Better Than The Real Thing” que não é ruim, só não se comprada com os de Björk, que dirá os do “Mixed Up” do The Cure. Bom vou adicionar mais.

0h17. Acabei por botar “October” para rolar, tá aí um som que bate com o meu astral. Pense num cartaz de filme, um corredor todo escuro de uma casa toda escura e, no final desse corredor uma porta fechada com a luz que passa pelas brechas, fazendo seu desenho. Embaixo o título do file. “O Ermitão Urbanoide”. Hahahaha. Isso é um fato. A casa está assim e assim fica praticamente todos os dias. Mas não me considero ermitão urbanoide ainda. Mas está por pouco. Meu círculo de melhores amigos com quem mantenho contato é restrito ao meu primo-irmão, meu amigo da piscina (que vai partir), meu amigo jurista e meu primo urbano. Seria curioso reuni-los, à guisa da despedida do meu amigo da piscina. Se ele for para algum lugar realmente. Mas ele gosta de viver solitariamente, talvez tenha se sentido solitário na própria casa, então sempre se viu só, e é assim que gosta de estar, sozinho, ele supre sua possível carência através da socialização com a sociedade em que está inserido, é ótimo nisso, muito simpático e boa praça, de conversa fácil. Só não sei se é de ter muitos amigos. Viveu muito para a casa, eu suponho, e também se acostumou com a socialização superficial do táxi.  Certamente deveria puxar papo com o passageiro. Eu gosto de assistir guia eleitoral às vezes. Adoro ver debates entre os candidatos. Oba, está rolando as do U2 que coloquei na lista 6. O caso é que tal encontro não vai acontecer. Eu teria que promovê-lo e não promovê-lo-ei. Nem sei se os participantes iriam. E não saberei. Poderia fazer no meu aniversário. Mas, e a Gatinha, onde entraria nisso? Afinal, fazer o meu aniversário e não chamar a Gatinha? Ela ficaria indignada. Mas não acho que ela iria curtir tampouco. Aniversário é um momento que obriga mais os convidados a irem. De toda sorte não farei isso. Pelo menos é o meu pensamento agora. Pode ser que amanhã seja diferente. Gostando da seleção U2. Muitas músicas que não ouvi no som ainda. Músicas muito apreciadas. Tem a paçoca para comer com feijão. Vou nela. Talvez até com um bife ao molho.

1h30. Comi todo o supracitado e dois Bono de chocolate. Estou bem alimentado. Talvez até demais. A sessão U2 da lista 6 continua e está o bicho. Estou com vontade de ver onde o MGS4 vai me levar. Estou não. Pode ser muito longe até um checkpoint. Eita, “Wild Honey”. Adoro. Estava com saudade de U2. Bom agora temos U2 no meu cotidiano. Preciso ampliar e revisar o The Cure da lista. “Bad” ao vivo. Não vou fazer as mudanças do The Cure agora, requer muito mais trabalho que a do U2. Prefiro escrever ao som das músicas que embalaram a minha adolescência. E às quais permaneço fiel até hoje. Não me reciclei. Como meu primo-urbano vive a se reciclar, absorver mais. Mas ele é um músico, o interesse dele transcende o meu e muito em relação à música, abrange um conhecimento muito mais profundo do fazer música. Eu só tenho músicas que ache belas e as que tenho vínculo afetivo. Caramba, ter uma multidão aclamando o que você apresentou deve ser uma sensação indescritível. Um êxtase social agudo da maior magnitude. Não sei se um êxtase social apenas, mas um êxtase emocional completo. Deve dar uma exurrada de “inas” no cérebro. Pelo menos das primeiras vezes. Não sei se o U2 hoje em dia sente a mesma coisa. E entrar num placo de frente para essa multidão? Deve ser uma adrenalina gigante. Eu não sei se teria coragem. Todos à sua espera. É muito. 2h01. Último copo de Coca nas últimas. Fumar o cigarro da noite e dormir. Ainda na seleção U2. Até que coloquei muitas músicas deles.

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15h13. Hoje não escapo de cortar o cabelo e fazer a barba. Meu amigo da piscina veio me pedir dois cigarros, acho que vou ter que comprar cigarros hoje por causa disso. Aproveitou para me convidar para a piscina mais tarde. Não sei se a Gatinha virá hoje, mas acho difícil. Como acho difícil o meu amigo jurista me chamar para jogar ou ir ao cinema. Pelo menos tenho algo de diferente para fazer. E, como falei, é um dos meus importantes vínculos sociais. Não posso perder essa oportunidade. Levarei o computador hoje. Tenho que ver como anda a bateria. Sei que será mais um dia de catequese sobre cristianismo, ufologia whatever. Mas é divertido, ele é uma pessoa agradável e divertida. Alegre, de bem com a vida. Isso é bom. Me faz bem.

15h36. Minha mãe acordou. A hora de cortar os pelos chegou. Estou com uma baita preguiça. Mas vou ter que encarar.

16h48. Voltei. Não sei o que achar do corte. Pelo menos a barba foi bastante debelada, pensei até que seria mais, mas estou satisfeito. Minha mãe ficou satisfeita. Está bom. Já posso encarar a night com um pouco mais de autoconfiança. Já me animo para night até. Que a sexta venha! Ou o sábado, quem sabe. Espero que meu primo-irmão não vá viajar. De novo. Senão vai ser difícil eu sair. Sozinho eu não irei. Sozinho na noite é demais para mim, não combina, é como água e óleo, prefiro não sair. Para ficar sozinho e acuado num canto da festa não vale a pena. Com um grupo de amigos me sinto mais confiante, tenho com quem interagir. Mesmo que só ouvindo. Hahahaha. Rio, mas isso é um entrave que você nem imagina. Tenho que me colocar mais. O problema é a falta de conteúdo. Estou querendo tomar banho, mas a entrada do banheiro está obstruída pelas coisas do quarto-ilha do meu padrasto, chamado por mamãe de “a biblioteca”, que está sendo submetido a uma faxina, algo que há muito não vê. Espero que a fantástica faxineira tire gelo – e bote mais para fazer – pois será o gelo que levarei para a piscina logo mais. Queria descer de 18h00, mas acho meio impossível. Acho mais plausível às 19h00. A faxina desse novo ambiente toma tempo. Quando a faxina acabar, tomo o meu banho e creio que a fantástica faxineira terá acabado os seus serviços por hoje e poderá botar gelo para mim. Parece que a faxina está acabando. Já estão recolocando as coisas na biblioteca. Biblioteca era o que meu pai tinha e que virou um grande elefante branco para os que aqui ficaram. Um elefante que meu primo sonha em resgatar para a sua casa talvez. Parte dela ao menos. Eu só sei que eu não quero ver aqueles livros novamente na minha vida. Estou me cansando de salvar mulheres belíssimas para a minha pasta do Pinterest, que até hoje eu não sei como acessar. A conversa da minha mãe com a fantástica faxineira me rouba a concentração. Estão falando não sei o quê do ENEM.

17h34. Parece que a limpeza do quarto terminou. Terminou, mamãe trancou o quarto-ilha do meu padrasto. Embora ele passe bem menos tempo no dele que eu no meu, não deixa de ser um quarto-ilha, onde em certas ocasiões, passa o dia enfurnado.

18h01. Tomei meu banho. Vou desarmar o meu circo aqui para levá-lo à piscina. Inclusive o meu amigo já interfonou. Quando chegar lá, mando um WhatsApp para ele. Vou desligar aqui.

19h35. Meu amigo foi-se ao som de “Rocket Queen” do Guns n’ Roses. Antes me contou coisas fantásticas sobre a sua vida, é um cara que, como o meu avô, viveu plenamente a vida. A suas histórias como mergulhador de limpar coisas no mar como cascos de navios, aspirar os pisos dos portos, em profundidades de até 35 metros, isso é viver a vida plenamente, sem mencionar as aventuras em várias cidades portuárias do nosso continental país, no interregno do trabalho a ser feito. Isso não é viver a vida plenamente? Morar dois anos em Porto. Passar um tempo na Europa. Isso é viver a plenamente. Eu acho impraticável para mim. Não queria nunca estar em alto mar lavando algo. Mas dizem que muita gente se encontra com o mar, né? Afinal todos viemos do mar, no mar, acredito, se originou a vida. Ou estou enganado? Pelo menos esta é a teoria de Björk em “Oceania” e eu concordo, o mar é uma sopa de elementos químicos. Porra lutei com uma barata voadora agora. Incrível como tenho medo dessas criaturas virem pousar em mim. É um asco elevado ao patamar de fobia. A vida se atrai. Uma vida atrai mais vida? A vida atrai mais vida? Será? Sei lá. Acho que estou assim porque vi um vídeo de animais resgatando outros animais, geralmente de espécies diferentes. Estava pensando nas possibilidades da ficção de colocar no papel algo inusitado, fora do comum, fictício, em uma palavra, impossível ou implausível com a realidade. Se no final de “A Metamorfose”, só a irmã o alimentasse, os pais o renegassem e rejeitassem como filho, ele passasse a ser para eles uma aberração, algo outro que não filho, algo asqueroso e repulsivo. Só a irmã o alimentava com restos de comida. Até que a irmã casa, sai de casa e perde em muito a hora e quando chega em casa pega a mãe indo entregar a comida para o filho-inseto. A mãe não a vê e ela nada diz. Simplesmente volta feliz para a casa, ainda há um resquício de afeto maternal. No outro dia, a criatura está morta. Esse seria um outro fim para “A Metamorfose”. Sentou-se aqui o ex-rasta, que conhecia o meu amigo da piscina de um passado remoto. Do Garagem. Outras aventuras incríveis do meu amigo da piscina foram narradas nessa rememoração do período. Até perseguição de carro rolou. Depois o ex-rasta debateu as conjunturas sociais que na opinião dele desencadearam o movimento punk. Hoje até patricinhas pintam o cabelo de verde. Depois relembrou mais um pouco de coisas em comum com o meu amigo da piscina. O que me intrigou foi ele ter falado, algo como, você sabe que em Cristo você está salvo. Será que o homem, segundo os Cristãos é o único ser a possuir alma? Sei lá, deveria ter perguntado ao meu amigo da piscina. O vídeo de “the gate” é chato porque a música é chata, devido à repetição em demasia. Eu devo admitir isso, por mais fã que seja e curta a música. Não sei se o ex-rasta é novo morador do prédio, mas tem toda a aparência de ser. Estava me portando como se ainda estivesse com aquele visual desleixado, mas estou com barba feita e cabelos aparados. Estou muito apresentável. Em termos amplos; para as mulheres que me interessarem já não sei, talvez o cabelo maior fosse mais interessante. Acho que bermudas usadas com meia e tênis deixam pessoas gordas com aparência mais gorda. Não me pergunte por quê. Acho que vou usar mais calças, acho que combinam mais comigo. Me deixam mais magro, com a silhueta mais alongada. E fico menos ridículo também. Me lembro da garota com quem cruzei olhares no forró da Casa Astral. Não sinto o mínimo ímpeto de ir para tal lugar nesse sábado. Mas quero que isso mude, pois é para onde pretendo ir com o meu primo. Aliás terei que ir onde ele for. E mais, tenho que encarar como uma boa aventura. Por falar nisso, balada, festa, é uma gamification da vida cotidiana. Como o são todas as formas de lazer. Um prazer diferenciado, maior do que o que se experimenta na vida cotidiana é esperado desses eventos. O problema é que na minha vida cotidiana eu já encontro muitos prazeres, o principal escrever, é claro. Mas tenho minhas necessidades supridas e tenho a liberdade do universo inteiro dentro do meu quarto-ilha através da escrita. E tenho prazer nisso. Tanto mais tenho aqui na piscina, com esse astral bucólico. O porteiro, cujo nome não sei, o que é uma vergonha visto que trabalha aqui há 27 anos, me sinto envergonhado e perguntarei à minha mãe, talvez ela saiba; de todo modo, ele e eu conversamos bastante, ele me inquiriu várias coisas e acabei por contar a ele que não aguentei trabalhar e que fui declarado oficialmente incapaz civilmente e curatelado. Ele também me revelou dados da vida dele, já tem duas filhas casadas, que estudaram, que investe o dinheiro, dentre outros que não me recordo. A verdade é que me inquiriu mais do que falou sobre si. E eu contei a ele tudo, tudo informações banais, a que deveria ter selado comigo era a história da curatela. Mas ele perguntou se eu não pensava em voltar a trabalhar, então tive que responder a ele que não podia e por aí foi até a curatela. Precisava também dar uma auto-afirmada, de que eu tenho uma fonte de renda. Sou, como ele deve ter entendido, um peso morto mamando nas tetas do governo. Sim, sou, mas me vejo, me sinto e sou incapaz para o trabalho. O meu trabalho é esse. É tecer palavras. Pena que não seja remunerado. Já disse isso aqui outras vezes, não vou ficar me justificando. Eu sofria e não era pouco. Hoje, não sofro mais. Eis in a nutshell. Sou eternamente grato a como os fatos se desenrolaram para mim. O efeito colateral é que gradativamente me distancio do mundo ou será isso uma fantasia que estou criando na minha cabeça? E o que isso tem a ver com quase abandonar os videogames? Que ambos são movimentos de distanciamento do todo? A maioria dos meus movimentos é de forma a me distanciar do todo? Não sei se chega a tanto. Mas também não é lá muito longe dos meus atos. Se é assim, por que desejo esse isolamento? Porque assim não me firo e tenho prazer ao mesmo tempo. O mundo fere? Não a parte dele que eu experimento agora, mas o mundo fere profundamente. Será que isso não é só desculpa para a minha preguiça crônica? A admito, me sinto um cara acomodado até onde posso ser, mas a ausência de socialização me incomoda. Eu acho. Se a Gatinha não viesse nunca mais me ver? Isso doeria, ficaria um vazio em minha vida. Mas sobreviveria. Se não tivesse contato com mais ninguém? Isso é impossível, eu dependo da sociedade para viver. Se tudo se organizasse de maneira a não ver ninguém acharia estranho, mas talvez me acostumasse, não sei. Acho que não, acho que acabaria lelé da cuca. Pelo menos é o que vejo nos filmes.

22h28. Subi. Não aguentei, precisava urinar e beber alguma coisa, nessa ordem. Agora, nessa nova realidade, no meu quarto-ilha, o que tenho a dizer? Acho que só um grande amor que nunca virá para me resgatar desse ostracismo crescente. Para conhecer e amar é preciso se socializar. Há um paradoxo aí. Solucionado com uma paixão platônica. Que não soluciona nada. Mas mantém o coração quietinho. Contente por amar. O irreal, o impossível. Mas amar mesmo assim. Não raro me pego pensando nesse assunto da namorada. O porteiro pensava que eu ainda pegava a Gatinha. Hahahaha. Disse que ela é louca por mim. Hahahaha. E não foi o primeiro. Será que acredito? Mas que diferença faria para mim que a quero como amiga? Não consigo desejá-la com o corpo que está. “Into You Arms” parece sugerir uma alegre ciranda para mim agora. Eu sei que estou pedindo demais, mas sempre me atraíram as mais magrinhas. Ou mais especificamente, as falsas magras. Só não gosto das cheinhas, das gostosonas e das super-saradas. [CENSURADO PELA MINHA MÃE] Se bem que eu e meu amigo da piscina, apesar do passado em comum, nos tornamos pessoas extremamente diferentes. Suas crenças são completamente diferentes das minhas. Somos pessoas muito díspares que a vida também reuniu num mesmo local hoje. Com a ilustre presença do ex-rasta. Que espero que quando descer, se descer, não venha falar comigo se por acaso viermos a coabitar temporariamente a piscina. Não tenho paciência para a verborragia dele. Não me deixaria escrever. E não sei quanto do que fala tem fundamento. Parece ser daqueles que sabem de tudo. Tem uma opinião em relação a qualquer coisa. E não deixam o cara falar. Não que eu quisesse travar algum diálogo com a figura. Acho que este post vai para o Desabafos do Vate, preciso reler com carinho. Escrevi com total liberdade de pensamento. E isso me preocupa. Como queria que rolasse U2 depois de “Poses”. Vou botar Coca, fumar um cigarro e comer um pouco mais do biscoito.

23h19. Não fumei o cigarro ainda. Mas fumarei logo mais.

23h31. Me perdi na internet. Não estou mais aguentando ouvir Faith No More. Botei uma do U2. 23h33. Eu vou fumar. E pegar mais Coca.

23h41. Último copo de Coca posto, penúltimo cigarro da noite fumado. Ainda sobre “A Metamorfose”, ao receber o prato da mãe e sentir o cheiro de veneno, o jovem/criatura olha para a ela com toda a ternura que a sua cabeçorra de inseto não consegue expressar e diz ou guincha “obrigado por me libertar, mãe”. A filha revoltada quando descobre da morte do irmão, liga os pontos e tenta abrir um boletim de ocorrência, mas nada pode fazer contra a mãe, pois a vítima não era um ser humano. Não melhor acabar no agradecimento do filho, essa da filha ir à polícia ficou demais. Até o agradecimento ficou piegas e clichê demais.

23h51. E meu falecido amigo de colégio? Será que a mãe dele superou o luto? Taí um cara que não fazia mal a uma mosca, mas também tinha esse vínculo muito forte e próximo com a mãe. Também era alguém sem destino profissional na vida. Espero que os irmãos tenham seguido caminhos diferentes. Vou até procurar no Facebook.

23h58. Achei um irmão, talvez dois, mas o segundo não tem foto de perfil, não posso ter certeza, já o outro identifiquei como sendo o irmão mais velho. Está com dois filhos. E completamente careca, quem diria. Acho que vou me preparar para me retirar.


0h26. Comi um prato de cereais com leite com Toddy e Ovomaltine. Acho que, depois do copo d’água vou me deitar. Fico por aqui.

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