domingo, 3 de setembro de 2017

DIAS NA CASA DA MINHA TIA III

7h28. Ainda não dormi. Meu primo concordou em fazer a tomada que eu instruirei a ele como filmar. Chega de meio-dia hoje. Vai dar para pegar a luz muito boa. Bolei toda a tomada de madrugada, nos mínimos detalhes. E o bom é que vou ter o meu autismo auditivo para não me concentrar na câmera.

8h24. Regravei a tomada que fiz de madrugada. Acho que ficou melhor e já eliminou uma coisa que estava atrapalhando a sequência da próxima tomada que era mostrar a parte de trás da casa. Já fiz isso agora. A única parte que me preocupo, mas eu dei um jeito, é que a GoPro não é mais reconhecida pelo computador quando ligada pelo USB. Não me pergunte por quê. Simplesmente parou de identificar. Talvez se reiniciar a máquina volte a funcionar. De todo modo tirei o cartão de memória da máquina e enfiei no computador, alcançando o mesmo resultado. Espero poder levar o meu computador para a Alemanha.

8h47. Estou que não me aguento de sono. Vou acabar esse cigarro e vou dormir. Depois de passar tanto tempo no Desabafos do Vate e no meu projeto paralelo, eu me sinto meio engessado aqui no Profeta, como se faltasse a privacidade que nos demais encontro. Bom, que seja. É aqui que vou escrever hoje. Por sinal, hoje é o dia do Chá de Fraldas da nossa amiga. Minha tia separou fotos de mim e meu primo-irmão quando bebês para uma brincadeira que vão fazer lá. Também comprou as fraldas e mais Coca Zero para mim. Amanhã será a celebração do aniversário de titio aqui. Bem, vou dormir. Até a hora da filmagem.

16h52. Acordei muito tarde, 16h00. Pensei que a luz iria estar boa a esse horário, mas me enganei. Tem que ser filmado amanhã cedo.

17h13. Acho que vou dormir mais um pouco, então. Até as 19h00. Não estou aguentando nem olhar para o computador, acho que estou saturado de tanto escrever. Esta festa vem em boa hora para eu dar uma desanuviada.

20h09. Já estou pronto para o Chá de Fraldas da minha amiga, aliás, da nossa amiga, mais amiga inclusive do meu primo-irmão do que minha.

20h17. Limpei meus óculos e a minha visualização da tela melhorou muito, mas ainda estou vendo meio borrado, deve ser a tal da vista cansada que chega aos 40. Parece que falei tudo o que tinha para falar no Desabafos do Vate e no meu projeto paralelo, que ganhou toda uma nova dimensão. Não sei se tomei a direção correta, mas me foi a mais intuitiva.

-x-x-x-x-

5h33. Cheguei do chá de fraldas. Fui para o Recife Antigo, depois para o Empório Sertanejo e cá estou. Fomos parados numa blitz da Lei Seca, minha amiga foi convidada a fazer o teste do bafômetro. Presenciamos a briga entre um mendigo e um adolescente de rua que culminou com o dono de um dos bares da Rua da Moeda atingindo com aqueles dispositivos de dar eletrochoque o adolescente e botando-o para correr. A vida nas ruas do centro da cidade pode ser violenta para os seus habitantes. Um tanto menos para os frequentadores, embora a interação com seus moradores seja praticamente inevitável, geralmente na forma de pedidos de auxílio financeiro. Não sei por que meu Vaporfi não está funcionando. No Empório Sertanejo interagi muito pouco, preferi escrever coisas para o Desabafo do Vate. Sabia que eram para lá, por mais que o principal conte aqui. Agora é esperar pela festa de titio. Preciso dormir dentro em breve. Só tenho dois cigarros e um na boca prestes a ser acendido. Conversamos sobre feminismo e apoderação cultural. As negras não quererem que as bancas usem turbante é simplesmente ridículo. É a completa ignorância de que elas mesmas devem ter ancestralidade branca, que certamente terão, visto que somos um país altamente miscigenado. Afora isso, o quanto os negros não se apoderam da cultura branca? Acendi o cigarro. 5h52. É um extremo prazer fumar um cigarro de verdade, mesmo sabendo o mal que estou fazendo a mim mesmo. Deixo isso registrado aqui, mais porque um dos grupos em que publico o blog é contra o incentivo de drogas. Mas é um bom lembrete, até para mim. Acredito, porém, na evolução da Medicina. Confessei a uma colega que não sei a novas normas ortográficas brasileiras, ela perguntou e “quem sabe?” Não sei nem as antigas e faço um samba do crioulo doido aqui. Uma mistureba completa, cheia de erros de pontuação. Dane-se. Não quero aprender mais Português. Quero dizer com o pouco que tenho e sei. Me basta para me fazer contente com a vida e é isso que importa. Notei vários silêncios, hiatos de comunicação na festa e percebi quanto algumas interações são forçadas e superficiais. O álcool, eu percebi, leva as pessoas a se aprofundarem mais e se tornarem mais fluentes. Mas, percebi, pessoas que não estão bebendo tem esses hiatos silenciosos. Ninguém soube o que dizer ou trazer aos demais por alguns momentos. Não fui só eu que permaneci calado, mas contribuí com o silêncio. Uma garotinha, bem bonitinha por sinal, veio muito alegremente me abraçar, como se eu fosse alguém especial para ela na festa. Confesso que não entendi. Mas me senti acarinhado. Não vejo uma cena espontânea dessas acontecendo com os meus sobrinhos alemães, a não ser que previamente instruídos pela mãe. Acendi o penúltimo cigarro. 6h12. É muito prazeroso. Se o meu Vaporfi estivesse funcionado. Troquei de bateria e ele começou a funcionar mal e porcamente, ardendo muito a garganta e produzindo pouquíssima fumaça. Droga. Mas estava pensando em outra coisa. E se houvesse, globalmente, um movimento de feministas que raspassem o cabelo como forma de contestação e protesto? E a moda realmente pegasse porque há uma forte ideologia atrelada a ela, de igualdade de direitos entre homens e mulheres? Novamente temo pelo extremismo e as mulheres se tornarem durante essa fase de feminismo exacerbado anti-homens. Seria o ó. Será que Aurora rasparia o cabelo? Estou zumbi. Com sono e ao mesmo tempo com vontade de escrever. Debateram se um documentário apresentava fatos reais ou se poderia ser um documentário ficcional também. Minha opinião é que um documentário produzido com imagens reais captura fatos, a forma de narrar esses fatos é que é subjetiva e tendenciosa, pois todos nós somos subjetivos e temos alguma tendência, alguma intenção, especialmente um cara que produz um documentário. Ele quer demonstrar sua visão dos fatos, então desde as imagens escolhidas, passando pela edição e narração, tudo é feito para passar tal ideia do autor ou diretor do documentário. Mas estava escrevendo e não quis opinar sobre o assunto na hora, deixo a minha opinião aqui. Bom, tenho assunto para a festa amanhã, o episódio da briga e a posterior ação coerciva do dono do bar, que mostra um cidadão que se sente desprotegido pelo sistema de defesa do Estado e resolve tomar a justiça ou pelo menos o poder de polícia em suas mãos. O garoto que levou os choques, veio choramingando que sempre o culpado era ele e que o mendigo é que havia começado a agredi-lo. Como um rejeito social destes não vai se rebelar depois contra a sociedade que lhe oprime, agride e dá eletrochoques? A probabilidade é grande, pois todo o ambiente social do qual é rechaçado o estimula a isso, vai depender do seu gênio e da sua inteligência. E não, não vi quem começou a briga. Sei que o mendigo veio ter conosco depois, mas não entendi a sua história e sua versão da briga. Estava escrevendo e ele tinha um encadeamento de ideias confuso, além disso o barulho atrapalhou. A única coisa que eu entendi é que ele intentava matar o garoto. E disse que já havia matado antes. Acho que vou fumar o meu último cigarro pra ir dormir. O choque social foi grande, a decadência pairava no ar do Recife Antigo. Guardo minhas palavras para depois da festa amanhã. Acendi o último cigarro, nossa, muito bom. Vou ver o Hulk antes de dormir.

7h04. Vi o Hulk e apesar do problemão que vai me dar, sou encantado por ele. Tomara que façam os olhos perfeitos. Os olhos numa estátua de um busto em tamanho real são essenciais para da personalidade e tudo o mais. Os olhos são os pontos focais de quem olha a figura, depois vêm os detalhes.

16h29. Acordei supertarde para o aniversário de titio. Socializei um pouco. Vai ser difícil me acostumar a fumar o Vaporfi novamente depois de desfrutar por tanto tempo – essa semana – do prazer que é cigarro de verdade. Mas percebo que cigarro normal é mais agressivo à minha respiração. Voltei ao meu quarto fechado. Pensei que a interação com a família seria mais fácil, mas se afigura igualmente árdua. Mas voltarei lá para interagir. Algumas vezes ainda. E, sempre que me sentir acuado, alienígena, deslocado, desse jeito estranho que me sinto quando estou no meio de pessoas, volto para cá. 16h41. Vou voltar lá.

16h51. Voltei, interagi muito pouco e retornei ao quarto. Isso muito me desagrada, esse sentimento de deslocamento dentro da minha própria família. Penso até em fazer uso de álcool, como medida extrema para me socializar, mas não farei isso. Não sei quais seriam as consequências e as que diviso não são nada positivas. Estou ainda despertando. Mas dormi bem. Penso no Hulk agora, vendo o que escrevi anteriormente e penso em desistir dele. Mas sei que se fizer isso, nunca vou me perdoar. Enquanto isso a festa rola. E eu sem a mínima disposição de encará-la. É algo tão ou mais forte que eu. Então põe-se este dilema na minha frente: ficar onde realmente estou confortável ou interagir forçosamente e de forma para lá de rudimentar com os meus familiares? Decidi. A cada vez que for pegar Coca, vejo quando tempo permaneço submerso no evento social até vir em busca do ar dessas palavras.

17h25. Conversei com o meu tio francês e católico radical sobre Trump e ele desembocou nos sionistas e maçons governando o mundo e sobre o último aviso de Deus que virá em por volta de 2025, segundo ele. Nem me arrisquei a entrar nas expectativas de Ray Kurzweil do surgimento da Singularidade Tecnológica por volta de 2047. Ele diria que seria coisa dos sionistas, não adiantaria eu dizer que seria uma inteligência independente, um ser tecnológico que ele diria que foi programado pelos seguidores do demo. Mesmo se eu dissesse que ele próprio reescreveria o seu código evoluindo a si mesmo, ele diria que é coisa do demônio. Por todas essas razões ou falta de razão, eu não entrei nesse mérito. Talvez se eu estivesse bêbado, eu entrasse nesse embate ideológico o que não traria benefício nenhum. Pois ele continuaria com a sua visão, muito arraigada, e eu com a minha. Estou sem internet. Acho que seria necessário reiniciar o modem. Acredito que à medida que ficarem menos pessoas, eu comece a ficar mais à vontade na festa.

18h25. Passei até um tempo maior e interagi melhor com a galera. Mas nada como estar aqui. Acho que uma tia minha está meio encasquetada comigo. Ela olha para mim e não dirige a palavra. Meu primo disse ontem que quem trabalha em casa, fica mais avesso a interações sociais com muitas pessoas. Ou assim entendi. Vou até perguntar a ele de novo sobre isso. Não, eu não preciso de um cigarro agora. Não tem para que fumar. Vou segurar mais um pouquinho. Não estou com vontade de verdade, me sinto ainda saciado. Coloquei o iPod, pois o meu computador está sem internet, não posso ouvir Spotify. A bateria do iPod está quase no fim. É incrível como o meu primo é sociável e cheio de assunto. Ele consegue opinar sobre virtualmente qualquer tema. Tenho inveja dessa desenvoltura social. Talvez eu devesse chegar quando for pegar o próximo copo de Coca já dando um beijo na cabeça da minha tia que está amuada comigo, para ver se quebro o gelo. Preciso me preparar para o gesto. Não me vem assim fácil nem gratuito anymore. O que é uma pena. Mas é o caminho que escolhi trilhar. Que bom, está tocando umas músicas massa do The Cure no iPod. Será que minha tia está assim comigo porque lê o meu blog e faz um juízo de valor da minha pessoa a partir do que reparto aqui? Ela disse que lia o meu blog. Não sei se mantém o hábito, principalmente depois dos posts se tornarem tão longos. Fico espantado que pessoas ainda leiam quando divulgo nos grupos, acho que raras chegam até o final. Caso o sintoma antissocial de se trabalhar em casa, sugerido por meu primo, seja um fato, será um dos problemas do século XXI. Um outro colega ontem, disse estar sofrendo dos mesmos sintomas, só que eu ainda estou num grau mais elevado. Antes eu ainda sentia vontade de sentar numa mesa de bar para conversar, hoje nem isso. Ele ainda está no estágio da mesa de bar ser uma comunhão agradável, desprezando apenas eventos que tem muito barulho e multidão e que não permitem uma interação social mais profunda. Me perdi na música que estou ouvindo, agora dentre as que tenho salvas no meu computador, pois o iPod descarregou e continuo sem internet. Acho que vou lá pegar Coca. Mas a relutância em executar o gesto de afeto na minha tia me acossa a ficar aqui. Realmente há algo de muito errado comigo, por mais que me sinta confortável e feliz aqui com as minhas palavras. Vou lá encarar a festa um pouco. Não garanto dar um beijo na cabeça da minha tia. Vou lá.

20h21. Interagi bem agora, estou contente comigo mesmo. Dei um beijo na minha tia e “fizemos as pazes”. É tão interessante essa expressão, nunca tinha atentado para ela, o plural de paz faz todo o sentido, significa que nenhum dos lados estava em paz na situação, o que é o caso em todas as vezes em que a expressão é usada. Sejam nações, sejam pessoas. Soube que minha prima maluquete, a segunda mais doida depois de mim, eu creio, escreveu um livro. Centrado na internação, que também passou, fiquei sabendo, e traçando arcos com toda a sua vida. Como ela é menos pudica do que eu, não deve ter tido reservas. Se bem que nos diários das internações também não guardei segredos. Mas sei que guardo pudores, há coisas que não reparto aqui, por me parecer mais prudente e para essas tenho o meu blog secreto, que espero, quando ficar velho e não tiver mais vergonha de mim, pôr a público. Mas escrevo lá tão desleixadamente, ainda mais que aqui. A seleção do iTunes está bem legal. A voz de Renato Russo me é tão familiar, me acompanha desde os 12 anos de idade, eu acho, e é uma parte indelével de quem eu sou. Ele e sua melancolia depressiva e neurótica no mais das vezes me geram profunda identificação. Ainda. Apesar de gostar da vida, acho que continuo tão neurótico quanto antes e a melancolia, musical ao menos, ainda me atrai. Acho que músicas melancólicas me calam mais profundas à alma. Vou passar à Coca quente dentro em breve. Que pena. Vou voltar lá. Porque quero perguntar algo à minha tia jornalista, a utilização de numerais. Não deu, estão todos assistindo os DVDs de titio na sala. Interessante. Me apercebi de uma coisa agora que não posso descortinar aqui. Pois é, pudores. Prudência. Mas tem a ver com a visão. João Gilberto é extremamente único e econômico em sua interpretação. Entendo toda a adoração de Caetano por ele. Uma tia, sem se aperceber, deixou transparecer uma coisa que não gosta muito no seu par, num comentário bem-humorado e levemente crítico. Crítico para os bons entendedores. Mas essa é uma família muito acolhedora e sem preconceito. Obviamente há as fofocas, especialmente entre as mulheres, me perdoem as feministas, mas acho que as mulheres são mais “reparadoras” em pessoas e gostam de repartir suas percepções sobre as ditas pessoas entre si. Talvez os homens façam a mesma coisa, mas vejo uma incidência menor pelo menos na minha família paterna. Também só há um representante masculino da família aqui em se tratando dos tios e tias. O outro vive na ponte Macau-Natal. Não sei porque tenho essa preconcepção de que as mulheres tendem a fofocar mais. Não sei se é um reflexo da realidade, ou uma percepção pessoal. Sei que comportamentos sociais diferentes dos dos homens não diminui as mulheres, afinal são dois bichos distintos, um é macho e outro é fêmea, é de se esperar que tenham comportamentos diferentes. Muito do que se alcança na vida vem de saber se vender bem. Fazer um bom marketing social. Nunca fui bom nisso. E me torno cada vez mais precário nesse sentido. É como se a aceitação social fosse perdendo a sua importância e, tomando seu lugar, vem a necessidade de fazer respeitadas as minhas escolhas e decisões de vida. O grande problema é a pressão social de quem ainda acredita que eu possa me adequar a um sistema outro, mais abrangente que o meu próprio. Minha prima fez o seu marketing pessoal melhor do que eu e seus pais devem ter financiado a publicação do livro. O meu, por outro lado, não quero que minha mãe leia, o que dificulta muito as coisas. O que ajuda é que eu tenho a pensão, mas não sei se realmente quero publicar o que escrevi nas internações. Quero acabar de digitar, isso tenho muito claro na minha cabeça. Ainda iria um passo além e mandaria revisar, ter o texto pronto para ser publicado. Aí me daria por satisfeito, eu acho. Pelo menos isso me traria uma grande satisfação. Vamos ver. Penso na minha droga de preferência e na recaída que tive no Manicômio. Como todos ficaram abismados com a minha reação durante o uso. É minha droga de preferência, mas, hoje, agora, não faz o menor sentindo para mim. É algo absolutamente tóxico e que me traz consequências nefastas. O Manicômio não é para qualquer um. Certamente não é para o eu que sou no momento. Ainda acho que foi o Tio que nos dedurou. Bem, é a vida. A vida que que eu escolhi e que me escolheu. A vida tem uma parcela de culpa aí porque ela ou minha compleição psicológica me levou a me apaixonar pela cola. E foi uma história de amor que começou maravilhosa, mas que foi se tornando cada vez mais conturbada, complicada e custosa para mim. O crack nem se fala, é devastadora para qualquer um, acho que não há quem use que não fique na fissura de dar mais um tiro. É terrível. Ainda bem que não me apaixonei por ele. Senão a minha situação seria muito pior. Mas é a minha segunda droga de preferência. Odeio a noite de Boa Viagem hoje em dia, pois era onde e quando eu fazia o meu uso de crack. Quando inevitavelmente vou lá, eu fico alerta procurando pela janela do carro ou da varanda dos apartamentos, se estes derem vista para as avenidas principais, por possíveis pontos de compra. É uma reação condicionada que busco combater, mas que sempre me tenta. A última vez comprei foi com uma prostituta que me passou a perna. Mas não há por que lembrar dessas partes da minha vida. Elas podem me gerar fissuras desnecessárias. Totalmente inconvenientes e altamente perigosas. Então, Xô. 21h45. Vou pegar gelo e dar uma desabafada no meu blog secreto. Nada temam, não tem a ver com as minhas drogas de preferência é um assunto outro.

22h21. Falei com o meu primo sobre a filmagem amanhã. Ele concordou. Só não sei se durma ou passe a madrugada em claro. Acho que passarei a noite em claro e não dormirei. É até mais realista e condizente com o meu modus operandi na casa da minha querida e amada tia. Estão todos os sobreviventes da festa vendo DVDs na sala. Estou ouvindo Infected Mushroom pela primeira vez pelo fone de ouvido, é menos impressionante que no som. Me deu vontade de tirar um cochilo para aguentar a noitada. Mas se dormir e meu primo chegar e me pegar dormindo não vai ser legal, tenho que ter uma conversa com ele hoje. Para acertarmos os detalhes da filmagem. Hoje, que daqui a pouco vai ser amanhã. Preciso saber se ele vai viajar ou não amanhã cedo para combinarmos o horário da filmagem, aí decido se durmo ou não. Acredito que ele, se planeja viajar mesmo, deve voltar por volta da meia-noite. Duas da manhã no máximo. Foi a hora que voltou da outra festa quando tinha que viajar no outro dia. Se fosse repetir a hora, eu poderia tirar um cochilo de três horas. Mas acho que vou ficar acordado mesmo. Estou escutando a conversa dos bêbados ali na sala. Isso me desconcentra profundamente ao mesmo passo que me diverte. O mais falante é justamente o par da minha tia que mencionei anteriormente. Meu tio vai estar puto com o cidadão amanhã, eu acho. Estão discutindo a natureza da puta, da profissão da prostituta. Bêbados começam a discutir. O álcool está deprimindo os neurônios da galera legal. Mencionaram agora atrizes e pelo caminho de associações do meu cérebro cheguei até Aurora. E meu medo. Meus medos todos afloraram agora. O último foi o medo da solidão, que ironicamente é o que busco e alcanço na maioria do tempo. E quando me sinto bem, só, mas sabendo que há alguém coabitando comigo. Mas pensar que passarei até o final dos meus dias nessa solidão me assusta, me incomoda bastante o prospecto de não viver nunca mais um grande amor concretamente. Sei que já tive o meu quinhão de amor na vida que muitos passam a vida inteira sem ter, mas algo em mim acha que não foi ou é suficiente. O problema, o meu impedimento é que sou muito seletivo esteticamente. Além de ser romântico e tímido e certamente não ser lindo.  No entanto...


23h45. Todos os convidados foram embora e o aniversariante ronca. Titia tenta ligar a TV da sala. Eu certamente não vou aguentar passar a noite acordado, meu primo vai ter que me acordar amanhã quando da hora propícia para me filmar. 

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