sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

VOLTA DO FORRÓ NA CAIXA E DEPOIS

Estou devendo isso faz tempo, umas três semanas, no mínimo. Houve e está havendo uma série de acontecimentos que me impediram de escrever, além de uma falta de ânimo por sentir que fazê-lo afigurava-se para mim como uma obrigação, um trabalho que havia prometido ao bróder que vende cervas fazer. Agora não, por qualquer carga d’água que não me alcança compreender. Apenas me sinto disponível para isso agora. É isso. Vamos lá.

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Três semanas (acho) para o meu cérebro de Dory são muito tempo, então a maioria dos pormenores se perdeu em algum recôncavo inalcançável da minha memória. Sei que no dia, concorria com o Forró na Caixa o lançamento de um novo bloco carnavalesco “Amantes de Chico” dedicado ao Buarque, cuja festa seria ali perto no Capibar. A união das palavras “novo”, “carnaval” e “Chico Buarque” acrescidas do elã do Capibar sabia que serviriam como ímã irresistível para o mesmo público que frequenta o Forró (confesso que até eu fiquei tentado, ainda mais porque uma de minhas Clementines havia confirmado presença; mas minha fidelidade ao evento é superior a qualquer outro atrativo). Gordo, quinze quilos a mais depois de estada em casa de minha irmã e Munique onde fui com tudo na comida, arrumei-me, pus meu melhor perfume e com o iPod atrelado à camisa e a inseparável caneca de plástico, me mandei na minha gostosa caminhada ao som da minha trilha sonora para a Casa Astral. A novidade que trazia era o cigarro eletrônico, nova bugiganga comprada com o objetivo de reduzir danos, muito embora nada ainda esteja comprovado sobre este ser mais ou menos prejudicial que o cigarro normal. Ao menos não deixa cheiro, não faz fumaça, nem deixa hálito. Perfeito para as gatinhas antitabagistas que, antes, estavam fora do meu escopo.

Havia promessa de desconto na entrada, mas, como eu não tinha meu nome na “Lista Amiga”, paguei os justos R$ 15,00 de entrada e entristeci-me que a Coca tivesse aumentado um real, de três para quatro. Mas talvez tenha havido aumento nos refrigerantes no tempo em que fora do Brasil estive. Ainda assim, um preço menor que em qualquer outro lugar que eu conheça. Fui logo como se pode ver pegar minha Coca Zero na caneca-cheia-de-gelo-até-a-boca.

Como esperava, mesmo após um longo hiato, a festa não atraíra tanta gente quanto sua última edição, tampouco atraíra pouca gente como sua primeira vez. O clima como sempre estava alto astral, cheio de pessoas felizes. As mais felizes eram, sem sobra de dúvida as que, volta e meia, saiam suadas de tanta dança do salão para pegar fôlego ou uma cerveja.

Ao vê-las, eu de dentro do meu mundo iPodiano de onde ficava sentado, tomando coca, vaporizando e observando a celebração alheia, me questionava por que não era eu a sair ali de dentro suado de felicidade de dançar com uma moça. Tal incapacidade, muito mais do ego do que de falta de aptidão para a dança (embora esta exista, mas forró é uma dança simples que acredito, dominaria em alguns minutos) me desapontava comigo mesmo, mas não a ponto de me incomodar (muito), como sempre acontece. Encontrei um amigo do meu primo que posso já considerar um conhecido meu, tantas vezes já nos cruzamos nas baladas da vida. Ele disse que havia vindo do “Amantes de Chico” e que esse se encontrava lotado, sem lugar para mais ninguém. Como segunda alternativa veio ao Forró na Caixa. Conversamos um pouco e ele foi sociabilizar-se, coisa que raramente faço. Nesse ínterim, meu primo-irmão, Mateus, me ligou dizendo que estava vindo para a festa o que deveras me animou. De fato ele chegou e isso foi bom. Não lembro direito, mas minha impressão foi a de não termos interagido muito tempo e de ele ao encontrar o nosso companheiro em comum foi dançar e rodar pela festa. Não tenho certeza dessa recordação. Ela é muito mais uma impressão que um fato do qual posso atestar veracidade.

Sei que em dado momento – e esse foi o momento crucial da noite para mim – vi ele e o meu conhecido conversando com a minha Clementine da Casa Astral, sua antiga moradora. Para meu grande espanto, que nem deveria ser tanto, posto a imensa capacidade de sociabilização do conhecido de Mateus e meu, ele a conhecia e ambos conversavam tranquilamente com ela e ela com eles. Fiquei sabendo depois por meu primo que ele, ao mostra-me a ela e apresentar-me de longe como seu primo, ela redarguiu que me conhecia, pois havia mandado várias cartas para ela, deu a entender, pelo menos ao meu primo, que em sua imaginação (dela) eu a mandava uma carta toda vez que ia à casa. Sim, eu escrevi para ela, mas se isso se deu, foi no máximo duas vezes, embora ache que tenha sido só uma, mas minha memória de Dory pode estar a pregar-me outra peça. Certamente não escrevi mais que duas vezes. Achei interessante que isso tenha se multiplicado na cabeça dela o que faz supor que ela talvez tenha se sentido deveras assediada por mim, o que é péssimo e uma pena, já que espatifa qualquer ilusão que pudesse nutrir em relação a ela. Em verdade não espatifa, mas encerra definitivamente no campo das ilusões. Disse ao meu primo que se outra ocasião de conversa entre eles se desse, dissesse que tudo o que eu queria dizer para ela com as cartas é que para mim “ela é uma das coisas mais interessantes que há”. Sim tal é o encanto e o mistério que evocam esta Clementine, sempre fugidia, desconfiada e arisca como um gato. Ou gata.

No mais, a banda, pelo pouco que ouvi, tocou divinamente, como sempre, o repertório que não varia muito. Vi o ápice da apresentação nas covers e no Cavalo Marinho. Novamente se repetiu a sina de muitas mulheres querendo dançar para pouco homem disposto a isso (onde infeliz e covardemente me incluo). Se bem que, em vista de tempos anteriores, achei que havia uma proporção maior de homens no salão, um bom sinal, principalmente para as mulheres.

Festa acabada, Mateus e meu conhecido decidiram ir ao Barchef e eu, por imposição familiar e por ter sido este o combinado, voltaria para casa. Em casa, a resignação de não estar lá no Barchef não veio, e consegui persuadir minha mãe a desprender mais dez ou quinze reais e a liberação para ir. Feliz, contatei meu primo, confirmei minha ida e pus-me na caminhada banhada pela trilha sonora iPodiana.

Lá interagi bem mais com o  meu primo, conversamos bastante e tivemos um bom tempo um na companhia do outro, pois o nosso colega esvaiu-se no ar, desapareceu para não voltar.

No último quarto da noite, Mateus trouxe à mesa duas amigas e irmãs. Já havia ficado com uma delas, porém, uma negra, quem mais me interessou, o que é para mim uma novidade, o tipo negro geralmente não me atrai (e não há aí nenhum juízo de valor ou discriminação, é apenas como se manifesta minha libido), mas ela, além do lindo decote que sugeria lindos seios, era de uma personalidade forte mas interessantíssima, cativante. Foi a primeira vez que me lembre que fiquei atraído por uma negra e isso foi bom.

Acabamos conversando coisa de hora e meia e fomos todos para casa sãos e salvos.