Palavras, minhas queridas palavras,
emanação do meu eu, em verdade, meu próprio eu desnudo. Como estava com saudade
de vocês, de sentir as teclas sob meus dedos emendando uma sequência que
geralmente não gosto de saber onde vai dar, só de ir seguindo, como quem
percorre uma trilha desconhecida sem saber o que vai descobrir na próxima curva
ou se a estrada vai ser uma grande reta. Minha vida tem se desentortado, sinto
isso dentro de mim. Podem ser as medicações apenas ou um movimento maior, da minha
consciência, do meu comportamento ou tudo isso junto. Voto pelo tudo isso junto
porque quero um pouco do mérito pra mim. Há atitudes novas, há até novo ânimo.
Admito agora que estava muito doente de uma doença incompreendida e cercada de
preconceitos. Eu mesmo ainda carrego muitos deles. Gosto de levar o mundo nas
costas, mas não suporto o peso dos meus próprios erros. Esta é uma das atitudes
que preciso mudar (embora meu projeto de vida atual seja um livro para criar o
paraíso na Terra!Hahaha). Por falar nesse livro, descobri que tenho muito a
pesquisar porque muito do que já escrevi já foi dito ou está sendo trabalhado
pela ONU e suas subdivisões. Outras coisas, não tenho propriedade para concluir
ou bases sólidas para deduzir, mas escrevi com o coração e pensando no bem
comum da humanidade. Gostaria de dar forma crível a este trabalho e publicá-lo.
É isto que tem preenchido o vazio deixado pela cola. Além disto, um embrião de
idéia de uma lojinha de camisas estampadas no Facebook ou um estágio na
primeira agência de verdade em que trabalhei, a Três Pontos (esta a mais
assustadora das alternativas e também a mais improvável, pois eles presenciaram
de perto manifestações nefastas da minha doença). Palavras, palavras queridas
quanto egocentrismo; sempre tudo eu, sempre esse universozinho que habita minhas
redes neurais. Bom o externo estará no livro. E, afinal, foi esta a trilha pela
qual as palavras me conduziram.
-X-X-X-
Mas quero ir mais longe, caminhar um pouco
mais com as letras. Estou na casa da minha amada Tia Lúcia, um dos últimos
recantos onde me sinto num lar. Não me sinto em um lar na minha própria casa
porque lá são só minha mãe e meu padrasto. Lá eu me isolo. Aqui é como as casas
do Divino, bairro da novela Avenida Brasil, sempre tem som, gente falando, pai,
mãe, filhos, cachorro (nova adição à família), gato. É alegre, cheio de vida,
de energia (se eu acreditasse que essas energias existissem).
Já aproveitei para matar minha secura de
café – um item limitado no manicômio – com cigarros, derrubando uma garrafa
deliciosa feita por Tia Lúcia. Provavelmente vai ter night hoje com meu
primo-irmão Mateus e, quem sabe, mesmo estando a baleia que estou, eu assuma
uma nova postura, mais corajosa, perante o sexo oposto e consiga carinho.
-X-X-X-
Carinho, no planalto da minha alma não
chove disso há mais de três anos. Não falo de carinho de família – neste caso
há chuvas intermitentes – mas de carinho de mulher, de garota, uma que me
encante. Quem sabe nessa night, assumindo uma postura diferente, não acabe
chovendo na minha horta.