quarta-feira, 18 de abril de 2012

Entre novos amigos



Sábado, dia de saída do albergue de drogados, onde novamente aportei. Destino: casa da minha amada tia. Passei agradáveis, carinhosos e engraçados momentos na companhia daquela família de fato, família toda, completa, à moda antiga, com tudo de bom e de ruim desse grupamento social cada dia mais raro. Ouvi histórias cabeludas e descabeladas de Macau, berço da minha ancestralidade – no sentido mais jungiano do termo – entre risadas, cervejas – eu na coca-cola – e sambas. Deixamo-nos estar primos, tios, avó e amigos da família na varanda vendo passar as leves horas da tarde, correndo prosa, comendo carne de sol com manteiga do sertão, lingüiça matuta, deliciosas brusquetas; nos perdendo e encontrando em memórias, observações do presente e projetos de futuro. Cultivamos o tipo de amor e proximidade que só no seio da família sinto. Muito bom.

À noite meu primo chegou alquebrado do duro desafio de mudança de faixa no Muay Thai. Havia pegado como adversário um voraz professor que veio “como um touro” pra cima dele. Apesar da surra, trouxe no braço a faixa verde da nova graduação e a certeza de ter enfrentado bravamente seus medos. Nos aprontamos para sair, informais – chinela, camiseta e bermuda. Finalmente iria tomar minha cervejinha e, quem sabe, conhecer novas pessoas, de preferência do sexo feminino, o que me é, via de regra, superiormente interessante.

Fiquei sabendo já no carro que iríamos para um aniversário no Entre Amigos do Espinheiro e que pegaríamos uma amiga e um amigo do meu primo no caminho. Primeiro fomos pegá-la. Num primeiro momento, a vi apenas de relance correndo para o carro na penumbra, para não nos deixar esperando. Sua silhueta me causou agradável impressão, pois não sou dado à mulheres corpulentas como meu primo.

Já no bar, descobri que ela tinha um jeito meio de bailarina, meio de francesinha e muito de menina, branquinha com movimentos elegantes, sobrancelhas que emprestavam ainda mais personalidade a olhos vívidos de jabuticaba. Sua personalidade era interessante, dona de um autoritarismozinho engraçado que ele não conseguia controlar. Não sei de que forma nem por que fomos um com a cara do outro e, graças a isso, pude usar boa parte da noite no desafio de desvendá-la. Como era de se esperar, dada a minha carência de anos de solidão, o encantamento veio e me deliciei em sorver os pequenos e grandes detalhes daquela garota tão interessante que a vida havia posto naquela alegre noite de sábado ao meu lado.  Os dedos com dedos longos e unhas pequenas, o corte de cabelo e as roupas retrôs e modernas ao mesmo tempo, elegantes como um todo, as longas e roliças pernas, apetitosas, que arrematavam com um toque de sensualidade um corpo esguio e delicado. Realmente curti aquela efêmera paixonite como pude. Acabei, infelizmente ou honestamente por abrir minha condição de drogado imprestável em tratamento, botando por terra qualquer encantamento que minha pessoa até então pudesse ter despertado. Ela havia mencionado mais de uma vez como o status profissional era um fator atrator em um homem.

Acabamos ela, meu primo, nosso amigo e eu tomando a saideira num posto de gasolina, onde rimos de nossas besteiras ouvindo uma FM de rock – 97.1 – sugerida por ela, que duas vezes foi à loja de conveniência comprar salgadinhos para alimentar um vira-latas que rondava a nossa madrugadas com olhar desconsolado.

Chegamos à casa da minha dia junto com o sol, eu bastante satisfeito com um sábado inteiro de felicidade, meu primo moído da noite anterior mal dormida, dos sopapos levados naquele dia e da noite não dormida de então. Deixo aqui o meu muito obrigado ao meu primo-herói e a todos que me permitiram compartilhar momentos tão especiais.